MYRIAN MUNIZ: UMA PEDAGOGA DO TEATRO - Unesp
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esta deveria também ser deixada ali naquele espaço, para ser novamente<br />
acessada em um futuro encontro, através de um outro ritual.<br />
3.2.2- Atividades desenvolvidas com os iniciantes<br />
Myrian relatou que o trabalho com os iniciantes em teatro ficava a cargo de<br />
seus assistentes e ela ministrava aulas eventualmente para esse grupo. Para ela,<br />
o trabalho mais importante a ser feito era o de integração do grupo e para isso<br />
eram aplicados diversos procedimentos tais como o exercício de conhecer o outro:<br />
Primeiro eu conheço a pessoa. A primeira aula, por exemplo, eu faço<br />
com que o aluno se apresente e diga por que ele está lá, porque<br />
escolheu o teatro, quem ele é, se ele trabalha. Ele se apresenta.<br />
Geralmente fica inseguro de subir no palco sozinho. As pessoas não<br />
gostam de se expor! Mas uma coisa muito importante é ouvir. Um fala, o<br />
outro ouve. Geralmente ninguém sabe ouvir, só sabe falar. Por isso que<br />
eu os coloco como platéia, para aprender a ouvir. Saber quem é o outro.<br />
Todos estão se conhecendo pela primeira vez, não sou só eu, é o grupo.<br />
Vai um por um e se apresenta. Demora. Às vezes vai a aula inteira, tem<br />
pessoas que falam um pouquinho, outras que não param de falar. Cada<br />
um tem um jeito. (IDEM 1999/2000)<br />
Ao final de um ano de trabalho, no lugar de um espetáculo teatral, ela<br />
propunha que se fizesse uma festa na qual os iniciantes apresentavam pequenas<br />
cenas, performances e os personagens que tinham desenvolvido ao longo do ano.<br />
Essa proposta tinha como objetivo conhecer melhor esses alunos-atores que<br />
seriam orientados por ela no ano seguinte:<br />
Eles é que inventam tudo. Se quiserem aparecer vestidos de zebu, está<br />
tudo certo! Se ao invés de um personagem humano, for um animal, está<br />
tudo certo também! É o que ele projetou, eu quero ver o que ele tem na<br />
cabeça no primeiro ano, o que eu não sei. Eu preciso saber o que ele tem<br />
na cabeça para eu poder trabalhar com ele. (IDEM, 1999/2000)<br />
O estudo sobre o trabalho do ator se inicia com uma intensa investigação<br />
sobre a natureza humana, que parte da individualidade de cada aluno-ator. Criar<br />
uma cena a partir das inquietações individuais acabava por gerar um “enfrentar-<br />
se” no aprendiz e era isso que Myrian queria ver refletido nas apresentações dos<br />
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