MYRIAN MUNIZ: UMA PEDAGOGA DO TEATRO - Unesp

A condução pedagógica adotada por Myrian estava fortemente baseada na
experimentação, sendo o teatro entendido como realidade cênica a ser descoberta
através da ação dramática e da inter-relação entre os personagens.
3.2.1- Ritual no início e no fim da aula
Myrian afirmava com frequência que o seu teatro era feito para os Deuses
e, para tanto, os trabalhos sempre se iniciavam com a construção de altares e a
realização de rituais. O principal deles era queimar folhas de eucalipto antes de
iniciar a aula:
Monto um altar visível, com incenso e tudo! Não tem aula se não tiver.
Eu queimo eucalipto, eu sou uma “candomblecista”! Eu queimo mesmo!
Eu sou católica por educação, mas eu não vou à igreja, eu tenho no meu
quarto, um altar de budismo, tem altar em todo lugar aqui! Aqui em casa
tudo é altar! Mas no meu quarto tem um altar budista, em que eu rezo e
um católico no qual eu não rezo, só tenho! (JANUZELLI e JARDIM,
1999/2000)
Depois desse ritual inicial, ela realizava uma roda com o objetivo de colocar
as pessoas em uma “energia de trabalho teatral”, semelhante a um rito de
passagem entre o mundo exterior (cotidiano) e o mundo interior (teatro).
A minha aula se abre e se fecha com a corrente. Depois da corrente, um
relaxamento. A primeira coisa é relaxar e se perceber, sem ansiedade.
Depois começamos a trabalhar, e fechamos com a corrente, uma
corrente em que as pessoas se reconhecem, se sentem neste mundo,
entre o céu e a terra, percebendo que existe um céu e que ele que te
cobre; para você entender que não é só este mundinho. Ir um pouco
além, pegando essa energia, passando ela por você, passando para o
outro, tudo através dos gestos. Ás vezes fazemos algumas pequenas
brincadeiras, às vezes não, é sério mesmo e sempre acaba com um
abraço de despedida e beijos, que sempre é bom. Sempre é assim!
(IDEM, 1999/2000)
A ritos de energização antes do início dos trabalhos de construção cênica
eram, segundo Myrian, de importância vital para o aluno-ator, pois ela acreditava
na natureza sagrada da matéria artística que se produzia no palco e, portanto,
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