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(Brasil) - Reflexões sobre a vaidade dos homens - iPhi

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REFLEXÕES SÔBRE A VAIDADE DOS HOMENS<br />

os <strong>homens</strong> estendido, e sutilizado tanto, que de ilação<br />

em ilação vêm a chegar ao ponto, que não há mal por<br />

maior que seja, que não seja tolerável; e a da mesma<br />

sorte de consequência em consequência vêm a concluir,<br />

que não há iniquidade que não seja às vêzes<br />

necessária, nem injustiça, que não seja justa. Prendam-se<br />

pois as mulheres para que se evite o mal de que<br />

elas amem; sejam conduzidas por fôrça para os<br />

claustros, para que não suceda que as amemos nós;<br />

saiam do berço para aquelas sepulturas, porque pode<br />

haver perigo na demora; e assim conheçam a morte,<br />

antes de conhecerem a vida; e saibam como é a prisão,<br />

antes de saberem como é a liberdade.<br />

O nosso engenho todo se esforça em pôr as (117) coisas<br />

em uma perspectiva tal, que vistas de um certo modo, fiquem<br />

parecendo o que nós queremos que elas sejam, e não o que<br />

elas são. O discurso é como um instrumento lisonjeiro, por<br />

meio do qual vemos as coisas, grandes ou pequenas, falsas ou<br />

verdadeiras. O nosso pensamento não se acomoda as coisas,<br />

acomoda-se ao nosso gôsto. O amor, a <strong>vaidade</strong> e o interêsse<br />

são os moldes em que as coisas se formam e configuram para<br />

se apresentarem a nós; e com efeito nenhuma coisa se nos<br />

mostra como é, contra nossa vontade. Nunca estamos tão indiferentes,<br />

como nos parece; as paixões não consentem<br />

neutralidade, aquilo que entendemos, que nos não importa,<br />

costuma levar consigo um interêsse oculto, por onde nos<br />

importa mais. O amor e a <strong>vaidade</strong>, às vêzes se concentram e<br />

disfaçam tanto, que nós mesmos dentro de nós, os não<br />

podemos descobrir apenas se fazem visíveis pelas obras;<br />

semelhantes ao fogo escondido na pederneira, que

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