(Brasil) - Reflexões sobre a vaidade dos homens - iPhi
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der, de ensinar, e de usar; o que argumenta, e duvida<br />
mais, é o que dá melhor sinal de si; o saber embaraçar<br />
mais, é o mesmo que saber mais; o aplauso não segue a<br />
quem tirou a dificuldade mas a quem a pôs; nem<br />
também a quem a desfaz, mas a quem a fêz; a<br />
ostentação não está em fazer assentar no que a coisa ê,<br />
mas em arguir, e destruir tudo aquilo em que se<br />
assentar: célebre ciência, em que os ignorantes, parece<br />
que estão de melhor partido que os sábios! Êstes vêem<br />
tanto, que a multidão das coisas que vêem, os<br />
confunde, e cega; aquêles menos, e por isso vêem<br />
mais: a abundância de ciência faz aos sábios pobres de<br />
saber; neste caso a sabedoria está em poder tornar para<br />
o estado de ignorância; a maneira de alguém que<br />
retrocede para buscar o que perdeu: alguma vez sucede<br />
a quem caminha, o passar além do lugar para onde vai;<br />
então quanto mais caminha, mais se perde; porque<br />
busca adiante aquilo, que já lhe fica atrás: tanto erra<br />
quem anda menos, como quem anda mais; e tanto se<br />
desvia quem não chega ao lugar, como quem o passa.<br />
Um vento muito forte ainda que seja favorável, é<br />
tormenta; a luz nem por ser muito intensa, é mais clara;<br />
as águas, que correm precipitadas, para pouco servem:<br />
a grande velocidade as faz inúteis, e incapazes; o pêso<br />
não só fica sendo errado, por ter de menos, como por<br />
ter de mais; as coisas não só se arruínam por fraqueza,<br />
mas também por fortaleza; a saúde demasiada passa a<br />
enfermidade; o preceito não só se quebra pela diminuição<br />
da observância, mas também pelo excesso:<br />
algumas virtudes há, que são vícios modera<strong>dos</strong>; a<br />
temperança é como uma raia, que está entre o vício, e a<br />
virtude, e que distingue o bem do mal; nas ciências<br />
também se peca, por se saber nelas mais de