(Brasil) - Reflexões sobre a vaidade dos homens - iPhi
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REFLEXÕES SÔBRE A VAIDADE DOS HOMENS<br />
mas que há de ser, se somos terra. Compramos o vício<br />
à custa de trabalhos e aflições; a virtude não a<br />
queremos de graça; ao vício estimamos, porque<br />
depende de objetos exteriores, e êste muitas vêzes<br />
custosos, incertos e arrisca<strong>dos</strong>; desprezamos a virtude,<br />
porque só depende de nós; bons podemos ser sempre,<br />
porque basta que o queiramos ser; para sermos maus<br />
necessitamos de ocasião. Quantos danos traz consigo a<br />
felicidade! Os três votos, que se julgam tão pesa<strong>dos</strong><br />
quando se professam, são os mesmos com que to<strong>dos</strong><br />
vêm ao mundo; to<strong>dos</strong> nascem pobres, castos e<br />
obedientes: a pobreza e a obediência quem as conserva<br />
é por fôrça; e castidade só por vontade se pode<br />
conservar; e com efeito quem há de segurar um voto,<br />
que se quebra só com o desejo? A castidade do corpo<br />
dificultosamente se guarda, a da alma, ainda com mais<br />
dificuldade, não sei em qual das duas consiste a<br />
castidade verdadeira ; se consiste na do corpo, essa é<br />
material, e está sujeita a mil enfermidades, e acidentes,<br />
e talvez pode perder-se sem consentimento de quem a<br />
perde, seria injusto, que uma qualidade tão bela, e em<br />
que se funda a virtude mais superior, ficasse<br />
dependente da fôrço, do tempo, da opinião, e também<br />
de algum sucesso involuntário é pois na alma o donde<br />
consiste a castidade mais perfeita e verdadeira: mas<br />
sendo assim, donde se há de achar a castidade? pois<br />
para corromper-se, basta um instante de vontade, de<br />
inclinação, de pensamento, de amor.<br />
Na república das letras não há menos <strong>vaidade</strong> (120 que<br />
na república das armas; sim é uma <strong>vaidade</strong> metafísica,<br />
espiritual, e que na sua origem tem