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(Brasil) - Reflexões sobre a vaidade dos homens - iPhi

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REFLEXÕES SÔBRE A VAIDADE DOS HOMENS<br />

me; o pensamento nesta parte é sempre favorável,<br />

porque debaixo daquelas sombras nunca supõe outras<br />

sombras, luzes sim: há coisas, que de se ocultarem,<br />

resulta verem-se melhor; em vingança de um manto<br />

escuro, tudo o que está debaixo dêle, se nos representa<br />

perfeito e singular; aquela espécie de rebuço o de que<br />

serve é de avivar a imaginação, de a desanimar, não:<br />

tudo o que se esconde, parece-nos admirável, só<br />

porque se esconde; de sorte, que o ocultar, é o meio de<br />

acreditar as coisas, e de dar-lhes maior valor. O mesmo<br />

é pôr-se aos olhos um obstáculo, que fazê-los<br />

penetrantes, e pô-los em uma atividade, que êles não<br />

têm naturalmente: a vista, que se embaraça, adquire<br />

maior fôrça, à maneira de uma corda, cujo vigor<br />

aumenta à proporção que a fazem fugir do arco; a<br />

mesma distância em que algumas coisas se põem, as<br />

fazem estar mais perto; e por êste princípio, tudo o que<br />

se esconde, se mostra. Quem dissera, que o recato, e a<br />

modéstia, mais chamam do que desviam, mais servem<br />

de convidar, que de afastar! quem foge, parece que<br />

quer que o sigam; quem deixa, parece que quer que o<br />

busquem: o mesmo é cobrir o rosto, que incitar mil<br />

vontades de o descobrir; a desconfiança faz nascer a<br />

instância e o cuidado; o engano muitas vêzes se evita<br />

só com não o presumir; e com efeito o retirar-se e pôrse<br />

em defesa, é o mesmo que dar um sinal de guerra; o<br />

que se guarda, e se esconde é a primeira coisa, que se<br />

assalta; a liberdade do pôrto é o que o conserva livre de<br />

invasão.<br />

O estimarem-se as coisas, que não têm valor, é (115) o<br />

mesmo que fazê-las estimáveis: o que se busca com ânsia, não<br />

é o que se dá, mas o que se nega; o que

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