(Brasil) - Reflexões sobre a vaidade dos homens - iPhi
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peito de outros animais de menos estatura, e não a<br />
respeito de outros elefantes. Se uma águia se jactasse,<br />
havia de ser de subir mais alto, e não deter o sangue de<br />
águia; e ainda a jactância do subir, só seria a respeito<br />
do cisne úmido, e pesado, e não a respeito de outras<br />
águias. Não é assim presunção, e a sua <strong>vaidade</strong> são<br />
dirigi<strong>dos</strong> sempre em que fazem consistir a<br />
singularidade, ou superioridade de uns a outros;<br />
naquele licor é o donde consideram como ocultas, e<br />
invisíveis tôdas as razões de diferenças; ali puseram o<br />
assento da nobreza, e dali a fazem sair, como de uma<br />
fonte original, e composta de infinitas distinções,<br />
qualidades, graus, quilates. Os <strong>homens</strong> das outras<br />
regiões não distinguem os sangues, senão pelas suas<br />
proporções elementares; isto é pela proporção <strong>dos</strong><br />
elementos, ou partes, de que os mesmos sangues se<br />
compõem; a diversidade que notavam, consistia, em<br />
ser um sangue mais, ou menos cálido, mais ou menos<br />
denso, mais ou menos sutil: não viram aquelas nações<br />
remotas, o que mais engenho, e estudo chegaram a ver<br />
as nações da Europa ; isto é, que há um sangue<br />
humilde, vil, abjeto, e baixo; e que há outro, nobre,<br />
ilustre, preclaro, esclarecido: mas se se perguntar a um<br />
sangue, quem o fêz humilde, e a outro, quem o fêz<br />
nobre, o primeiro há de dizer, que uma pobreza cruel, e<br />
dilatada o envileceu; e o segundo, dirá, que uma pomposa,<br />
e dilatada riqueza o ilustrou. Quem dissera, que a<br />
fortuna faz o sangue! bastava, que essa mesma fortuna<br />
tivesse poder nas coisas, que nos rodeiam, sem o ter<br />
também naquilo, que está dentro de nós. Parecia-nos,<br />
que só a natureza dava o sangue, e que êste só da<br />
natureza dependia; mas agora vemos, que a fortuna o<br />
muda.