(Brasil) - Reflexões sobre a vaidade dos homens - iPhi
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julgar, e não o que basta para saber embaraçar; alguns<br />
há, que fazem do conhecimento da razão uma ciência<br />
imensa, como se fôsse necessário arte para se conhecer<br />
o sol. O caminho da justiça (para quem tem vontade de<br />
andar por êle) é um caminho direito, espaçoso, claro,<br />
fácil, e aprazível; as flôres, que o bordam de uma, e<br />
outra parte, tôdas são perpétuas, porque nunca<br />
murcham; uma primavera constante as reverdece, e<br />
alenta: o caminho porém das injustiças é um caminho<br />
difícil, espantoso, e escuro; umas vêzes é por cima de<br />
roche<strong>dos</strong> escarpa<strong>dos</strong>, por onde cada passo se encontra<br />
um precipício; outras vêzes é por vales estreitos,<br />
sinuosos, e profun<strong>dos</strong>, e donde as árvores são tôdas<br />
infecundas, têm pálidas as fôlhas, e nascendo<br />
desordenadas, e confusas, fazem o lugar seguro, e<br />
próprio para traições, aleivosias, furtos, assassínios; as<br />
mesmas sombras infundem pavor, e fingem vultos<br />
enormes; um ar caliginoso, e denso, apenas pode<br />
alvergar aves noturnas de presságio infausto; os raios,<br />
que ali se vêem, são negros, e têm no abismo o fundo,<br />
apenas pode criar monstros anfíbios; o silêncio, com<br />
que passam, os faz ainda mais fúnebres, e tristes, como<br />
se nascessem do Estige, do Averno, ou do Cocito. Esta<br />
figura representa o caminho da injustiça, caminho, que<br />
não se sabe sem estudo, porque todo se compõe de<br />
circuitos, rodeios, e desvios. Mas que infeliz estudo é<br />
êste, em que se aprende muitas vêzes o caminho por<br />
onde se vai ao inferno! Por isso aquêle digno<br />
magistrado, de uma fiel jurisprudência, só quis saber, o<br />
como se deve julgar; e não o como se pode julgar; e da<br />
mesma sorte só quis saber, o como se devem fazer as<br />
coisas, e não o como se podem fazer; daqui lhe<br />
procedeu o serem justas as suas decisões, e ser o seu<br />
voto acertado sempre; nunca teve por objeto, a justiça,