MYRIAN MUNIZ: UMA PEDAGOGA DO TEATRO - Unesp

Ao receber a notícia da morte de Myrian não pude deixar de me lembrar de
um dos nossos últimos encontros. Ela queria que eu participasse do elenco do
filme Nina, do qual ela era uma das protagonistas e me telefonou pedindo que
levasse a sua casa um currículo e duas fotos e foi logo afirmando: “mas não me
traz aquelas fotos bonitinhas não. Eu quero uma foto sua de ator!”. Quando fui ao
seu apartamento e ela viu uma foto na qual eu interpretava o pastor Onofre no
espetáculo Vereda da salvação, de Jorge Andrade, ela me abraçou, passou a mão
pelo meu rosto e disse: “Ai que bom! Você virou um ator mesmo!” Saí dali em
completo estado de felicidade, pois aquela afirmação era muito mais do que um
simples elogio. Era a aprovação daquela que era e continua sendo minha mais
importante mestra. Depois desse episódio encontrei-me com ela outras vezes,
porém de maneira breve. Nosso último contato foi em outubro de 2004, após o
depoimento que ela deu em comemoração aos 50 anos do Teatro de Arena.
Naquele dia pude sentir que algo diferente estava pairando no ar e um clima de
despedida se instalou quando fui cumprimentá-la no camarim. Hoje percebo que o
fato de ela ter se ajoelhado no palco, ao final da entrevista, tinha uma grande
simbologia: era o seu adeus ao teatro. E como ela mesma dizia, se despediu no
último ato para sair, definitivamente, de cena. E da vida.
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