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MYRIAN MUNIZ: UMA PEDAGOGA DO TEATRO - Unesp

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Ainda refletindo sobre o que é vivido e o que é representado, a frase “a arte<br />

imita a vida” ganha, no contexto de sua prática, uma leitura oposta e<br />

correspondente: a vida também imita a arte. A partir dessas duas afirmações<br />

complementares, Myrian acreditava no poder terapêutico do teatro, que é capaz<br />

de ensinar ao aluno-ator como lidar com situações reais que já foram<br />

experimentadas na ficção, assim como aconteceu com ela:<br />

Eu perdi um filho atropelado, tinha 19 anos, foi absurdo, indescritível. O<br />

que você sente. Porque eu lembro que quando eu fazia Bodas de Sangue,<br />

o D’Aversa falava assim: “Ela perdeu tudo! Perdeu os filhos, o marido,<br />

perdeu tudo! Agora ela tem uma dor, que não se expressa através do grito,<br />

através do choro, e sim através do silêncio. É muito difícil!” Acredita que eu<br />

fiquei doze horas quieta? Eu tenho a impressão que eu trabalhei no teatro<br />

e funcionou demais. Eu tinha a impressão nítida do Garcia Lorca sentado<br />

ao meu lado. O Alberto D’Aversa, que já tinha morrido, sentado ao meu<br />

lado, todos me acompanhando. Todos falando: “Você viu como é? É<br />

assim!”. (JANUZELLI e JARDIM, 1999/2000)<br />

A experiência da mãe do texto de Garcia Lorca, vivida por Myrian aos trinta<br />

anos, foi capaz de aplacar o desespero que ela, como mãe, viveu anos depois,<br />

quando aconteceu aquele trágico acidente com seu filho.<br />

Essa proposição de extrair da vida elementos para a criação teatral e a de<br />

apropriar-se das experiências de palco para entender melhor a vida são<br />

importantes aditivos retro-alimentadores no trabalho do ator - verdadeiras<br />

“observações que empurram” 20 - que possibilitam a descoberta de atalhos<br />

artísticos que ajudam a entender a relação do artista com o teatro e que levam até<br />

a plena realização pessoal e profissional. Myrian associava organicamente o<br />

teatro à experiência humana, pois ela acreditava que apartar um do outro seria<br />

como amputar a essência do primeiro tornando-o estéril, ou seja, incapacitando o<br />

ator de gerar mais vida a partir da troca genuína de suas experiências pessoais<br />

com aquelas vivenciadas através do exame minucioso do corpo e da alma de seus<br />

personagens.<br />

20 GROTOWSKI, 2007, p. 224.<br />

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