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história da colonização da comunidade de picada felipe essig e ...

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UFRRJ<br />

INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS<br />

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM<br />

DESENVOLVIMENTO, AGRICULTURA E<br />

SOCIEDADE<br />

MONOGRAFIA<br />

“História <strong>da</strong> <strong>colonização</strong> <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Pica<strong>da</strong> Felipe Essig e características <strong>da</strong><br />

agricultura familiar ali <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>”<br />

Paulo Francisco Conrad<br />

2002


UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO<br />

INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS<br />

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO,<br />

AGRICULTURA E SOCIEDADE<br />

“História <strong>da</strong> <strong>colonização</strong> <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Pica<strong>da</strong> Felipe Essig e<br />

características <strong>da</strong> agricultura familiar ali <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>”<br />

Paulo Francisco Conrad<br />

Sob a Orientação do/a Professor/a<br />

Nelson Gior<strong>da</strong>no Delgado<br />

Monografia submeti<strong>da</strong> como requisito<br />

parcial para obtenção do diploma <strong>de</strong><br />

Pós-graduação Lato Sensu em Desenvolvimento,<br />

Agricultura e Socie<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

Seropédica, RJ<br />

Novembro <strong>de</strong> 2002


UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO<br />

INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS<br />

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO, AGRICULTURA<br />

E SOCIEDADE<br />

PAULO FRANCISCO CONRAD<br />

Monografia submeti<strong>da</strong> ao Curso <strong>de</strong> Pós-Graduação em Desenvolvimento, Agricultura e<br />

Socie<strong>da</strong><strong>de</strong> como requisito parcial para obtenção do diploma <strong>de</strong> Pós-graduação Lato<br />

Sensu em Desenvolvimento, Agricultura e Socie<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

MONOGRAFIA APROVADA EM -----/-----/------ (Data <strong>da</strong> <strong>de</strong>fesa)<br />

Nome completo. Título (Dr., Ph.D.) Instituição<br />

Nelson Gior<strong>da</strong>no Delgado<br />

Nelson Gior<strong>da</strong>no Delgado (Ph.D.) CPDA/UFRRJ<br />

Silvana <strong>de</strong> Paula (Ph.D.) CPDA/UFRRJ<br />

Nora Beatriz Presno Amo<strong>de</strong>o (Ph.D.) REDCAPA


SUMÁRIO<br />

HISTÓRIA DA COLONIZAÇÃO DA COMUNIDADE DE PICADA FELIPE ESSIG E<br />

CARACTERÍSTICAS DA AGRICULTURA FAMILIAR ALI DESENVOLVIDA .................................. 2<br />

Introdução ................................................................................................................................................. 2<br />

História <strong>da</strong> ocupação do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul ............................................................................................. 2<br />

As reduções Jesuíticas e as Missões ......................................................................................................... 3<br />

As concepções <strong>de</strong> Sesmarias .................................................................................................................... 3<br />

Processo <strong>de</strong> <strong>colonização</strong> alemã no Rio Gran<strong>de</strong> do Sul ............................................................................. 3<br />

Localização <strong>de</strong> Pica<strong>da</strong> Felipe Essig .......................................................................................................... 4<br />

A topografia e as características do solo ................................................................................................... 4<br />

Origem do nome <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> .............................................................................................................. 5<br />

Origem <strong>da</strong>s terras <strong>de</strong> Pica<strong>da</strong> Felipe Essig ................................................................................................. 6<br />

O <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Pica<strong>da</strong> Felipe Essig ..................................................................... 6<br />

Iª. FASE – PERÍODO 1875 A 1965 ......................................................................................................... 7<br />

A FASE DE ESTRUTURAÇÃO DA COMUNIDADE E DA AGRICULTURA DE SUBSISTÊNCIA 7<br />

A vi<strong>da</strong> religiosa e a cultura ....................................................................................................................... 7<br />

A organização social e esportiva <strong>da</strong> Comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> .................................................................................... 9<br />

A organização Escolar <strong>da</strong> Comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> .................................................................................................. 10<br />

Aspectos comerciais <strong>da</strong> Comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> ..................................................................................................... 11<br />

A agricultura e sua estrutura <strong>de</strong> apoio .................................................................................................... 11<br />

Ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s agro-industriais e <strong>de</strong> serviços existentes na comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> neste período ............................... 12<br />

Outras questões importantes na organização <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> ................................................................. 13<br />

Aspectos ambientais associados ao período ........................................................................................... 13<br />

Vista geral <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> e <strong>da</strong>s águas do rio Forqueta ......................................................................... 14<br />

IIª FASE – 1965 A 1990 ......................................................................................................................... 15<br />

A INTENSIFICAÇÃO DA PRODUÇÃO E A TECNOLOGIA EXTERNA. ....................................... 15<br />

O Processo <strong>de</strong> abertura <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>. ................................................................................................. 15<br />

As novas enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s associativas ............................................................................................................. 15<br />

A saí<strong>da</strong> <strong>da</strong> maioria dos jovens <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> ....................................................................................... 16<br />

O investimento na moradia e na proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>. ........................................................................................ 17<br />

A diferenciação entre as famílias. ........................................................................................................... 18<br />

Aspectos ambientais associa<strong>da</strong>s a este período ...................................................................................... 19<br />

IIIº. FASE – 1990 ATÉ 2002 ................................................................................................................. 20<br />

A PRODUÇÃO EM ESCALA, A INDÚSTRIA CALÇADISTA E APOSENTADORIA RURAL ..... 20<br />

O novo cenário e as estruturas comunitárias .......................................................................................... 22<br />

Esclarecimentos sobre a tabela dos moradores ....................................................................................... 27<br />

Aspectos ambientais referente a este período ......................................................................................... 29<br />

CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................................. 30<br />

O período <strong>de</strong> 1875 a 1965 ...................................................................................................................... 30<br />

O período 1965 a 1990 ........................................................................................................................... 31<br />

O período 1990 a 2002 ........................................................................................................................... 32<br />

BIBLIOGRAFIA ........................................................................................................................................ 34


RESUMO<br />

CONRAD, Paulo Francisco. História <strong>da</strong> <strong>colonização</strong> <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Pica<strong>da</strong><br />

Felipe Essig e características <strong>da</strong> agricultura familiar ali <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>.<br />

Seropédica: UFRRJ, 2002. 32P.<br />

(Monografia, Pós-graduação lato sensu em Desenvolvimento, Agricultura e<br />

Socie<strong>da</strong><strong>de</strong>).<br />

Este trabalho foi realizado na comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Pica<strong>da</strong> Felipe Essig, município <strong>de</strong><br />

Travesseiro, Estado do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul, e teve como objetivo buscar junto aos<br />

moradores e a bibliografia existente sobre o assunto, conhecer a <strong>história</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>colonização</strong> <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, conta<strong>da</strong> pelos seus moradores e resgata<strong>da</strong> dos<br />

conhecimentos <strong>da</strong>s pessoas que a mais tempo resi<strong>de</strong>m neste local. A metodologia usa<strong>da</strong><br />

para tal foi a realização <strong>de</strong> um diagnóstico rápido participativo e as ferramentas<br />

metodológicas utiliza<strong>da</strong>s foram entrevistas enfocando o itinerário <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

<strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, buscando conhecer aspectos <strong>da</strong> <strong>colonização</strong>, organização inicial <strong>da</strong>s<br />

proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s, estruturação <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> nos aspectos sociais, culturais, esportivos,<br />

religiosos, produtivos e ambientais. Também foi confeccionado um mapa <strong>da</strong><br />

comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> com a i<strong>de</strong>ntificação dos moradores, as localizações <strong>da</strong>s moradias <strong>da</strong>s<br />

famílias, assim como foi elaborado uma tabela on<strong>de</strong> se inseriram as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>s pelas mesmas e as estratégias econômicas <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> uma <strong>de</strong>las. A análise<br />

que se <strong>de</strong>senvolveu foi sobre as mu<strong>da</strong>nças que ocorreram na comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> e nas famílias,<br />

neste período <strong>de</strong> 127 anos <strong>de</strong> existência <strong>de</strong>sta comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, analisando os diversos<br />

aspectos acima citados e as influências <strong>da</strong>s políticas públicas emana<strong>da</strong>s pelo estado,<br />

assim como mais recentemente a influência <strong>da</strong>s políticas <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento que o<br />

governo impulsionou. Estas mu<strong>da</strong>nças ocorri<strong>da</strong>s na comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> caracterizam três<br />

períodos bem distintos no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, sendo que o período inicial<br />

que foi <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a chega<strong>da</strong> <strong>da</strong>s primeiras famílias até o ano <strong>de</strong> 1970 e que se caracterizou<br />

pelo trabalho <strong>de</strong> estruturação comunitária realiza<strong>da</strong> pelos próprios moradores e o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> uma agricultura basea<strong>da</strong> na subsistência familiar, sendo seguido<br />

por outro período que perdurou até o ano <strong>de</strong> 1990 aproxima<strong>da</strong>mente e, que se<br />

caracterizou pela intensificação <strong>da</strong> produção <strong>de</strong> alguns produtos em <strong>de</strong>trimento <strong>da</strong><br />

segurança alimentar <strong>da</strong> família e a saí<strong>da</strong> <strong>de</strong> muitos jovens e famílias inteiras para as<br />

ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s próximas e finalmente este último período que se caracteriza pela mu<strong>da</strong>nça <strong>de</strong><br />

estratégia <strong>de</strong> sobrevivência <strong>da</strong>s famílias, sendo que <strong>da</strong>s atuais 125 famílias <strong>da</strong><br />

comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, 47 complementam a sua ren<strong>da</strong> com ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s fora <strong>da</strong> agricultura,<br />

enquanto que outras aliaram-se às integradoras, intensificaram a produção ain<strong>da</strong> mais, e<br />

que tem como característica a capitalização no período anterior, aliado ao fato <strong>da</strong> posse<br />

<strong>de</strong> terra <strong>da</strong>s áreas planas e férteis, assim como meta<strong>de</strong> <strong>da</strong>s famílias tem seu sustento<br />

proveniente <strong>da</strong> aposentadoria rural.<br />

Palavras chave: organização comunitária, saí<strong>da</strong> dos jovens, ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s não agrícolas.


HISTÓRIA DA COLONIZAÇÃO DA COMUNIDADE DE PICADA FELIPE<br />

ESSIG E CARACTERÍSTICAS DA AGRICULTURA FAMILIAR ALI<br />

DESENVOLVIDA<br />

Introdução<br />

O tema que procurarei <strong>de</strong>senvolver neste meu objeto <strong>de</strong> estudo é resgatar um<br />

pouco do histórico <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Pica<strong>da</strong> Felipe Essig, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a sua <strong>colonização</strong> até<br />

os dias atuais, buscando <strong>de</strong>sta forma i<strong>de</strong>ntificar também as principais características <strong>da</strong><br />

agricultura familiar, ali <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong> por seus moradores ao longo <strong>da</strong> <strong>história</strong>. Além do<br />

resgate <strong>da</strong> <strong>história</strong> <strong>de</strong>sta comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, é objetivo fazer também uma fotografia atual <strong>da</strong><br />

comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> com seus moradores, em seus aspectos econômicos, sociais, ambientais e<br />

culturais.<br />

Por outro lado pretendo avaliar como as políticas públicas do estado<br />

influenciaram o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>sta comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, especialmente a partir <strong>da</strong> déca<strong>da</strong><br />

<strong>de</strong> 1970 até a <strong>da</strong>ta <strong>de</strong> hoje, procurando conectar estas influências com a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> atual<br />

dos moradores e <strong>de</strong> sua comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

História <strong>da</strong> ocupação do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul<br />

Antes <strong>de</strong> iniciar a <strong>de</strong>screver a <strong>colonização</strong> <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Pica<strong>da</strong> Felipe<br />

Essig, acho oportuno fazer um breve relato do processo <strong>de</strong> ocupação do Rio Gran<strong>de</strong> do<br />

Sul até chegar ao ano <strong>de</strong> 1875, que foi a <strong>da</strong>ta <strong>de</strong> início <strong>da</strong> <strong>colonização</strong> <strong>da</strong> Comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, a<br />

qual nos reportaremos no estudo.<br />

Segundo os livros que narram a <strong>história</strong> do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul, estes contam que<br />

o Rio Gran<strong>de</strong> do Sul era inicialmente todo ocupado pelos indígenas, com suas diferentes<br />

tribos, que viviam as margens dos cursos <strong>de</strong> água, vivendo <strong>da</strong>quilo que a natureza lhes<br />

oferecia. Na comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> em estudo, há sinais evi<strong>de</strong>ntes <strong>da</strong> presença indígena, através<br />

<strong>da</strong> guar<strong>da</strong>, pelos moradores até os dias atuais, <strong>de</strong> objetos <strong>de</strong> cerâmicas indígenas, pontas<br />

<strong>de</strong> flechas e outros utensílios <strong>de</strong>sta cultura. Segundo <strong>de</strong>screve o historiador Lauro<br />

Nelson Fornari Thomé em seu livro “Arroio do Meio 50 anos”, 1984, na pág. 30, no<br />

capítulo “Solo Agreste,” que neste período nativo nosso território era habitado por<br />

2


índios Patos, mais tar<strong>de</strong> feito cativos, expulsos, exterminados ou al<strong>de</strong>ados e<br />

catequizados.<br />

As reduções Jesuíticas e as Missões<br />

A primeira ocupação do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul, conforme os mesmos livros, ocorreu<br />

através <strong>da</strong>s missões, promovi<strong>da</strong>s pelos padres Jesuítas na região noroeste do estado, que<br />

segundo os relatos foram fun<strong>da</strong>dos no período <strong>de</strong> 1626 e duraram até meados do século<br />

XIV. Estas reduções foram eliminados pelas sucessivas incursões dos ban<strong>de</strong>irantes, que<br />

saqueavam as reduções jesuíticas e escravizavam os índios. Também o mesmo<br />

historiador Lauro N.F. Thomé fala no seu livro “Arroio do Meio 50 anos” que<br />

“Também os ban<strong>de</strong>irantes acamparam em nossa região. Em 1636, Antônio Raposo<br />

Tavares com 120 paulistas e mil índios a seu serviço, precedido do capitão Diogo <strong>de</strong><br />

Mello, em outubro <strong>de</strong>sse ano teria acampado nas barrancas do Rio Taquari, município<br />

<strong>de</strong> Arroio do Meio”, <strong>da</strong> qual Pica<strong>da</strong> Felipe Essig fazia parte.<br />

As concepções <strong>de</strong> Sesmarias<br />

Após o período jesuítico, relatam os livros didáticos escolares, que narram a<br />

<strong>história</strong> do estado gaúcho, que a partir <strong>da</strong>quele momento, o governo Português iniciou o<br />

processo <strong>de</strong> ocupação do Estado através <strong>de</strong> concessões <strong>de</strong> terras em forma <strong>de</strong><br />

Sesmarias, aos portugueses que se <strong>de</strong>stacavam na <strong>de</strong>fesa <strong>da</strong> coroa.<br />

As terras <strong>da</strong> então futura comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Pica<strong>da</strong> Felipe Essig, que pertenciam ao<br />

município <strong>de</strong> Arroio do Meio no período, que o historiador Lauro N. F. Thomé, em<br />

1984, relata em seu livro “Arroio do Meio ano 50”, que parte <strong>da</strong>s áreas <strong>de</strong>ste município<br />

foram concedi<strong>da</strong>s em 1816 a Ricardo José Villa-Nova pelo Marquês <strong>de</strong> Alegrete, sendo<br />

após também agraciados com Sesmarias, o Senhor Bernardo Joaquim <strong>da</strong> Silva, ao lado<br />

<strong>de</strong> Sesmaria do primeiro, ou seja, a <strong>de</strong> Ricardo J. Villa-Nova. Também cita o autor que<br />

as áreas do distrito <strong>de</strong> Travesseiro, distrito que se emancipou em 20/03/1992,<br />

<strong>de</strong>smembrando-se do município <strong>de</strong> Arroio do Meio, suas terras haviam sido concedi<strong>da</strong>s<br />

em 16/03/1846 ao Capitão Francisco Silvestre Ribeiro, que jamais havia tomado posse<br />

antes <strong>da</strong> sua morte. Os her<strong>de</strong>iros para legitimar a posse junto ao estado ce<strong>de</strong>ram em<br />

troca <strong>da</strong> medição, meta<strong>de</strong> <strong>de</strong> sua Sesmaria para os medidores <strong>da</strong> mesma. A legalização<br />

<strong>da</strong> escritura foi obti<strong>da</strong> em 6 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1888.<br />

Processo <strong>de</strong> <strong>colonização</strong> alemã no Rio Gran<strong>de</strong> do Sul<br />

Michael G. Mulhall em seu livro “O Rio Gran<strong>de</strong> do Sul e suas colônias alemãs”,<br />

1873 em seu capítulo 13 relata, “A primeira colônia foi a <strong>de</strong> São Leopoldo, estabeleci<strong>da</strong><br />

pelo pai do atual Imperador D. Pedro I, nas férteis terras <strong>da</strong> Antiga Feitoria <strong>da</strong><br />

Cânhamo, ain<strong>da</strong> chama<strong>da</strong> <strong>de</strong> Feitoria Velha, nas margens do Rio dos Sinos, há quarenta<br />

e sete anos atrás. Segue o autor “A primeira leva <strong>de</strong> colonos alemães, compreen<strong>de</strong>ndo<br />

26 famílias e 17 pessoas solteiras, chegou em 25 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1824 e foi seguido alguns<br />

meses após, por mais 157 famílias com 909 pessoas”.<br />

Também relata o autor “Os primeiros colonos receberam lotes gratuitos <strong>de</strong> terra<br />

inculta, além <strong>de</strong> ferramentas agrárias, sementes e um subsídio para o seu sustento, até o<br />

3


segundo ano”. Ain<strong>da</strong> relata o autor, que as autori<strong>da</strong><strong>de</strong>s não haviam medido e <strong>de</strong>marcado<br />

corretamente as terras e esta questão gerou conflitos entre os colonos e muitos saíram<br />

em busca <strong>de</strong> colônias novas que estavam se formando.<br />

Este processo relatado por Michael G. Mulhall em seu livro escrito em 1873,<br />

<strong>de</strong>screve a forma <strong>da</strong> <strong>colonização</strong> pública promovi<strong>da</strong> pelo governo imperial do Brasil. A<br />

partir <strong>da</strong>quele momento, muitas levas <strong>de</strong> alemães aportavam pelo sul do Brasil,<br />

impulsiona<strong>da</strong>s pelo progresso <strong>da</strong>s colônias velhas, instituindo novas colônias, na<br />

maioria não em áreas públicas, mas adquirindo colônias <strong>de</strong> terras em áreas particulares.<br />

Lauro N.F. Thomé em seu livro “Arroio do Meio 50 anos” relata que o processo<br />

<strong>de</strong> <strong>colonização</strong> <strong>de</strong> Arroio do Meio, <strong>da</strong> qual Pica<strong>da</strong> Felipe Essig fazia parte, foi muito<br />

moroso, explicado em parte, pois o her<strong>de</strong>iro <strong>da</strong> sesmaria, família Fialho <strong>de</strong> Vargas, era<br />

também dona <strong>de</strong> outras áreas e estava promovendo os loteamentos <strong>de</strong> Moinhos e<br />

Conventos, no município <strong>de</strong> Lajeado. Tanto que em 1870, a sesmaria on<strong>de</strong> fica hoje a<br />

se<strong>de</strong> do município <strong>de</strong> Arroio do Meio, não somava ain<strong>da</strong> 10 famílias <strong>de</strong> colonizadores.<br />

E assim chegamos que em 1875, mais precisamente no mês <strong>de</strong> fevereiro quando<br />

chegou o primeiro colonizador <strong>da</strong>s terras que hoje são objetos do estudo, o qual foi o Sr.<br />

Phillip Essig.<br />

Localização <strong>de</strong> Pica<strong>da</strong> Felipe Essig<br />

A comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Pica<strong>da</strong> Felipe Essig situa-se à margem esquer<strong>da</strong> do Rio<br />

Forqueta, a 25 km do seu <strong>de</strong>sembocar no Rio Taquari, que é consi<strong>de</strong>rado como o rio<br />

mais veloz do estado. A comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> situa-se ao longo <strong>da</strong> estra<strong>da</strong> geral, numa extensão<br />

<strong>de</strong> 8 km, que liga a se<strong>de</strong> do município <strong>de</strong> Travesseiro até a se<strong>de</strong> do município <strong>de</strong> Pouso<br />

Novo.<br />

A Pica<strong>da</strong> Felipe Essig pertence atualmente ao município <strong>de</strong> Travesseiro-RS, o<br />

qual se emancipou em 20/03/1992 do município <strong>de</strong> Arroio do Meio. Por sua vez o<br />

município <strong>de</strong> Arroio do Meio foi criado em 28/11/1934, <strong>de</strong>smembrando-se do<br />

município <strong>de</strong> Lajeado, o qual foi instalado como município em 26/02/1891. A<br />

comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Pica<strong>da</strong> Felipe Essig dista 150 km <strong>de</strong> Porto Alegre.<br />

Em termos geográficos regionais, ela se localiza na região <strong>de</strong>nomina<strong>da</strong> <strong>de</strong> Vale<br />

do Taquari, sendo que o Rio Forqueta é um dos principais afluentes do Rio Taquari.<br />

Com a emancipação política <strong>de</strong> Travesseiro do município <strong>de</strong> Arroio do Meio e <strong>de</strong><br />

Marques <strong>de</strong> Souza do município <strong>de</strong> Lajeado, a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Pica<strong>da</strong> Felipe Essig<br />

encosta com as duas áreas urbanas <strong>de</strong>stas duas ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s.<br />

A topografia e as características do solo<br />

A topografia <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Pica<strong>da</strong> Felipe Essig é composta por duas áreas<br />

distintas, po<strong>de</strong>ndo-se caracterizar a estra<strong>da</strong> geral, em seus 8 km <strong>de</strong> extensão, como<br />

divisor topográfico. Na faixa compreendi<strong>da</strong> entre a estra<strong>da</strong> geral e o Rio Forqueta<br />

localizam-se terras planas, <strong>de</strong>nomina<strong>da</strong>s pelos moradores <strong>de</strong> várzeas, situados na<br />

4


altitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> 88 m acima do nível do mar, com boa fertili<strong>da</strong><strong>de</strong> natural, sendo que algumas<br />

<strong>de</strong>stas áreas estão sujeitas a inun<strong>da</strong>ções, e representam 20% <strong>da</strong> área <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

As terras localiza<strong>da</strong>s no outro lado <strong>da</strong> estra<strong>da</strong> geral são essencialmente<br />

<strong>de</strong>clivosas. São as recostas do morro, que chegam a altitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> 450 m, circun<strong>da</strong>ndo todo<br />

o lado <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, sendo que sobre o topo <strong>da</strong> mesma passa o travessão que separa a<br />

comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s outras. As terras são rasas, porém <strong>de</strong> boa fertili<strong>da</strong><strong>de</strong> natural. Portanto a<br />

comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> se localiza entre o Rio Forqueta e o morro que a circun<strong>da</strong> em uma extensão<br />

<strong>de</strong> 8 km, residindo os moradores ao longo <strong>da</strong> estra<strong>da</strong> geral.<br />

Origem do nome <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

Mapa plani-altimétrico <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

A comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> objeto <strong>de</strong>ste estudo a partir <strong>de</strong>ste momento é a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Pica<strong>da</strong> Felipe Essig, porém seu nome já foi alterado várias vezes, mas sempre<br />

permanecendo a sua relação com o seu primeiro colonizador. Inicialmente era chama<strong>da</strong><br />

<strong>de</strong> Essig-pika<strong>de</strong> ou Pica<strong>da</strong> Essig. Com o advento <strong>da</strong> IIª. Guerra Mundial, com a<br />

<strong>de</strong>claração <strong>de</strong> guerra pelo Brasil a Alemanha, momento em que a língua alemã foi<br />

5


proibi<strong>da</strong> no Brasil, o nome <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> foi traduzido para o português, sendo<br />

chama<strong>da</strong> <strong>de</strong>ste momento em diante <strong>de</strong> Pica<strong>da</strong> Vinagre e finalmente em 1950, seu nome<br />

foi novamente <strong>de</strong>finido <strong>de</strong> Pica<strong>da</strong> Felipe Essig, pela Lei nº. 9 do então prefeito <strong>de</strong><br />

Arroio do Meio, Sr. Antônio Fornari.<br />

Origem <strong>da</strong>s terras <strong>de</strong> Pica<strong>da</strong> Felipe Essig<br />

To<strong>da</strong>s as terras <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Pica<strong>da</strong> Felipe Essig, pertenciam anteriormente<br />

a Fre<strong>de</strong>rico Adolfo Moog, o qual residia em São Leopoldo. Em fevereiro <strong>de</strong> 1875,<br />

conforme <strong>de</strong>scrito na Árvore Genealógica <strong>da</strong> Família Essig,<br />

on<strong>de</strong> <strong>de</strong>screve a vi<strong>da</strong> <strong>de</strong> Phillip Essig, em artigo assinado por<br />

Érico Egônio Essig, <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>nte do mesmo, o Sr. Phillip Essig<br />

adquiriu as três primeiras colônias <strong>de</strong> terra <strong>de</strong> Fre<strong>de</strong>rico Adolfo<br />

Moog, localiza<strong>da</strong>s na parte sul <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> e subindo <strong>de</strong><br />

canoa pelo Rio Forqueta em fevereiro <strong>de</strong> 1875, encontrou suas<br />

novas terras, to<strong>da</strong>s cobertas <strong>de</strong>nsamente <strong>de</strong> matos virgens.<br />

Em 1895, mais precisamente no dia 28 <strong>de</strong> janeiro, já no<br />

final <strong>da</strong> Revolução dos Maragatos e por <strong>de</strong>sentendimento com<br />

um vizinho, que queria fugir dos revolucionários que estavam<br />

próximos e, sendo este contrário a este grupo, necessitando<br />

para tal a canoa empresta<strong>da</strong> do Sr. Phillip Essig para se dirigir<br />

ao outro lado do rio, este foi morto pelo vizinho e encontra-se enterrado em cemitério<br />

particular <strong>da</strong> família em sua proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>, na comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Pica<strong>da</strong> Felipe Essig.<br />

O <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Pica<strong>da</strong> Felipe Essig<br />

Este capítulo tem por objetivo <strong>de</strong>screver como ocorreu o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong><br />

comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o ano <strong>de</strong> 1875 até os dias atuais, analisando os aspectos econômicos,<br />

sociais, culturais, religiosos e ambientais e para tanto estamos subdividindo este período<br />

em três fases, que caracterizam o processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />

especialmente no fator econômico, que traz consigo as implicações nos <strong>de</strong>mais aspectos<br />

<strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, especialmente no período mais recente <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, ligado a forma<br />

<strong>de</strong> exploração <strong>da</strong> terra e na prática <strong>da</strong> agricultura.<br />

A técnica utiliza<strong>da</strong> foi um diagnóstico participativo com a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> e<br />

consulta ao material bibliográfico existente. A metodologia utiliza<strong>da</strong> foi aquela no qual<br />

os moradores contaram o que conheciam <strong>da</strong> <strong>história</strong> <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>de</strong>screvendo seu<br />

itinerário <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, não só no aspecto econômico, mas também as questões<br />

sociais, culturais, ambientais e preconceitos que existiram ao longo <strong>de</strong>sta <strong>história</strong>.<br />

Outra ferramenta metodológica utiliza<strong>da</strong> foi a construção <strong>de</strong> um mapa atual com<br />

as famílias e a sua inserção econômica.<br />

6


Iª. FASE – PERÍODO 1875 A 1965<br />

A FASE DE ESTRUTURAÇÃO DA COMUNIDADE E DA<br />

AGRICULTURA DE SUBSISTÊNCIA<br />

Após a chega<strong>da</strong> dos primeiros moradores, as famílias logo tentaram se organizar<br />

para existir como comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>. Mais e mais famílias foram chegando, após a chega<strong>da</strong> do<br />

Sr. Philip Essig e foram <strong>da</strong>ndo vi<strong>da</strong> e consistência a mesma, tentando reproduzir tudo<br />

aquilo que conheciam <strong>da</strong>s suas comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> origens e mesmo muito do que haviam<br />

trazido <strong>da</strong> pátria mãe.<br />

O Sr. Phillip Essig se <strong>de</strong>dicou após a sua chega<strong>da</strong> e a vin<strong>da</strong> do restante <strong>da</strong> sua<br />

família, à agricultura <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong> pela família. Segundo artigo escrito em sua<br />

biografia, Livro <strong>da</strong> “Árvore genealógica <strong>da</strong> Família Essig”, consta que suas principais<br />

culturas cultiva<strong>da</strong>s foram o milho, arroz, feijão, batata inglesa, cana-<strong>de</strong>-açúcar e<br />

naturalmente o cultivo <strong>de</strong> hortaliças. Poucos produtos eram aceitos no mercado e seus<br />

preços eram na<strong>da</strong> compensadores. Os produtos eram produzidos para sobrevivência <strong>da</strong><br />

família. Também é <strong>de</strong>scrito em sua biografia que eles se <strong>de</strong>dicavam, mesmo <strong>de</strong> forma<br />

rudimentar a produção <strong>de</strong> tijolos, os quais eram vendidos aos novos vizinhos para a<br />

construção <strong>de</strong> fornos <strong>de</strong> pão e fogões <strong>de</strong> chapas <strong>de</strong> ferro.<br />

A medi<strong>da</strong> que novos moradores iam chegando, estes também iam se <strong>de</strong>dicando a<br />

agricultura <strong>de</strong> subsistência e <strong>de</strong>senvolvendo outras habili<strong>da</strong><strong>de</strong>s, as quais conheciam e<br />

que eram necessárias para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

A vi<strong>da</strong> religiosa e a cultura<br />

Assim a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> foi crescendo e se <strong>de</strong>senvolvendo, sendo que em 1908, foi<br />

ergui<strong>da</strong> a primeira igreja <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, a qual foi a Igreja Evangélica <strong>de</strong> Confissão<br />

Luterana do Brasil (IECLB), situa<strong>da</strong> on<strong>de</strong> ain<strong>da</strong> hoje existe a igreja <strong>da</strong> mesma<br />

confissão.<br />

Igreja <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> IECLB<br />

7


Um fato pitoresco é que praticamente todos os moradores eram e ain<strong>da</strong> são <strong>da</strong><br />

confissão luterana ou ditos <strong>de</strong> protestantes. Porém em 1926, ocorreu um<br />

<strong>de</strong>sentendimento entre alguns moradores e o pastor <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, o qual se recusou a<br />

confirmar parte dos Confirmandos, alegando que só seria possível no ano seguinte. Um<br />

grupo expressivo <strong>de</strong> membros se retirou <strong>da</strong> congregação e em terreno cedido por Adão<br />

Kheller construíram nova igreja, também evangélica, mas liga<strong>da</strong> a Igreja Evangélica<br />

Luterana do Brasil (IELB), inaugura<strong>da</strong> em janeiro <strong>de</strong> 1928. Esta crise religiosa <strong>da</strong><br />

comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> trouxe também reflexos em outros setores por longo tempo, especialmente<br />

na questão educacional.<br />

As igrejas tiveram forte influência organizativa na comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>. Agregado a elas,<br />

na fase inicial havia as escolas evangélicas, alem também do <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong><br />

habili<strong>da</strong><strong>de</strong> dos cantos através dos Coros mistos <strong>de</strong> cantores <strong>da</strong>s duas igrejas fun<strong>da</strong><strong>da</strong>s<br />

respectivamente em 1932. Além do <strong>de</strong>senvolvimento dos Coros mistos estimularam a<br />

criação dos <strong>de</strong>partamentos femininos <strong>da</strong> Or<strong>de</strong>m Auxiliadora <strong>da</strong>s Senhoras Evangélicas<br />

<strong>de</strong> ambas as igrejas, sendo a <strong>da</strong> IECLB fun<strong>da</strong><strong>da</strong> em 1957 e a <strong>da</strong> IELB em 1955.<br />

Acoplado às igrejas existiam<br />

os galpões para as festas <strong>da</strong><br />

comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> os quais mais recentemente,<br />

a partir <strong>de</strong> 1997 foram<br />

a<strong>da</strong>ptados em casas mortuárias para<br />

os membros <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s.<br />

A comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> também é<br />

servi<strong>da</strong> por dois cemitérios,<br />

Coro misto <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> IELB<br />

pertencentes a ca<strong>da</strong> igreja, no qual<br />

são enterrados seus membros<br />

falecidos. Outro cemitério existente,<br />

porém já <strong>de</strong>sativado é o que pertencia a família do primeiro morador, o qual o fez em<br />

sua proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> e on<strong>de</strong> foram enterrados seus familiares no início <strong>da</strong> <strong>colonização</strong>.<br />

Outro fator cultural <strong>de</strong> forte influência é a Socie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Cantores Concórdia,<br />

fun<strong>da</strong><strong>da</strong> em 1911, composta por 7 fun<strong>da</strong>dores, que existiu durante todo o período e que<br />

imprimiu vi<strong>da</strong> cultural a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, através <strong>da</strong> realização dos bailes <strong>de</strong> corais, sua<br />

participação em cultos, festas e enterros <strong>de</strong> membros <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

A comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> também foi muito rica em aspectos<br />

musicais. Muitos <strong>de</strong>senvolveram a habili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> música e<br />

formavam conjuntos que animavam as festas e bailes <strong>da</strong><br />

comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> e <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s vizinhas. Outro fato<br />

importante foi a presença hábil <strong>de</strong> regentes <strong>de</strong> corais, que<br />

orientavam os grupos locais e também prestavam seus<br />

préstimos aos grupos <strong>de</strong> outras comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s.<br />

Na comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> também existe um monumento em<br />

homenagem ao seu primeiro morador, Sr. Phillip Essig, o qual<br />

traz os <strong>da</strong>dos do mesmo. Este monumento foi inaugurado em 1950.<br />

8


Outro fator cultural importante a <strong>de</strong>stacar neste período, foi o conhecimento<br />

existente na família e na comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> habili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> transformação <strong>de</strong> tudo o que se<br />

produzia e necessitava para a sobrevivência e tornar as famílias auto-sustentáveis. Este<br />

conhecimento foi trazido pelos primeiros colonizadores e passado <strong>de</strong> geração a geração<br />

por <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> família. Neste mesmo sentido, <strong>de</strong>staque para o conhecimento <strong>da</strong> saú<strong>de</strong> e<br />

cura que também se centralizava na família e naquilo que a natureza lhes oferecia.<br />

A organização social e esportiva <strong>da</strong> Comuni<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

A organização social no início <strong>da</strong> <strong>colonização</strong> sempre esteve muito liga<strong>da</strong> a vi<strong>da</strong><br />

religiosa. As igrejas realizavam as suas festas periódicas com intuito <strong>de</strong> arreca<strong>da</strong>r<br />

fundos, para investir na melhoria <strong>da</strong>s estruturas. Inicialmente as festas eram realiza<strong>da</strong>s<br />

em bosques que ofereciam sombra e ali se montavam a infra-estrutura para a realização<br />

<strong>da</strong>s mesmas, sempre precedidos <strong>de</strong> cultos e animados por bandinhas. Posteriormente as<br />

igrejas construíram seus galpões para festas, acoplados a mesma e que eram providos <strong>de</strong><br />

infra-estrutura, especialmente churrasqueiras, cozinha e bar (bo<strong>de</strong>ga).<br />

A Socie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Cantores Concórdia também freqüentemente promovia seus<br />

bailes <strong>de</strong> cantores, integrando diversos grupos <strong>de</strong> cantos <strong>de</strong> outras comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s.<br />

Outra <strong>da</strong>ta marcante foram os “Kerb”, realizados anualmente no terceiro final <strong>de</strong><br />

semana do mês <strong>de</strong> janeiro, eram realizados em família, on<strong>de</strong> se recebia a visita <strong>de</strong><br />

parentes e amigos <strong>de</strong> outras comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s e nas noites se realizavam os bailes <strong>de</strong> Kerb<br />

no salão <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>. Os Kerb sempre eram festejados durante três dias.<br />

Também eram festejados com ênfase os feriados religiosos como a Páscoa,<br />

Natal, Pentecostes, Ano Novo e assim como o Dia do Colono e muito respeitados os<br />

feriados ocorridos na Semana Santa e nos Finados. Os acontecimentos familiares<br />

sempre eram motivos <strong>de</strong> confraternização como os batizados, confirmações religiosas e<br />

o casamento. Destes costumes tão tradicionais, muito pouco resta, a não ser o feriado<br />

pelo feriado, sem o sentido que estava por trás <strong>de</strong>le.<br />

As ligas femininas <strong>da</strong>s igrejas também promoviam os seus encontros, que<br />

combinavam momentos <strong>de</strong> <strong>de</strong>voção com um tradicional café colonial. Esta prática ain<strong>da</strong><br />

existe até os dias <strong>de</strong> hoje, porém com menor freqüência.<br />

O primeiro time <strong>de</strong> futebol <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> foi fun<strong>da</strong>do na déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1940 e seu<br />

nome foi Esporte Clube 1 o . <strong>de</strong> Maio e que atualmente se <strong>de</strong>nomina <strong>de</strong> Socie<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

Esportiva Recreativa Cultural Felipe Essig. Em 1958 foi fun<strong>da</strong>do próximo ao passo <strong>da</strong><br />

barca o Esporte Clube 15 <strong>de</strong> Novembro, que por falta <strong>de</strong> atletas <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> existir alguns<br />

anos mais tar<strong>de</strong>.<br />

Também na questão social cabe <strong>de</strong>stacar a relação <strong>de</strong> vizinhança, sempre forte,<br />

uni<strong>da</strong> e solidária. Nesta relação <strong>de</strong> vizinhança se trocavam idéias, produtos e se<br />

<strong>de</strong>senvolvia ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> aju<strong>da</strong> mútua. Esta relação <strong>de</strong> vizinhança sempre foi um dos<br />

pilares do <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong> família e <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

9


A organização Escolar <strong>da</strong> Comuni<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

A preocupação com a educação escolar sempre era forte nas colônias alemãs e<br />

todo esforço era <strong>de</strong>spendido pela família a propiciar o máximo <strong>de</strong> conhecimento aos<br />

seus membros.<br />

Segundo relato dos moradores,<br />

as primeiras crianças a irem na escola,<br />

o faziam atravessando o Rio Forqueta,<br />

on<strong>de</strong> freqüentavam a escola existente<br />

em Marques <strong>de</strong> Souza.<br />

Com um número já razoável <strong>de</strong><br />

crianças na comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, os pais<br />

Escola Evangélica Alemã<br />

contrataram um professor e as aulas<br />

eram realiza<strong>da</strong>s no Salão Khol, que<br />

posteriormente foi <strong>de</strong>struído por um<br />

incêndio. A partir <strong>de</strong>ste momento, a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> criou a Escola Evangélica Alemã, a<br />

qual funcionava na igreja já construí<strong>da</strong> pertencente a congregação <strong>da</strong> IECLB.<br />

Em 1926, com o <strong>de</strong>sentendimento entre membros <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, que culminou<br />

com a construção <strong>de</strong> uma nova igreja, os alunos dos pais que se <strong>de</strong>sligaram <strong>de</strong>sta,<br />

foram impedidos <strong>de</strong> freqüentar a antiga escola, o que fez com que nesta nova igreja uma<br />

outra escola fosse cria<strong>da</strong>, isto em 1926, pertencente a congregação <strong>da</strong> IELB.<br />

No ano <strong>de</strong> 1947 ocorreu o acerto entre os membros <strong>da</strong>s duas comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

religiosas e escolares e <strong>de</strong> comum acordo resolveram fun<strong>da</strong>r a Escola Particular São<br />

Emanuel, em terras doa<strong>da</strong>s por Arthur Walter, pagando ca<strong>da</strong> sócio a quantia <strong>de</strong> 150 mil<br />

reis, sendo a partir <strong>da</strong>í extintos as escolas liga<strong>da</strong>s as igrejas.<br />

Em 1963, com o crescimento do número <strong>de</strong> famílias foi cria<strong>da</strong> a Escola<br />

Municipal Pica<strong>da</strong> Vinagre, que inicialmente <strong>de</strong>senvolvia suas aulas no Salão Nied e em<br />

1964 foi inaugurado seu atual prédio, sendo seu primeiro professor o Sr. Erreno<br />

Jommertz, que chegou a um máximo <strong>de</strong> 54 alunos <strong>da</strong> primeira a quinta série primária.<br />

Com o aumento ain<strong>da</strong> maior do número <strong>de</strong> famílias e <strong>de</strong> crianças em i<strong>da</strong><strong>de</strong> escolar e a<br />

longa distância até as escolas por parte <strong>de</strong> alguns alunos, em 03/1967 foi construí<strong>da</strong> a<br />

Escola Municipal Pica<strong>da</strong> Vinagre Alta, que contava com 33 alunos sendo a primeira<br />

professora a Srª Eli<strong>de</strong>s Bettio. Contava a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> apartir <strong>da</strong>í com três escolas<br />

primárias.<br />

No ano <strong>de</strong> 1994, encerrou suas ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s por falta <strong>de</strong> alunos a Escola<br />

Municipal. <strong>de</strong> 1 o . grau Incompleto Felipe Essig, antiga Escola Particular São Emanuel e<br />

no ano <strong>de</strong> 1996, a Escola Municipal <strong>de</strong> Pica<strong>da</strong> Vinagre Alta também encerrou suas<br />

ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s com apenas um aluno matriculado.<br />

A Escola Municipal Pica<strong>da</strong> Vinagre, ain<strong>da</strong> funciona atualmente, porém, com<br />

apenas 10 alunos, mas com perspectiva <strong>de</strong> encerrar suas ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s no final <strong>de</strong>ste ano.<br />

10


Alguns <strong>de</strong>stes alunos são trazidos <strong>de</strong> outras comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s, sendo que no momento só<br />

funciona a 2 a . série primária.<br />

Aspectos comerciais <strong>da</strong> Comuni<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

No começo <strong>da</strong> <strong>colonização</strong> to<strong>da</strong> a comercialização <strong>de</strong> produtos ou aquisições<br />

eram feitos em Lajeado, naquela época ain<strong>da</strong> Vila, distante 28 Km <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Pica<strong>da</strong> Felipe Essig. O <strong>de</strong>slocamento era feito <strong>de</strong> canoa pelo rio e após por carroças e<br />

mulas em piques e estra<strong>da</strong>s que iam sendo abertas.<br />

Um dos primeiros comerciantes <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> teria sido um senhor Khol, o<br />

qual possuía também um pequeno salão <strong>de</strong> baile. Outros comerciantes <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

em sua fase inicial foram Albano Gehwer, Henrique Geiss, Alfredo Ay<strong>da</strong>r. Em 1960<br />

existiam quatro pontos comerciais fortes, sendo um <strong>de</strong>les a Cooperativa Agrícola Mista<br />

Pica<strong>da</strong> Essig, fun<strong>da</strong><strong>da</strong> em 07/1957, a casa Comercial <strong>de</strong> Bruno G. Storck e Miguel<br />

Pilger; outra <strong>de</strong> Osvino Weizenmann e finalmente a <strong>de</strong> Fridoldo Wan<strong>de</strong>rer, junto ao<br />

passo <strong>da</strong> barca.<br />

A Cooperativa foi incorpora<strong>da</strong> pela Cosuel em 1968, transforma<strong>da</strong> em Posto 9 e<br />

em 1973 foi <strong>de</strong>sativa<strong>da</strong> e vendi<strong>da</strong>, sendo adquiri<strong>da</strong> por Walter Weimer que preserva a<br />

única casa comercial ain<strong>da</strong> existente na Comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, hoje <strong>de</strong> proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> seu filho<br />

Edison O. Weimer.<br />

No ano <strong>de</strong> 1940 foi adquirido o primeiro caminhão <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> pelo Sr. Arno<br />

Lienemann e também neste ano teve início a criação <strong>de</strong> uma linha regular <strong>de</strong> ônibus na<br />

comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, passando uma vez por semana.<br />

A agricultura e sua estrutura <strong>de</strong> apoio<br />

A base <strong>da</strong> produção <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> nesta fase sempre foi a agricultura,<br />

<strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong> pela família, alia<strong>da</strong> a um forte conhecimento <strong>de</strong> transformação dos<br />

produtos produzidos e ao conhecimento dos processos <strong>de</strong> conservação dos mesmos.<br />

Esta era uma característica inerente aos colonizadores, que chegavam as suas<br />

comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s e implantavam um forte sistema produtivo, baseado na segurança<br />

alimentar <strong>da</strong> família e no domínio <strong>de</strong> todo processo produtivo por parte <strong>da</strong> família e na<br />

biodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong>. Outra característica <strong>de</strong>sta fase foi a implantação <strong>de</strong> estruturas <strong>de</strong> apoio<br />

na comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> como moinhos, ferrarias, carpintarias entre outros, as quais eram<br />

<strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>s pelos próprios agricultores, que além <strong>da</strong> lavoura se <strong>de</strong>dicavam a esta<br />

prestação <strong>de</strong> serviço.<br />

O prof. Friedhold Altmann, em seu livro “A Ro<strong>da</strong>”, escrito em 1991 fala <strong>da</strong> sua<br />

comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> no vizinho município <strong>de</strong> Teutônia, igualmente coloniza<strong>da</strong> por alemães, na<br />

pg. 17 e 18 <strong>de</strong>screve a vi<strong>da</strong> em sua casa dizendo:<br />

Em nossa casa havia um bom relacionamento entre pais e irmãos. Des<strong>de</strong> cedo as<br />

crianças aju<strong>da</strong>vam nas li<strong>da</strong>s domésticas e <strong>da</strong> lavoura, executando tarefas compatíveis com<br />

sua i<strong>da</strong><strong>de</strong> e habili<strong>da</strong><strong>de</strong>. Os produtos <strong>da</strong> colheita <strong>de</strong>stinavam-se em primeiro lugar a suprir<br />

as nossas necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s, <strong>de</strong>pois disso se vendiam as sobras. Vendíamos banha, manteiga,<br />

aves, ovos, feijão e batatas. (Altmann, 1991, p. 17 e 18)<br />

11


Fala ain<strong>da</strong> que faziam schmier, doces, lingüiça, carneavam ovelhas em dias <strong>de</strong><br />

festas e curtiam os pelegos. Tinham gansos, patos que produziam penas para<br />

travesseiros e cobertores.<br />

Segundo os relatos dos moradores <strong>da</strong> Pica<strong>da</strong> Felipe Essig, sua estruturação<br />

produtiva foi semelhante. A proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> era organiza<strong>da</strong> num sistema <strong>de</strong> produção,<br />

combinando lavouras e criações on<strong>de</strong> to<strong>da</strong>s as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s tinham importância no sistema<br />

produtivo, lhe conferindo sustentabili<strong>da</strong><strong>de</strong> e produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Esquema produtivo <strong>de</strong> uma proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> familiar neste período e sua<br />

biodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong> conforme narrativa dos moradores <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>:<br />

CULTURAS CRIAÇÕES<br />

milho, abóbora, aipim, mandioca, alfafa,<br />

amendoim, arroz, batata-doce, batata<br />

inglesa, cana-<strong>de</strong>-açúcar, cebola, feijão,<br />

frutas, lentilha, linhaça, pipoca, trigo,<br />

vassoura, vime, porongos, melão, ervilhaca,<br />

banana, fumo, soja, melancia <strong>de</strong> porco,<br />

cará, esfregão, ervas medicinais, flores,<br />

etc...<br />

bois<br />

vacas<br />

cavalos<br />

porcos<br />

ovelhas<br />

cabritos<br />

abelhas<br />

coelhos<br />

patos<br />

perus<br />

gansos<br />

cachorros<br />

gatos<br />

galinha <strong>de</strong> angola<br />

Baseado neste sistema <strong>de</strong> produção, combinando lavouras e criações, as famílias<br />

<strong>de</strong>senvolviam suas habili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> transformação, produzindo na proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> ou na<br />

comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>: açúcar, melado, schmier, cerveja, cachaça, manteiga, fumo em cor<strong>da</strong>, nata,<br />

queijo, móveis, vassouras, cor<strong>da</strong>s <strong>de</strong> couro, chapéus, cestas, vinagre, salame, banha,<br />

vinho, polvilho, conservas, erva-mate, cuias, colchões, cobertores, travesseiros, roupas,<br />

utensílios domésticos e ferramentas, calçados, compotas, etc... Alguns <strong>de</strong>stes produtos<br />

eram comercializados e os <strong>de</strong>mais <strong>de</strong>stinados para a segurança alimentar <strong>da</strong> família e <strong>de</strong><br />

seu conforto.<br />

Os principais produtos comercializados no período foram: suínos, banha, leite,<br />

ovos, galinhas, feijão e mel. Segundo o historiador Rodolfo Roberto Schroe<strong>de</strong>r Filho em<br />

seu livro “Pelas trilhas do Passado” ele cita na crônica “Reminiscência do Frigorífico<br />

Ardomé S.A, páginas. 101 a 103, que o frigorífico instalado em Arroio do Meio<br />

adquiriu suínos no segundo semestre <strong>de</strong> 1946 dos dois comerciantes <strong>de</strong> Pica<strong>da</strong> Felipe<br />

Essig respectivamente: Alfredo Ay<strong>da</strong>r, 444 suínos e Laurindo Wei<strong>de</strong>, 585 suínos, em<br />

meio ano. O que é confirmado pelos moradores, que a ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> suinícola sempre esteve<br />

presente em to<strong>da</strong>s as proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s e era a principal fonte <strong>de</strong> dinheiro <strong>da</strong> família,<br />

inicialmente pela comercialização <strong>de</strong> banha e couro e <strong>de</strong>pois pela ven<strong>da</strong> direta dos<br />

suínos.<br />

Ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s agroindustriais e <strong>de</strong> serviços existentes na comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> neste<br />

período<br />

Segundo os moradores existiam neste período na Comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>: serrarias,<br />

marcenarias, ferrarias, funilarias, lapi<strong>da</strong>rias, alambique, moinho, fábrica <strong>de</strong> cerveja,<br />

açougue, alfaiate, auto-<strong>de</strong>-praça, parteira, fábrica <strong>de</strong> caseína, <strong>de</strong>snata<strong>de</strong>ira, barbearia,<br />

12


sapataria, olaria, costureira, barqueiros, caíqueiros e outros profissionais como pedreiros<br />

e pintores.<br />

Como a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> se localiza ao longo do Rio Forqueta, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> logo os<br />

moradores estabeleceram passagens pelo rio, pela possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> intercâmbio com as<br />

comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s do outro lado do mesmo. Estas passagens consistiam em barcas e canoas,<br />

sendo que em 1883 o Sr. João <strong>de</strong> Potter se estabeleceu com uma barca e em 1890 o Sr.<br />

Phillip Essig, inaugurou a sua barca em local hoje chamado Passo <strong>de</strong> Marques <strong>de</strong><br />

Souza, que funciona até os dias <strong>de</strong> hoje. Além disto havia várias canoas que também<br />

faziam a passagem dos moradores para ambos os lados do rio.<br />

Barca sobre o Rio Forqueta que serve a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1890<br />

Outras questões importantes na organização <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

Outro fator importante na estruturação <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> foi a implantação <strong>da</strong> re<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> energia elétrica. Segundo os moradores <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1930, ocorria o abastecimento <strong>de</strong><br />

energia elétrica, produzido por motor à lenha, abastecendo os moradores no entorno do<br />

passo <strong>de</strong> Marques <strong>de</strong> Souza. Porém, a re<strong>de</strong> geral <strong>de</strong> energia elétrica foi viabiliza<strong>da</strong> pelos<br />

moradores no ano <strong>de</strong> 1957, esten<strong>de</strong>ndo sua re<strong>de</strong> para aproxima<strong>da</strong>mente 70% dos<br />

moradores. A re<strong>de</strong> inicial chegou <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início sul <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> até a proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> do<br />

Sr. Ermindo Kraemer. A re<strong>de</strong> somente foi estendi<strong>da</strong> a todos os moradores no ano <strong>de</strong><br />

1975. Cabe ressaltar que todo o custo <strong>de</strong> instalação <strong>da</strong>s re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> energia foi custea<strong>da</strong><br />

pelos próprios moradores, sendo que a ampliação <strong>de</strong> 1975, foi financia<strong>da</strong> por recursos<br />

públicos, ressarcidos pela comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, na mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> crédito rural.<br />

Aspectos ambientais associados ao período<br />

Os principais problemas ambientais associados ao período inicial <strong>de</strong><br />

<strong>colonização</strong>, ligados a prática <strong>da</strong> agricultura <strong>de</strong> subsistência e <strong>de</strong>stacados pelos<br />

moradores foram: <strong>de</strong>smatamento <strong>da</strong>s florestas nativas, uso <strong>da</strong> queima<strong>da</strong>, pesca<br />

pre<strong>da</strong>tória no rio, perseguição <strong>de</strong> animais silvestres e a expulsão dos índios.<br />

Neste período também <strong>de</strong>stacam os moradores o zelo que as famílias tinham por<br />

alguns recursos naturais disponíveis, especialmente a água e o solo. A erosão era<br />

combati<strong>da</strong> <strong>de</strong> to<strong>da</strong>s as formas, utilizando práticas conservacionistas a<strong>da</strong>pta<strong>da</strong>s, e a água<br />

13


<strong>da</strong>s fontes e <strong>da</strong>s pequenas sangas era utilizado para banho, lavar roupa, saciar a se<strong>de</strong> dos<br />

animais e para o consumo <strong>de</strong> muitas famílias. A comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> era muito rica em água,<br />

especialmente fontes naturais e pequenos riachos.<br />

Este período também foi caracterizado pela saí<strong>da</strong> <strong>de</strong> muitas famílias <strong>de</strong><br />

agricultores, especialmente jovens casais, que iam para novas áreas <strong>de</strong> <strong>colonização</strong>,<br />

situa<strong>da</strong>s no noroeste do estado, assim como também iam para Santa Catarina e Paraná<br />

atrás <strong>de</strong> novas fronteiras agrícolas. A causa aponta<strong>da</strong> pelos moradores foi o gran<strong>de</strong><br />

número <strong>de</strong> filhos existentes na maioria <strong>da</strong>s famílias e as proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s já pequenas<br />

inviabilizavam a repartição <strong>da</strong>s mesmas para todos, pois a área her<strong>da</strong><strong>da</strong> seria<br />

insuficiente para a sustentação <strong>de</strong>sta nova família. Aliado a este fato estava o espírito<br />

<strong>de</strong>sbravador <strong>de</strong>stas famílias e também o fato <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s não absorverem a mão-<strong>de</strong>-obra<br />

exce<strong>de</strong>nte do meio-rural.<br />

Vista geral <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> e <strong>da</strong>s águas do rio Forqueta<br />

14


IIª FASE – 1965 A 1990<br />

A INTENSIFICAÇÃO DA PRODUÇÃO E A TECNOLOGIA<br />

EXTERNA.<br />

A partir <strong>da</strong> meta<strong>de</strong> <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 70 ocorreram muitas mu<strong>da</strong>nças na comuni<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Pica<strong>da</strong> Felipe Essig assim como em to<strong>da</strong> a região.<br />

Este período, segundo os moradores, foi o <strong>da</strong> intensificação <strong>da</strong> produção e <strong>da</strong><br />

produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> apenas alguns produtos <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, porém com varie<strong>da</strong><strong>de</strong>s e<br />

técnicas diferentes <strong>da</strong>s que tradicionalmente utilizavam os agricultores, abandonando ou<br />

relegando para segundo plano muitas culturas <strong>da</strong> subsistência familiar.<br />

O Processo <strong>de</strong> abertura <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Segundo os moradores, este período se caracterizou por relações mais amplas e<br />

com atores <strong>de</strong> fora <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>. A comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> se abriu para as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

e se caracterizou por relações mais comerciais ou <strong>de</strong> fundo comercial.<br />

As ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s agrícolas intensifica<strong>da</strong>s, já não eram mais as que o produtor tinha<br />

domínio, ou nas quais a sua proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> se a<strong>da</strong>ptava. As principais ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

incrementa<strong>da</strong>s foram a suinocultura, o leite, a soja e o milho. Mas também abriu um<br />

ciclo <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência <strong>de</strong> insumos, o que se esten<strong>de</strong>u para <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> família, pois o<br />

agricultor abriu mão <strong>da</strong> produção para a subsistência familiar e foi buscar no mercado o<br />

que mais necessitava para a sua alimentação.<br />

As famílias sentiram o gosto pelo mercantilismo. Produzir somente para ven<strong>de</strong>r<br />

e comprar tudo o que precisavam para sobreviver. Esta fase estimulou em muito a<br />

concorrência entre os agricultores e o individualismo <strong>da</strong>s famílias, ca<strong>da</strong> um querendo<br />

produzir mais, pois a valorização <strong>da</strong>s famílias se <strong>da</strong>va pelo volume <strong>de</strong> produção, sua<br />

relação com os atores do mercado e pelos bens <strong>de</strong> luxo superiores aos <strong>de</strong>mais que<br />

possuíam.<br />

Porém esta fase tambem trouxe alterações nos hábitos alimentares <strong>da</strong> família e<br />

na relação <strong>da</strong> saú<strong>de</strong> com o conhecimento próprio <strong>da</strong> família e com a disponibili<strong>da</strong><strong>de</strong> dos<br />

remédios na natureza. Estas questões também se tornam externas à proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> e à<br />

família, isto é, foram busca<strong>da</strong>s no mercado e na ci<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

As novas enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s associativas<br />

Neste período surgiram diversas associações e grupos que tinham em seu<br />

objetivo o estímulo a produção e a produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong>. Estas associações em sua maioria<br />

foram estimula<strong>da</strong>s por agentes externos a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> ou por referência <strong>de</strong> outros<br />

exemplos em outros locais.<br />

15


Em 1965 foi criado o<br />

Clube do Lar Girassol que<br />

funciona até hoje, e em 1969 o<br />

Clube 4-S Nova Aliança, também<br />

em funcionamento até a <strong>da</strong>ta <strong>de</strong><br />

hoje, estas instituições foram<br />

estimula<strong>da</strong>s pelo serviço <strong>de</strong><br />

Extensão Rural.<br />

Já em 03/1980 foi<br />

Foto <strong>de</strong> inauguração do Clube 4-S<br />

fun<strong>da</strong>do a re<strong>de</strong> <strong>de</strong> abastecimento<br />

<strong>de</strong> água <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, a qual<br />

levava água aos moradores que<br />

tinham condições <strong>de</strong> se associar,<br />

pagando ca<strong>da</strong> produtor o valor <strong>de</strong><br />

70 sacos <strong>de</strong> soja, por sua cota-parte. Também cabe <strong>de</strong>stacar, mesmo já ressaltado<br />

anteriormente, que em 1975, foi estendi<strong>da</strong> a re<strong>de</strong> <strong>de</strong> energia elétrica para to<strong>da</strong> a<br />

comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

A saí<strong>da</strong> <strong>da</strong> maioria dos jovens <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

Com a incorporação <strong>de</strong> novas tecnologias, apoia<strong>da</strong>s por políticas públicas,<br />

especialmente crédito subsidiado, assistência técnica e o ensino enfocando as benesses e<br />

facili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> urbana, muitas famílias jovens e muitos jovens migraram para áreas<br />

urbanas em busca <strong>de</strong> novos empregos, especialmente em novas agroindústrias que<br />

estavam florescentes na época, assim também como muitos foram para o setor <strong>de</strong><br />

construção civil. As ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> Arroio do Meio, Lajeado, Estrela e Porto Alegre foram<br />

os locais <strong>de</strong> maior migração dos moradores <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Pica<strong>da</strong> Felipe Essig. O<br />

trabalho mais braçal na proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>, fora, a partir <strong>da</strong>í substituído por novos insumos e<br />

máquinas agrícolas, o que permitia que os pais sozinhos ou com a aju<strong>da</strong> <strong>de</strong> um filho<br />

movimentassem as proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s.<br />

Os tratores agrícolas, os herbici<strong>da</strong>s, as sementes híbri<strong>da</strong>s, os adubos químicos, as<br />

rações prontas e os implementos e máquinas agrícolas substituíram a mão-<strong>de</strong>-obra<br />

familiar, apoia<strong>da</strong> por juros baratos e subsidiados, e mesmo assim fazendo a produção e<br />

a produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s lavouras crescerem na fase inicial do mo<strong>de</strong>lo.<br />

As linhas <strong>de</strong> ônibus regulares também influenciaram a i<strong>da</strong> dos jovens as ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

próximas para trabalharem, voltando aos finais <strong>de</strong> semana com algum dinheiro e<br />

influenciando outros jovens a buscar esta nova forma <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, na qual sonhavam com<br />

férias e uma aposentadoria garanti<strong>da</strong> ao final do período e uma forma <strong>de</strong> trabalho menos<br />

penosa e com horários regulares pré-estabelecidos.<br />

Com o crescimento <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s na região, gerando falta <strong>da</strong> mão-<strong>de</strong>-obra, muitas<br />

famílias conseguiram se estabelecer na redon<strong>de</strong>za <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s, em bairros menos<br />

nobres, mas on<strong>de</strong> alcançaram a sua moradia própria, trabalhando em serviços mais<br />

pesados, mas ao qual estavam acostumados. Os mais jovens aliaram a questão trabalho<br />

com o estudo e conquistaram espaços em mercado <strong>de</strong> trabalho mais valorizados. Muitos<br />

16


jovens <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, que saíram no início <strong>de</strong>ste período, conseguiram espaços<br />

importantes no mercado <strong>de</strong> trabalho ou em ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s próprias como empreen<strong>de</strong>dores<br />

ou profissionais liberais.<br />

Já a partir dos anos 80 o transporte escolar, mesmo particular, se tornou regular e<br />

os filhos dos agricultores em sua maioria, conciliaram o trabalho junto a família com o<br />

estudo nas ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s próximas. Mas ao final do ensino do segundo grau, estes jovens se<br />

estabeleciam <strong>de</strong>finitivamente nas ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s.<br />

O investimento na moradia e na proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

O advento <strong>da</strong> soja, <strong>da</strong> suinocultura em escala maior neste período, já não<br />

dimensiona<strong>da</strong> mais na alimentação produzi<strong>da</strong> na proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>, o solo ain<strong>da</strong> com relativa<br />

boa fertili<strong>da</strong><strong>de</strong> natural, o leite sendo produto disputado pelas agroindústrias <strong>da</strong> região,<br />

geravam inicialmente um bom retorno financeiro as famílias, apoia<strong>da</strong>s por incentivos<br />

financeiros através do subsídio no dinheiro emprestado pelo Governo Fe<strong>de</strong>ral.<br />

Vista <strong>da</strong> estra<strong>da</strong> geral <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

Com esta geração <strong>de</strong> recursos e a intensificação <strong>da</strong> propagan<strong>da</strong> pela mídia,<br />

especialmente rádio e televisão e a i<strong>da</strong> dos ven<strong>de</strong>dores nas comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s, normalmente<br />

pessoas conheci<strong>da</strong>s, fizeram com que as famílias investissem na construção e reforma<br />

<strong>da</strong>s moradias, na aquisição <strong>de</strong> bens <strong>de</strong> consumo (TV, som, roupas <strong>de</strong> marca, sofá...) na<br />

época <strong>de</strong> luxo, na aquisição <strong>de</strong> máquinas motoriza<strong>da</strong>s (motosserra, serra circular,<br />

quebradores <strong>de</strong> milho, picadores <strong>de</strong> pasto, etc...).<br />

Esta forma <strong>de</strong> melhorias e aquisição <strong>de</strong> bens <strong>de</strong> luxo, segundo os moradores<br />

também criou uma divisão <strong>de</strong> classe nas famílias <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>de</strong> acordo com os<br />

bens <strong>de</strong> luxo que as famílias passaram a <strong>de</strong>ter. E estas posses também começaram a<br />

influenciar posteriormente no acesso às principais políticas públicas <strong>da</strong> época, ou<br />

mesmo nas relações sociais na comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>. A falta <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminados itens ou posses<br />

começam a gerar rótulos em algumas famílias como menos trabalhadoras, menos<br />

caprichosas, menos organiza<strong>da</strong>s.<br />

17


Também este período incentivou o individualismo <strong>de</strong> muitas famílias, ca<strong>da</strong> uma<br />

lutando para si, e <strong>de</strong>ixando <strong>de</strong> lado a soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong><strong>de</strong> com o próximo e o auxílio para que a<br />

comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> tivesse um <strong>de</strong>senvolvimento mais harmonioso e por igual dos seus<br />

membros.<br />

A diferenciação entre as famílias.<br />

Característica <strong>de</strong>ste período foi a <strong>de</strong>sagregação mesmo parcial dos valores <strong>de</strong><br />

união, aju<strong>da</strong> mútua e soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong><strong>de</strong> existente na comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>de</strong>finidos pelo professor<br />

Roberto José Moreira, do CPDA como capital social e <strong>da</strong> racionali<strong>da</strong><strong>de</strong> não capitalista<br />

<strong>da</strong> Agricultura Familiar. Esta <strong>de</strong>sagregação, ou disputa pelo econômico, ou o ca<strong>da</strong> um<br />

para si, <strong>de</strong>ixou muitas famílias em menos condições financeiras, para trás, <strong>de</strong>teriorando<br />

sua capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> produtiva, criando condições visíveis <strong>de</strong> diferenciação por posses e por<br />

geração <strong>de</strong> recursos. Este fato <strong>de</strong>ve-se a priorização <strong>de</strong> muitas famílias por valores<br />

monetários em <strong>de</strong>trimento do espírito comunitário e coletivo, que alavancava o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> até este momento.<br />

O fator individualismo <strong>da</strong>s famílias, a topografia <strong>da</strong> proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> qual <strong>de</strong>tinha<br />

posse, o acesso a crédito subsidiado na época, acentuou esta diferenciação econômica<br />

entre as famílias. A própria Extensão Rural na época criou suas classes, conforme a<br />

rapi<strong>de</strong>z na adoção <strong>de</strong> práticas, privilegiando os mais capitalizados e que respondiam<br />

melhor as inovações tecnológicas. Assim também ocorreu quando <strong>da</strong> escassez <strong>de</strong><br />

recursos oferecidos pelo governo, para financiamento <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> agrícola, fazendo<br />

com que o setor bancário também privilegiasse apenas os que melhor respondiam em<br />

produção e produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Portanto quem se capitalizou no período inicial do financiamento agrícola<br />

subsidiado, aliado à topografia e fertili<strong>da</strong><strong>de</strong> do solo <strong>da</strong> proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> qual <strong>de</strong>tinham<br />

posse, foram os fatores <strong>de</strong>terminantes <strong>da</strong> permanência <strong>da</strong>s famílias ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />

atravessando o período pós 1983 quando o governo se retirou do apoio financeiro aos<br />

agricultores familiares, na época dita pequenos agricultores.<br />

Entre o período <strong>de</strong> 1960 e 75, segundo os moradores <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, 70% <strong>de</strong><br />

to<strong>da</strong> a área <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> era cultiva<strong>da</strong> com culturas anuais, especialmente soja e<br />

milho, indistintamente se era terra <strong>de</strong> várzea ou áreas aci<strong>de</strong>nta<strong>da</strong>s. No final <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong><br />

80, iniciou-se um processo <strong>de</strong> abandono <strong>da</strong>s lavouras, pela per<strong>da</strong> <strong>de</strong> fertili<strong>da</strong><strong>de</strong> do solo,<br />

pelos custos <strong>de</strong> produção, pelo envelhecimento dos que estavam nas proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s, pela<br />

falta <strong>de</strong> valorização dos produtos agrícolas principalmente a soja, leite e suínos. Este<br />

abandono, segundo os moradores, ocasionou uma inversão, fazendo que a partir <strong>de</strong> 1990<br />

a área ocupa<strong>da</strong> pelos moradores em lavouras diminuísse para no máximo 30% <strong>da</strong> área<br />

total <strong>de</strong> to<strong>da</strong> a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>. Porém se olharmos para o mapa <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> vamos ver<br />

que to<strong>da</strong> a várzea é ocupa<strong>da</strong> e praticamente to<strong>da</strong> área <strong>de</strong>clivosa foi abandona<strong>da</strong>. O fato<br />

do abandono <strong>da</strong>s áreas cultiva<strong>da</strong>s, acentuou a diferenciação entre as famílias e as<br />

alternativas econômicas para a maioria <strong>de</strong>stes foi fora <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> agrícola. Criando<br />

novas estratégias <strong>de</strong> inserção econômicas, diversos fatores encaminham a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> a<br />

um novo cenário, o qual caracteriza o período a partir do ano <strong>de</strong> 1990.<br />

18


Também caracteriza o período <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização experimentado após o ano <strong>de</strong><br />

1965, dois fatores observados na comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>. Um <strong>de</strong>les é o abandono <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>s fora <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> agrícola, mas que <strong>da</strong>vam suporte a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> como a<br />

ferraria, serraria, sapataria, marcenaria entre outras. Outro fato é que no início <strong>de</strong>ste<br />

período praticamente to<strong>da</strong>s os moradores <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> se <strong>de</strong>dicavam a agricultura<br />

familiar. Porém abandonando aos poucos a maioria <strong>da</strong>s culturas e criações que<br />

<strong>de</strong>senvolviam anteriormente, especialmente as <strong>de</strong> manutenção familiar, concentrando<br />

to<strong>da</strong> a energia produtiva nas culturas e criações para a comercialização, como a soja, o<br />

milho, os suínos e o leite.<br />

Neste período as famílias optaram por abrir mão, mesmo que parcialmente, <strong>da</strong><br />

segurança alimentar por um período <strong>de</strong> no mínimo <strong>de</strong> um ano, o que no início foi<br />

compensado pela produção, produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong> e valorização dos produtos comercializados,<br />

mas que se revelou <strong>de</strong>sastroso logo a frente, quando o cenário <strong>de</strong>stas condições se<br />

modificaram, especialmente para as famílias que tinham ou mantém posse <strong>de</strong> áreas<br />

<strong>de</strong>clivosas.<br />

Aspectos ambientais associa<strong>da</strong>s a este período<br />

Neste período intensificaram-se enormemente os problemas ambientais na<br />

comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Pica<strong>da</strong> Felipe Essig. Este fato está intimamente ligado ao mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong><br />

produção a base <strong>de</strong> insumos externos, <strong>de</strong>sprezando o aproveitamento dos resíduos<br />

produzidos na proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> e que anteriormente eram usa<strong>da</strong>s no sistema <strong>de</strong> produção.<br />

Destacam-se neste período a intensificação do <strong>de</strong>smatamento, a erosão contínua<br />

do solo, o esterco como fonte poluidora <strong>da</strong> proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> e dos arroios <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, a<br />

poluição causa<strong>da</strong> pelos adubos químicos e venenos, sendo mais específicos os<br />

herbici<strong>da</strong>s. Outro fato associado é a intensificação do ataque do borrachudo na<br />

comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, atrapalhando a vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s famílias na comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>. Também cabe <strong>de</strong>stacar a<br />

per<strong>da</strong> <strong>da</strong> diversi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> plantas e criações que estavam a<strong>da</strong>pta<strong>da</strong>s pelos produtores e<br />

eram substituídos por varie<strong>da</strong><strong>de</strong>s não conheci<strong>da</strong>s e a<strong>da</strong>pta<strong>da</strong>s ao local.<br />

Cita-se também como problema ambiental o abandono <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> agrícola,<br />

mesmo que <strong>de</strong> forma parcial, <strong>da</strong>s famílias que possuíam terras aci<strong>de</strong>nta<strong>da</strong>s,<br />

inviabilizando economicamente sua proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> e fazendo com que a família buscasse<br />

novas alternativas fora <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> agrícola. Foi também nesta fase que ocorreu intensa<br />

migração <strong>de</strong> jovens e mesmo <strong>de</strong> famílias para as ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s próximas.<br />

19


IIIº. FASE – 1990 ATÉ 2002<br />

A PRODUÇÃO EM ESCALA, A INDÚSTRIA CALÇADISTA E<br />

APOSENTADORIA RURAL<br />

O cenário <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Pica<strong>da</strong> Felipe Essig, assim como to<strong>da</strong> a região teve<br />

profun<strong>da</strong>s mu<strong>da</strong>nças, principalmente a partir do ano <strong>de</strong> 1990. Especialmente se<br />

analisarmos a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> a partir <strong>da</strong> sua inserção econômica, que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a sua<br />

<strong>colonização</strong> baseou sua ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> na produção agropecuária, tendo como mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong><br />

exploração a mão-<strong>de</strong>-obra familiar e combinando a posse <strong>de</strong> terra na condição <strong>de</strong><br />

proprietários. A partir <strong>de</strong>ste período uma nova reali<strong>da</strong><strong>de</strong> se <strong>de</strong>senhou, em função <strong>da</strong>s<br />

dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s que a agricultura familiar passou a vivenciar, influencia<strong>da</strong> por políticas<br />

macroeconômicas relacionados com o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento do país no processo<br />

<strong>de</strong> globalização econômica.<br />

A suinocultura era uma ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> que existia em to<strong>da</strong>s as proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s e estava<br />

intimamente relaciona<strong>da</strong> com a disponibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> alimentos produzidos na<br />

proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> durante a fase inicial <strong>da</strong> <strong>colonização</strong> até o período pré-1970. No mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento implantado no país pós-64, a suinocultura na região do Vale do<br />

Taquari, e também na comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Pica<strong>da</strong> Felipe Essig, mudou e passou a estar<br />

relaciona<strong>da</strong> parcialmente com o sistema <strong>de</strong> produção <strong>da</strong> proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> (mantinha apenas<br />

uma relação com a cultura do milho) e complementava sua forma <strong>de</strong> produção no<br />

mercado, buscando rações, concentrados, farelos e reprodutores. Mas a ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> estava<br />

na mão do agricultor, e este escolhia a quem ven<strong>de</strong>r no período <strong>da</strong> comercialização dos<br />

suínos.<br />

Com o surgimento do mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> integração <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> suinícola entre o setor<br />

industrial e o agricultor, esta se tornou uma ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> apenas para algumas famílias, que<br />

estavam dispostas a investir e eram aceitas por esta mesma integradora, como<br />

integrados. Porém a ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> na<strong>da</strong> mais tinha a ver com o sistema <strong>de</strong> produção <strong>da</strong><br />

proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>, a não ser o uso <strong>da</strong> mão-<strong>de</strong>-obra familiar <strong>da</strong> proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>. A ativi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

começou a ser <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong> em gran<strong>de</strong> escala por poucos moradores.<br />

A avicultura <strong>de</strong> corte, com sistema integrado semelhante, também passou a ser<br />

<strong>de</strong>senvolvido por algumas famílias no mesmo sistema ao <strong>da</strong> suinocultura. A avicultura<br />

<strong>de</strong> corte foi uma ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> nova na comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Porém se analisarmos esta seleção <strong>de</strong> famílias para estes dois setores, avicultores<br />

e suinocultores, vamos observar dois fatores importantes e <strong>de</strong>cisivos no ingresso na<br />

ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>, os quais sejam: capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> obter financiamento em bancos que repassam<br />

recursos <strong>de</strong> políticas públicas como o PRONAF e localização privilegia<strong>da</strong> que permite o<br />

acesso fácil dos caminhões <strong>da</strong>s integradoras.<br />

A ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> leiteira que também era fonte <strong>de</strong> complementação <strong>de</strong> ren<strong>da</strong> para a<br />

maioria <strong>da</strong>s famílias, <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> ser atrativo para o produtor e para a agroindústria.<br />

Atualmente apenas algumas famílias se <strong>de</strong>dicam a ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> em escala pouco maior,<br />

enquanto a maioria <strong>da</strong>s famílias ten<strong>de</strong> a sair <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> leiteira.<br />

20


A produção <strong>de</strong> grãos, especialmente o milho e a soja, são ain<strong>da</strong> cultivados nas<br />

áreas <strong>de</strong> várzea, com excelente fertili<strong>da</strong><strong>de</strong> natural, auferindo boas produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong>s. Esta<br />

ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> é <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong> por famílias que se capitalizaram no período do crédito<br />

subsidiado e que eram donos <strong>de</strong> áreas <strong>de</strong> várzeas. Hoje para manterem-se na ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />

otimizando o uso <strong>da</strong>s máquinas agrícolas próprias, arren<strong>da</strong>m áreas <strong>de</strong> vizinhos ou<br />

produzem em parceria. Além disto em sua maioria são as famílias que aliam esta<br />

ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> com a integração <strong>de</strong> suínos ou aves.<br />

Outra política pública que socorre 50% <strong>da</strong>s famílias <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> é a<br />

aposentadoria rural ou rural x urbana. Política pública que tem bastante influência na<br />

vi<strong>da</strong> <strong>de</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, pois são estas famílias que preservam com intensi<strong>da</strong><strong>de</strong> a questão<br />

cultural, social, ambiental e religiosa e além disto continuam a <strong>de</strong>senvolver suas<br />

ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> agricultura familiar, pensando na segurança alimentar <strong>da</strong> família,<br />

produzindo <strong>de</strong> forma agroecológica, cultivando culturas diversifica<strong>da</strong>s para a<br />

subsistência familiar. São estas famílias que preservam antigos hábitos, resgatando<br />

costumes que haviam esquecidos nas épocas <strong>de</strong> produção intensa. Promovem trocas <strong>de</strong><br />

produtos, sementes e inclusive aju<strong>da</strong>m os vizinhos a <strong>de</strong>senvolver pequenas ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s.<br />

Se visitam com freqüência e <strong>de</strong>dicam amplos espaços ao lazer. Esta segurança <strong>de</strong> uma<br />

receita garanti<strong>da</strong> ao final <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> mês, proporciona esta oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> para as famílias<br />

<strong>de</strong>senvolverem ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s mais sociais, culturais e mesmo produtivas, sem a pressão<br />

exerci<strong>da</strong> sobre os <strong>de</strong>mais agricultores inseridos no mercado, que são cobrados por<br />

eficiência e produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong> em to<strong>da</strong>s as suas ações. São estas as famílias que oreservam a<br />

biodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> culturas e criações na comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Des<strong>de</strong> ano <strong>de</strong> 1987 foi instala<strong>da</strong> no então distrito <strong>de</strong> Travesseiro, emancipado em<br />

1992, uma filial <strong>da</strong> Calçados Majolo Lt<strong>da</strong>, empresa calçadista com se<strong>de</strong> no município<br />

<strong>de</strong> Arroio do Meio. Com a crescente absorção <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra por esta empresa e a<br />

instituição regular <strong>de</strong> linha <strong>de</strong> ônibus específica para os funcionários <strong>da</strong> empresa, esta se<br />

tornou uma saí<strong>da</strong> estratégica para muitas famílias.<br />

Como a migração para o setor urbano está praticamente inviabiliza<strong>da</strong>, pelos altos<br />

custos <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> urbana e a falta <strong>de</strong> empregos na ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, a opção para boa parcela dos<br />

jovens e/ou para um ou mais membros <strong>da</strong> família foi optar pela complementação <strong>da</strong><br />

ren<strong>da</strong> familiar, trabalhando como empregado <strong>da</strong> empresa calçadista. A estratégia para a<br />

maioria <strong>da</strong>s famílias é um componente ou mais, trabalhar <strong>de</strong> empregado, recebendo<br />

mensalmente recurso para fazer frente aos custos fixos <strong>da</strong>s famílias, enquanto que<br />

alguém do conjunto familiar fica na proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>, produzindo os produtos <strong>de</strong><br />

subsistência ou mesmo cui<strong>da</strong>ndo uma ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> integração que não <strong>de</strong>man<strong>de</strong> muita<br />

mão-<strong>de</strong>-obra.<br />

Outro setor que absorve mão-<strong>de</strong>-obra na comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> é a Granja <strong>de</strong> Suínos Kunz,<br />

que se <strong>de</strong>dica a produção <strong>de</strong> leitões na forma integra<strong>da</strong> com mais <strong>de</strong> 1.000 cria<strong>de</strong>iras.<br />

Esta granja também oferece emprego a 12 funcionários <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>. Além disto há<br />

familiares que complementam sua ren<strong>da</strong> prestando serviços para a Prefeitura <strong>de</strong><br />

Travesseiro e ao Hospital <strong>de</strong> Marques <strong>de</strong> Souza, além <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> pedreiros na<br />

comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> ou em comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s vizinhos. Também como nova ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong><br />

comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> há <strong>de</strong> se <strong>de</strong>stacar a existência do Camping do Irio, que durante o verão<br />

recebe veranistas a beira do Rio Forqueta.<br />

21


O novo cenário e as estruturas comunitárias<br />

Esta nova fotografia <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> também traz alterações na estruturação<br />

comunitária, fazendo algumas <strong>de</strong>saparecerem e novas vão surgindo. Ganham <strong>de</strong>staque a<br />

partir <strong>de</strong>ste momento as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s que impulsionam ain<strong>da</strong> mais a produção, assim<br />

como as infraestruturas sociais e esportivas, que permitem a realização <strong>de</strong> eventos<br />

maiores, abrangendo não apenas a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, mas <strong>de</strong> cunho regional. As estruturas<br />

que per<strong>de</strong>m espaço são as culturais, religiosas e educacionais, além <strong>de</strong> valores<br />

comunitários que continuam se <strong>de</strong>sagregando.<br />

Se<strong>de</strong> <strong>da</strong> União Comunitária <strong>da</strong> Pica<strong>da</strong> Felipe Essig<br />

Como fatos novos <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> cabe <strong>de</strong>stacar a construção <strong>da</strong> se<strong>de</strong> social <strong>da</strong><br />

União Comunitária , inaugura<strong>da</strong> em 1996, a qual foi construí<strong>da</strong> a partir <strong>da</strong> associação <strong>de</strong><br />

nove enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s associativas existentes na comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> a seguir relacionados, que a<br />

construíram na forma <strong>de</strong> mutirão, angariando recursos na comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> e buscando<br />

recursos junto aos po<strong>de</strong>res públicos, as quais são: SER Cultural Felipe Essig, Igreja<br />

Evangélica <strong>de</strong> Confissão Luterana do Brasil, Igreja Evangélica Luterana do Brasil,<br />

Escola Municipal Pica<strong>da</strong> Vinagre, Clube 4-S Nova Aliança, Clube do Lar Girassol,<br />

Socie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Cantores Concórdia, Grupo <strong>de</strong> Idosos Arco-íris e o Grupo <strong>de</strong> Danças<br />

Alemãs, hoje já extinto.<br />

Neste período também já apareceram ações proporciona<strong>da</strong>s por políticas públicas<br />

compensatórias. Neste exemplo po<strong>de</strong>-se <strong>de</strong>stacar a perfuração do novo poço artesiano<br />

com recursos públicos e extensão <strong>da</strong> água para as famílias mais carentes e que não<br />

participaram <strong>da</strong> construção <strong>da</strong> re<strong>de</strong> comunitária. Este fato foi gerador <strong>de</strong> crise entre os<br />

moradores, pela razão <strong>de</strong> que os primeiros tiveram que se construir e pagar a re<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

água e os segundos a receberam <strong>de</strong> forma gratuita.<br />

A luz elétrica trifásica também foi forneci<strong>da</strong> a to<strong>da</strong> a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> o que praticamente<br />

viabilizou a intensificação <strong>da</strong>s integrações <strong>de</strong> aves e suínos, e mesmo a ativi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

leiteira. Assim como no ano <strong>de</strong> 1992 e 1993, respectivamente também foram criados<br />

duas associações <strong>de</strong> secadores comunitários.<br />

No ano <strong>de</strong> 1993 a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> instalou a sua central telefônica por ramais e em<br />

1995, a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> foi beneficia<strong>da</strong> por discagem direta a distância para a maioria <strong>da</strong>s<br />

famílias.<br />

22


Também se formaram nestes últimos anos na comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> pequenos grupos <strong>de</strong><br />

máquinas e implementos <strong>de</strong> forma coletiva.<br />

Outra estrutura nova cria<strong>da</strong> é o Grupo <strong>de</strong> Idosos Arco-íris, o qual foi fun<strong>da</strong>do em<br />

1993, agregando atualmente mais <strong>de</strong> 70 sócios. Este grupo é uma <strong>da</strong>s estruturas mais<br />

atuantes <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, promovendo encontros <strong>de</strong> integração, excursões, festas, bailes<br />

e outras programações. Promove também um excelente intercâmbio com os grupos<br />

vizinhos e mesmo mais distantes.<br />

Recentemente, através <strong>da</strong> conquista pelo Orçamento Participativo do Estado, foi<br />

atendi<strong>da</strong> uma antiga reivindicação <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> e região, que era uma ligação através<br />

<strong>de</strong> ponte sobre o Rio Forqueta, facilitando o acesso até o município <strong>de</strong> Marquês <strong>de</strong><br />

Souza. Esta ponte teve inicia<strong>da</strong> a sua construção no ano <strong>de</strong> 2001 e com previsão <strong>de</strong><br />

conclusão ain<strong>da</strong> no ano <strong>de</strong> 2002. Esta nova ponte, certamente trará a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> no<br />

futuro novas perspectivas <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento.<br />

Ponte em construção que liga a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> ao município <strong>de</strong> Marques <strong>de</strong> Souza<br />

Porém se analisarmos neste novo cenário, também ocorreram alterações em<br />

estruturas importantes na comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>. Isto é representado pela não renovação dos<br />

associados ou participantes em <strong>de</strong>termina<strong>da</strong>s estruturas que muito tem contribuído para<br />

o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, especialmente no componente cultural, religioso,<br />

social e esportivo. Este fato põe em dúvi<strong>da</strong> a continui<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>stas instituições ao longo<br />

do tempo.<br />

O coral <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> precisa constantemente <strong>de</strong> novos componentes para a<br />

transmissão do conhecimento, o que muito pouco ocorre na atuali<strong>da</strong><strong>de</strong>, pela falta <strong>de</strong><br />

jovens e pelo <strong>de</strong>sinteresse dos mesmos por este tipo <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> cultural. Assim como<br />

os coros mistos já se fundiram para po<strong>de</strong>r continuar a atuar na comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, isto também<br />

pela falta <strong>de</strong> renovação por novos participantes e pelo não interesse dos mais jovens.<br />

Das três escolas anteriormente existentes na comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, que conta com 125<br />

famílias, hoje existe apenas uma em funcionamento com alunos apenas <strong>da</strong> 2 a . série<br />

fun<strong>da</strong>mental, com previsão <strong>da</strong> <strong>de</strong>sativação <strong>de</strong> suas ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s para o final <strong>de</strong>ste ano. Os<br />

23


alunos existentes na comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> são levados para escolas pólo, pois seria antieconômico<br />

a manutenção <strong>de</strong> professores para tão poucos alunos.<br />

Escola Municipal Pica<strong>da</strong> Vinagre, que chegou a ter 54 alunos em1970.<br />

Outro setor <strong>de</strong>clinante <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> é o setor comercial local. Das quatro casas<br />

comerciais em funcionamento no período <strong>de</strong> intensificação <strong>de</strong> produção, apenas uma<br />

está ain<strong>da</strong> em ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>. Porém a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> diariamente é percorri<strong>da</strong> por ven<strong>de</strong>dores<br />

ambulantes <strong>de</strong> produtos <strong>de</strong> mercado, pa<strong>da</strong>rias e fruteiras.<br />

Também chama atenção na comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Pica<strong>da</strong> Felipe Essig a recolocação <strong>de</strong><br />

famílias, as quais moravam mais distante <strong>da</strong> estra<strong>da</strong> geral <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, optaram por<br />

abandonar sua proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> e vieram morar próximo a mesma, adquirindo pequenos<br />

terrenos e reconstruindo sua moradia no novo local. Este fato se <strong>de</strong>ve a dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

acesso ao ônibus, que inviabiliza o trabalho na indústria, o <strong>de</strong>slocamento em problemas<br />

<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e a uma participação maior na vi<strong>da</strong> social <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>. Na comuni<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

existiam dois núcleos <strong>de</strong> moradores fora <strong>da</strong> estra<strong>da</strong> geral, contando inclusive um <strong>de</strong>les<br />

com escola municipal. Estes dois núcleos estão praticamente abandonados pelas razões<br />

acima expostas. Num dos núcleos, segundo os moradores viviam mais <strong>de</strong> 30 famílias,<br />

sendo que hoje apenas restam dois moradores, que vivem com dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> acesso e<br />

ficam excluídos <strong>da</strong>s novas opções <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

A seguir estamos apresentando um quadro geral <strong>da</strong>s famílias <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> e<br />

suas fontes <strong>de</strong> ren<strong>da</strong> como estratégia <strong>de</strong> manutenção familiar. Cabe ressaltar que<br />

consi<strong>de</strong>ramos para fins <strong>de</strong> apresentação <strong>de</strong>ste quadro, que ca<strong>da</strong> casa compõe um núcleo<br />

familiar e que consi<strong>de</strong>ramos para <strong>de</strong>finir as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s somente as pessoas que resi<strong>de</strong>m<br />

constantemente na casa, com isto eliminou-se filhos que resi<strong>de</strong>m em outros locais e que<br />

eventualmente retornam a esta casa em finais <strong>de</strong> semana. Estes <strong>da</strong>dos se referem a<br />

situação em 09/2002.<br />

24


Nº. NOME<br />

APOSENTA-<br />

DORIA<br />

A.F.P.<br />

INTE-<br />

GRAÇÃO<br />

SUÍNOS<br />

INTE-<br />

GRAÇÃO<br />

AVICUL-<br />

TURA<br />

PRODU-<br />

ÇÃO IN-<br />

TENS<br />

LEITE<br />

LAVOURA<br />

INTENSI-<br />

FICADA<br />

1 Arlindo Klein X<br />

2 Marino Stacke<br />

3 Armin Schwartz X X<br />

4 Loni Relly X<br />

5 Hedy Deicke X<br />

6 Célia Seitenfuss X<br />

7 Décio Klein<br />

8 Ilário Beckel X<br />

9 A<strong>de</strong>mir Beckel<br />

10 A<strong>de</strong>mar Beckel X<br />

11 Crisel<strong>da</strong> Presser X<br />

12 Paulo Presser X<br />

13 Clarisse Presser Lavoratti X<br />

14 Elemar Schwinn X X<br />

15 Alzira Conrad X<br />

16 Ilvo Lienemann X<br />

17 Danilo Plack X<br />

18 Sigmar Nied X X X X<br />

19 Valdir Weirich X<br />

20 Lina Weirich X<br />

21 Helmuth Deicke X<br />

22 Valdir Stoll X<br />

23 Lauri Kemerich X X<br />

24 Ilávio Schnei<strong>de</strong>r X<br />

25 Walter Weimer X<br />

26 Carmelito Fucks X<br />

27 Eldor Espich X X<br />

28 Roque Martini X<br />

29 Auri Jungken X X<br />

30 Jaime Jungken X<br />

31 Cláudio Dheves X<br />

32 Edison Weimer X<br />

33 Osmar Endler<br />

34 Ivo Fucks X<br />

35 Erreno Lamm<br />

36 Astor Kremer X<br />

37 Loro Mertz<br />

38 Fermínio Martini X<br />

39 Guido Storck X<br />

40 Hugo Nied X<br />

41 Cláudio Nied X<br />

42 Armin Scherrer X X<br />

43 Telmo Becker X<br />

44 Beno Becker<br />

45 Luísa Almei<strong>da</strong><br />

46 Helma Mertz X<br />

47 Alma Weirich X<br />

48 Elma Mertz X<br />

49 Bruno Storck X<br />

50 Nestor Walter X<br />

51 Aman<strong>da</strong> Nied X X X<br />

52 Omar Walter X X X<br />

53 Alzidio Walter X<br />

54 Dorival Nied X X<br />

55 Rudimar Weimer X X X<br />

56 Célio Specht<br />

57 João Specht X<br />

58 Lori Nied X<br />

59 Décio Nied X<br />

60 Lídia Weber X<br />

25


61 Rubem Nied X X X X X<br />

62 Heins Ben<strong>de</strong>r X<br />

63 Miloca Ben<strong>de</strong>r X<br />

64 Hugo <strong>de</strong> Potter X X X<br />

65 Ênio Ben<strong>de</strong>r X X X<br />

66 Enio Nied<br />

67 Rui Schnei<strong>de</strong>r X<br />

68 Albino Simonetti X<br />

69 Écio <strong>da</strong> Costa X<br />

70 Alberto <strong>de</strong> Potter X<br />

71 Ermindo <strong>de</strong> Potter X<br />

72 Ernesto Grün X<br />

73 Cláudio Sei<strong>de</strong>l X<br />

74 João Scherrer<br />

75 Valdir Weisheimer X<br />

76 Rudi Hoose X X<br />

77 Pedro Borsatto X<br />

78 René Fröe<strong>de</strong>r X<br />

79 Ildo Fröe<strong>de</strong>r X<br />

80 Rudimar Fröe<strong>de</strong>r<br />

81 Olga Rheinheimer X<br />

82 Norma Weirich X<br />

83 Laurindo Fucks X<br />

84 Jorge Fucks<br />

85 Elemar Noé X<br />

86 Walter Meyer X<br />

87 Terezinha Simonetti X X<br />

88 Leopoldo Hoppe X X<br />

89 Laurindo <strong>de</strong> Jesus X<br />

90 Arno Rheinheimer X<br />

91 Hil<strong>da</strong> Weizenmann X<br />

92 Vilmar Gross X<br />

93 Elsa Hoppe X<br />

94 Noêmio Heineck X<br />

95 Sírio Lamm X X X<br />

96 Carlos Lamm X<br />

97 Otto Schwinn X<br />

98 Marino Lamm X X<br />

99 Fábio <strong>da</strong> Silva X<br />

100 Eraia Jungken X X X<br />

101 Arno Becker X X X<br />

102 Vernei Kunz X X<br />

103 Marli Kunz X<br />

104 Gustavo Steffler X<br />

105 Edgar Scheuermann X<br />

106 Ito Essig X X X X<br />

107 Val<strong>de</strong>mar Jungken<br />

108 Araci Stacke X<br />

109 Jair Fontanine X<br />

110 Nildo Deicke X<br />

111 Irio Scherrer X X<br />

112 Oterno Scherrer X X<br />

113 Erreno Jommertz X X X<br />

114 Paulo Köerbes<br />

115 Nilson Schmeier X<br />

116 José Hentges<br />

117 Milton <strong>de</strong> Potter X X<br />

118 Valmiro Castro X X<br />

119 Eucli<strong>de</strong>s Bettio X<br />

120 Nilvo Giovanaz X X<br />

121 Décio Hemming X<br />

122 Romano Scherrer X<br />

123 Al<strong>da</strong>ir Heffler X<br />

124 Nair Meyer X<br />

125 Eli Ben<strong>de</strong>r X<br />

TOTAL: 62 47 13 06 12 14<br />

26


Esclarecimentos sobre a tabela dos moradores<br />

a) Aposentadoria -> Um ou mais membros que resi<strong>de</strong>m na família são aposentados.<br />

b) Ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s fora <strong>da</strong> Proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> -> Família que tem algum membro trabalhando<br />

fora <strong>da</strong> proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> percebendo remuneração (fábrica calçados, granja Kunz, Prefeitura<br />

Municipal, Pedreiros, etc.)<br />

c) Integração Suinícola ->: Agricultores que <strong>de</strong>senvolvem a ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> em escala maior,<br />

integra<strong>da</strong>s a uma integradora.<br />

d) Integração Avícola:-> I<strong>de</strong>m suínos porém na ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> aves <strong>de</strong> corte.<br />

e) Produção intensiva <strong>de</strong> Leite:-> Produtores que produzem leite <strong>de</strong> forma intensiva,<br />

produzindo em média acima <strong>de</strong> 100 lt/dia.<br />

f) Produção intensiva <strong>de</strong> Lavouras:-> Produtores que se <strong>de</strong>dicam a produção <strong>de</strong> milho<br />

e soja <strong>de</strong> forma intensiva, em terras próprias ou arren<strong>da</strong>dos e que <strong>de</strong>tenham as máquinas<br />

agrícolas.<br />

Po<strong>de</strong>-se observar que um grupo <strong>de</strong> famílias não se enquadra em nenhuma<br />

situação <strong>de</strong>stas, são os que continuam as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> agricultura familiar em pequena<br />

escala, priorizando a subsistência familiar e comercializando os exce<strong>de</strong>ntes, mesmo em<br />

pequena escala.<br />

Este quadro evidência a alteração <strong>da</strong>s fontes <strong>de</strong> ren<strong>da</strong> <strong>da</strong>s famílias. Esta<br />

comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> sempre teve como base <strong>de</strong> fonte <strong>de</strong> ren<strong>da</strong> a agricultura. Porém analisando<br />

este quadro fica evi<strong>de</strong>nte que as duas principais fontes <strong>de</strong> ren<strong>da</strong> são atualmente a<br />

aposentadoria rural, que está presente em 50% <strong>da</strong>s famílias e as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s fora <strong>da</strong><br />

proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>, com ênfase para o setor calçados, hoje compõe a ren<strong>da</strong> <strong>de</strong> 37% <strong>da</strong>s<br />

famílias.<br />

Apenas 19% <strong>da</strong>s famílias <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> não tem o item aposentadoria ou<br />

ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s fora <strong>da</strong> proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> como componente <strong>da</strong> receita familiar. Este fato<br />

evi<strong>de</strong>ncia que as principais fontes <strong>de</strong> ren<strong>da</strong> do conjunto <strong>da</strong>s famílias <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> são<br />

as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>s fora <strong>da</strong> proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>, alia<strong>da</strong> a aposentadoria rural. Esta<br />

migração para estas fontes <strong>de</strong> ren<strong>da</strong> se <strong>de</strong>vem ao envelhecimento <strong>da</strong> população <strong>da</strong><br />

comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> e a busca <strong>de</strong> novas estratégias <strong>de</strong> sobrevivência frente a per<strong>da</strong> <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r <strong>da</strong><br />

agricultura familiar.<br />

27


Mapa <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> feito pelos moradores<br />

N<br />

28


Aspectos ambientais referente à este período<br />

Este período caracterizado pela produção em escala, traz como conseqüências<br />

ambientais bastante evi<strong>de</strong>ntes a questão <strong>da</strong> poluição do solo, dos rios e <strong>da</strong>s águas<br />

subterrâneas, além <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar forte poluição do ar, por cheiro <strong>de</strong> esterco suíno na<br />

comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>. Segundo o jornal O Alto Taquari <strong>de</strong> Arroio do Meio, em março <strong>de</strong> 2001,<br />

após a Secretaria Municipal <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> e Meio Ambiente divulgar o resultado <strong>da</strong>s<br />

análises <strong>de</strong> água feita nos poços artesianos <strong>da</strong>s 16 associações <strong>de</strong> água do interior do<br />

município <strong>de</strong> Arroio do Meio, vizinho <strong>de</strong> Travesseiro, constatou que 14 dos mesmos<br />

estavam contaminados por coliformes fecais.<br />

As integrações <strong>de</strong> suínos e aves fazem parte do cenário <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

Por outro lado, na questão ambiental este mo<strong>de</strong>lo evi<strong>de</strong>ncia a exclusão <strong>da</strong><br />

maioria <strong>da</strong>s famílias <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s agrícolas mais importantes, concentrando a<br />

produção em algumas proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s e obrigando as <strong>de</strong>mais a buscar outras alternativas<br />

<strong>de</strong> sobrevivência. Este mo<strong>de</strong>lo também intensifica fortemente a diferenciação<br />

econômica <strong>da</strong>s famílias.<br />

Analisando a tabulação feita pelas ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s econômicas <strong>da</strong>s famílias, po<strong>de</strong>-se<br />

observar claramente que as famílias que se <strong>de</strong>dicam a produção em escala maior são as<br />

que <strong>de</strong>têm o domínio sobre as várzeas e que as <strong>de</strong>mais famílias que <strong>de</strong>têm terras<br />

<strong>de</strong>clivosas trocaram <strong>de</strong> estratégias econômicas.<br />

29


CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

O período <strong>de</strong> 1875 a 1965<br />

Este período foi caracterizado pela estruturação <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> e <strong>da</strong>s<br />

proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s, todo feito sem a inserção ou auxílio público. Esta viabilização <strong>da</strong>s<br />

famílias se <strong>de</strong>u pelo forte conhecimento e domínio que as famílias tinham sobre todo o<br />

processo produtivo <strong>da</strong> proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>, a relação estabeleci<strong>da</strong> com as vizinhanças e a<br />

soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong><strong>de</strong> entre os membros <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

A maioria <strong>da</strong>s estruturas comunitárias foram viabiliza<strong>da</strong>s nesta fase graças ao<br />

empren<strong>de</strong>dorismo dos seus moradores, que sem nenhum apoio oficial construíram suas<br />

igrejas, suas escolas,<br />

pagavam seus professores,<br />

mantinham as estra<strong>da</strong>s,<br />

construíam pontilhões,<br />

auxiliavam e apoiavam os<br />

moradores em dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s.<br />

Outra prática fun<strong>da</strong>mental<br />

eram os mutirões entre<br />

moradores, tanto para<br />

trabalho em estruturas<br />

comunitárias, como para<br />

<strong>de</strong>senvolver ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s nas<br />

proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> um.<br />

Moradores <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> construindo pontilhão na estra<strong>da</strong> geral<br />

Este período foi<br />

efetivamente o que caracterizou a agricultura familiar, basea<strong>da</strong> na segurança alimentar e<br />

na diversificação e nos princípios agroecológicos <strong>de</strong> produção e também na igual<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> condições entre os moradores <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

No aspecto <strong>de</strong> políticas públicas diretas neste período junto a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />

influindo diretamente sobre a mesma, pouco se conhece. O que se sabe é que a<br />

comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> se <strong>de</strong>senvolveu por iniciativa própria e basea<strong>da</strong> nas necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s mais<br />

fun<strong>da</strong>mentais que expressassem os valores natos <strong>da</strong> colônia (religião, cultura, educação,<br />

lazer).<br />

Este período também caracterizou a exploração <strong>da</strong> proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> no regime <strong>da</strong><br />

agricultura familiar. A família como um todo, trabalhando <strong>de</strong> forma conjunta, <strong>de</strong>finindo<br />

por si a forma <strong>de</strong> trabalho a ser <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong> naquela proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

A proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> era explora<strong>da</strong> <strong>de</strong>ntro dos princípios agroecológicos <strong>de</strong>finidos por<br />

Miguel Altieri e Stephen Gliessman, a qual possuía um fluxo energético, fluxo hídrico,<br />

fluxo <strong>de</strong> nutrientes e alta biodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong>, dominado pelos agricultores nas suas<br />

intervenções nestas proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s.<br />

30


O período 1965 a 1990<br />

Este período caracteriza uma gran<strong>de</strong> alteração na vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>. Valores e<br />

conhecimentos tradicionais existentes no período inicial <strong>da</strong> <strong>colonização</strong> são relegados,<br />

isto na forma <strong>de</strong> produção, no conhecimento e domínio sobre o sistema produtivo<br />

instalado, na diversi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> culturas e criações, na solução dos problemas <strong>da</strong><br />

comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> pela própria comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, no conhecimento em saú<strong>de</strong>, na relação com a<br />

vizinhança, no cultivo a tradições religiosas, na segurança alimentar, no processo <strong>de</strong><br />

transformação e conservação <strong>de</strong> produtos e alimentos e na centrali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> família nos<br />

pais.<br />

Foi neste período que a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> se abriu para os setores urbanos e ela<br />

mesma iniciou um processo <strong>de</strong> urbanização, estabelecendo novos valores entre as<br />

famílias que a partir <strong>de</strong>ste período se centraram no individualismo, na produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong> e<br />

no consumo <strong>de</strong> bens materiais.<br />

Todo este processo foi estimulado pelo po<strong>de</strong>r público, que ao apoiar o mo<strong>de</strong>lo<br />

<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização <strong>da</strong> agricultura brasileira, influi <strong>de</strong>cisivamente na agricultura familiar.<br />

Os principais instrumentos <strong>de</strong> política pública foram: crédito farto, barato e subsidiado,<br />

porém condicionado; apoio maciço à pesquisa e assistência técnica; incentivo ao<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s agroindústrias; alteração nos hábitos alimentares <strong>da</strong><br />

socie<strong>da</strong><strong>de</strong>; <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> legislação sanitária e fiscal para comercialização <strong>de</strong> produtos<br />

alimentares; ensino em geral voltado ao urbanismo; entre outras instrumentos <strong>de</strong><br />

intervenção do governo.<br />

Esta fase do <strong>de</strong>senvolvimento na comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> se caracteriza pela criação <strong>de</strong><br />

estruturas para incentivar e facilitar a produção e produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong> e os recursos repassados<br />

a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> eram na forma <strong>de</strong> empréstimo, inicialmente a todos e após aos que<br />

melhor respondiam ao incremento <strong>de</strong> produção e aliado a capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> pagamento dos<br />

beneficiários.<br />

Neste período se iniciou fortemente a diferenciação <strong>da</strong>s famílias no aspecto<br />

econômico, e isto remeteu para o período compreendido entre os anos 1990 e 2002, à<br />

intervenção do governo criando políticas públicas diferenciados para a mesma categoria<br />

<strong>de</strong> agricultores familiares, distinguindo-os em quatro grupos sociais dos quais três<br />

grupos estão diretamente presentes na comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Pica<strong>da</strong> Felipe Essig.<br />

Este período permitiu a capitalização maior dos agricultores <strong>de</strong>tentores <strong>da</strong>s terras<br />

<strong>de</strong> várzea, sem exaurir sua fertili<strong>da</strong><strong>de</strong>. Enquanto que os agricultores <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> com<br />

terras aci<strong>de</strong>nta<strong>da</strong>s e com pouca preocupação com a erosão do solo e também aliado ao<br />

sacrifício em executar suas ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s foram aos poucos per<strong>de</strong>ndo produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong> e<br />

<strong>de</strong>sistiam do uso <strong>de</strong> suas terras para as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s agrícolas, e procurando novas<br />

alternativas <strong>de</strong> manutenção familiar.<br />

31


O período 1990 a 2002<br />

O período que segue o ano <strong>de</strong> 1990, composto por uma conjuntura<br />

macroeconômica praticamente homogênea no mundo, caracterizado por preços<br />

diretamente ligados ao câmbio e a acirra<strong>da</strong> concorrência entre as gran<strong>de</strong>s empresas na<br />

disputa <strong>de</strong> mercados internacionais e nacionais e a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> padrões <strong>de</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

por parte dos consumidores, fez com que muitos dos atores comerciais locais<br />

<strong>de</strong>saparecessem e em seu lugar prevalecessem gran<strong>de</strong>s corporações agroindustriais que<br />

passaram a dominar o sistema produtivo local.<br />

O cenário <strong>de</strong> domínio <strong>de</strong>stas gran<strong>de</strong>s indústrias, que a partir <strong>de</strong>ste período<br />

passam a dominar todo o sistema produtivo, inclusive sendo donos <strong>de</strong> todos os insumos<br />

(pintos, leitões, rações, etc.), passam a selecionar também os seus integrados, centrando<br />

a produção em apenas algumas famílias, agravam a situação dos agricultores familiares<br />

<strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>. Esta concentração imposta pelas integradoras, foi viabiliza<strong>da</strong> por uma<br />

política pública que em muito contribui para tal, que foi o Programa Nacional <strong>de</strong><br />

Fortalecimento <strong>da</strong> Agricultura Familiar. Esta política pública cria<strong>da</strong> em 1996, por<br />

reivindicações dos agricultores familiares, colaborou em muito para viabilizar a<br />

concentração <strong>da</strong> produção, pois a liberação dos recursos, mesmo sendo públicos, foi<br />

remeti<strong>da</strong> ao sistema bancário, que por sua vez condicionaram o acesso a produtores que<br />

não oferecessem risco <strong>de</strong> inadimplência e que tivessem mercado garantido e estivessem<br />

amplamente capitaliza<strong>da</strong>s.<br />

Estes rumos do PRONAF foram posteriormente corrigidos com a criação <strong>de</strong><br />

categorias diferencia<strong>da</strong>s <strong>de</strong> agricultores, porém para os que hoje estão fora <strong>da</strong>s<br />

ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s integra<strong>da</strong>s, pouco resta <strong>de</strong> opções para sua inserção no mercado, mesmo<br />

tendo disponibilizados recursos para tal.<br />

Para estas famílias a saí<strong>da</strong> estratégica foi o trabalho na indústria calçadista,<br />

instala<strong>da</strong> ali próximo, por pelo menos um membro do conjunto familiar, permanecendo<br />

o restante <strong>da</strong> família na produção <strong>de</strong> produtos agrícolas para subsistência familiar e<br />

comercializando pequenos exce<strong>de</strong>ntes, assim como prestando alguns serviços na<br />

vizinhança.<br />

Outra política pública <strong>de</strong> extrema importância é a aposentadoria rural. Creio que<br />

seja a principal fonte <strong>de</strong> ren<strong>da</strong> <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, pois está presente em 50% <strong>da</strong>s famílias<br />

<strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>. Ela mantém o aposentado rural, mas também aju<strong>da</strong> o restante <strong>da</strong> família<br />

que ali vive.<br />

Um dos fatores que contribui para este novo cenário atualmente nesta<br />

comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> é o custo mensal <strong>de</strong> manutenção <strong>de</strong> uma família. Este custo é composto por<br />

itens básicos e outros <strong>de</strong> conforto, que a agricultura familiar em pequena escala não<br />

sustenta. Estes custos fixos são a luz, a água, o telefone, planos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, etc...<br />

Segundo afirma Guilherme Delgado, no capítulo 1 do livro “A universalização<br />

<strong>de</strong> Direitos Sociais no Brasil: A Previdência Social nos Anos 90” <strong>de</strong> José Celso Cardoso<br />

Jr e Guilherme Delgado, on<strong>de</strong> analisa a Pesquisa <strong>de</strong> Avaliação <strong>de</strong> Previdência Social<br />

32


Rural Contextualiza<strong>da</strong>, reafirmando o papel social <strong>da</strong> aposentadoria rural e <strong>da</strong> pensão<br />

rural no momento em que importantes transformações ocorreram no setor agrícola<br />

nacional, com o <strong>de</strong>clínio do padrão <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong> pós-guerra – a chama<strong>da</strong><br />

mo<strong>de</strong>rnização conservadora, ou a Revolução Ver<strong>de</strong>, como muitos a chamavam e o<br />

ingresso do país no processo contraditório <strong>da</strong> liberação <strong>da</strong> política agrícola, que<br />

culminou com as integrações dos agricultores com as gran<strong>de</strong>s agroindústrias e<br />

conseqüentemente a produção em gran<strong>de</strong> escala e a exclusão social e econômica <strong>da</strong><br />

maioria dos pequenos agricultores familiares.<br />

O Programa Nacional <strong>de</strong> Fortalecimento <strong>da</strong> Agricultura Familiar – PRONAF,<br />

com o intuito <strong>de</strong> incluir esta nova reali<strong>da</strong><strong>de</strong> rural, vem sistematicamente alterando,<br />

através <strong>de</strong> resoluções do Banco Central, as normas <strong>de</strong> enquadramento dos beneficiários.<br />

A Resolução 3001, <strong>de</strong> 24/07/2002 do Bacen, <strong>de</strong>ixa bem característico duas questões: a<br />

aceitação <strong>da</strong> ren<strong>da</strong> não agrícola, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que <strong>de</strong> origem rural e o apoio financeiro a<br />

ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s agrícolas e não agrícolas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>s no espaço rural. Estas<br />

novas Resoluções do Banco Central procuram se a<strong>da</strong>ptar a esta nova reali<strong>da</strong><strong>de</strong> rural,<br />

bem característica <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Pica<strong>da</strong> Felipe Essig, porém numa veloci<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

muito inferior a <strong>da</strong>s mu<strong>da</strong>nças que vem ocorrendo no meio rural.<br />

Nesta comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> se i<strong>de</strong>ntificam niti<strong>da</strong>mente a atual diferenciação econômica<br />

<strong>da</strong>s famílias através <strong>da</strong>s suas estratégias <strong>de</strong> inserção econômica e reprodução social, mas<br />

todos procurando preservar e manter esta família sob <strong>de</strong>termina<strong>da</strong>s condições culturais e<br />

sociais. Esta diferenciação <strong>de</strong> estratégias é <strong>de</strong>fini<strong>da</strong> por Maria José Carneiro no texto<br />

“Agricultores familiares e pluriativi<strong>da</strong><strong>de</strong>: Tipologias e políticas”, reconhecendo três<br />

categorias <strong>de</strong> famílias, sendo elas a família agrícola <strong>de</strong> caráter empresarial, a família<br />

camponesa e a família agrícola “rurbana”. Estas categorias <strong>de</strong> famílias <strong>de</strong>fini<strong>da</strong>s pela<br />

autora encontramos na comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Pica<strong>da</strong> Felipe Essig.<br />

A família agrícola <strong>de</strong> caráter empresarial foi aquela que aliou no período anterior<br />

duas características básicas na comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>. Primeiramente beneficiou-se pela posse <strong>da</strong>s<br />

terras planas e férteis, <strong>de</strong>nomina<strong>da</strong>s <strong>de</strong> várzeas e como segun<strong>da</strong> característica, se<br />

capitalizou neste período anterior para se a<strong>de</strong>quar as novas exigências <strong>da</strong>s<br />

agroindústrias. Enquanto as <strong>de</strong>mais famílias, tiveram que procurar outras saí<strong>da</strong>s<br />

estratégicas para a sua manutenção, entre elas as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s agrícolas fora <strong>da</strong><br />

proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>, ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s fora <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> agrícola e por final a<strong>da</strong>ptar-se a vi<strong>da</strong> <strong>de</strong><br />

aposentado rural.<br />

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BIBLIOGRAFIA<br />

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