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(Brasil) - Reflexões sobre a vaidade dos homens - iPhi

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REFLEXÕES SÔBRE A VAIDADE DOS HOMENS<br />

primeiros movimentos reservou-os para si a Providência;<br />

o homem só ficou exposto a êles, para os<br />

admirar, e não para os saber. A <strong>vaidade</strong> das ciências<br />

tôda se cansa em conjeturas, que faz passar por<br />

demonstrações; quando supõe, que encontra a parte,<br />

em que pode desatar o nó, então o aperta mais: os<br />

discursos perdem-se na imensidade vaga de uma<br />

matéria impenetrável; a natureza sabe iludir to<strong>dos</strong> os<br />

nossos estu<strong>dos</strong>, e conceitos; não é mais fácil no que<br />

mostra, do que no que esconde; não é menos reservada<br />

no que produz à superfície da terra, do que naquilo que<br />

forma no seu centro; só ela conhece as suas leis, e os<br />

seus segre<strong>dos</strong>: vemos nascer a flor, cresce à nossa<br />

vista; mas nem por isso sabemos o como a flor nasce,<br />

nem o como cresce: a dificuldade sempre fica sendo a<br />

mesma: o nosso engenho todo se evapora, em belas<br />

fantasias, e em razões notáveis; mas estas só servem de<br />

enganar, ou de entreter a mocidade que começa, e que<br />

ainda não sabe por experiência, que a maior parte das<br />

coisas de que o mundo se compõe, nem se podem<br />

ensinar, nem aprender. A <strong>vaidade</strong> da sabedoria humana<br />

não se funda na certeza da ciência, mas na certeza da<br />

cadeira; esta à maneira de uma tôrre inexpugnável<br />

infude terror; e o discípulo dócil, e inocente, recebe<br />

como de um oráculo as decisões do mestre: os que<br />

estão debaixo da disciplina, vêem o barrete doutoral,<br />

como se fôsse um resplendor, de cuja luz se não<br />

duvida, por isso a <strong>vaidade</strong> do mestre exige respeito, e<br />

credulidade: esta é a primeira lição; a verdade sempre<br />

nos parece que está no lugar mais alto, e que brilha<br />

mais; e se a buscamos em outra parte, é sem ânsia,<br />

nem cuidado: o aparato exterior não só nos dispõe,<br />

mas também nos persuade; os olhos assombra<strong>dos</strong>, não<br />

deixam o ânimo livre para

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