MYRIAN MUNIZ: UMA PEDAGOGA DO TEATRO - Unesp
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A idéia da Feira foi de Lauro César Muniz, que queria fazer um registro,<br />
como uma fotografia, da dramaturgia e da situação do país naquele que era sem<br />
dúvida um dos anos mais tensos de nossa história - um 1968 cheio de lutas entre<br />
a esquerda e a direita. Foi nesse mesmo ano que a classe teatral, em repúdio ao<br />
editorial publicado em 15 de junho no jornal O Estado de S. Paulo, resolveu<br />
devolver o Prêmios Saci, que havia sido criado por aquele jornal para contemplar<br />
os criadores teatrais. Um grupo de atores, liderados por Fernanda Montenegro,<br />
depositou as estatuetas na porta d’O Estado. Foi uma época muito conturbada<br />
socialmente e o Teatro de Arena foi sofrendo seus primeiros problemas, suas<br />
primeiras baixas, tais como fugas, viagens, prisões. Myrian estava grávida do seu<br />
segundo filho, Rodrigo, e ainda chegou a assistir à implantação do Sistema<br />
Coringa e a ouvir as músicas da fase musical do teatro, entre elas Arena conta<br />
Zumbi e Arena conta Tiradentes. Ela relata, no depoimento dado à Companhia<br />
Livre, por ocasião do evento Arena conta Arena – 50 anos, como foi o dia em que<br />
a polícia chegou ao teatro:<br />
Eu fiquei aqui na porta deste teatro, grávida de sete meses. Eu tenho a<br />
impressão [...] é coisa de mãe, que esse meu filho cresceu com uma<br />
disfunção por causa do susto que eu levei aqui na porta. Porque falaram:<br />
“Você tá grávida, eles vão te respeitar, eles não vão fazer nada com<br />
você.” Uma mulher grávida é uma imagem muito forte. “Então você fica aí<br />
na porta que nós vamos fugir pelo telhado.”[...] A Dina Sfat e mais<br />
alguém. Então, eu fiquei na porta enquanto eles iam fugir pelo telhado...<br />
Eu tinha certeza que eu era meio assim uma Joana D’Arc, uma mãe<br />
Carrar, que pega a espingarda e vai, uma mãe coragem com sua<br />
carroça. Eu achava. Quando os carros pararam, quatorze carros de<br />
polícia aqui neste lugar, quatorze, com sirenes e metralhadoras, eu<br />
comecei a urinar e tremer e defecar. Aí eu entendi quem eu era. Que eu<br />
era uma “outrinha”, um verme medroso. E isso me fez muito mal.<br />
(ARENA CONTA ARENA 50 ANOS)<br />
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