MYRIAN MUNIZ: UMA PEDAGOGA DO TEATRO - Unesp
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Para Myrian, a experiência artístico-pedagógica está atrelada ao conceito<br />
de Teatro Sagrado de Peter Brook, também chamado de Teatro do Invisível-<br />
Tornado-Visível. Segundo o diretor inglês, o evento teatral pode ser considerado<br />
como um fórum capaz de desvelar questões emergentes: “muitas platéias no<br />
mundo inteiro responderão, com a sua própria experiência, que viram o rosto do<br />
invisível através de uma experiência que no palco transcendeu sua experiência de<br />
vida.” (BROOK, 1970, p. 23) Para tanto é necessário que o aspecto ritualístico do<br />
espetáculo seja preservado para que este faça “das nossas idas ao teatro uma<br />
experiência que alimente as nossas vidas.” (IDEM, 1970, p. 24) Estes<br />
pressupostos dialogam, de maneira estreita, com as propostas de Myrian que,<br />
além de identificar a capacidade de transmutação do teatro sobre a platéia,<br />
acreditava que essa mudança poderia ser ainda maior e mais efetiva nos atores<br />
pois é sobre o palco que o invisível, ou seja, o que está por ser revelado para e<br />
sobre o ator, torna-se visível. Ela advogava que o encontro teatral deve ser<br />
iniciado e finalizado de forma ritualística e por isso o cuidado com o espaço<br />
destinado a arte do teatro era uma preocupação constante de Myrian durante os<br />
ensaios:<br />
É um ritual! Eu sempre gosto de defumar com eucalipto, sempre tem um<br />
altar no meu ensaio e na minha aula. Um assistente faz um altar e<br />
queimam um incenso. Quando eu estou começando a ler uma peça, na<br />
mesa, eu defumo com eucalipto para melhorar o astral. Quando eu saio<br />
da mesa para o centro, eu faço um círculo de cadeiras e ponho o<br />
defumador no centro com eucalipto, que tem aquela fumaça!<br />
(JANUZELLI e JARDIM, 1999/2000)<br />
Regina Braga afirma que um dos principais aprendizados que teve como<br />
aluna-atriz de Myrian foi entender a necessidade do ritualizar o cotidiano como<br />
fonte de inspiração para o ofício do ator:<br />
A Myrian criava cerimônias. A casa dela já era uma. Tinha plantas lindas,<br />
fotos e objetos importantes que ela cultuava. Todos os dias, ela acendia<br />
velas, trocava as flores; dava esse impulso permanente. Era um<br />
agradecimento ao que existe de maior e, ao mesmo tempo, um<br />
chamamento, uma inspiração. Era quase um oferecer aos deuses, um<br />
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