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(Brasil) - Reflexões sobre a vaidade dos homens - iPhi

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REFLEXÕES SÔBRE A VAIDADE DOS HOMENS<br />

recebe, mas no braço que imprime; a arte não se<br />

mostra no metal, mas na mão que conduz o buril, e<br />

abre; o bronze não pode deixar de consentir a estampa,<br />

porque não tem mais do que um modo passivo, e<br />

material; só o braço obra ativamente: daqui vem que<br />

quando amamos, é porque a formosura nos obriga a<br />

amar; e assim que merecimento pode ha-ver em pagar<br />

um tributo natural, forçado, e inevitável? Por isso o<br />

amar, ou não amar por razão, por discurso, ou ainda<br />

por interêsse, não pode ser; porque os senti<strong>dos</strong>, não se<br />

deixam cativar por argumento: daqui vem que muitas<br />

vêzes se ama, o que se não deve amar; isto será porque<br />

o coração não pode resistir à formosura; o mais que<br />

pode fazer, é calar, dissimular, esconder: podemos não<br />

confessar, mas deixar de cair, é mui dificultoso;<br />

podemos sofrer, mas deixar de sentir, também não;<br />

podemos não seguir, mas deixar de apetecer é<br />

impossível; antes o sofrimento aviva o amor, a<br />

resistência o fortalece; porque tudo o que se reprime,<br />

se esforça; um arco comprimido adquire mais vigor<br />

para quebrar a corda. O mesmo é não querer, ou não<br />

dever amar, que amar. Não temos domínio no nosso<br />

gôsto; as coisas agradam-nos, porque nos parecem<br />

agradáveis ; como havemos de impedir que as coisas<br />

nos pareçam o que são, e ainda o que não são? Se os<br />

senti<strong>dos</strong> nos enganam, quem nos há de desenganar, ou<br />

como havemos de emendar êsses mesmos senti<strong>dos</strong><br />

engana<strong>dos</strong>? A razão e o discurso não valem, ou não<br />

sabem tanto como se diz; porque o que julgam, é por<br />

meio de algum sentido enganador; se os olhos, e os<br />

ouvi<strong>dos</strong> se distraem e alucinam, que outros senti<strong>dos</strong><br />

temos nós, que os haja de conter, ou os faça retratar?<br />

Julgamos pelo que vemos, e pelo que ouvimos: êstes<br />

senti<strong>dos</strong> são em nós, como dois relatores injustos,<br />

falsos, infiéis: daqui resulta que quando o

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