MYRIAN MUNIZ: UMA PEDAGOGA DO TEATRO - Unesp

Retalhos foi o título do espetáculo do ano de 1995, que tinha como foco a
brasilidade não só nos textos escolhidos, como também na preparação corporal,
que ficou a cargo de Mauricy Brasil, professor de dança afro. Myrian valorizou
muito o trabalho corporal desenvolvido nesse ano, pois acreditava que esse tipo
de dança podia propiciar aos alunos-atores a construção da consciência corporal
e estruturação da auto-estima e auto-imagem, através da aproximação com a
cultura afro-brasileira, além de promover, através dessa expressão a investigação
e manuseio do próprio corpo. Somado a isso, esse tipo de dança também
explorava a sexualidade nos seus movimentos, provocando assim uma livre
expressão nesse aspecto. Para ela, como já dito anteriormente, a vivência plena
do sexo era fundamental para a completa atuação do artista no teatro.
Os textos trabalhados naquele ano foram de autores modernistas, tais
como de Oswald de Andrade, Mário de Andrade, Clarice Lispector, Carlos
Drummond de Andrade, entre outros. A escolha destes não me parece aleatória,
porque este movimento representou um divisor de águas na cultura brasileira. O
Modernismo significou não só a inclusão do Brasil nos movimentos culturais e
artísticos que estavam ocorrendo no exterior, no início do século XX, mas também
implicou a busca de raízes nacionais valorizando assim o que havia de mais
autêntico no país na época, colocando em evidência a questão da nacionalidade.
Esses temas não só eram muitos caros para Myrian, como também
representavam metaforicamente sua maneira de pensar e fazer teatro, advinda da
herança cultural mais forte que ela recebeu do Teatro de Arena: um teatro feito
pelos brasileiros e para os brasileiros.
Outro desafio me foi colocado por ela naquele ano: ser engraçado em
cena. Representaria Luzia, de Carlos Drummond de Andrade e Moral quotidiana,
de Mário de Andrade, que são dois textos com forte acento cômico. Eu achava
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