(Brasil) - Reflexões sobre a vaidade dos homens - iPhi
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REFLEXÕES SÔBRE A VAIDADE DOS HOMENS<br />
elevam de tal sorte, que chegam ao lugar, de onde por<br />
mil partes se lançam e precipitam. Isto vemos nas<br />
águas de uma ponte, donde não concorrem mais<br />
motivos, que aquêles que em um corpo fluido procedem<br />
do equilíbrio. Só nas mulheres não queremos<br />
achar naturalidades; prendem-se porque são mulheres,<br />
como se quando vêm ao mundo, trouxessem na razão<br />
do sexo escrita a condenação; e que a formosura só<br />
lhes fôsse dada para regular-lhes os graus de<br />
desventura. Quem diria aos <strong>homens</strong>, que as mulheres<br />
sendo compostas de uma matéria frágil, e propensa,<br />
podem espiritualizar-se em forma, que tôdas se<br />
convertam em discurso racional? Trabalhe embora o<br />
ciúme, e juntamente a <strong>vaidade</strong>; o ciúme em procurar<br />
que a mulher se não incline, e a <strong>vaidade</strong> em prescrever<br />
documentos à beleza, para que não não ame sem certas<br />
proporções, e identidades; nem o ciúme, nem a <strong>vaidade</strong><br />
hão de alcançar aquêle intento ; o amor não admite<br />
fôrça, nem império; ninguém ama, nem desama por<br />
preceito. Quem há de tirar o gôsto, que a alma sente,<br />
quando os olhos, ou o pensamento lhe mostram um<br />
objeto lisonjeiro e agradável? Como se há de fazer, que<br />
a bôca seja insensível ao sabor de um manjar delicioso;<br />
e os ouvi<strong>dos</strong> como podem deixar de suspender-se ao<br />
som de uma voz sonora e cheia de harmonia? As primeiras<br />
qualidades não se podem mudar. Não podemos<br />
dar leis às coisas; ao exterior delas, sim; as palavras e<br />
as ações admitem composição, e fingimento ; a<br />
substância delas, não; por isso não é fácil desaprovar o<br />
que os senti<strong>dos</strong> aprovam. Quem há de reduzir a<br />
formosura a crer, que deve fugir de quem busca, e que<br />
deve querer mal a quem lhe quiser bem?