MYRIAN MUNIZ: UMA PEDAGOGA DO TEATRO - Unesp
MYRIAN MUNIZ: UMA PEDAGOGA DO TEATRO - Unesp
MYRIAN MUNIZ: UMA PEDAGOGA DO TEATRO - Unesp
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
epresentavam o início e o fim do amor que era narrado pela letra da música.<br />
Lembro-me que, no dia das apresentações, uma aluna-atriz ficou por último,<br />
provavelmente por grande timidez. Ao tentar cantar a música que escolhera, ela<br />
parou por diversas vezes, afirmando que não seria capaz de concluir seu<br />
exercício. Foi nesse momento que Myrian interveio e disse: “Como não é capaz?!<br />
Claro que é! Vamos, que a gente te ajuda.” E foi então que ela convocou todos os<br />
outros alunos-atores para que fizéssemos uma grande roda e cantássemos com<br />
aquela aluna-atriz a música que ela tinha escolhido. O exercício terminou como<br />
uma grande celebração, de maneira extremamente generosa, afetiva e ao mesmo<br />
tempo didaticamente efetiva. Tive a oportunidade de acompanhar a trajetória<br />
daquela aluna-atriz, que se iniciou ali e culminou, quatro anos depois, com uma<br />
vigorosa interpretação de Joana de Gota d’água, de Chico Buarque e Paulo<br />
Pontes. Myrian levava até as últimas consequências as possibilidades de<br />
recriação a partir da realidade vivida em determinado momento. A dificuldade<br />
encontrada por aquela aluna-atriz acabou por transformar-se em trampolim para o<br />
seu desenvolvimento dentro do teatro. Essa atmosfera, reinante nos cursos dos<br />
quais participei na FUNARTE, criava um ambiente de desafio, porém com<br />
acolhimento e respeito à trajetória individual de cada aluno-ator, na busca da<br />
essência do fazer teatral.<br />
A construção do cenário foi feita com bandeiras elaboradas pelos alunos-<br />
atores. Essas bandeiras figuravam no palco e no saguão juntamente com<br />
mandalas de papel, feitas por todos, durante os ensaios. Myrian nos ensinou como<br />
dobrar e cortar o papel para criar as mandalas. O incrível é que produzimos<br />
dezenas delas e todas diversas, pois dependendo do tipo de dobradura e corte<br />
que era dado ao papel, elas resultavam diferentes. Esse trabalho de construção<br />
coletiva da cenografia, parte da pedagogia de Myrian, nos fazia sentir<br />
responsáveis não só pela interpretação mas também pelo espetáculo como um<br />
todo. Comecei a entender que poderia e deveria participar na elaboração, ainda<br />
que em parte, dos elementos que envolviam a encenação. Aprendi que o teatro<br />
simboliza o que é de todos e não é de ninguém, o que é coletivo. Essa vivência<br />
135