MYRIAN MUNIZ: UMA PEDAGOGA DO TEATRO - Unesp

Outra importante característica da sua pedagogia era a maneira intensa com
que abordava o ofício do teatro. Ela requisitava de seus alunos-atores um grande
envolvimento, chegando mesmo a adquirir um tom radical. Acredito que esse
aspecto está relacionado, de forma íntima, com toda a sua vivência no Teatro de
Arena e seu engajamento nas questões políticas emergentes que eram tratadas,
na época, pelo grupo. Como já mencionado, o seu último trabalho lá foi Feira
Paulista de Opinião, fato este que é bastante representativo da atmosfera
combativa daquele momento. Neste espetáculo, segundo o diretor Augusto Boal:
“Todos os atores representavam com revólveres escondidos nas roupas de cena e
quando as cortinas fechavam, todos ficavam prontos, esperando para ver qual
seria a reação do público.” (DELGADO e HERITAGE, 1999, p. 173) Myrian parece
que carregou, na sua prática como professora, esse espírito de “matar ou morrer”
porém de forma transmutada e reelaborada. Essas experiências trouxeram para
ela uma visão de que o teatro requer dos seus participantes uma grande
participação, não possibilitando a eles uma postura frouxa e descompromissada.
Essa atitude era tão essencial que, durante o período em que fui seu aluno-ator,
pude presenciar uma solicitação dela, de maneira bastante enfática, que
determinada pessoa abandonasse o curso e não viesse mais aos ensaios, pois
sua avaliação era de que essa pessoa não estava interessada em aprender teatro.
2.4- As primeiras experiências na formação da pedagoga
As experiências que marcaram o início da trajetória de Myrian como
pedagoga teatral foram desenvolvidas com os mais diversos tipos de “alunos de
teatro”. Primeiramente, ela dirigiu um grupo de estudantes do Colégio de
Aplicação, no espetáculo infantil O boi e o burro a caminho de Belém, de Maria
Clara Machado, apresentado no Teatro de Arena. Depois disso, Myrian aceitou o
convite de Flávio Império para ser sua assistente e também fazer direção de
atores, com alunos da Universidade de São Paulo, no espetáculo Os fuzis da
Dona Tereza, de Bertolt Brecht. Já nos anos de 1970, ela dirigiu Ralé, de Máximo
Gorki, com um grupo de operários de São Bernardo do Campo e depois dirigiu
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