MYRIAN MUNIZ: UMA PEDAGOGA DO TEATRO - Unesp

espontaneidade teatral, que conferia à suas expressões características únicas e
exclusivas, como se possuíssem, no final, uma assinatura sua, além de mantê-la
viva na minha memória, como se eu ainda pudesse escutá-la falando.
A minha lembrança dos anos nos quais fui seu aluno-ator também me guiou
nessa investigação, especialmente porque, em muitos momentos ocupei a posição
não só de pesquisador, mas também a de objeto pesquisado. Eu sou fruto da
pedagogia que ela adotava em seus cursos e durante seis anos pude
experimentar as mais diversas situações e vivenciar diferentes processos de
aprendizagem teatral. Mesmo depois de deixar o seu curso para ingressar na EAD
– Escola de Arte Dramática/ECA/USP, continuei direta e indiretamente sofrendo
sua influência, seja pelo contato com professores da escola que tinham sido seus
ex-alunos e/ou colegas de trabalho, seja por encontrar na minha trajetória
profissional artistas que, ao saberem que eu tinha frequentado seu curso,
prontamente confessavam que suas experiências ao lado dela tinham se tornado
referências muito fortes.
Depois dessa primeira fase da pesquisa, iniciei uma segunda etapa de
organização não só de dados biográficos e informações relevantes, mas também
de conteúdos pedagógicos. Visitei, diversas vezes e de maneira muito atenta, o
material recolhido e, em especial, a entrevista realizada por Januzelli e Jardim,
sempre objetivando identificar nela uma linha de raciocínio que pudesse orientar a
minha sistematização da pedagogia utilizada por Myrian. Confesso que encontrei
bastante dificuldades no início, porque o discurso dela tem características cíclicas,
episódicas e segue uma lógica própria difícil de identificar, em um primeiro
momento. Para organizar esse material, segui critérios que mesclaram o conteúdo
da entrevista e a minha vivência pessoal como aluno-ator. Tentei rememorar como
tinha acontecido cada processo de investigação que presenciei nos anos em que
participei, na FUNARTE, do curso ministrado por ela e, a partir disso, identificar
uma linha de atuação. Evidentemente que a minha memória foi seletiva e
recuperei os momentos que me pareceram mais importantes.
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