MYRIAN MUNIZ: UMA PEDAGOGA DO TEATRO - Unesp
MYRIAN MUNIZ: UMA PEDAGOGA DO TEATRO - Unesp
MYRIAN MUNIZ: UMA PEDAGOGA DO TEATRO - Unesp
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
que queria fazer teatro e ir para São Paulo cursar a EAD. Jandira Martini descreve<br />
como foi esse momento:<br />
Assim que se abria o pano e lentamente se iluminava a cena, um cenário<br />
muito simples e uma velha vestida de negro transmitiam, de imediato, o<br />
que seria o espetáculo. Não havia dúvidas de que estávamos diante de<br />
uma tragédia, terrível, mas humana e sobretudo verdadeira. Aí a<br />
qualidade. A velha de negro era Myrian Muniz. Velha?! Foi a impressão<br />
que eu tive, porque só depois vim a saber que todo o elenco tinha a<br />
mesma idade; Silnei Siqueira que fazia o Noivo, e era, portanto, na peça,<br />
filho de Myrian, Aracy Balabanian que era a noiva, Sylvio Zilber, que fazia<br />
Leonardo... Fiquei de tal forma fascinada pelo espetáculo que resolvi ali<br />
mesmo o que queria ser quando crescesse. Resolvido! Eu queria fazer a<br />
EAD. (VARGAS, 1998, p. 183)<br />
O diretor acompanhou o elenco nessa viagem e Myrian relata como ele era<br />
cuidadoso e dedicado com os alunos-atores, procurando sempre estimulá-los com<br />
o intuito de melhorar seu desempenho em cena:<br />
Eu me lembro que uma vez eu fui apresentar o Lorca em Santos, no<br />
teatro Coliseu. E no terceiro ato, que eu achava que não seria capaz de<br />
hipnotizar a platéia, porque eu sempre acho que eu não sou capaz,<br />
mesmo estando lotado, eles ficaram quietos! Quando o D’Aversa dirigia<br />
os alunos ele ficava na coxia fazendo gestos para a gente. Ah! Que<br />
maravilhoso! [...] Dá vontade de chorar. Ficava na coxia nos dirigindo.<br />
Naturalmente, como eu estava de perfil, eu não via, mas eu sabia que ele<br />
estava lá, me dirigindo. E a platéia ficou quietíssima. Nem uma tosse,<br />
nem nada! E eu sozinha no palco. Nunca tinha feito isso! Como ele havia<br />
me dito “Sem chorar!”. Nada disso, só aquela dor lá dentro. Fiz e acabou!<br />
Sabe quando acaba, e ninguém se mexe? Vi que tinha impressionado.<br />
Tinha ido dentro. [...] Eu me lembro que quando acabou, e a luz apagava<br />
em mim, ficou ainda um silêncio... e aí um “UÁÁ”, as palmas, inteiras. Aí<br />
eu cumprimentei e ele veio. Como ele era muito alto, ele me pegava e me<br />
levantava e eu ficava pendurada que nem um frango. Então, além de<br />
passar o ensinamento que era maravilhoso, profundo, ele te dava um tipo<br />
de amor, de apoio deslumbrante. (JANUZELLI e JARDIM, 1999/2000)<br />
Esse método de preparação do ator que busca provocar a erupção de<br />
emoções intensas, experimentado por Myrian ao ser dirigida por D’Aversa e<br />
aplicado por ela mais tarde no seu trabalho como professora, constituiu uma forte<br />
característica da sua pedagogia.<br />
78