MYRIAN MUNIZ: UMA PEDAGOGA DO TEATRO - Unesp
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3.3- Roteiro básico do curso: primeiro sozinho, depois com o outro e depois<br />
com o coletivo<br />
3.3.1- Conhecendo o aluno-ator e fazendo-o se reconhecer<br />
Para que o aluno-ator se percebesse como um integrante de um grupo<br />
teatral, Myrian acreditava que era preciso que ele também se reconhecesse<br />
individualmente, com consciência plena sobre suas limitações e potencialidades.<br />
Para tanto, ela propunha algumas práticas:<br />
Cada um fala o seu nome. Fala em três tons: no grave, no berrado e<br />
normalmente, como se conversa, uso isso para ver se tem algum<br />
bloqueio na expressão, para jogar a sua voz pra fora. E geralmente, tem.<br />
Principalmente medo de gritar se você for muito educado, como aquelas<br />
pessoas que não conseguem falar alto. Se tiver algum problema de<br />
bloqueio, eu trabalho isso dando exercícios. Por exemplo, dou um texto e<br />
o aluno tem que dizer ele para mim bem alto! Eu o coloco lá embaixo na<br />
platéia e ele tem que dizer, da platéia para o palco, berrando como se eu<br />
fosse surda! A pessoa acaba ficando exausta e fala: “Eu não consigo!<br />
Isso é um absurdo! Eu não quero! Vai estragar a minha voz. Vai me dar<br />
algum problema nas cordas vocais.”. É no primeiro dia de trabalho que eu<br />
decido o que eu vou fazer em relação à voz. É muito importante dizer o<br />
seu próprio nome, se reconhecer. (IDEM, 1999/2000)<br />
Em um primeiro momento, Myrian propunha exercícios que tinham como<br />
foco a auto-percepção do aluno-ator:<br />
Exercício de “eu me observo”! Normalmente as pessoas fazem o inverso<br />
desse exercício que é observar o outro. Ficam na janela olhando o povo.<br />
Não gostam muito desse exercício. Eu me observo. Eu me observo no<br />
espelho, eu me olho, olho, eu converso comigo. Tem que conversar com<br />
você! O negócio é com você! Não tem o outro. O negócio é com você<br />
mesmo! E você? “Eu não sei de mim! Eu?” Esse trabalho é muito bonito.<br />
(IDEM 1999/2000)<br />
Depois ela propunha uma prática de observação do espaço e seus elementos:<br />
Eu mandei que eles saíssem pela Funarte. Lá tem três salões, tem salas<br />
de exposição de pinturas, tem um jardim fora. Mandei eles andarem e<br />
observarem quietos, olhar tudo o que estava acontecendo,<br />
individualmente. Observar todo o espaço. Eles foram, olharam,<br />
demoraram, e cada um contou o que viu. Eu tenho a impressão de que<br />
eles estavam pouco observadores e o ator deve observar muito o que<br />
acontece em volta. Você pergunta “Como era a pessoa? Como é que<br />
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