MYRIAN MUNIZ: UMA PEDAGOGA DO TEATRO - Unesp
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afirmar que foi paixão à primeira vista. Depois desse dia, passei a frequentar seu<br />
curso no Espaço Viver.<br />
No primeiro dia, Adriana e eu (consegui convencê-la) chegamos ao local<br />
dos ensaios trinta minutos adiantados e resolvemos então colocar a “roupa de<br />
trabalho”. Eu entrei em um banheiro e ela entrou em outro. Jamais passou pela<br />
minha cabeça que pudéssemos nos trocar um na frente do outro. Na época eu<br />
tinha dezoito anos e, apesar de já ter dado meus primeiros passos no mundo do<br />
teatro, ver uma menina de calcinha e sutiã era proibido. Aos poucos, os alunos-<br />
atores foram chegando, trocando de roupa, um na frente do outro, sem qualquer<br />
problema. Adriana e eu nos olhamos significativamente e, na semana seguinte, já<br />
estávamos inseridos nessa atmosfera desprovida de preconceitos, mas, claro que,<br />
por algumas semanas, quando íamos vestir a roupa de ensaio, cada um ia para<br />
um canto da sala, longe um do outro. Foram necessários alguns meses para que<br />
não tivéssemos mais vergonha. Essa experiência, aparentemente ingênua, foi<br />
importante para entender o despudor sadio que cerca o ambiente do fazer teatral.<br />
Talvez nesse episódio esteja representada a minha primeira valiosa lição, ainda<br />
que na época eu não tenha me dado conta do seu conteúdo.<br />
As minhas lembranças dos ensaios no Espaço Viver são extremamente<br />
vibrantes. Em um dos dias, Myrian propôs que trouxéssemos maquiagem para<br />
que criássemos um rosto diferente do nosso. Quando a maquiagem estava pronta,<br />
iniciamos um trabalho corporal que evoluiu para uma dança e passamos a nos<br />
relacionar a partir da nova aparência que nosso rosto tinha adquirido. O trabalho<br />
era feito em duplas e, de tempo em tempo, trocávamos de parceiro. No final,<br />
estava criada uma atmosfera absolutamente mágica e me senti em sintonia com<br />
aquelas pessoas. Quando o exercício acabou ela disse: “Estava lindo! Um<br />
verdadeiro espetáculo pronto! Se fosse a estréia, a gente ia comer pizza agora.” E<br />
era essa exata sensação que eu tive. Acabara de participar de um verdadeiro<br />
evento teatral e estávamos ainda nos ensaios. A experiência descrita me remete à<br />
importância que ela dava às relações que se estabeleciam, na sala de ensaio.<br />
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