MYRIAN MUNIZ: UMA PEDAGOGA DO TEATRO - Unesp

que o verdadeiro envolvimento com o teatro extrapola a cena e vai muito além da
coxia.
Quando eu entrei na EAD, eu e a classe pintamos a escola inteira. Eu fiz
uma decoração para a festa e a escola inteira foi pintada, lavada e
esfregada. Era uma turma legal! A decoração era com umas toalhas de
papel com pombos e pombas que o Flávio Império me ensinou. Tudo
pombas mortas. Nossa, ele (Alfredo Mesquita) ficou encantado! E tinha
bolos, sanduíches, patezinhos, tudo organizado, tudo servido com a
maior educação. “É, Melo”. Meu nome, não era Muniz! E ele falava: “É,
Melo, você é competente!” Eu quase estourava de orgulho. Fico
emocionada, de verdade. É tão fundo. Nunca ninguém tinha falado isso.
Ninguém tinha falado nada. Tinham falado alô e bom dia. Mas assim,
fazendo você reconhecer que você tem valor, é emocionante para quem
tem vinte e cinco anos e quer ser algo na vida. (IDEM, 1999/2000)
A formação proposta pela EAD valorizava a idéia de que o ator precisa
travar conhecimento com o teatro “além palco”, pois Alfredo Mesquita acreditava
que o ator devia conhecer todas as atividades que envolvem o fazer teatral. Esse
princípio Myrian experimentou dentro da escola e carregou na sua prática
pedagógica.
Fiz tudo no teatro. Entrei pela porta do fundo, varrendo. Eu tomava conta
do guarda-roupa, organizava as festas, varria o quintal, mandava pintar
as paredes, lavava a cozinha, ainda ia lá e representava! Fazia luz,
arranjava umas roupas para fazer figurino, tomava conta das pessoas,
mandava nas pessoas, mandava mesmo! Eu fiz um espetáculo do
Shakespeare na EAD, A tempestade, que era muito engraçado e eu fazia
a sonoplastia. Eu dançava de ninfa, escorregava por trás de um rochedo,
entrava num buraco e punha o disco. Saía tudo tremido. Depois eu saía
daquele buraco e fazia várias outras coisas. Fazia tudo no espetáculo,
tudo o que eu podia! Eu aprendi como é ser atriz fazendo toda a parte
prática e também a parte teórica. (IDEM, 1999/2000)
Segundo o pesquisador Armando Sérgio da Silva, autor do livro Uma oficina
de atores: A Escola de Arte Dramática de Alfredo Mesquita, o fundador da escola
atuava também como diretor de montagens, tendo dirigido cerca de setenta
espetáculos ao longo dos vinte anos em que esteve à frente da escola. Ele afirma
que as encenações feitas por Alfredo Mesquita eram fruto de um trabalho de
equipe, sendo que o trabalho dos alunos-atores era avaliado segundo a
colaboração com o espetáculo como um todo. “Era famosa, por exemplo, sua
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