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MYRIAN MUNIZ: UMA PEDAGOGA DO TEATRO - Unesp

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Boal dedicava uma grande parte do seu processo de ensaio ao “trabalho de<br />

mesa”, analisando a peça, procurando sua idéia central e identificando os<br />

principais conflitos. Ele acreditava que todo esse processo de análise do texto é<br />

de fundamental importância para que a encenação resultasse em um<br />

espetáculo vivo, independente do estilo primeiro proposto pelo autor do texto.<br />

“Uma coisa é você pegar o estilo e dizer: o estilo é esse, vamos nos adaptar a<br />

este estilo. E outra coisa é você pegar o texto, considerar a palavra como um<br />

ser vivo e deixar que esse ser vivo emocione você e dê uma forma que<br />

fatalmente vai ser diferente.” (IDEM, 2004. p.127) Além do intenso trabalho de<br />

mesa, Boal relatou que também experimentou diversas propostas de<br />

improvisação com o objetivo de construção cênica, o que acabava gerando<br />

muito material para que ele pudesse escolher, dentre as propostas dos atores,<br />

aquilo que ele queria:<br />

Acho que sou um diretor que permite ao ator fazer tudo o que eu quero,<br />

na verdade. Eu deixava sim, eles (no Arena) fazerem tudo o que eu<br />

quisesse que fizessem. Mas descobria o que eu queria vendo eles<br />

fazerem. Ouvia mesmo. Minha paciência não passava de um ardil de<br />

diretor. Se começasse a ser muito impositivo, o ator se fecharia e, aí<br />

então, iria passar a não produzir mais nada. Se um diretor começa a<br />

bloquear um ator (“não é isso”, “eu quero aquilo”), o intérprete vai<br />

perdendo a criatividade. Mas, se você deixar que experimente, você vai<br />

começar a ver na experiência que ele está fazendo, baseado em suas<br />

sugestões, tudo quanto imaginou para ele. (IDEM, 1998, p.132)<br />

Parece-me que a preocupação de Myrian com a vitalidade e a verdade no<br />

trabalho de interpretação, seja como atriz, diretora ou professora, sempre<br />

respeitando o material intuitivo apresentado pelo artista em cena, tem origem no<br />

seu aprendizado no Teatro de Arena, especialmente aquele junto a Boal e a Flávio<br />

Império. Na orientação dos seus alunos-atores para a construção da cena, Myrian<br />

sempre utilizou, como matéria prima, a intuição que pode nortear o processo<br />

criativo, revelando assim o caminho a ser percorrido pelo aprendiz.<br />

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