18.04.2013 Views

(Brasil) - Reflexões sobre a vaidade dos homens - iPhi

(Brasil) - Reflexões sobre a vaidade dos homens - iPhi

(Brasil) - Reflexões sobre a vaidade dos homens - iPhi

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

a arrogância, e a altivez, fiquem parecendo naturais, e<br />

justas: finalmente a <strong>vaidade</strong> da nobreza, até se<br />

desvanece com a vileza das ações; estas ainda quando<br />

são vis, infames, torpes, e odiosas, nem por isso<br />

envilecem, ou infamam a quem as faz; antes da mesma<br />

enormidade das ações se tira um nôvo lustre, ou nova<br />

prova da nobreza: o ponto é contar uma longa série de<br />

ilustres ascendentes para que um nobre fique<br />

dispensado das leis da sociedade, e de formalidades<br />

civis; e também habilitado para que possa livremente,<br />

e sem reparo, perder o pejo, a honra, a verdade, e a<br />

consciência. Desta sorte vem a nobreza a ser um meio<br />

por onde o vício se autoriza, o crime se justifica, e a<br />

<strong>vaidade</strong> se fortalece. Cuidam os nobres, que a nobreza<br />

lhes permite tudo, mas cuidam mal; porque o certo é<br />

que a nobreza bem entendida, não se fêz para<br />

canonizar o êrro; ela foi sàbiamente achada para servir<br />

de estímulo, e companheira das virtudes; para<br />

enobrecer as ações ilustres, e não para ilustrar as<br />

viciosas; para ser atendida pelo que obrasse digno de<br />

atenção, e não pelo que fizesse indignamente; para<br />

servir a razão, e não para a dominar; para ser exemplo,<br />

e não regra ; para fazer os <strong>homens</strong> bons, e não para os<br />

perverter ; para os distinguir pela nobreza do espírito, e<br />

não pela nobreza da carne; para os fazer melhores de<br />

uma melhoria de ânimo, e não de corpo: finalmente<br />

para fazer mais clara a luz, e não para fazer clara a<br />

sombra.<br />

Por isso o sábio rei, (que ainda há pouco perdemos,<br />

e de quem a feliz memória a cada passo renova<br />

em nós a mais entranhável dor) nunca olhou para a<br />

nobreza enquanto a via só, mas sim quando a via<br />

acompanhada de ações nobres; nunca atendeu à<br />

nobreza das origens, mas sim à nobreza <strong>dos</strong> sujeitos;<br />

considerava os <strong>homens</strong> primeiro pela quali-

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!