MYRIAN MUNIZ: UMA PEDAGOGA DO TEATRO - Unesp

salame pela janela que acertava o gato da vizinha, causando a morte do felino. A
vizinha entra na sala da casa, aos prantos, contando o ocorrido. No momento em
que a personagem Michelina percebe o alcance do seu gesto impulsivo, ela vai,
lentamente, abrindo a porta da cristaleira e tenta esconder-se lá dentro, claro que
sem sucesso, pois o espaço não permite. O universo da peça era a comédia, mas
o tratamento dado pela atriz a essa cena reforçava não só a tristeza da situação,
segundo a percepção da personagem da vizinha, como também conferia, através
da reação da sua personagem, a dura consciência de uma atitude que a princípio
era inócua, mas que foi se transformando em algo terrível e digno de grande
arrependimento. Era evidente, na interpretação de Myrian, essa mudança, o que
despertava no espectador um sentimento dúbio: achar graça da situação e, ao
mesmo tempo, se emocionar com ela.
1.13- “Myrian Muniz ‘morrem’ e ‘permanecem’” 8
A Cia. Livre que ocupou, via edital da FUNARTE, o Teatro de Arena
Eugênio Kusnet, concebeu o projeto Arena conta Arena 50 anos, em
comemoração ao cinquentenário do teatro. O projeto consistiu em depoimentos de
importantes artistas que fizeram parte da história do Teatro de Arena, palestras de
pesquisadores e teóricos do teatro nacional, além de leituras dramáticas de oito
peças antológicas da fase áurea do teatro e entrevistas. Myrian deu seu
depoimento em 20 de outubro de 2004; o que foi sua última aparição pública.
Quando a atriz Isabel Teixeira perguntou a ela se sua vocação para professora
teria nascido ali no Teatro de Arena, ela respondeu que nasceu na EAD mas sua
passagem pelo grupo representou uma semente desse trabalho pedagógico:
Não, aqui é a raiz, né? Aqui é a semente, aliás. É a semente. Depois vai
virando uma raiz, vai formando uma raiz, vira uma grande árvore, chega
8 COELHO, Sérgio Sálvia. Myrian Muniz ‘morrem’ e ‘permanecem’. Folha de S. Paulo, São Paulo,
22 dez. 2004.
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