MYRIAN MUNIZ: UMA PEDAGOGA DO TEATRO - Unesp
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3.1.2- Vida e teatro e se misturam<br />
No teatro, você aprende coisas, que depois na vida,<br />
você passa por elas e aproveita a lição.<br />
Myrian Muniz<br />
Para Myrian, o espaço de aprendizado ultrapassava os limites do palco<br />
invadindo a sala da sua casa, que era cuidadosamente adornada, tornando-se<br />
assim um ambiente propício à troca humana, tão fundamental para a<br />
concretização da sua pedagogia. A atmosfera que se estabelecia era<br />
absolutamente acolhedora e os trabalhos eram sempre precedidos de uma<br />
pequena refeição: um copo de vinho e um pedaço de pão de linguiça. Ana Lúcia<br />
Orsi afirmou que “os alunos que vão ficando perto dela vão virando uma família. A<br />
relação que ela tenta estabelecer é muito importante para o desenvolvimento do<br />
trabalho, pois é muito verdadeira.” (IDEM, 1998, p. 234) Os ensaios na sua casa<br />
eram rituais destinados a poucos porque a natureza desses encontros exigia<br />
delicadeza e cuidado com o material vivo e pulsante que estava por ser criado ali.<br />
Esse material artístico-poético era sagrado para Myrian e como tal era tratado,<br />
pois tinha a função de uma pele sensível que o ator deveria usar para buscar,<br />
diariamente, mais matéria-prima teatral. Observar as pessoas e buscar entender<br />
suas experiências cotidianas são fontes inesgotáveis dessa matéria-prima. Desta<br />
forma, vida e teatro se misturam, sendo que a primeira reverbera no segundo<br />
fazendo com que o verdadeiro laboratório do ator seja sua experiência vivida.<br />
Carlos Alberto Soffredini descreveu como, a partir da vivência cotidiana com<br />
Myrian, encontrou o personagem Cândido:<br />
Enquanto se fritava o bife e esquentava o feijão do almoço. Enquanto se<br />
fumava na varanda depois do cafezinho, enquanto se ia de táxi para o<br />
ensaio. A Myrian me mostrou como encontrar o personagem na vida [...]<br />
Porque eu não aprendi como se constrói um personagem mas vivenciei o<br />
processo por dentro. (IDEM, 1998, p. 20)<br />
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