MYRIAN MUNIZ: UMA PEDAGOGA DO TEATRO - Unesp
MYRIAN MUNIZ: UMA PEDAGOGA DO TEATRO - Unesp
MYRIAN MUNIZ: UMA PEDAGOGA DO TEATRO - Unesp
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Myrian tinha uma personalidade muito forte, sempre irônica e parecendo<br />
nos interrogar. Havia um deboche em suas contestações. Cutucava<br />
muito, raspava e aprofundava, afirmando que como atores deveríamos<br />
nos expor. (VARGAS, 1998, p. 207)<br />
Para ela, o ator e o homem por detrás do ator se formam ao se<br />
desmontarem, ao examinarem seus componentes internos e, por fim, ao se<br />
remontarem a partir da consciência advinda dessa auto-análise que leva a uma<br />
nova conformação. O caráter alquímico da experiência teatral acontece<br />
primeiramente com aquele que age - o ator - e depois com aquele que assiste - o<br />
espectador. O ator, ao transformar-se em cena, revelando os mais diversos traços<br />
da personalidade do personagem e, consequentemente da sua, provoca e instiga<br />
o espectador a lançar-se em uma investigação da sua própria essência.<br />
3.1.7- O sagrado e o profano<br />
Eu sei que o teatro é profano e é sagrado, como a vida!<br />
Myrian Muniz<br />
A união entre sagrado e profano é um dos aspectos mais relevantes na<br />
pedagogia desenvolvida por Myrian Muniz e relacionar essas duas dimensões,<br />
dentro desse processo, adquire um caráter fundamental. O sagrado se configura<br />
pela experiência de viver ligado a seres superiores (neste caso os “Deuses do<br />
Teatro”) e o profano se caracteriza por uma diversidade de vivências cotidianas. O<br />
espaço do fazer teatral adquire, então, uma dimensão ora de sacralidade, ora de<br />
profanidade, segundo a atriz:<br />
Eu sempre trabalho pensando muito no sagrado! Mas não desprezando<br />
o profano, se ele estiver presente, você o trabalha, claro! Eu não vou<br />
eliminá-lo e dizer “Não, o profano não! Só o sagrado!” De jeito nenhum!<br />
Eu estou com uma mãozinha no diabo e a outra em Deus. Sou amiga do<br />
diabo, isso eu sou! Não posso ser inimiga do diabo, eu até cultuo ele [sic]<br />
de vez em quando. Mas o bom Deus está sempre presente, e eu prefiro<br />
cultuar mais o sagrado que o profano! Para que ele não tome conta<br />
inteiramente e deixe o sagrado de escanteio, porque isso eu não quero!<br />
Como o teatro para mim é um ritual, tanto o profano como o sagrado<br />
estão meio a meio. Vamos deixar as coisas se interpenetrarem para que<br />
aconteça. (JANUZELLI e JARDIM, 1999/2000)<br />
109