MYRIAN MUNIZ: UMA PEDAGOGA DO TEATRO - Unesp
MYRIAN MUNIZ: UMA PEDAGOGA DO TEATRO - Unesp
MYRIAN MUNIZ: UMA PEDAGOGA DO TEATRO - Unesp
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Devo, sem dúvida alguma, a Wilhelm Reich a melhor compreensão dos<br />
fenômenos sociais e políticos que levaram à transformação semântica da<br />
palavra tesão no Brasil. Porque foi ele que entendeu e difundiu a função<br />
do orgasmo, o papel do prazer sexual na liberdade e no cotidiano da vida<br />
humana. (FREIRE, 1987, p. 22)<br />
O convite para que o terapeuta integrasse a equipe de professores do<br />
Macunaíma aconteceu provavelmente por conta do primeiro contato entre Freire,<br />
Sylvio Zilber e Myrian Muniz ainda na EAD e também por que o casal de atores<br />
participou do filme Cléo e Daniel, que Freire dirigiu. Ele tinha interesse em<br />
desenvolver terapia grupal, utilizando um método baseado em experiências<br />
cotidianas revividas através de exercícios teatrais, enquanto Myrian tinha interesse<br />
no trabalho que ele desenvolvia nas sessões de terapia de grupo. Essa parceria<br />
foi responsável, provavelmente, pelo surgimento das primeiras idéias que geraram<br />
a Somaterapia, desenvolvida por Freire e foi também determinante para que<br />
Myrian aprendesse a relacionar exercícios de teatro e propostas de<br />
experimentação psicoterapêutica, o que contribuiu para que ela desenvolvesse<br />
uma maneira muito própria de desbloqueio corporal e psicológico dos alunos-<br />
atores, visando, segundo ela, à formação teatral:<br />
Era teatro e terapia, eu fazia as duas coisas juntas. Fazíamos exercício de<br />
tato, por exemplo: põe uma venda, escurece a sala e vai sentir. É um<br />
exercício sem a palavra, apenas sentindo o outro. Eu percebia que as<br />
pessoas iam no rosto, na cabeça, e quando chegava no tronco ninguém<br />
mexia no peito, Deus me livre, nenhum homem se atrevia a passar a mão no<br />
peito de uma mulher. No sexo então, passava longe... pela bunda, nem<br />
sonhar! Ia por todas as outras partes, mas não mexia no sexo e nem no<br />
peito. A gente começou a observar isso e quando era assim eu entrava no<br />
exercício. Como eu era ego-auxiliar, eu entrava e mexia, dava cada rebu.<br />
Era uma falta de respeito, a pessoa chorava, se sentia ofendida. Porque não<br />
passar a mão no corpo inteiro, sem malícia? Tinha isso também, tinha que<br />
tomar muito cuidado porque existiam os maliciosos, os aproveitadores, era<br />
muito difícil. Exercícios de tato e também exercícios de proximidade física.<br />
Esse exercício de rolar, por exemplo, ou o exercício em que um deita no<br />
chão, o outro deita em cima e relaxa, procura respirar junto, calmamente.<br />
Então você vai conduzindo para que se acalmem, para que respirem juntos.<br />
Depois troca, rola, abraça e rola, e o que estava embaixo passa pra cima e<br />
continua respirando. Também era muito difícil de fazer por causa da<br />
proximidade física e porque ficava parecido com a relação sexual. Tudo que<br />
era parecido com relação sexual, tudo que era referente a sexo, era<br />
terrivelmente difícil e bloqueado. (JANUZELLI e JARDIM, 1999/2000)<br />
89