MYRIAN MUNIZ: UMA PEDAGOGA DO TEATRO - Unesp

Ela afirmava que o processo criativo no teatro se dá em camadas, como os
gomos de uma cebola que vão sendo retirados para que possamos enxergar
aquilo que está embaixo. Isso acontece também, metaforicamente, com o ator
como se estivesse coberto por véus que vão sendo retirados e
“atrás de um véu, há sempre outro véu; atrás de uma pele, outra pele. O
eu que importa é aquele que existe sempre mais além daquele que se
toma habitualmente pelo próprio eu: não está para ser descoberto, mas
para ser inventado; não está para ser realizado, mas para ser
conquistado; não está para ser explorado, mas para ser criado.” (IDEM,
2006. p. 9)
Esse processo de autoconhecimento está apoiado na relação de um
indivíduo com o outro e, para a experiência pedagógica no teatro, também entre
atores de um mesmo grupo. Para Myrian, essa é base de trabalho no teatro: “É na
relação com o outro que você descobre você mesmo, só quando você enxerga o
outro. É o outro que te vê, não é você. Você não se enxerga!” (JANUZELLI e
JARDIM, 1999/2000)
Sobre sua experiência pessoal como aluna-atriz de Myrian, Carmo Sodré
Mineiro afirma: “A barra sempre pesa quando você entra no domínio do
autoconhecimento. Seu método é verdadeiro, dilacerante sem dúvida, mas é
altamente gratificante.” (VARGAS, 1998, p. 225)
O verdadeiro pedagogo é aquele que conduz o aprendiz até si mesmo e
esse caminho rumo ao próprio interior necessita de um mapa, que é traçado pela
experiência do “conhecer-se”. Myrian ajudava seus alunos-atores a traçar esse
mapa, que era capaz de revelar uma via de mão dupla que levava o homem até o
ator e vice-versa. A minha experiência no traçado desta estrada foi lenta e
gradual, o que pode parecer negativo em um primeiro momento, mas que na
verdade tornou-se algo essencial para que eu, a cada pedra colocada na
pavimentação dessa estrada, fosse construindo minha identidade como homem e
como artista de teatro.
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