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(Brasil) - Reflexões sobre a vaidade dos homens - iPhi

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MATIAS AIRES RAMOS DA SILVA DE EÇA<br />

sempre supõe sucedido o mal: não se pode fugir do<br />

raio despedido de uma nuvem; o amor ainda nos<br />

alcança com mais pressa, e mais vigor, porque é raio<br />

que se forma dentro de nós mesmos: o valor consiste<br />

em arrancar a seta, por mais que fique despedaçado o<br />

peito.<br />

(102) Não somos firmes no amor, porque em nada<br />

podemos ser constantes: contìnuamente nos vai mudando<br />

o tempo; uma hora demais é mais em nós uma<br />

mudança. A cada passo que damos no decurso da vida,<br />

imos nascendo de nôvo, porque a cada passo imos<br />

deixando o que fomos, e começamos a ser outros: cada<br />

dia nascemos, porque cada dia mudamos, e quanto<br />

mais nascemos desta sorte, tanto mais nos fica perto o<br />

fim, que nos espera. A inconstância, que é um ato da<br />

alma, ou da vontade, não se faz sem movimento; a<br />

natureza não se conserva, e dura, senão porque se<br />

muda e move. O mundo teve o seu princípio no<br />

primeiro impulso, que lhe deu o supremo Artífice; a<br />

mesma luz, que é uma bela imagem da Onipotência,<br />

tôda se compõe de uma matéria trêmula, inconstante, e<br />

vária. Tudo vive enfim do movimento; a falta de<br />

mudança é o mesmo que falta de vida, e de existência,<br />

assim a firmeza é como um atributo essensial da morte.<br />

(103) Se em nada pois há permanência, e se o estado<br />

da firmeza é contrário às leis da vida, como pode ser<br />

que haja amor constante? Isso é um impossível<br />

desejado. Não há nada isento das revoluções, e<br />

alterações do mundo; tudo nêle se muda, porque

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