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MYRIAN MUNIZ: UMA PEDAGOGA DO TEATRO - Unesp

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profundo, muito verdadeiro e contém também uma dose de dramaticidade. Faz rir<br />

da desgraça.” (IDEM, 1998, p. 219). Já a cineasta Ana Carolina afirmou que “o<br />

humor de Myrian é profundo, triste e avassalador”. (IDEM, p. 152) Jandira Martini,<br />

com quem Myrian dividiu a cena em Porca Miséria, sintetizou assim o processo de<br />

criação da atriz:<br />

Viver em toda a intensidade o drama (essa é a fase do jogar-se de<br />

cabeça), e depois com os olhos um pouco críticos (não muito) ir<br />

acrescentando dados que levem ao patético (palavra que ela adora) e<br />

finalmente buscar no dia-a-dia, maneirismos e características que<br />

possam colorir e dar graça à personagem, creio ser o caminho percorrido<br />

por Myrian para chegar à sua criação. Só que essa criação não se<br />

completa nunca, a cada dia, a cada espetáculo, a busca continua. (IDEM,<br />

p. 189)<br />

A atriz tinha consciência de que essa síntese entre tragédia e comédia fazia<br />

parte da sua compreensão sobre o ofício do ator e, ao relacionar esse fato com<br />

seu processo de autoconhecimento dentro do teatro, afirmou:<br />

Quando eu vi as máscaras da comédia e da tragédia, quer dizer, o choro<br />

e o riso, eu pude perceber com mais profundidade o que quer dizer. A<br />

compreensão da imagem do choro e do riso é mais funda na minha<br />

cabeça quando se referindo à minha própria pessoa. Quer dizer, quem é<br />

a Myrian que chora? Quem é a Myrian que ri? Quem é esse espírito que<br />

tem na Myrian que chora e que ri? Quando ela chora? E quando ela ri?<br />

Por que ela chora? E por que ela ri? Essa dualidade que você percebe no<br />

teatro. (JANUZZELLI e JARDIM, 1999/2000)<br />

Essa combinação do trágico e do cômico nas criações de Myrian conferia<br />

ao seu trabalho uma singularidade que era capaz de despertar, em quem com ele<br />

travava contato, fosse aluno, ator ou espectador, a consciência de que essa<br />

dualidade do riso e do choro é parte indissociável da vida. “Se podemos rir e<br />

chorar em um mesmo momento, experimentamos uma nova vivência que a<br />

sincronicidade temporal nos proporciona.” (RAULINO, 1985, p. 88) Não foram<br />

poucas as vezes em que experimentei essa dupla sensação na minha trajetória ao<br />

lado dela. Um momento, em especial, ficou marcado para mim: na peça Porca<br />

miséria, o personagem interpretado por Myrian se dá conta de que o seu ato de ira<br />

contra o irmão recém-chegado tinha tido consequências trágicas. Ela atirava um<br />

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