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MYRIAN MUNIZ: UMA PEDAGOGA DO TEATRO - Unesp

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história do teatro e chegavam até recentes teorias de encenação, com<br />

ênfase especial no estudo do Método Stanislávski. (SILVA, 1989, p.107-<br />

108)<br />

Myrian foi dirigida por D’Aversa no espetáculo Bodas de sangue, de<br />

Federico Garcia Lorca. Ela considerava sua interpretação da personagem Mãe<br />

como um dos pontos mais importantes na sua passagem pela EAD e atribuiu<br />

grande parte dessa conquista ao vigoroso trabalho de preparação feito pelo<br />

diretor: “Foi ele quem me fez ter certeza de que eu poderia tornar-me atriz...<br />

Acreditei que eu podia fazer aquela mãe de sessenta anos, que tinha perdido o<br />

filho.” (VARGAS, 1998, p. 56). Na época, Myrian tinha apenas trinta anos, mas,<br />

segundo ela, graças à relação mágica que tinha estabelecido com o<br />

diretor/professor, conseguiu fazer o público acreditar que ela tinha a idade da<br />

personagem. Ela relata como foi parte do processo de ensaio dessa peça:<br />

Quando eu tinha 30 anos, não tinha filhos, e ensaiava a Mãe do Bodas<br />

de Sangue, personagem que perde todos os filhos, o marido e fica<br />

sozinha no palco. Tem um monólogo que ele me falava: “Não é para<br />

chorar! Ela não chora! A emoção vem até o olho e fica parada.”. E eu<br />

pedia que ele me ensinasse a fazer isso! Eu não sou computador!<br />

Espanhola, orgulhosa, digna de uma braveza absurda! Ignorante, eu!<br />

Árvore! Eu não sabia como fazer, e também, estava toda bloqueada. Eu<br />

tinha 30 anos, fazia um personagem de 60. Uma vez o Jacobbi, o<br />

Ruggero, estava junto com o D’Aversa na platéia e começaram a<br />

conversar sobre como é que deviam me ensaiar. O que fizeram: me<br />

amarraram as mãos, me enfaixaram, para eu não me machucar, me<br />

puseram de quatro, e eu comecei a falar o texto, batendo e gritando.<br />

Batia e gritava! Deu um revertério, uma gritaria, uma choradeira, um<br />

espalhafato, uma coisa absurda! Saiu por tudo quanto é poro. Idéia dos<br />

dois. Depois foram me acalmar, me deram água e falaram: “Viu? É até aí!<br />

Mais do que isso é a loucura!”. Porque estávamos trabalhando a loucura!<br />

Foi um jeito de abrir a interpretação de uma pessoa que tem 30 anos, e<br />

que está com tudo meio bloqueado! Você sabe que eu acabei fazendo o<br />

papel e ninguém na platéia achava que eu tinha 30 anos! Todo mundo<br />

achava que eu era velha mesmo! (JANUZELLI e JARDIM, 1999/2000)<br />

Myrian ficou fascinada por essa possibilidade camaleônica que o teatro lhe<br />

apresentava e teve ainda mais certeza de que trocar os corredores dos hospitais<br />

pelos palcos dos teatros tinha sido sua melhor escolha. A peça foi apresentada em<br />

Santos e a então estudante Jandira Martini, ao assistir a peça, teve a certeza de<br />

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