(Brasil) - Reflexões sobre a vaidade dos homens - iPhi
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por isso não sei se podemos admirar-nos, de que as fontes ainda<br />
corram para o mar; de que o fogo ainda abrase; de que o ar<br />
ainda se mova; e de que a terra ainda fertilize. Os elementos não<br />
se mudam, mas é, porque estão subordina<strong>dos</strong> às primeiras leis,<br />
que lhes deu o autor do mundo; temos o uso dêles, o domínio<br />
não; devem servir-nos, e não obe-decer-nos: a nossa<br />
prevaricação estende-se a tudo quanto foi, ou é obra nossa; por<br />
isso a <strong>vaidade</strong> se comunica, tem jurisdição em tudo aquilo em<br />
que nós a temos. Daqui procede, o ser a ciência da justiça<br />
humana, uma ciência mudável, inconstante, e vária; porque as<br />
leis da <strong>vaidade</strong> sabem confundir-se com as leis verdadeiras da<br />
justiça. A <strong>vaidade</strong> também tem regra, e doutores. Quantas<br />
injustiças não terá feito a <strong>vaidade</strong> de fazer justiça! A mesma<br />
<strong>vaidade</strong> que inspira retidão, a embaraça. Revista-se embora o<br />
soberbo magistrado de um semblante rugoso, implacável,<br />
adverso, e truculento; faça-se irrisível totalmente, áspero,<br />
severo, e desabrido; mostre um aspecto sombrio, terrível,<br />
taciturno, e intratável; fale de um ar, e tom de soberania; tenha<br />
sempre o pensamento distraído, como que o tem todo ocupado