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MYRIAN MUNIZ: UMA PEDAGOGA DO TEATRO - Unesp

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hábito que vinha dos gregos, porque para eles, sem oferecimento aos<br />

deuses o trabalho se reduzia. (GÓES, 2008, p.27)<br />

A postura do aluno-ator em relação ao trabalho que desenvolve no palco,<br />

deve ser, de acordo com ela, semelhante ao comportamento do homem religioso<br />

frente ao ofício que desempenha no espaço sagrado, pois o “verdadeiro teatro<br />

nasce quando o ator consegue estabelecer um fio invisível entre o seu próprio<br />

sentido de sagrado e o do público.” (OIDA, p. 121, 1999)<br />

Da mesma forma Myrian, também carregava essa crença para sua<br />

atividade como atriz profissional, fora do espaço pedagógico. Ela costumava<br />

criava rituais de cuidado com o espaço nos teatros onde trabalhou: foyer,<br />

camarins e palco. Durante a temporada do espetáculo Porca miséria, segundo a<br />

descrição do seu colega de cena Marcos Caruso, a preocupação com o ritual era<br />

uma constante:<br />

Myrian chegava todos os dias às cinco da tarde ao teatro quando o<br />

espetáculo era às nove. Durante quase dois anos ela defumava o teatro<br />

inteiro das cinco às sete, num ritual seu, de amor ao trabalho. Uma vez<br />

tentei ajudá-la [...] Foi lá que eu pus fogo. Na bilheteria[...] Eu queria<br />

fazer depressa. Myrian queria fazer, esta era a diferença. A diferença<br />

estava na crença. Como estava nas flores de todas as quartas-feiras.<br />

Não havia uma quarta que Myrian não trouxesse flores para o saguão e<br />

camarins. As dela duravam uma semana. As minhas murchavam em<br />

três dias. Eu as comprava. Myrian as oferecia. (VARGAS, 1998, p.181)<br />

Myrian tinha uma compreensão absoluta da dimensão mítica do teatro e<br />

transmitia, de forma enfática, essa idéia aos seus alunos-atores. O diretor Gianni<br />

Ratto sintetizou a maneira como ela desempenhava seu ofício afirmando que “leva<br />

consigo o fogo realmente sagrado que alimenta constantemente suas atividades<br />

de intérprete e de educadora. Sensível e, diria, mística” (IDEM, 1998, p. 28). Para<br />

ela, o ato de ensinar assemelhava-se a uma religião 22 , pois associava intimamente<br />

teatro e experiência espiritual, o que gerava conflito com os preceitos da arte<br />

22 Religião: crença na existência de uma força ou forças sobrenaturais, considerada(s) como criadora(s) do<br />

universo e como tal deve(m) ser adotada(s) e obedecida(s). (BUARQUE DE HOLANDA FERREIRA, 1988)<br />

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