MYRIAN MUNIZ: UMA PEDAGOGA DO TEATRO - Unesp
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Logo nos primeiros dias de ensaio senti que tinha encontrado um lugar<br />
onde me sentia absolutamente feliz e realizado. Ali tive ainda mais certeza que o<br />
teatro era o “meu lugar”. O grupo era formado por pessoas muito diferentes:<br />
médicos, massagistas, advogados, jornalistas, cantoras, estudantes, músicos e<br />
essa diversidade promovia um clima de cumplicidade, pois a maioria ali estava<br />
buscando o teatro como forma de conhecer-se melhor, mesmo que alguns, como<br />
eu, ainda não tivessem essa consciência.<br />
O ano era 1992 e Manuel Bandeira foi o escolhido para o trabalho daquele<br />
ano. Todos nos lançamos em uma pesquisa de sua obra para dar início ao<br />
trabalho de elaboração de cenas. Myrian trouxe uma série de poemas e a cada<br />
encontro experimentávamos a construção cênica de alguns deles. Muitas cenas<br />
nasceram de propostas coletivas e também de exercícios corporais ou vocais,<br />
como aconteceu com o poema Trem de ferro, realizado por todo o elenco. Para<br />
mim, foi ficando claro que a criação já começava nas atividades de aquecimento,<br />
que iam explorando as possibilidades de cada um, e como essas mesmas,<br />
combinadas, podiam resultar em algo a ser incorporado na encenação.<br />
Zebba Dal Farra, músico que tinha sido seu aluno-ator e que agora atuava<br />
ao seu lado, fez a preparação vocal e de canto, além de musicar vários poemas<br />
do autor. Essas músicas, juntamente com os poemas, compunham o roteiro do<br />
espetáculo. A maioria dos espetáculos dos quais participei sob a direção de<br />
Myrian Muniz, dentro do seu curso de formação, não eram musicais, mas eram<br />
musicados, isto é, teatro com música. Existia uma preocupação grande de Myrian<br />
para que todos estivessem bem seguros para entrar em cena atuando e cantando.<br />
Ela acreditava que, através do canto, se perde a timidez, se lida melhor com os<br />
medos de estar em cena, além de se conectar com “nosso ser superior”.<br />
(VARGAS, 1998, p. 195) Um dos exercícios que realizamos com esse objetivo era<br />
o de cantar uma música de livre escolha, porém sempre acompanhada de uma<br />
proposta de encenação. Lembro-me que escolhi a música Todo sentimento, de<br />
Chico Buarque e que minha encenação envolvia o acender e apagar de velas, que<br />
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