MYRIAN MUNIZ: UMA PEDAGOGA DO TEATRO - Unesp
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maior vitalidade energética. À medida que o indivíduo passa por experiências<br />
emocionais, as couraças vão se desenvolvendo como uma força de proteção<br />
contra impulsos de sua própria personalidade ou de outras pessoas. Caso essas<br />
couraças musculares perdurem por muito tempo, dão lugar à rigidez e tensões<br />
musculares, mesmo sendo eliminada a causa original. Essas tensões causam um<br />
bloqueio energético, restringindo o movimento espontâneo e limitando a auto-<br />
expressão. O trabalho psiquiátrico de Reich lidava com a libertação de emoções<br />
(prazer, raiva, ansiedade) através do trabalho com o corpo.<br />
Esses princípios “reichianos” nos quais se baseou Roberto Freire para<br />
desenvolver a Somaterapia, foram utilizados por Myrian na construção da sua<br />
pedagogia, que acreditava que somente através da liberação do corpo é que a<br />
criatividade do ator poderia aflorar. Cristina Pereira descreve como esse princípio<br />
foi importante no seu processo de aprendizagem:<br />
Era maravilhoso porque o trabalho físico liberava a emoção. O curioso é<br />
que nas aulas da Myrian aprendíamos a lidar com a emoção através de<br />
formas muito práticas, porque ao mesmo tempo que ela ia dizendo: “Não<br />
grite!”, “ A personagem é você, está dentro de você, não tem nada que ir<br />
buscá-la na área de serviço!”, íamos usando a emoção, falando, dizendo<br />
o texto e a coisa ia ficando de tal forma densa, que muita coisa, depois,<br />
podíamos cortar. Quando você se soltava, era aquela coisa, forte,<br />
emocional, catártica. Depois a gente ia limpando, vinha uma calma e a<br />
personagem estava ali, pronta, sem excessos. Nesses meus vinte e cinco<br />
anos de teatro, nunca conheci uma pessoa assim como a Myrian, que<br />
soubesse tirar tão bem do ator uma personagem (VARGAS, 1998, p.<br />
213)<br />
A proposta de ultrapassar limites não correspondia somente aos aspectos<br />
corporais, mas envolvia comportamentos, conceitos e códigos morais pré-<br />
apreendidos, exigindo do aluno-ator, de acordo com Eliane Giardini, uma entrega<br />
completa:<br />
Eu chego na escola, muito ingênua, muito novinha, sem nenhum verniz<br />
de capital, nem de cultura, nem nada, do interior mesmo, e dou de cara<br />
com uma professora assim... (hoje eu vejo) quase um arquétipo, e ela me<br />
olha e pergunta quantos buracos eu tinha no corpo!!! Cada aula que<br />
tínhamos com ela, ela estilhaçava os limites e fronteiras! Tudo o que<br />
pedia ao aluno era muito acima das nossas possibilidades, nesse<br />
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