MYRIAN MUNIZ: UMA PEDAGOGA DO TEATRO - Unesp

ealidade perigosa e típica, onde os Princípios, como golfinhos, assim
que mostram a cabeça, apressam-se a voltar à escuridão das águas.
(ARTAUD, 1983, p. 43)
Myrian acreditava que o choque alquímico causado pelo encontro dos
diversos conflitos que envolvem a criação teatral produz transformações
importantes naqueles que participam dessa experiência. Sua pedagogia propunha
que se virasse o ser humano do avesso, investigando emoções, sentimentos,
atitudes e suas motivações. A vida em sociedade nos impõe uma série de códigos
de conduta que acabam por formar uma pele grossa produzida por uma realidade
racional e a atividade teatral busca remover essa camada de verniz social e
revelar nossas verdadeiras emoções:
O teatro é realmente deslumbrante.Você precisa aprender devagar,
porque é devagar, é processo, é mágico, porque é alquímico, ele
transforma e vai transformando. Você vai olhando para as pessoas e elas
vão se transformando na sua frente. Como eu estou me transformando
por dentro na frente delas. (JANUZELLI e JARDIM, 1999/2000)
A consciência de si próprio leva o aprendiz de teatro a um “repensar-se no
mundo”, um processo de mudança de conceitos, posturas e crenças e,
consequentemente, a uma transmutação, de maior magnitude, em uma pessoa
mais sensível às suas próprias questões e também àquelas que estão à sua volta.
Myrian afirmava:
Quando as pessoas querem, elas se transformam! É isso que eu acho
que o teatro tem de alquímico, de milagroso! Eu vejo as pessoas se
transformarem, por isso que eu acredito nesse trabalho, senão eu já teria
largado. Mais de 40 anos fazendo isso. Eles se transformam, virando
outras pessoas, quer dizer “eu não sou uma, eu sou trezentas, trezentas
e cinqüenta”. Eles se surpreendem porque vivem outros lados deles
mesmos e se assombram com essa possibilidade. (IDEM, 1999/2000)
Esse trabalho de sensibilização em busca da transformação pessoal,
presente na proposta pedagógica de Myrian, tinha um caráter extremamente
provocador, segundo Paulo Betti:
Não resta dúvida que era um tratamento de choque, meio ligado às
experiências do psicodrama, trabalhando com memória emocional.
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