MYRIAN MUNIZ: UMA PEDAGOGA DO TEATRO - Unesp
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Para ela, o aluno-ator vivencia, através do trabalho de interpretação, um processo<br />
de auto-conhecimento coletivo, sendo que a base desse fenômeno está nas<br />
diferentes ligações que se estabelecem nesse mesmo coletivo. Foi a partir do<br />
exercício descrito que me reconheci como parte integrante daquele grupo.<br />
O projeto daquele ano era encenar cenas de Garcia Lorca, em homenagem<br />
a Flávio Império, que tinha falecido havia poucos meses. Naquele momento, eu<br />
não tinha me dado contra da importância de Flávio para a história do teatro<br />
brasileiro e nem tão pouco para a formação artística de Myrian. Só vim a ter essa<br />
consciência anos mais tarde. O espetáculo, chamado Momentos..., foi encenado<br />
no Museu da Casa Brasileira, onde aconteceram também os últimos ensaios.<br />
Duas situações ocorridas naqueles ensaios ficaram fortemente impressas na<br />
minha memória. A primeira foi o processo de ensaio a que Myrian submeteu a<br />
atriz Tereza Meneses. Ela interpretava a noiva na peça Bodas de Sangue, de<br />
Garcia Lorca. A cena retratava o momento em que a personagem recebe a visita<br />
do ex-amante Leonardo, no dia do seu casamento. A cena era fortemente<br />
carregada de emoção e presenciei Myrian tentando extrair o máximo do trabalho<br />
da atriz, dizendo de maneira forte, enquanto ela estava em cena: “Mais, mais! Eu<br />
quero mais!!!” Ela ficava, andando de um lado para o outro, dando instruções,<br />
falando da situação encenada, dos personagens e repetia: “Mais, mais! Eu quero<br />
mais!!!” Tive naquela hora a primeira noção da força do trabalho de direção de<br />
atores que Myrian fazia, que ela nunca se contentava com o primeiro material<br />
apresentado pelo ator e sempre buscava extrair mais. A segunda lembrança foi<br />
que uma semana antes da estréia, durante um ensaio geral, tive a nítida<br />
impressão de que havia ainda muito trabalho a ser feito. Achava aquele método<br />
confuso, pois minha experiência anterior era o processo de montagem de um<br />
musical, nos Estados Unidos, no grupo amador da universidade local, na<br />
Califórnia, onde fui aluno de intercâmbio. Os americanos eram muito regrados<br />
(mesmo os amadores) e os ensaios tinham um roteiro bem definido e preciso.<br />
Para meu espanto, tudo aquilo que parecia desorganizado, foi tomando forma de<br />
tal maneira que o resultado foi um delicado, porém intenso espetáculo em<br />
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