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(Brasil) - Reflexões sobre a vaidade dos homens - iPhi

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MAT1AS AIRES RAMOS DA SILVA DE EÇA<br />

ação justa; nos outros uma culpa leve é delito atroz:<br />

tudo tem uma multidão de aplicações, e inteligências;<br />

estas são as que dão ser a tôdas as suas coisas; e tôdas<br />

nas suas mãos mudam totalmente de figura; nada lhes<br />

parece como parece aos outros; querem reformar o<br />

mundo, pouco reforma<strong>dos</strong> em si; soberba, ambição,<br />

grandeza, são os três poios, em que se estabelecem, e<br />

se fundam; aquêles são os ídolos, a quem ùnicamente<br />

sacrificam, e de quem êles são ao mesmo tempo,<br />

retratos, e originais, ídolos, e idólatras; Narcisos das<br />

suas ações, e <strong>sobre</strong>tudo das suas letras, êles são os<br />

primeiros que se admiram, e se aplaudem; e tudo com<br />

tal arte, que aquela admiração sem fé, por ter nêles<br />

mesmos um princípio errado, e suspeitoso, êles de tal<br />

sorte a espalham, que depois de introduzida, vem a<br />

servir-lhes de título legítimo; e se há por acaso quem<br />

duvide, já é tarde, porque na fama também cabe<br />

prescrição; é como uma posse, que fica sendo prova do<br />

domínio. O vulgo tudo o que recebe, é sem exame, e<br />

depois, antes quer permanecer no êrro, do que entrar a<br />

examinar; e com efeito é mais fácil ir com os que vão,<br />

do que parar para os suspender: por isso os que<br />

adquirem opinião de sábios, ficam gradua<strong>dos</strong> por<br />

aclamação, mas essa opinião devem à fortuna, e não a<br />

si, porque as mais das vêzes apenas saudaram de longe<br />

as letras; assim se verifica, que a quem tem fortuna,<br />

basta o saber pouco; se é que para fortuna o saber não<br />

basta. Tanto é certo que as coisas se implicam, e<br />

confundem tanto, que nas mesmas razões, em que se<br />

funda a razão que afirma, também se pode fundar a<br />

razão que nega: daqui vem, que é motivo de uma<br />

grande <strong>vaidade</strong>, o saber retorquir a fôrça do argumento<br />

contra quem o faz, à maneira de um guerreiro, que<br />

desarma ou-

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