MYRIAN MUNIZ: UMA PEDAGOGA DO TEATRO - Unesp
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vendo na aula você vai conversar depois em particular. Você vai sozinho e diz:<br />
“Olha, eu percebi que você faz isso, isso e isso! Por quê?” e eles sempre<br />
respondem: “Eu faço isso?”(IDEM, 1999/2000)<br />
Essa capacidade de congregar, numa mesma prática, diversas pedagogias<br />
vem, provavelmente, de uma aguda percepção do outro, segundo depoimento de<br />
Eliane Giardini:<br />
Myrian tinha a percepção exata de quanto as pessoas eram maiores do<br />
que aparentavam ser. Conseguia enxergar facilmente o que impedia<br />
aquela pessoa de ser muito mais, onde estava patinando, qual o projeto<br />
em que estava acreditando e que, na verdade, era um empecilho para a<br />
vida dela. (VARGAS,1998, p. 202)<br />
Carmo Sodré Mineiro complementa essa afirmação ressaltando que o<br />
material trazido pelo aluno-ator era o seu principal material pedagógico: “Myrian<br />
aproveita tudo o que você tem. Está o tempo todo atenta em você, não divide a<br />
atenção. Está concentrada em você.” (IDEM, p. 227)<br />
Myrian não possuía uma forma única de atuação, mas a sua maneira de<br />
ensinar teatro se compunha a cada aula-ensaio e se elaborava a partir do contato<br />
com cada um de seus alunos-atores. Quando ela presenciava o nascimento de<br />
uma possibilidade interessante de expressão artística, havia um grande estímulo,<br />
dado por ela, para que esse material, ainda desconhecido, se revelasse<br />
plenamente. Myrian possuía uma percepção generosa do outro e essa<br />
característica fazia com que ela percorresse caminhos não tradicionais. A opinião<br />
do aprendiz sobre a arte, fosse teórica ou prática, servia de bússola para suas<br />
ações pedagógicas, pois Myrian buscava estimulá-lo a refletir sobre o papel do<br />
artista de teatro na sociedade.<br />
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