Raul Alberto Carrilho Cordeiro
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UNIVERSIDADE DE LISBOA<br />
FACULDADE DE MEDICINA DE LISBOA<br />
VINCULAÇÃO E TEMPERAMENTO AFETIVO EM<br />
JOVENS ADULTOS<br />
RAUL ALBERTO CARRILHO CORDEIRO<br />
DOUTORAMENTO EM CIÊNCIAS E TECNOLOGIAS DA SAÚDE<br />
2012
UNIVERSIDADE DE LISBOA<br />
FACULDADE DE MEDICINA DE LISBOA<br />
VINCULAÇÃO E TEMPERAMENTO AFETIVO EM<br />
JOVENS ADULTOS<br />
RAUL ALBERTO CARRILHO CORDEIRO<br />
Tese orientada pela Professora Doutora Maria da Purificação da Cunha<br />
Horta<br />
Coorientada pelo Professor Doutor Emílio Eduardo Guerra Salgueiro<br />
DOUTORAMENTO EM CIÊNCIAS E TECNOLOGIAS DA SAÚDE<br />
ESPECIALIDADE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO E SOCIAL<br />
Todas as afirmações efetuadas no presente documento são da exclusiva<br />
responsabilidade do seu autor, não cabendo qualquer responsabilidade à Faculdade de<br />
Medicina de Lisboa pelos conteúdos nele apresentados.
A impressão desta dissertação foi<br />
aprovada pela Comissão<br />
Coordenadora do Conselho<br />
Científico da Faculdade de<br />
Medicina de Lisboa em Reunião de<br />
28 de Fevereiro de 2012.
COM O APOIO<br />
PROGRAMA DE APOIO À FORMAÇÃO AVANÇADA DE DOCENTES
Nunca tive nenhum interesse especial<br />
Em ser especial<br />
Apartes da vida num tom espacial<br />
Interesseiro mas justo<br />
Quero o espaço vital<br />
E a imortalidade despida<br />
De gestos da vida material<br />
Interessam-me os olhos pensantes<br />
Os lábios sorridentes<br />
Interessam-me as mãos<br />
E os sonhos, os sonhos<br />
E o desejo, e o beijo<br />
Interessa-me a ideia de uma lua maluca<br />
Difusa, confusa<br />
Interessa-me o meu e o alheio<br />
O resto odeio<br />
A história e o episódio<br />
A raiva e o ódio<br />
Interessa-me que me interessem<br />
O nome que chamo<br />
Interessa-me quase tudo<br />
O resto eu amo<br />
<strong>Raul</strong> <strong>Cordeiro</strong> (www.avidadaspalavras.net, 2010)<br />
iv
AGRADECIMENTOS<br />
As sociedades transformam-se a cada olhar que lhe deitamos. Somos<br />
afetivos, temperamentais, temos amigos e família, amamos, temos os nossos<br />
“problemas”, as nossas dúvidas, somos mais ou menos felizes, sentimo-nos<br />
sós, incapazes, outras vezes grandes e empreendedores.<br />
Este empreendimento não teria sido possível sem o contributo, o ensino<br />
e a ajuda inestimável de uns (muitos) e a compreensão de outros que agora<br />
realço:<br />
- A Professora Doutora Maria da Purificação Horta por ter aceitado ser minha<br />
orientadora e mentora neste percurso.<br />
- O Professor Doutor Emílio Guerra Salgueiro, depois de ser meu orientador no<br />
Mestrado em Saúde Escolar e de ter prefaciado o meu livro “Adolescência… O<br />
corpo, a amizade e a intimidade”, ter continuado comigo esta caminhada foi<br />
uma honra para mim.<br />
- A Professora Doutora Maria Luísa Figueira, pela confiança que depositou no<br />
projeto, por ter sempre acreditado em mim e pelas oportunidades que me deu<br />
de aprender e crescer mais um pouco.<br />
- O João Claudino e o Miguel Arriaga, meus amigos e companheiros de<br />
sucessos e angústias de todos os dias pela força e tranquilidade que me<br />
emprestaram ao longo deste percurso.<br />
- A Professora Ruth Sharabany (Universidade de Haifa, Israel), a Professora<br />
Paula Mena Matos (Faculdade de Psicologia e de Ciência da Educação da<br />
Universidade do Porto), o Professor Danilo Silva, o Professor Adriano Vaz<br />
Serra, o Professor Diogo Lara (Brasil), o Professor Hagop Akiskal (USA), a<br />
Professora e amiga Sónia Galinha (Escola Superior de Educação de Santarém)<br />
e a Dra. Lara Caeiro (Hospital de Santa Maria-Lisboa) pela ajuda sempre<br />
pronta na revisão de conteúdos e pela cedência de escalas e dados.<br />
- Os meus colegas da Escola Superior de Saúde de Portalegre por partilharem<br />
comigo um ideal.<br />
- O Instituto Politécnico de Portalegre, pelo apoio inestimável.<br />
v
- Os Diretores das Escolas Superiores de Saúde de Beja (Professor Rogério<br />
Ferrinho) e de Castelo Branco (Professor Carlos Maia) e o Diretor da Escola<br />
Superior de Enfermagem de S. João de Deus da Universidade de Évora<br />
(Professor Manuel Lopes) pela facilidade na autorização da recolha de dados.<br />
- Todos os estudantes que aceitaram que os seus dados valorizassem o meu<br />
estudo.<br />
- A minha família e os meus amigos que sempre acreditaram em mim.<br />
- Os que conheço da minha vida.<br />
A todos o meu mais sincero e profundo agradecimento.<br />
vi
LISTA DE ABREVIATURAS<br />
AAI - Adult Attachment Interview<br />
ASD - Ansiedade de separação e dependência<br />
ASQ - Attachment Style Questionnaire<br />
BAS - Behavior Activation System<br />
BIS - Behavior Inhibition System<br />
BN - Busca de novidades<br />
DRE - Dependência de reforço emocional e persistência<br />
ED - Evitamento de dano<br />
EOMEIS - Objective Measure of Ego Identity Status<br />
IEI - Inibição da exploração e individualidade<br />
IPPA - Inventory of Parent and Peer Attachment<br />
JTCI - Temperament and Character Inventory (junior version)<br />
MCDQ - Mood Clinic Data Questionnaire<br />
OCDE - Organização para a Cooperação e Desenvolvimento<br />
Económico<br />
PBI - Parental Bonding Instrument<br />
QLE - Qualidade do laço emocional<br />
QVA - Questionário de Vinculação Amorosa<br />
QVPM - Questionário de Vinculação ao Pai e à Mãe<br />
TCI - Temperament and Character Inventory<br />
TEMPS-A - Temperament Evaluation of Memphis, Pisa, Paris and San<br />
Diego, Auto-questionnaire<br />
TEMPS-I - Temperament Evaluation of Memphis, Pisa, Paris and San<br />
Diego, Italian Version<br />
SPSS ® Statiscal Package for Social Sciences<br />
vii
RESUMO<br />
Este estudo teve como objetivo estudar a relação entre os padrões de<br />
vinculação (parental e amorosa) e o temperamento afetivo (depressivo,<br />
ciclotímico, hipertímico, irritável e ansioso) conceptualizado em temperamentos<br />
estáveis (depressivo e hipertímico) e instáveis (ciclotímico, irritável e ansioso)<br />
reunindo dados que nos permitiram perceber se padrões de vinculação seguros<br />
se correlacionam positivamente com temperamentos estáveis.<br />
A amostra foi constituída por 760 estudantes do curso de licenciatura em<br />
enfermagem provenientes de quatro escolas do sistema de ensino superior<br />
politécnico português. Os dados foram recolhidos por questionário de<br />
autopreenchimento, formado por várias medidas: variáveis sóciodemográficas,<br />
a Escala de Temperamento de Memphis, Pisa, Paris e San Diego (TEMPS-A),<br />
validação para a população portuguesa (Akiskal & Akiskal, 2005a; Figueira et<br />
al., 2008), o Questionário de Vinculação ao Pai e à Mãe – QVPM, Versão IV<br />
(Matos & Costa, 2001a), o Questionário de Vinculação Amorosa – QVA, Versão<br />
III (Matos & Costa, 2001b).<br />
Os participantes são maioritariamente do género feminino (83,3%) com<br />
uma média de idades de 21,3 anos, vivem maioritariamente num agregado<br />
familiar com pai e mãe, 81,7% têm irmãos e 60,3% mantêm uma relação de<br />
namoro.<br />
A partir dos dados dos fatores de vinculação parental (pai e mãe) e de<br />
vinculação amorosa foram construídos padrões de vinculação (seguro,<br />
preocupado, desinvestido e amedrontado).<br />
De entre os cinco temperamentos afetivos (depressivo, hipertímico,<br />
ciclotímico, irritável e ansioso), o temperamento afetivo dominante para a<br />
totalidade da população estudada foi o temperamento depressivo. Apenas o<br />
temperamento irritável mostrou não estar associado ao género. Não se<br />
encontraram associações entre os temperamentos afetivos e os progenitores<br />
com quem os inquiridos coabitam ou com a existência de irmãos, revelando<br />
apenas o temperamento ciclotímico uma associação com a existência de uma<br />
relação de namoro.<br />
viii
Os resultados evidenciam associações significativas entre os<br />
temperamentos instáveis (ciclotímico, irritável e ansioso) e o padrão de<br />
vinculação desinvestido da vinculação parental (pai e mãe).<br />
Na vinculação na relação com a mãe, o temperamento depressivo<br />
(estável) e os temperamentos instáveis (ciclotímico, irritável e ansioso)<br />
revelaram-se dominantes entre o padrão desinvestido e o hipertímico (estável)<br />
entre os preocupados.<br />
Na vinculação na relação com o pai, o temperamento depressivo<br />
(estável) e os temperamentos instáveis (ciclotímico, irritável e ansioso)<br />
revelaram-se dominantes entre o padrão desinvestido e o hipertímico (estável)<br />
entre os seguros.<br />
No que se refere à vinculação amorosa os resultados evidenciaram<br />
associações significativas quer entre temperamentos estáveis ou instáveis e o<br />
padrão preocupado sugerindo uma associação pouco clara entre<br />
temperamentos (do ponto de vista da sua estabilidade) e os indivíduos com<br />
este padrão de vinculação.<br />
ix
ABSTRACT<br />
This study aimed to study the relationship between attachment patterns<br />
(parental and loving attachment) and affective temperament (depressive,<br />
cyclothymic, hyperthymic irritable and anxious) conceptualized as stable<br />
(depressive and hyperthymic) and unstable (cyclothymic, irritable and anxious)<br />
collecting data that allowed us to see if secure attachment patterns are<br />
positively correlated with stable temperaments.<br />
The sample consisted of 760 nursing students from four schools from the<br />
Portuguese polytechnic system of higher education. Data was collected by a<br />
self-report questionnaire, formed by several measures: socio-demographic<br />
data, the Temperament Evaluation of Memphis, Pisa, Paris and San Diego<br />
(TEMPS-A), validated into the Portuguese population (Akiskal & Akiskal, 2005a,<br />
Figueira et al., 2008), the Father/Mother Attachment Questionnaire - QVPM,<br />
Version IV (Matos & Costa, 2001a) and the Love Attachment Questionnaire -<br />
QVA, Version III (Matos & Costa, 2001b).<br />
The participants were mostly female (83.3%) with an average age of 21,3<br />
years, mostly living with both parents, 81.7% had siblings and 60.3% had a<br />
dating relationship.<br />
The attachment patterns (secure, preoccupied, dismissing and fearful)<br />
were built from parental and love attachment data.<br />
From the five temperaments (depressive, hypertimic, cyclothymic,<br />
irritable and anxious, the dominant temperament for the entire study population<br />
is the depressive temperament. Only the irritable temperament showed not to<br />
be associated with gender. No associations were found between affective<br />
temperaments and parents with whom the respondents or cohabiting, brothers<br />
revealing the existence of only a cyclothymic temperament associated with the<br />
existence of a dating relationship.<br />
The results show significant associations between unstable<br />
temperaments and dismissing pattern of parental attachment (father and<br />
mother).<br />
x
In the relationship with the mother, depressive temperament (stable) and<br />
unstable temperaments (cyclothymic, irritable and anxious) proved to be<br />
dominant between the dismissing and hyperthymic (stable) among the<br />
preoccupied.<br />
In the relationship with the father, the depressive temperament (stable)<br />
and unstable temperaments (cyclothymic, irritable and anxious) proved to be<br />
dominant between the dismissing and hyperthymic (stable) between secure.<br />
Regarding to love attachment the results showed significant associations<br />
between both stable or unstable temperament and the preoccupied pattern<br />
suggesting an unclear association between temperament (from the point of view<br />
of its stability) and individuals with preoccupied pattern.<br />
xi
ÍNDICE GERAL<br />
AGRADECIMENTOS v<br />
LISTA DE ABREVIATURAS vii<br />
RESUMO viii<br />
ABSTRACT x<br />
ÍNDICE GERAL xii<br />
ÍNDICE DE FIGURAS xiv<br />
ÍNDICE DE QUADROS xv<br />
ÍNDICE DE GRÁFICOS xvii<br />
INTRODUÇÃO 1<br />
PARTE I<br />
VINCULAÇÃO E TEMPERAMENTO AFETIVO EM JOVENS ADULTOS 3<br />
1. OS MODELOS TEÓRICOS DA VINCULAÇÃO 4<br />
1.1. O modelo representacional de vinculação de Mary Main 22<br />
1.2. A vinculação romântica de Hazan e Shaver 23<br />
1.3. O modelo bidimensional de avaliação da vinculação no adulto<br />
de Kim Bartholomew 25<br />
2. OS MODELOS TEÓRICOS DO TEMPERAMENTO AFETIVO 40<br />
3. RELAÇÕES ENTRE VINCULAÇÃO E TEMPERAMENTO 53<br />
PARTE II<br />
ESTUDO EMPÍRICO 56<br />
1.OBJETO DE ESTUDO 57<br />
2. OBJETIVOS E HIPÓTESES DE ESTUDO 58<br />
3. MATERIAL E MÉTODOS 59<br />
3.1. Desenho da investigação 59<br />
3.2. Amostragem 60<br />
3.3. Medidas 62<br />
3.4. Procedimentos de recolha de dados 67<br />
3.5. Procedimentos de análise e tratamento de dados 67<br />
3.6. Procedimentos éticos<br />
69<br />
xii
PARTE III<br />
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DE RESULTADOS<br />
71<br />
1. APRESENTAÇÃO DE RESULTADOS 72<br />
1.1. Variáveis sóciodemográficas 72<br />
1.2. Vinculação 75<br />
1.2.1. Vinculação na relação com a mãe 75<br />
1.2.2. Vinculação na relação com o pai 78<br />
1.2.3. Vinculação ao par amoroso 84<br />
1.3. Temperamento afetivo 90<br />
1.4. Relações entre variáveis 99<br />
1.4.1. Fatores de vinculação na relação com a mãe e temperamento<br />
afetivo<br />
99<br />
1.4.2. Fatores de vinculação na relação com o pai e temperamento<br />
afetivo<br />
101<br />
1.4.3. Fatores de vinculação amorosa e temperamento afetivo 103<br />
2. DISCUSSÃO DE RESULTADOS<br />
CONCLUSÕES 119<br />
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 122<br />
ANEXOS 135<br />
ANEXO I- Instrumento de colheita de dados 136<br />
ANEXO II- Parecer da Comissão Coordenadora do Conselho Científico da<br />
FML 148<br />
ANEXO III- Autorizações de utilização de escalas de medida 150<br />
ANEXO IV- Pedidos de autorização de recolha de dados 152<br />
ANEXO V- Quadros de resultados 157<br />
ANEXO VI- Publicações 162<br />
107<br />
xiii
INDÍCE DE FIGURAS<br />
Figura 1- Modelo da vinculação no adulto (Bartholomew & Horowitz,<br />
1991)<br />
Figura 2- Modelo bidimensional e protótipos de vinculação adulta de Kim<br />
Bartholomew (Adaptado de Griffin & Bartholomew, 1994ab)<br />
Figura 3- Caracterização dos temperamentos afetivos (Adaptado de Lara,<br />
2006)<br />
26<br />
26<br />
47<br />
xiv
INDÍCE DE QUADROS<br />
Quadro 1- Variáveis sóciodemográficas<br />
Quadro 2- Médias e desvios-padrão dos fatores de vinculação na relação<br />
com a mãe<br />
Quadro 3- Médias e desvios-padrão de acordo com a análise de clusters<br />
de padrões de vinculação na relação com a mãe<br />
Quadro 4- Médias e desvios-padrão dos fatores de vinculação na relação<br />
com o pai<br />
Quadro 5- Médias e desvios-padrão de acordo com a análise de clusters<br />
de padrões de vinculação na relação com o pai<br />
Quadro 6- Médias e desvios-padrão dos fatores de vinculação ao par<br />
amoroso<br />
Quadro 7- Médias e desvios-padrão de acordo com a análise de clusters<br />
na vinculação ao par amoroso<br />
Quadro 8- Resultados médios não padronizados dos temperamentos<br />
afetivos e percentagem de valores padronizados (Z-score)<br />
Quadro 9- Resultados médios não padronizados dos temperamentos<br />
afetivos por género e percentagem de valores padronizados (Zscore)<br />
Quadro 10- Resultados médios não padronizados dos temperamentos<br />
afetivos segundo o(s) progenitor(es) com quem coabita e<br />
percentagem de valores padronizados (Z-score)<br />
Quadro 11- Resultados médios não padronizados dos temperamentos<br />
afetivos segundo a fratria e percentagem de valores<br />
padronizados (Z-score)<br />
Quadro 12- Resultados médios não padronizados dos temperamentos<br />
afetivos segundo a existência de uma relação de namoro e<br />
percentagem de valores padronizados (Z-score)<br />
.<br />
Quadro 13- Valores de correlação entre fatores de vinculação na relação<br />
com a mãe e temperamento afetivo<br />
Quadro 14- Relação entre padrões de vinculação na relação com a mãe e<br />
temperamentos estáveis e instáveis<br />
Quadro 15- Valores de correlação entre fatores de vinculação na relação<br />
com o pai e temperamento afetivo<br />
73<br />
75<br />
77<br />
78<br />
80<br />
85<br />
87<br />
90<br />
92<br />
94<br />
95<br />
97<br />
100<br />
100<br />
102<br />
xv
Quadro 16- Relação entre padrões de vinculação na relação com o pai e<br />
temperamentos estáveis e instáveis<br />
Quadro 17- Valores de correlação entre fatores de vinculação ao par<br />
amoroso e temperamento afetivo<br />
Quadro 18- Relação entre padrões de vinculação amorosa e<br />
temperamentos estáveis e instáveis<br />
102<br />
104<br />
104<br />
xvi
INDÍCE DE GRÁFICOS<br />
Gráfico 1- Variabilidade dimensional da vinculação na relação com a mãe<br />
Gráfico 2- Padrões de vinculação na relação com a mãe<br />
Gráfico 3- Variabilidade dimensional da vinculação na relação com o pai<br />
Gráfico 4- Padrões de vinculação na relação com o pai<br />
Gráfico 5- Variabilidade dimensional da vinculação ao par amoroso<br />
Gráfico 6- Padrões de vinculação ao par amoroso<br />
Gráfico 7- Percentagem de indivíduos com pontuações médias dos<br />
temperamentos acima de 2 desvios-padrão (>2Z)<br />
Gráfico 8- Percentagem de indivíduos com pontuações médias dos<br />
temperamentos acima de 2 desvios-padrão (>2Z) por género<br />
Gráfico 9- Percentagem de indivíduos com pontuações médias dos<br />
temperamentos acima de 2 desvios-padrão (>2Z) por<br />
progenitor(es) com quem coabita<br />
Gráfico 10- Percentagem de indivíduos com pontuações médias dos<br />
temperamentos acima de 2 desvios-padrão (>2Z) por existência<br />
de fratria<br />
Gráfico 11- Percentagem de indivíduos com pontuações médias dos<br />
temperamentos acima de 2 desvios-padrão (>2Z) por existência<br />
de relação de namoro<br />
75<br />
77<br />
78<br />
80<br />
83<br />
85<br />
88<br />
90<br />
92<br />
94<br />
95<br />
xvii
INTRODUÇÃO<br />
A construção desta tese emerge da nossa prática e dos nossos<br />
investimentos pessoais e profissionais na área da investigação dos fenómenos<br />
da adolescência.<br />
A problemática que se constitui como o ponto central da nossa<br />
investigação é a análise das relações entre os padrões e fatores de vinculação<br />
parental e amorosa e o temperamento afetivo, na perspectiva de melhor<br />
entender os fenómenos de moderação mútua entre estes conceitos numa<br />
população jovem adulta.<br />
Estamos convencidos que esta elucidação trará benefícios ao<br />
conhecimento científico na área do desenvolvimento social e humano tentando<br />
explicações que, do ponto de vista científico, não foram tentadas em estudos<br />
anteriores, nesta fase do ciclo de vida, conferindo a este estudo um caráter<br />
relevante e original.<br />
Este é um trabalho que se centra nas formulações teóricas sobre os<br />
temperamentos afetivos apontadas por Hagop Akiskal e seus colaboradores e<br />
seguidores (Akiskal, 1985 e 1994; Akiskal & Akiskal, 2005abc; Akiskal, Savino<br />
& Akiskal, 2005; Akiskal, Akiskal, Haykal, Manning & Connor, 2005a; Akiskal et<br />
al., 1998 e 2005b) e ainda nas formulações teóricas da vinculação (Bowlby,<br />
1978ab, 1979, 1980, 1984ab).<br />
Akiskal & Akiskal (2005c) baseiam o modelo que propõem no conceito<br />
de predisposição de humor, na continuidade dos estudos protagonizados por<br />
Kraepelin (1913/19, 1921) e da sua observação dos padrões de humor na<br />
prática clínica, emergindo, das suas formulações, primariamente, três tipologias<br />
de temperamentos: o hipertímico, o ciclotímico e o depressivo; e, mais tarde, o<br />
temperamento ansioso e irritável.<br />
No âmbito da vinculação optámos por escolher duas vertentes de<br />
estudo: a vinculação parental (pai e mãe) e a vinculação amorosa. Tal escolha<br />
justifica-se, em nosso entendimento por corresponderem a fases relevantes de
desenvolvimento identificadas no contínuo do desenvolvimento humano e das<br />
relações sociais.<br />
No que diz respeito à vinculação, a teoria de Bowlby e Ainsworth<br />
(Ainsworth & Bowlby, 1991) tem-se constituído como uma base segura para a<br />
exploração das dinâmicas desenvolvimentais específicas do ser humano numa<br />
perspetiva de ciclo de vida e com recurso a uma diversidade metodológica. Os<br />
contributos da teoria e da investigação têm sido de tal forma relevantes que, na<br />
actualidade, a teoria da vinculação assume-se como um quadro concetual<br />
extremamente robusto e por isso inquestionável para o estudo da vinculação<br />
em jovens adultos.<br />
Este trabalho encontra-se organizado em três partes. Em primeiro lugar<br />
apresentamos uma revisão bibliográfica sobre as questões particulares da<br />
vinculação a pais e pares amorosos e temperamento afetivo em jovens adultos.<br />
Na segunda parte, apresentamos os aspetos metodológicos que<br />
nortearam o estudo. Para além de levantar hipóteses quisemos contribuir para<br />
uma tentativa de explicação das relações entre conceitos.<br />
O estudo realizado envolveu 760 jovens adultos, estudantes do ensino<br />
superior em quatro escolas superiores de saúde e enfermagem de Portugal<br />
continental.<br />
Na terceira parte fazemos uma apresentação e discussão dos resultados<br />
obtidos, fazendo uma síntese dos mais relevantes.<br />
2
PARTE I<br />
VINCULAÇÃO E TEMPERAMENTO AFETIVO EM JOVENS ADULTOS<br />
3
1. OS MODELOS TEÓRICOS DA VINCULAÇÃO<br />
Neste capítulo abordaremos os contributos teóricos da vinculação para<br />
a compreensão do desenvolvimento humano com ênfase nos comportamentos<br />
de vinculação em adolescentes e jovens adultos. Começaremos por conhecer<br />
os autores que contribuíram para a sua conceptualização, apresentando em<br />
seguida os conceitos base, tentando assim explicar as razões subjacentes à<br />
escolha desta teoria para dar significado ao nosso estudo.<br />
Na fundação da teoria da vinculação é inevitável destacar dois nomes:<br />
John Bowlby (considerado o autor da teoria da vinculação) e Mary Ainsworth<br />
(pelos contributos que forneceu para o desenvolvimento desta mesma teoria).<br />
A teoria da vinculação conceptualiza a propensão universal do ser<br />
humano para formar laços afetivos com outros significativos (Bowlby, 1978ab).<br />
Analisaremos brevemente as biografias destes autores de modo a perceber de<br />
que forma as ideias da teoria da vinculação se foram estruturando.<br />
Bowlby inspirou-se em múltiplas e diversas fontes científicas desde a<br />
etologia à psicanálise para construir o seu modelo teórico de vinculação, tendo<br />
sido largamente influenciado por vários trabalhos e experiências de autores<br />
como Lorenz e Harlow, entre outros (Rajecki et al., 1976).<br />
Para Bretherton (1991 e 1992), Bowlby começou a trabalhar na sua<br />
teoria durante a sua formação inicial, onde recebeu formação especializada em<br />
psicologia do desenvolvimento, mas foi a sua experiência de trabalho voluntário<br />
num internato para crianças desadaptadas, em conjunto com investigações<br />
acerca dos cuidados institucionais e hospitalares em bebés e crianças, que<br />
marcou a sua vida profissional.<br />
As observações que Bowlby realizou com crianças institucionalizadas<br />
conduziram-no à conclusão de que grandes disfunções na relação mãe -<br />
criança são precursoras de psicopatologia, sendo esta relação não apenas<br />
importante para o desenvolvimento futuro da criança, mas também importantes<br />
no imediato (Cassidy, 1999). Ainsworth & Bowlby (1991) referem ser nesta fase<br />
4
do desenvolvimento da teoria que surge a percepção da importância das<br />
experiências de vida para o desenvolvimento da criança.<br />
É na Etologia, na Ciência Cognitiva (processamento da informação), na<br />
Cibernética (Teoria do Controlo dos Sistemas) e na Psicologia do<br />
Desenvolvimento que Bowlby se vai inspirar para chegar aos conceitos base da<br />
teoria da vinculação (Bretherton, 1992). Contudo, a formação psicanalítica não<br />
é totalmente abandonada por Bowlby. Apesar de a considerar insuficiente,<br />
Bowlby partilha das seguintes ideias: as experiências precoces têm um forte<br />
impacto na personalidade, nas relações, pensamentos e comportamentos dos<br />
indivíduos; e a motivação humana possui uma natureza em grande parte<br />
inconsciente.<br />
No que diz respeito à Etologia, foram especialmente importantes para<br />
Bowlby formular a sua teoria, os trabalhos de Konrad Lorenz sobre o<br />
"imprinting" em patos. Lorenz demonstrou que as aves seguiam de modo<br />
persistente o primeiro OBJETO que viam a movimentar-se depois de<br />
nascerem. O "imprinting" é esta forma específica de aprendizagem de cada<br />
espécie que ocorre num período de tempo circunscrito (o "período crítico") e<br />
que resiste a modificação posterior. Bowlby considera então que, tal como as<br />
aves, os humanos estão predispostos biologicamente para a formação de laços<br />
significativos com indivíduos específicos. Dos contributos da etologia, Bowlby<br />
retira o papel do comportamento instintivo nos humanos e a importância de se<br />
realizarem observações dos indivíduos no seu ambiente natural.<br />
No que diz respeito aos conhecimentos da Psicologia Cognitiva, os<br />
dados referentes ao facto das pessoas desenvolverem modelos mentais<br />
internos de fenómenos internos e externos influenciam Bowlby na sua teoria da<br />
vinculação. Com efeito, na teoria da vinculação, estes modelos mentais,<br />
designados como "modelos representacionais" ou "modelos internos<br />
dinâmicos" referem-se às representações que os indivíduos têm deles próprios,<br />
das suas figuras de vinculação e das relações estabelecidas (Bowlby, 1978ab).<br />
Da Teoria do Controlo dos Sistemas, Bowlby retira a ideia de que os<br />
comportamentos não se podem separar do seu contexto, dando ênfase às<br />
relações entre os vários componentes do meio ambiente, assim como as<br />
interações mútuas existentes entre os vários subsistemas (Berman & Sperling,<br />
1994). De facto, tal como Coleman & Watson (2000) referem, a observação de<br />
5
partes de comportamentos isolados é qualitativamente diferente ao<br />
comportamento associado à análise das partes como um todo.<br />
Como vimos, a teoria da vinculação integra conhecimentos de diversos<br />
domínios científicos.<br />
Em 1948, Bowlby pede a James Robertson para o ajudar na observação<br />
de crianças hospitalizadas ou institucionalizadas que tinham sido separadas<br />
dos seus pais. Passados dois anos de observações com Bowlby, Robertson<br />
realiza um filme que, apesar de controverso, dá esperança às crianças<br />
hospitalizadas (Bretherton, 1991, 1992) ajudando a identificar e descrever as<br />
três fases do processo de separação (Bowlby, 1978ab):<br />
- O protesto: fase relacionada com a ansiedade de separação, a qual pode<br />
iniciar-se logo após a separação ou mais tarde e manifestar-se durante horas<br />
ou dias;<br />
- O desespero: fase relacionada com a dor e o luto, apresentando uma<br />
postura passiva apesar de manifestar preocupação pela mãe;<br />
- A negação ou desvinculação: fase em que a criança começa a aceitar<br />
determinadas figuras que se aproximam dela e se a mãe volta parece não<br />
reconhecê-la e mesmo evitá-la (isto pode estar relacionado com os<br />
mecanismos de defesa, nomeadamente a repressão).<br />
Estas observações, em conjunto com as observações de Harlow (1953)<br />
acerca da privação materna em macacos rhesus, levam Bowlby a conceber<br />
que os bebés e as crianças experimentam ansiedade de separação em<br />
situações ativadoras de comportamentos de fuga ou de vinculação, quando a<br />
figura de vinculação não se encontra presente.<br />
Para Bowlby, o vínculo da criança com a mãe resulta de mecanismos<br />
comportamentais condicionados pela proximidade. São mecanismos<br />
condicionados pelo instinto apesar de diferenças genéticas, influências<br />
culturais ou ambientais e experiências individuais. Cassidy (1999) revela,<br />
apoiando Bowlby que existem processos básicos de funcionamento que são<br />
universais na natureza humana.<br />
Na linha de estudos sobre a vinculação mãe-bebé, surge Ainsworth<br />
(1982) procurando compreender as diferenças individuais nas relações de<br />
vinculação precoce: conhecer os tipos ou padrões de vinculação, a sua origem<br />
e as suas consequências no desenvolvimento psicológico.<br />
6
Mary Ainsworth estudou Psicologia na Universidade de Toronto, onde<br />
teve contacto com a Teoria da Segurança de William Blatz. Dos contributos da<br />
teoria de Blatz para a teoria da vinculação salientam-se: a noção da figura de<br />
vinculação como base segura, a partir da qual a criança pode explorar o<br />
mundo, a metodologia de observação naturalista (Berman & Sperling, 1994) e o<br />
conceito de sensibilidade materna aos sinais da criança e o seu papel no<br />
desenvolvimento dos padrões de vinculação mãe-criança (Bretherton, 1991,<br />
1996).<br />
Ainsworth participou na investigação de Bowlby acerca dos efeitos da<br />
separação precoce mãe-criança no desenvolvimento da personalidade.<br />
Ainsworth desenvolver vários estudos de observação em África e na<br />
América tendo desenvolvido o conceito de Situação Estranha.<br />
Segundo Cassidy (1999), a Situação Estranha é o primeiro estudo<br />
científico da vinculação sendo responsável pelo lugar ocupado pela teoria da<br />
vinculação na Teoria do Desenvolvimento.<br />
Mas não foi só a nível metodológico que Ainsworth contribuiu para a<br />
teoria da vinculação. Os seus contributos foram também de ordem teórica ao<br />
conceptualizar o equilíbrio entre a vinculação e a exploração e a base segura e<br />
a resposta da figura de vinculação ao nível da prestação de cuidados.<br />
A teoria da vinculação afirma a necessidade humana universal do<br />
desenvolvimento de ligações afetivas de proximidade, que forneçam<br />
segurança e possibilitem a exploração confiante do self, dos outros e do<br />
mundo (Ainsworth, 1967; Ainsworth & Bowlby, 1991; Bowlby, 1978ab, 1979,<br />
1980, 1984ab e 1988). Segundo a teoria da vinculação, o funcionamento<br />
psicológico é determinado pela capacidade de estabelecimento de laços<br />
emocionais. Deste modo, a rutura de laços afetivos de modo indesejado<br />
permite o entendimento das perturbações psicológicas.<br />
O conceito de vinculação é definido por Bowlby e Ainsworth como um<br />
laço afetivo que uma pessoa forma com outrem, como um laço que os une e<br />
perdura no tempo (Ainsworth, 1989; Bowlby, 1979), caracterizando-se como<br />
uma tendência para a procura e manutenção da proximidade a essa figura,<br />
específica em situações ameaçadoras ou geradoras de stress (Ainsworth,<br />
1969, 1982, 1989, 1991 e 1994; Bowlby, 1978ab, 1979, 1980, 1984ab e 1988).<br />
A vinculação é conceptualizada como o laço emocional com outra pessoa que<br />
7
é vista como uma fonte de segurança e que fornece uma base segura a partir<br />
da qual o indivíduo explora o mundo. No entanto, ligação afetiva não é<br />
coincidente com vinculação.<br />
Assim, segundo Ainsworth (1994), a vinculação é um tipo específico de<br />
ligação emocional onde é requerida a obtenção de segurança, enquanto numa<br />
ligação afetiva pode não ocorrer a condição de segurança. Deste modo, toda a<br />
vinculação é uma ligação emocional, mas nem todas as ligações emocionais<br />
são vinculações (Ainsworth, 1994).<br />
vinculação.<br />
Bowlby faz ainda distinção entre vinculação e comportamentos de<br />
Os comportamentos de vinculação são o tipo de comportamentos que<br />
se destinam à promoção da proximidade ou contacto com a figura de<br />
vinculação, enquanto a vinculação é o laço emocional diferenciando-se desses<br />
comportamentos (Ainsworth, 1991).<br />
Incluem-se, neste tipo de comportamentos, o chupar, o chorar, o seguir,<br />
agarrar e sorrir, comportamentos esses que contribuem e ilustram a<br />
vinculação, mas que não constituem por si só a vinculação (Ainsworth, Blehar,<br />
Walters, & Wall, 1978; Bowlby, 1978ab, 1979, 1980, 1984ab e 1988).<br />
Ainsworth (1989, 1991) descreve a vinculação como o laço emocional<br />
que uma pessoa tem por outra que é percecionada como mais forte e/ou mais<br />
sábia e que lhe proporciona segurança, conforto ou ajuda, sendo possível uma<br />
pessoa estar vinculada a outra que não está vinculada a si.<br />
Segundo Rice (1990, p.513), no seu modelo, Bowlby faz uma<br />
diferenciação entre vinculação e comportamento de vinculação referindo que<br />
“Dizer que uma criança está vinculada, ou tem uma vinculação<br />
a alguém. Significa que ela está fortemente disposta a procurar<br />
a proximidade ou o contacto com uma figura específica e a<br />
fazê-lo em certas situações, fundamentalmente, quando está<br />
fragilizada, com medo, cansada ou doente. O comportamento<br />
de vinculação, em posição, refere-se a qualquer das formas de<br />
comportamento que a criança frequentemente adopta para ter<br />
ou manter uma proximidade desejada.”<br />
A vinculação, uma vez estabelecida, torna-se uma ligação duradoura e<br />
não sujeita a fatores contingentes como as situações ou os ambientes,<br />
persistindo no tempo e no espaço. Por outro lado o comportamento de<br />
8
vinculação é o meio que permite a proximidade e tende a ser reforçado ou<br />
enfraquecido conforme as situações ou os fatores ambientais.<br />
Refira-se ainda que alguns autores (Parkes & Stevenson-Hinde, 1982;<br />
(Paterson, Field & Prior, 1994) consideram que a vinculação se suporta numa<br />
estrutura bidimensional: 1) uma dimensão cognitiva/afetiva, estável e<br />
relacionada com a qualidade do afeto; 2) uma dimensão comportamental,<br />
mutável e relacionada com a utilização das figuras de vinculação em momentos<br />
de necessidade.<br />
A vinculação diz respeito a uma relação discriminada com uma ou mais<br />
pessoas específicas designadas por figuras de vinculação.<br />
O protesto da separação e a procura de proximidade são indicadores da<br />
qualidade de vinculação desde que organizados num determinado contexto e<br />
relacionados com outros comportamentos (Sroufe & Waters, 1977).<br />
Não basta a presença continuada da figura de vinculação para garantir a<br />
qualidade da mesma. A sua presença apenas indica o estabelecimento da<br />
ligação afetiva. A qualidade é determinada pela natureza das interações que se<br />
estabelecem. Para o seu desenvolvimento com qualidade, é necessária a<br />
sensibilidade da figura de vinculação para responder às necessidades de<br />
proximidade e de segurança da criança e a disponibilidade, quer em termos<br />
físicos quer em termos emocionais, para responder quando a criança a<br />
procura.<br />
Quando as figuras de vinculação agem de modo adequado sendo<br />
sensíveis e compreensivas, estarão criadas as condições para o<br />
desenvolvimento de uma vinculação segura, fundamental para o<br />
desenvolvimento da criança.<br />
Por outro lado, quando não existe sensibilidade e compreensão ativa por<br />
parte da figura de vinculação, estão criadas as condições para o<br />
desenvolvimento de uma vinculação insegura, com consequências para o<br />
desenvolvimento (dificuldades emocionais e de regulação dos afetos e de<br />
integração interpessoal) (Ainsworth et al., 1978).<br />
Segundo Bowlby (1978ab, 1979, 1980, 1984ab e 1988), a vinculação<br />
desenvolve-se com o tempo, com a consistência das respostas e com o<br />
sentimento de que a figura de vinculação está disponível.<br />
9
Esta consistência de atitudes e comportamentos facilita o<br />
desenvolvimento de uma atitude de confiança por parte da criança (Ainsworth<br />
et al., 1978).<br />
Isto significa que, as crianças, cujo ambiente familiar se pauta pela<br />
estabilidade e previsibilidade têm maior probabilidade de desenvolver relações<br />
de vinculação seguras, em oposição àquelas cujo contexto familiar se<br />
caracteriza como instável e imprevisível.<br />
O conceito de base segura é um conceito central na definição de<br />
vinculação (Sroufe & Waters, 1977).<br />
Deve-se a Ainsworth (Ainsworth et al., 1978) a primeira descrição da<br />
utilização de uma figura de vinculação como uma base segura a partir da qual<br />
a criança pode explorar o mundo, fazendo a ligação entre os sistemas de<br />
vinculação (manutenção de proximidade) e o de exploração (obtenção de<br />
segurança promotora da exploração). O equilíbrio dinâmico entre estes dois<br />
sistemas comportamentais garante a sobrevivência e traz vantagens ao nível<br />
do desenvolvimento.<br />
Esta dinâmica é conseguida através da utilização da figura de vinculação<br />
como base segura e como porto seguro. Estes conceitos, apesar de próximos,<br />
possuem significados distintos. Ainsworth et al. (1978) referem que a criança<br />
procura a mãe como um porto seguro quando se sente ameaçada enquanto<br />
quando a utiliza como base segura não sente medo ou ameaça<br />
A criança procura a segurança na sua figura de vinculação. Ora essa<br />
segurança não é apenas a procura de proximidade, mas também consiste na<br />
capacidade da criança a utilizar como base a partir da qual sente segurança<br />
para explorar o meio que a rodeia. Na ausência de ameaças, a criança pode<br />
explorar o meio circundante passando pouco tempo próxima fisicamente da<br />
sua base segura. No entanto, quando alarmada, principalmente pela<br />
separação, a criança procura o contacto com a figura de vinculação para obter<br />
conforto (porto seguro).<br />
Foi postulado por Bowlby (Bowlby, 1978ab), um sistema<br />
comportamental que regularia a predisposição inata para o estabelecimento<br />
de laços emocionais, em especial o laco emocional entre o bebé e a mãe (ou<br />
figura cuidadora).<br />
10
O sistema comportamental é específico da espécie e consiste num<br />
conjunto de comportamentos com uma mesma finalidade, em que pelo menos<br />
um contribui para o ajustamento reprodutivo, assegurando a sobrevivência da<br />
espécie.<br />
No caso do sistema comportamental da vinculação, os indivíduos,<br />
possuem uma predisposição biológica para o estabelecimento de laços de<br />
vinculação cuja função é zelar pela sobrevivência, através da procura de<br />
proteção e segurança face a situações ameaçadoras (Ainsworth et al., 1978;<br />
Bowlby, 1980; Main, Kaplan & Cassidy, 1985; Bretherton, 1991; Lopez &<br />
Brennan, 2000).<br />
Este sistema resulta num conjunto de comportamentos que possibilitam<br />
a proximidade com a figura de vinculação, permitindo a exploração segura do<br />
meio.<br />
Bowlby (1977), sofrendo influência da teoria dos sistemas de controlo,<br />
postula a existência de um sistema de controlo, localizado no sistema nervoso<br />
central que regula a ativação e desativação de um nível adequado de<br />
proximidade da figura de vinculação. A ativação deste sistema é influenciada<br />
quer pelas condições físicas e psicológicas da criança quer pelas condições<br />
ambientais.<br />
Segundo Ainsworth et al. (1978), a ativação/desativação deste sistema é<br />
resultante da avaliação que o sujeito faz das condições do meio interno e<br />
externo e do nível de segurança percebido. Esta regulação é realizada em<br />
articulação com outros sistemas comportamentais, nomeadamente o de<br />
exploração (Ainsworth, 1982). Assim sendo, a ativação do comportamento de<br />
vinculação acontece durante toda a vida de um indivíduo sempre que se<br />
verifiquem situações ameaçadoras.<br />
Bowlby (Bowlby, 1978ab) descreve o desenvolvimento do<br />
comportamento de vinculação em quatro fases. O desenvolvimento do<br />
comportamento de vinculação ocorre desde o nascimento até aos três anos de<br />
vida e consiste na aquisição de padrões de comportamento com maior<br />
estrutura e complexidade: Fase 1 – Orientação e sinais com discriminação<br />
limitada da figura – ocorre nas primeiras oito/doze semanas de vida, em que o<br />
bebé, apesar de não discriminar as figuras, tende a aumentar a proximidade<br />
com as pessoas, orientando-se para elas; Fase 2 – Orientação e sinais<br />
11
dirigidos a uma (ou mais) figuras discriminadas – das oito/doze semanas aos<br />
seis meses de idade – o bebé diferencia as figuras com quem estabelece uma<br />
maior interação social; Fase 3 - Manutenção da proximidade a uma figura<br />
discriminada por meio da locomoção bem como de sinais - dos seis/ sete<br />
meses até aos dois/três anos -quando a figura de vinculação se afasta, a<br />
criança segue-a e fica contente com o seu regresso após a sua ausência; Fase<br />
4 - Formação de uma parceria orientada por objetivos -início aos quatro anos -<br />
a criança possui representações acerca da figura de vinculação, de si e do<br />
mundo, representações que vão influenciar as suas aproximações à figura de<br />
vinculação. Nesta fase, a criança já consegue prever as ações da figura de<br />
vinculação independentemente das suas necessidades (estabilidade espaço-<br />
temporal das representações). Deste modo, como toma em conta a perspetiva<br />
do outro, procura negociar a realização de objetivos em parceria.<br />
De acordo com Bowlby (Bowlby, 1984ab e 1988), existem processos<br />
orientadores da seleção de uma figura de vinculação. São eles: a) a<br />
predisposição inata para a orientação sensorial da criança para determinados<br />
estímulos humanos (a voz, estímulo auditivo; a face, estímulo visual; as mãos<br />
e o corpo, estímulos táteis) prestando especial atenção às figuras que lhe dão<br />
atenção e cuidados; b) a aprendizagem por exposição, sendo que a criança é<br />
capaz de distinguir a pessoa que cuida dela de outras apreendendo as suas<br />
características; c) uma predisposição inata da criança para se aproximar do<br />
que lhe é familiar (pessoas e ambiente); d) o reforço do seu comportamento de<br />
acordo com o feedback de resultados, para o qual contribuem a sensibilidade<br />
da figura de vinculação ao choro da criança e a qualidade da interação<br />
estabelecida.<br />
Neste processo de seleção da figura de vinculação, importa realçar que<br />
mais do que a mera prestação de cuidados à criança, o que de facto contribui<br />
para a escolha é a sensibilidade da figura e a qualidade da interação<br />
estabelecida.<br />
O conceito de modelos internos dinâmicos (working models) ou modelos<br />
representacionais das figuras de vinculação e do self é fundamental na teoria<br />
da vinculação, permitindo a compreensão das relações de vinculação ao logo<br />
do ciclo vital e das diferenças individuais na segurança.<br />
12
Bowlby inspira-se nos trabalhos de Craik em 1943 e aprofunda este<br />
conceito no seu volume Separation: anxiety and anger (Bowlby, 1978b). Craik<br />
utiliza o conceito de working model para significar as estruturas internas<br />
mentais que mantêm as sequências temporais e causais dos acontecimentos<br />
do mundo (Bretherton, 1992 e 1996).<br />
De acordo com Bretherton (1996), Bowlby utiliza a palavra working para<br />
ilustrar a natureza dinâmica da vinculação e a palavra model para ilustrar que<br />
as representações da realidade podem predizer situações futuras.<br />
Assim, Bowlby (Bowlby, 1984ab e 1988) designa de modelos internos<br />
dinâmicos ou modelos representacionais o conjunto de expetativas acerca do<br />
self, dos outros e do mundo que a criança desenvolve a partir da qualidade das<br />
interações entre ela e as figuras de vinculação nos primeiros anos de vida.<br />
Deste modo, um modelo interno dinâmico tem sido definido por diversos<br />
autores (Bowlby, 1978b; Kobak & Sceery, 1988; Collins & Read, 1990;<br />
Bretherton, 1991, 1992 e 1996; Mikulincer, 1995; Collin, 1996; Marrone, 1998)<br />
como uma representação mental ou uma estrutura interna do self, da figura da<br />
vinculação e do mundo relacional.<br />
Os modelos internos dinâmicos são, segundo Berman & Sperling (1994)<br />
esquemas mentais cognitivos, afetivos e motivacionais, construídos a partir das<br />
experiências relacionais do indivíduo.<br />
Estes modelos internos dinâmicos resultam, como já foi dito, da<br />
qualidade das interações entre a criança e as figuras de vinculação e incluem<br />
sentimentos, crenças, expetativas, estratégias de comportamento, regras de<br />
conduta, atenção, interpretação da informação e organização da memória<br />
(Main et al., 1985; Collin, 1996). Incluem duas dimensões importantes: a<br />
perceção de si próprio como possuindo valor e sujeito merecedor (ou não) de<br />
amor e de atenção, desencadeando na figura de vinculação a sensibilidade e<br />
disponibilidade para responder às suas necessidades (modelo do self) e a<br />
perceção dos outros como acessíveis e responsivos (ou não) no fornecimento<br />
de apoio e de proteção (modelo do outro) (Bowlby, 1978b; Lopez & Brennan,<br />
2000). Vão ter, portanto, um efeito modelador das cognições, dos afetos e dos<br />
comportamentos em relações interpessoais futuras.<br />
O facto de estes modelos internos serem dinâmicos tem inerente a sua<br />
capacidade de se transformarem e adaptarem face a novos contextos e<br />
13
períodos de desenvolvimento bem como face a experiências relacionais cuja<br />
qualidade os contraria, acomodando-se às novas situações (em vez do<br />
processo de assimilação que ocorre na maioria dos casos).<br />
Assim sendo, um modelo interno dinâmico que não se constitui como<br />
adequado às experiências que o indivíduo está a viver e pode ser ativado,<br />
modificado e reformulado de modo a se adequar às novas situações (West &<br />
Sheldon-Keller, 1994). Quando não acontece esta modificação, o sujeito<br />
poderá estar a utilizar uma grelha de leitura que lhe fornece uma visão<br />
distorcida da realidade (Marrone, 1998). A dominância do processo de<br />
assimilação ao processo de acomodação justifica-se pelo modo inconsciente e<br />
involuntário e automático de operar dos modelos de representação.<br />
Bowlby (1978b) salienta a relevância das experiências precoces,<br />
propondo que os modelos mentais de representação das figuras de vinculação<br />
são constituídos durante a primeira infância moldando a construção de<br />
relações interpessoais futuras.<br />
De acordo com Berman & Sperling os estilos de vinculação referem-se a<br />
um modelo interno dinâmico em particular que determina as respostas<br />
comportamentais a uma separação ou reunião real ou imaginária da sua figura<br />
de vinculação (1994, p.11).<br />
Ainsworth e colaboradores (1978) identificaram três padrões de<br />
interação correspondentes a diferentes organizações comportamentais da<br />
vinculação resultantes dos estudos conduzidos no Uganda e em Baltimore<br />
(EUA): o seguro, o inseguro-ambivalente/resistente e o inseguro-evitante.<br />
Resultante ainda destes estudos é o procedimento laboratorial<br />
estandardizado de avaliação da vinculação designado de Situação Estranha.<br />
Este procedimento é constituído por uma sequência de oito episódios<br />
com a duração aproximada de três minutos cada, pretendendo a criação de<br />
condições para a cativação do comportamento de vinculação e da exploração<br />
de bebés com aproximadamente um ano de vida.<br />
As crianças classificadas como seguras, cerca de 60% dos casos,<br />
reagem emocionalmente à separação da figura de vinculação, envolvendo-se<br />
em seguida em comportamentos de exploração do meio, manifestando<br />
contentamento perante o seu regresso. As figuras de vinculação das crianças<br />
14
seguras são sensíveis às necessidades da criança de modo consistente<br />
existindo reciprocidade nos seus comportamentos.<br />
As crianças inseguras-ambivalentes/resistentes, cerca de 15% dos<br />
casos, demonstram elevados níveis de ansiedade quando a figura de<br />
vinculação se ausenta, sendo difícil acalmarem-se, não explorando o meio, e<br />
face ao regresso da figura de vinculação exibem comportamentos<br />
ambivalentes (choro e desejo de proximidade e revolta demonstrando<br />
agrtessividade e tentando o afastamento).<br />
A vinculação insegura-ambivalente/resistente surge quando existe uma<br />
preocupação acentuada relativamente à acessibilidade e não responsividade<br />
das figuras de vinculação.<br />
O terceiro padrão de interação, o grupo das crianças<br />
inseguras/evitantes, correspondente a 25% dos casos, aparentemente não se<br />
incomodam com a separação da figura de vinculação, prestando atenção aos<br />
brinquedos da sala (mas sem o contentamento das crianças seguras) e quando<br />
a figura regressa não procuram ativamente o contacto, podendo exibir<br />
comportamentos de evitamento tais como ignorar, tentar afastar-se ou olhar<br />
para o lado. As figuras de vinculação deste grupo de crianças não são<br />
sensíveis às suas necessidades, evitam manifestações de afeto e de contacto<br />
físico e exprimem poucas emoções, podendo verificar-se negligência e<br />
hostilidade.<br />
São muitos os estudos na vinculação adulta que adotam estes três<br />
padrões de Ainsworth, avaliados através da Entrevista da Vinculação no<br />
Adulto (Adult Attachment Interview; AAl) de Main e colaboradores (1985).<br />
Sperling & Berman (1994) referem quatro estilos de vinculação<br />
definidos através da dimensão segurança-insegurança e que se caracterizam<br />
por diferentes níveis de segurança: o dependente, o evitante, o resistente ou<br />
ambivalente e o hostil.<br />
Por seu lado, Bartholomew & Horowitz (1991) distinguem quatro estilos<br />
de vinculação resultantes da imagem que o indivíduo tem de si (positiva ou<br />
negativa) e dos outros (positiva ou negativa): o seguro (modelo positivo de si e<br />
modelo positivo dos outros), o desinvestido (modelo positivo de si e modelo<br />
negativo dos outros), o preocupado (modelo negativo de si e modelo positivo<br />
15
dos outros) e o amedrontado (modelo negativo de si e modelo negativo dos<br />
outros).<br />
Outros autores mais recentes como Fonagy & Target (1996) afirmam<br />
que “a marca da capacidade de mentalizar, isto é, de assumir a existência de<br />
pensamentos e sentimentos nos outros e em si mesmo, como também de<br />
reconhecer que isso está ligado à realidade externa”, é inexistente nos<br />
primeiros tempos de vida. No início a criança tem a experiência da sua mente<br />
como se tivesse uma correspondência exata dos seus estados internos com a<br />
realidade externa. Fonagy chama esse processo de “equivalência psíquica”, e<br />
para ele, os pensamentos e sentimentos da criança são “distorcidos pela<br />
fantasia” (Fonagy & Target, 1996).<br />
Na verdade, mesmo o indivíduo adulto, na sua relação de amor é<br />
conformada à relação entre o objeto real e o objeto fantasiado – uma barreira<br />
imposta pelo Eu na sua tentativa de permitir apenas um prazer limitado às<br />
pulsões. A visão mais aproximada é a de que a relação mãe-bebé se processa<br />
como um diálogo dinâmico corpo-mente.<br />
Seria errado pensar a experiência de mamar do bebé como algo imposto<br />
vindo do exterior. O bebé é um participante cada vez mais ativo no seu esforço<br />
formulando representações da experiência com o outro.<br />
Esta capacidade, ainda que ligada ao processo de maturidade do<br />
sistema nervoso, é expressa na carne, no corpo, e assim continua,<br />
transformada pela riqueza de experiências na vida adulta do indivíduo.<br />
Embora não atribuindo um carácter de determinação linear a esta<br />
relação, a teoria da vinculação advoga que a noção de self e as<br />
representações internas das experiências relacionais vão sendo interiorizadas<br />
de forma complementar ao longo do tempo, desempenhando a história de<br />
vinculação do sujeito um papel essencial neste processo (Fonagy, Target,<br />
Gergely, Allen & Bateman, 2003; Soares, 2007; Monteiro, 2008).<br />
Desde já, se salienta que a realização de estudos na vinculação na<br />
adolescência é relativamente recente, sendo ainda prevalentes na literatura os<br />
estudos da vinculação na infância.<br />
O estudo da vinculação durante a adolescência e a idade adulta adquiriu<br />
destaque a partir dos anos 80 do Séc. XX, quando surgiram um conjunto de<br />
trabalhos relevantes nesta área. De acordo com a revisão de Canavarro, Dias e<br />
16
Lima (2006), salientamos: (a) os estudos acerca da dimensão representacional<br />
da vinculação, dos quais derivou a construção da Adult Attachment Interview<br />
(George, Kaplan & Main, 1985 cit. in Canavarro et al., 2006); (b) os trabalhos<br />
de Hazan & Shaver (1987) sobre a aplicação da classificação da vinculação de<br />
Ainsworth (vinculação segura ou ansiosa – evitante ou ambivalente) à<br />
organização emocional e comportamental dos adolescentes e jovens adultos,<br />
explorando o amor romântico como forma de vinculação; (c) os trabalhos de<br />
um conjunto de investigadores que, separadamente, criaram instrumentos com<br />
o objetivo de avaliar diversos aspetos relacionados com a vinculação,<br />
nomeadamente a qualidade da relação com figuras de vinculação particulares,<br />
pais ou pares (e.g. Inventory of Parent and Peer Attachment, IPPA, Armsden &<br />
Greenberg, 1987).<br />
Na adolescência os indivíduos confrontam-se com a tarefa da aquisição<br />
da autonomia que não passa pelo suporte parental mas sim pela construção de<br />
novos relacionamentos (Weiss, 1991; Colin, 1996; Allen & Land, 1999;<br />
Geuzaine, Debry & Liesens, 2000; Gnaulati & Heine, 2001).<br />
Contudo, a aquisição da autonomia não se opõe à vinculação, mas<br />
antes a complementa (Lopez, 1995; Matos & Costa, 1996; Gnaulati & Heine,<br />
2001).<br />
A aquisição da autonomia acontece com base na proximidade<br />
emocional e segurança que a família transmite ao adolescente (Lopez, 1995;<br />
Matos & Costa, 1996; Matos, Barbosa, Almeida & Costa, 1999).<br />
Nesta fase de desenvolvimento, o sujeito apresenta ganhos ao nível<br />
cognitivo adquirindo capacidades representacionais e metacognitivas<br />
(Chalmers & Lawrence, 1993) que lhe possibilita uma visão mais complexa e<br />
diferenciada de si próprio e dos outros (Harter, 1990; Moretti & Higgins, 1990).<br />
Deste modo, os adolescentes são já capazes de formar perceções<br />
abstratas acerca deles próprios e dos outros tendo em conta diversos aspetos.<br />
Com a aquisição de competências metacognitivas são agora capazes de<br />
comparar a avaliação que eles próprios fazem desses aspetos com a avaliação<br />
feita pelos outros (como os pais e pares). São também capazes de especular<br />
como seria se fossem uma outra pessoa, o que lhes fornece a oportunidade de<br />
imaginar alternativas de si próprios na relação com os outros e considerar as<br />
consequências de diferentes desempenhos de papéis.<br />
17
A adolescência implica a modificação das relações familiares e sociais<br />
do sujeito criando-se condições para se formarem novas e diferentes relações<br />
mais complexas. A alteração da relação com os pais, que pode assumir-se<br />
como conflituosa, confusa e contraditória, não significa uma desvinculação<br />
(Ryan, Deci, & Grolnick, 1995), mas sim uma transformação na relação.<br />
Segundo a perspetiva da vinculação, trata-se de um período de transição<br />
(Allen & Land, 1999) e não de uma rutura com as experiências de vinculação<br />
anteriores. Aliás, a vinculação segura e a conectividade emocional com os<br />
pais facilita o aumento da autonomia (Ryan & Lynch, 1989).<br />
De acordo com Ainsworth (1989), as mudanças que acontecem no<br />
processo de vinculação durante a adolescência devem-se não apenas à<br />
experiência sócioemocional deste período do desenvolvimento, mas às<br />
mudanças que ocorrem ao nível cognitivo, hormonal e neurofisiológico.<br />
Este período de grandes transformações possibilita que o sujeito, que na<br />
infância necessitava de receber os cuidados de outros significativos, possa<br />
agora constituir-se como uma figura significativa para outro. Processa-se<br />
também uma integração dos diferentes padrões de interação estabelecidos<br />
com as várias figuras de vinculação, integração esta que se constituirá como<br />
preditiva dos comportamentos em relações de vinculação futuras (Steele,<br />
Steele & Fonagy, 1996). Escusado será dizer que, esta capacidade de<br />
abstração e de generalização das diversas relações de vinculação, apenas se<br />
torna possível com os ganhos cognitivos desta fase de desenvolvimento que,<br />
até aí, se encontrava limitada à compreensão do concreto (Feeney & Noller,<br />
1996).<br />
Com este pensamento formal, o adolescente pode comparar as relações<br />
que estabelece com diferentes figuras de vinculação, vendo se as relações<br />
com as figuras de vinculação primária lhe satisfazem ou não todas as suas<br />
necessidades e procurando novas relações (Kobak & Duemmler, 1994).<br />
As novas relações de vinculação formadas na adolescência<br />
caracterizam-se pela reciprocidade, o que não acontecia nas relações<br />
anteriores pais-filhos. Ou seja, as relações de vinculação que se estabelecem<br />
a partir da adolescência não são relações assimétricas onde apenas um<br />
elemento presta cuidados e serve de base segura ao outro (normalmente, a<br />
mãe relativamente à criança).<br />
18
Agora, nas relações estabelecidas quer um quer o outro elemento<br />
podem fornecer cuidados e servir de base segura que promova a exploração<br />
noutros domínios, daí se caracterizarem pela reciprocidade. A partir desta fase,<br />
as relações de vinculação são diádicas, procurando-se ou mantendo-se a<br />
proximidade com o outro de modo a alcançar segurança (West & Sheldon-<br />
Keller, 1994). Tal como na infância, a segurança depende da acessibilidade e<br />
responsividade da figura de vinculação, não se tornando necessário, no<br />
entanto, o contacto físico (Bowlby, 1978b; Colin, 1996).<br />
Segundo Ainsworth (1991), um adolescente está vinculado a outro<br />
quando, à semelhança do que acontece na infância, em situações de stress<br />
deseja a proximidade com essa figura, procurando a segurança e o conforto,<br />
protestando quando esta não está acessível e fazendo o luto quando a perde.<br />
Ainda segundo a autora, podem constituir-se como vinculações a maioria das<br />
relações de casamento, muitos relacionamentos de base sexual e as relações<br />
de amizade. O espectro distintivo entre uma relação de vinculação e uma<br />
relação de não vinculação, é que, no primeiro caso, a perda da figura implica a<br />
dor, luto e a separação envolve tristeza ou ansiedade (Colin, 1996) não<br />
acontecendo o mesmo no segundo caso.<br />
Deste modo, podemos destacar duas transformações importantes ao<br />
nível das relações de vinculação no período da adolescência: por um lado,<br />
temos a natureza recíproca das relações em que cada elemento da díade se<br />
pode constituir como figura de vinculação ao outro, e, por outro lado, a principal<br />
figura de vinculação deixa de ser um dos progenitores passando a ser o<br />
companheiro amoroso.<br />
A investigação tem procurado responder à questão da manutenção ou<br />
não dos processos de vinculação da infância na adolescência. Encontramos<br />
estudos que atestam a manutenção dos processos (Benoit & Parker, 1994;<br />
Mikulincer & Florian, 1999) e outros que não encontram relações significativas<br />
entre a vinculação da infância e da adolescência (Allen & Land, 1999).<br />
A transmissão da vinculação em termos intergeracionais chamaram a<br />
nossa atenção, não só na procura de uma descrição do que pode ser a<br />
vinculação na adolescência, mas sobretudo, porque abrem um olhar acerca da<br />
continuidade da insegurança de vinculação. Este ponto serve para nós como<br />
introdução às questões da continuidade e mudança na vinculação.<br />
19
A teoria da vinculação procura compreender as relações entre pais e<br />
filhos a partir de dois pontos de vista complementares: um ponto de vista<br />
individual, isto é, considerando a elaboração por parte de cada um dos<br />
elementos desta díade, em termos da história pessoal, de expectativas acerca<br />
dos outros e de si mesmo, mas, também do ponto de vista de construção<br />
interpessoal da relação, ou seja, tendo em conta que a interação pessoal<br />
sugere a cada elemento da díade quer a clareza de envio de uma mensagem,<br />
quer a interpretação adequada e sensitiva da mesma (Kobak & Esposito,<br />
2002).<br />
Porém, a teoria tem vindo também a expandir a possibilidade de que há<br />
um outro nível de análise. Um modo de compreender o porquê quer da maior<br />
observação da estabilidade preditiva de vinculação ao nível da segurança, quer<br />
das revisões e da atualização dos modelos internos de funcionamento, o nível<br />
metacognitivo na terminologia de Main (Main et al., 1985; Hesse, 1999), o<br />
funcionamento reflexivo na terminologia de Fonagy (1997, 1999abcd; Fonagy,<br />
et al., 1991), ou de outro modo, a capacidade de pensar de modo global acerca<br />
de si e dos outros.<br />
O que estas perspetivas apontam é justamente que um progenitor pode<br />
ter tido experiências na infância que lhe permitiram construir, a um nível<br />
interpessoal, relações de vinculação inseguras com um ou os dois pais, no<br />
entanto, a capacidade maior ou menor que estes (agora pais) têm de analisar<br />
as suas experiências, influencia decisivamente o funcionamento seguro da<br />
prole. As experiências são analisadas ao nível da interpretação pessoal. De<br />
outro modo, esta capacidade não é mais do que a aptidão para a compreensão<br />
de si e dos outros enquanto psicologicamente diferentes. Assim, não é<br />
suficiente para a segurança de vinculação deter um ambiente constante, mas<br />
progenitores capazes de refletir acerca dos seus modelos internos de<br />
funcionamento e dos dos filhos, filhos cuja experiência é no sentido da reflexão<br />
acerca de si e dos pais separadamente, mas como é também evidente, deter<br />
em paralelo o correlato comportamental dessa segurança.<br />
Ou seja, analogamente os pais terão que consistentemente demonstrar-<br />
se sensíveis mas também responsivos às necessidades filiais de modo que,<br />
potencialmente, apenas seja possível a segurança.<br />
20
Assim, e por reprodução, a transmissão desta competência de reflexão e<br />
a sensibilidade demonstrada através da mesma às necessidades dos outros,<br />
garante que os filhos sejam capazes de também eles pensar acerca dos<br />
pensamentos, afetos e sentimentos dos outros, tornando-se mais sensíveis às<br />
necessidades dos outros significativos, e por isso mesmo, às necessidades dos<br />
seus próprios filhos.<br />
No contexto português, Soares (1996) encontrou continuidade e<br />
descontinuidade dos padrões de vinculação intergeracionais com uma<br />
amostra de 60 adolescentes e respetivas mães. A autora confirma de modo<br />
parcial a hipótese da continuidade intergeracional da vinculação.<br />
Antes, Weiss (1982) terá sido dos primeiros a interessar-se com alguma<br />
especificidade pela vinculação dos adultos, sustentando que a vinculação em<br />
adultos resulta de um processo de desenvolvimento da vinculação na infância,<br />
diferindo desta em três aspetos fundamentais: as características da relação<br />
com os pares, o facto da vinculação nos adultos não se sobrepor a outros<br />
sistemas comportamentais e ainda o facto da vinculação nos adultos ser<br />
habitualmente dirigida a uma figura com quem se tem uma relação de natureza<br />
sexual.<br />
Outros autores como Sperling e Berman (1994, p.8) referem a<br />
vinculação adulta como a tendência individual estável para manter a<br />
proximidade e o contacto como uma figura ou figuras específicas,<br />
percecionadas como fontes de segurança física ou psicológica.<br />
Outros ainda (Bartholomew & Thompson, 1995) referem que, a<br />
vinculação adulta é mais frequentemente dirigida a pares românticos embora<br />
se mantenha a importância das figuras parentais em especial quando a relação<br />
romântica não é estável e/ou duradoura.<br />
De facto, no decurso do ciclo de vida, a vinculação institui-se como um<br />
processo de desenvolvimento contínuo (Bowlby, 1978ab, 1979, 1980, 1984ab<br />
e 1988), donde advém as suas inúmeras potencialidades de investigação,<br />
compreensão e interpretação do desenvolvimento humano normal.<br />
Embora a classificação da vinculação no adulto se processe a partir do<br />
binómio segurança/insegurança, a conceptualização de diferentes tipos de<br />
vinculação suportou outros tantos modelos e originou diferentes instrumentos<br />
de medida da vinculação.<br />
21
Nesta secção, procuraremos percorrer os diferentes modelos de<br />
avaliação da vinculação no jovem e no adulto, colmatando com a justificação<br />
da abordagem utilizada no estudo empírico.<br />
Podem distinguir-se três grandes modelos de investigação neste<br />
domínio: o modelo representacional da vinculação de Mary Main, a vinculação<br />
romântica de Cindy Hazan e Philipp Shaver e o modelo bidimensional de<br />
avaliação da vinculação no adulto de Kim Bartholomew.<br />
1.1. O modelo representacional de vinculação de Mary Main<br />
Mary Main e colaboradores (Main et al., 1985) concetualizam as<br />
diferenças observadas nos padrões de comportamento da vinculação,<br />
suportadas a nível empírico com os estudos laboratoriais da Situação<br />
Estranha, enquanto diferenças na representação mental da vinculação<br />
(modelos internos dinâmicos).<br />
Para estes autores o modelo interno dinâmico consiste num conjunto de<br />
regras conscientes e/ou inconscientes que organizam a informação relevante<br />
para a vinculação e que permitem ou limitam o acesso a essa mesma<br />
informação, ou seja, a informação que diz respeito a experiências, sentimentos<br />
e ideações relacionadas com a vinculação (Main et al., 1985, p.66-67).<br />
Deste modo, os modelos internos dinâmicos funcionam como mapas<br />
representacionais que direcionam o comportamento bem como a consequente<br />
avaliação cognitiva e/ou emocional do mesmo.<br />
Assim, consideram as diferenças nos modelos internos dinâmicos que<br />
explicam as diferenças observadas nos diferentes indivíduos ao nível da<br />
organização comportamental da vinculação.<br />
Num primeiro momento, Main et al. (1985) procuraram tornar evidente<br />
que a segurança na vinculação poderia ser avaliada não só através de registos<br />
comportamentais, mas também utilizando a linguagem discursiva. Para<br />
demonstrar isso mesmo, realizaram um estudo com 40 crianças e respetivos<br />
pais e avaliaram-nas aos 12 e aos 18 meses de idade com o procedimento<br />
laboratorial da Situação Estranha e aos 6 anos de idade (avaliada pela<br />
organização discursiva), obtendo correlações significativas entre a avaliação da<br />
22
vinculação nesses dois períodos etários. Tentaram ainda perceber, realizando<br />
estudos sistemáticos, a relação entre os modelos de vinculação que os pais<br />
dessas crianças teriam com os seus pais e a segurança dos seus filhos<br />
(intergeracionalidade da vinculação).<br />
Para isso, formularam a Adult Attachment Interview (AAI) (George,<br />
Kaplan & Main, 1985) que possibilitou a investigação da vinculação no jovem e<br />
no adulto bem como a condução de estudos acerca da transmissão<br />
intergeracional da vinculação. A AAI consiste numa entrevista semiestruturada<br />
cujo objetivo é a avaliação das memórias autobiográficas relacionadas com a<br />
vinculação através da coerência do discurso do sujeito. A AAI é o primeiro<br />
instrumento de avaliação da vinculação adulta formado por 15 questões que<br />
abordam as experiências precoces de vinculação e nas representações que o<br />
sujeito tem no momento acerca delas. A transcrição das entrevistas permite a<br />
identificação de três padrões de vinculação: o seguro (caracterizado por um<br />
discurso corrente, objetivo, dando valor às experiências de vinculação), o<br />
desligado/evitante (apresenta dificuldades em contar determinadas<br />
experiências de vinculação, desvalorizando-as) e o ansioso/ preocupado<br />
(caracteriza-se pela existência de um discurso incoerente e revela confusão<br />
das experiências de vinculação) (Feeney & Noller, 1996). Posteriormente, foi<br />
encontrado o padrão desorganizado, referindo-se aos pais que apresentavam<br />
confusão relativamente a perdas/ traumas na vinculação.<br />
Este método de avaliação da vinculação tem sido muito utilizado e<br />
validado em diversos estudos. As principais desvantagens deste método de<br />
avaliação prendem-se com a condução da entrevista, a sua transcrição e<br />
cotação que precisam ser realizadas por pessoas devidamente treinadas para<br />
esse efeito.<br />
1.2. A vinculação romântica de Hazan e Shaver<br />
Cindy Hazan e Philipp Shaver alargaram o estudo da vinculação das<br />
relações pais-filhos para o amor romântico, inspirando inúmeros estudos ao<br />
nível do jovem e do adulto construindo uma medida de avaliação da vinculação<br />
amorosa, denominada The Love Experience Questionnaire (Hazan & Shaver,<br />
1987) destinada a avaliar a história da vinculação passada (relativa aos pais), o<br />
23
estilo de vinculação atual e a experiência de amor (a partir do relato da<br />
experiência mais importante).<br />
Estes autores partem de duas premissas para a construção da sua<br />
teoria: o adulto apresenta comportamentos de vinculação de promoção de<br />
proximidade e obtenção de segurança face ao seu companheiro amoroso, e a<br />
forma como experiencia a sua relação amorosa estaria relacionada com as<br />
experiências de vinculação precoces com os seus pais, dado os modelos<br />
internos dinâmicos na sua grande maioria apresentarem continuidade ao longo<br />
do ciclo vital.<br />
Para a construção do seu modelo de vinculação no adulto inspiram-se<br />
nas quatro fases do processo de vinculação descritas por Bowlby e consideram<br />
que no âmbito das relações amorosas teríamos: a fase de pré-vinculação<br />
(caracterizada pela atração interpessoal, reflexo do interesse numa maior<br />
aproximação), a fase de início de construção de uma vinculação (onde é<br />
selecionado o companheiro amoroso), a fase de presença de uma vinculação<br />
(construção de uma relação de vinculação pautada pela reciprocidade) e<br />
parceria orientada por objetivos (a relação não se centra apenas no espetro<br />
amoroso, mas torna-se base segura para a exploração).<br />
Mais tarde, Hazan & Shaver (1994) consideraram que as relações<br />
amorosas se mantêm ao longo do tempo ocorrendo o desenvolvimento da<br />
confiança no companheiro amoroso, caracterizando-se pela disponibilidade e<br />
sensibilidade ao outro, ao qual não são alheios os processos de self-<br />
disclosure, de intimidade, de comunicação franca e aberta e de resolução de<br />
problemas. Justificam a permanência no tempo de relações amorosas<br />
insatisfatórias pela ativação de comportamentos de vinculação provocados<br />
pela separação e consequente ansiedade de separação. Segundo os autores,<br />
o rompimento das relações amorosas seria consequência da relação não<br />
responder às necessidades de conforto, apoio emocional e de segurança.<br />
Hazan & Shaver (1987, 1994) baseiam-se nos três padrões de<br />
vinculação de Ainsworth e constroem um pequeno questionário de autorrelato<br />
para a população adulta, composto por três parágrafos breves em que cada um<br />
ilustra um padrão de relacionamento (o seguro, o inseguro/evitante e o<br />
inseguro ansioso/ ambivalente). Aos sujeitos é pedido para pensarem nas suas<br />
24
elações de vinculação significativas e escolherem o parágrafo que melhor<br />
corresponde à sua descrição.<br />
Mais tarde, estes parágrafos descritivos dos padrões de vinculação são<br />
também usados em escalas de tipo Likert de 13 itens (Simpson, 1990) e de 18<br />
itens na Escala de Vinculação Adulta (Collins & Read, 1990).<br />
1.3. O modelo bidimensional de avaliação da vinculação no adulto de<br />
Kim Bartholomew<br />
Para a formulação do seu quadro conceptual, Bartholomew baseia-se no<br />
conceito de modelos internos dinâmicos de Bowlby.<br />
Para Bowlby (1978ab) as experiências de vinculação da infância são<br />
internalizadas em modelos internos dinâmicos que reúnem expetativas de si<br />
próprio e dos outros. Bartholomew & Horowitz (1991) dicotomizou estas duas<br />
dimensões do self e do outro em positivo e negativo, formulando um modelo de<br />
quatro protótipos de vinculação.<br />
Deste modo, os modelos internos do self podem ser positivos (o self<br />
como merecedor de amor e de apoio) ou negativos (o self como não merecedor<br />
de amor e de apoio), bem como os modelos internos dos outros podem ser<br />
positivos (os outros são responsivos e confiáveis) ou negativos (os outros são<br />
rejeitantes e indisponíveis).<br />
Ao modelo do self está associado o grau de ansiedade e dependência<br />
nas relações próximas e ao modelo do outro associa-se o grau de<br />
responsividade e disponibilidade ou evitamento dos outros (Bartholomew &<br />
Shaver, 1998). Do cruzamento deste dois tipos de modelos obtêm quatro<br />
protótipos de vinculação: o seguro, o preocupado, o amedrontado e o<br />
desinvestido (Bartholomew & Horowitz, 1991). As Figuras 1 e 2 ilustram o<br />
modelo da vinculação no adulto de Bartholomew.<br />
25
Figura 1 – Modelo da vinculação no adulto (Bartholomew & Horowitz, 1991)<br />
Figura 2 - Modelo bidimensional e protótipos de vinculação adulta de Kim Bartholomew<br />
(Adaptado de Griffin & Bartholomew, 1994ab)<br />
Dada a utilização neste trabalho deste quadro conceptual como grelha<br />
de leitura e como guia de alguns dos procedimentos estatísticos que<br />
realizamos, efetuamos uma breve descrição de cada um dos Protótipos de<br />
Vinculação sugeridos pelo modelo de Bartholomew. Estas descrições têm por<br />
base quer o que se apresenta na Peer Attachment Interview (Bartholomew,<br />
1996), quer em artigos (Bartholomew, 1990; Bartholomew & Horowitz, 1991)<br />
26
quer ainda nos documentos que são disponibilizados na página do laboratório<br />
dirigido pela própria Kim Bartholomew na Simon Fraser University<br />
(Bartholomew'sResearchLab;www.sfu.ca/psyc/faculty/bartholomew/research/).<br />
Os sujeitos referenciados no quadrante seguro (Secure) definem-se por<br />
apresentarem níveis de coerência e autoconfiança moderados a elevados, uma<br />
abordagem positiva dos outros e ainda pelo exercício de graus elevados de<br />
intimidade nos seus relacionamentos. As representações que têm de si e dos<br />
outros são claramente positivas. As relações passadas são avaliadas de forma<br />
realista e crítica e integradas nas formas de relacionamento atual. Os sujeitos<br />
seguros tendem a utilizar estratégias de coping ativas que incluem o recurso<br />
aos outros como fonte de apoio em situações propiciadoras de ansiedade. São<br />
indivíduos com expressão emocional moderada, não dependendo apenas do<br />
seu/sua parceiro(a) relacional (quer se trate de um par, par amoroso ou<br />
elemento parental). As suas relações são caracterizadas pelas qualidades da<br />
mutualidade, intimidade e pelo envolvimento.<br />
Os indivíduos caracterizados no modelo como Preocupados<br />
(Preoccupied) são consumidos pelos relacionamentos. Por norma pouco<br />
coerentes, tendem a idolatrar as suas relações; são habitualmente altamente<br />
dependentes dos outros na busca de autoestima e por isso mesmo orientados<br />
para as relações com os outros. Excessivamente expressivos, estes indivíduos<br />
apresentam-se com discursos muito elaborados porém incongruentes. As suas<br />
estratégias de resolução de problemas implicam o recurso aos outros. A sua<br />
autoconfiança é baixa e quando sujeitos a situações de separação, exibem<br />
graus elevados de ansiedade. Muito exigentes nos seus relacionamentos,<br />
procuram ativamente companhia e atenção, experimentando contudo<br />
sentimentos de falta de valorização pessoal por parte dos outros. As relações<br />
amorosas têm prioridade na vida pessoal dos Preocupados. Tentam um<br />
envolvimento total com contornos sufocantes, e parecem estar sempre<br />
apaixonados, como numa tentativa de nunca se encontrarem sós.<br />
Ciúme e possessividade caracterizam os relacionamentos destes sujeitos e é<br />
patente um modelo de si que impende para a negatividade e um modelo dos<br />
outros no extremo da positividade.<br />
Os sujeitos Desinvestidos (Dismissing) são aqueles que apresentam<br />
uma representação de si próprios positiva e um modelo negativo dos outros.<br />
27
Acreditam nas suas capacidades, desvalorizam ativamente o papel dos<br />
relacionamentos nas suas vidas. Apresentam-se emocionalmente frios,<br />
racionais e distantes, dando uma imagem de arrogância. As suas estratégias<br />
de resolução de problemas são na maioria das vezes a defesa e o evitamento<br />
relacional. A desvalorização ou a supressão dos sentimentos pessoais são<br />
visíveis no seu comportamento. De si próprios apresentam um sentido de<br />
autoconfiança que varia do moderado ao elevado e, quanto ao que os outros<br />
pensam deles, quase sempre afirmam não ser de importância apesar de<br />
considerarem que as opiniões que deles formam são na sua maioria negativas.<br />
Quase não se observa a componente de Protesto de separação nestes sujeitos<br />
e a Procura de proximidade é também baixa. Os relacionamentos pessoais<br />
tendem a ser muito pobres em termos de proximidade emocional, intimidade e<br />
expressividade pelo que a contenção é algo que lhes é particularmente<br />
característico.<br />
Finalmente, no extremo das representações negativas quer de si quer do<br />
outro, agrupam-se os sujeitos Amedrontados (Fearful). O medo da rejeição<br />
parece ser a razão para o evitamento da intimidade, e a ambivalência entre<br />
querer e recear a intimidade com outros têm origem na falta de confiança<br />
pessoal. Vulnerabilidade, falta de confiança e insegurança definem estes<br />
sujeitos. As suas estratégias de coping são na maioria dos casos recorrentes e<br />
repetitivas, não procurando a proximidade e o conforto dos outros. Imaginam<br />
que a representação que deles fazem, é a de alguém ausente de qualidades,<br />
imagem acrescida com especificidades negativas e desvalorizantes.<br />
Caracteristicamente dependentes nas suas relações de intimidade, dificilmente<br />
as iniciam e só o fazem quando têm a certeza de que não serão rejeitados, o<br />
que raramente acontece.<br />
Em Portugal, o estudo da vinculação segundo este modelo conceptual<br />
tem sido conduzido por Paula Mena Matos e colaboradores (Matos et al.,<br />
1999; Matos, Almeida & Costa, 1997 e 1998; Matos, Barbosa & Costa, 2001;<br />
Matos & Costa, 2006), tendo sido construído um instrumento de autorrelato,<br />
dirigido a adolescentes e jovens adultos, para a avaliação da vinculação aos<br />
pais - Questionário de Vinculação ao Pai e à Mãe (QVPM; Matos & Costa,<br />
2001a) - e um instrumento de avaliação da vinculação amorosa - Questionário<br />
de Vinculação Amorosa (QVA; Matos & Costa, 2001b).<br />
28
O QVPM e o QVA foram as medidas escolhidas na presente<br />
investigação para a avaliação da vinculação aos pais e da vinculação<br />
amorosa, dado serem instrumentos construídos e validados para a população<br />
portuguesa e que apresentam boas qualidades psicométricas.<br />
Em síntese, a teoria da vinculação a que se dedicou este capítulo<br />
constitui-se como uma importante grelha de leitura do desenvolvimento<br />
humano.<br />
Os pontos que a seguir se apresentam tentam sistematizar as principais<br />
ideias desenvolvidas ao longo deste capítulo:<br />
1) A teoria da vinculação afirma a necessidade humana universal do<br />
desenvolvimento de ligações afetivas de proximidade, que deem segurança e<br />
possibilitem a exploração confiante do self, dos outros e do mundo;<br />
2) O conceito de vinculação é definido por Bowlby e Ainsworth como um laço<br />
afetivo que uma pessoa forma com outrem, laço que os une e perdura no<br />
tempo (Ainsworth, 1989; Bowlby, 1978ab), caracterizando-se como uma<br />
tendência para a procura e manutenção da proximidade a essa figura<br />
específica em situações ameaçadoras ou geradoras de stress;<br />
3) A vinculação é um conceito distinto do de comportamento de vinculação. Os<br />
comportamentos de vinculação são todo o tipo de comportamentos que se<br />
destinam à promoção da proximidade ou contacto com a figura de vinculação,<br />
enquanto a vinculação é o laço emocional que se estabelece (Ainsworth, 1991);<br />
4) A qualidade da vinculação não depende da quantidade de tempo que a<br />
figura de vinculação está com a criança sendo determinada pela natureza das<br />
interações que se estabelecem. Para o seu desenvolvimento com qualidade, é<br />
necessária a sensibilidade da figura de vinculação para responder às<br />
necessidades de proximidade e de segurança da criança e a disponibilidade,<br />
quer em termos físicos quer em termos emocionais, para responder quando a<br />
criança a procura. Quando as figuras de vinculação agem de modo adequado<br />
sendo sensíveis e responsivas, estarão criadas as condições para o<br />
desenvolvimento de uma vinculação segura, fundamental para o<br />
desenvolvimento da criança;<br />
29
5) A figura de vinculação pode ser utilizada como base segura e como porto<br />
seguro. Quando a criança procura a segurança na figura de vinculação está a<br />
utilizá-la como base segura. No entanto, quando alarmada, principalmente pela<br />
separação, a criança procura o contacto com a figura de vinculação para obter<br />
conforto utilizando-a como porto seguro;<br />
6) O sistema comportamental da vinculação refere-se a uma predisposição<br />
biológica que os indivíduos têm para o estabelecimento de laços de vinculação<br />
cuja função é zelar pela sobrevivência, através da procura de proteção e<br />
segurança, face a situações ameaçadoras;<br />
7) Bowlby (1979), sofrendo influência da teoria dos sistemas de controlo,<br />
postula a existência de um sistema de controlo, localizado no Sistema Nervoso<br />
Central que regula a cativação e desativação de um nível adequado de<br />
proximidade da figura de vinculação;<br />
8) O desenvolvimento do comportamento de vinculação ocorre desde o<br />
nascimento até aos três anos de vida e consiste na aquisição de padrões<br />
comportamentais com maior estrutura e complexidade;<br />
9) De acordo com Bowlby (1979), existem processos orientadores da seleção<br />
de uma figura de vinculação: a predisposição inata para a orientação sensorial<br />
da criança para determinados estímulos, a aprendizagem por exposição, uma<br />
predisposição inata da criança para se aproximar do que lhe é familiar e o<br />
reforço do seu comportamento de acordo com o feedback de resultados;<br />
10) Bowlby (1978ab, 1979) designa de modelos internos dinâmicos ou<br />
modelos representacionais o conjunto de expetativas acerca do self, dos<br />
outros e do mundo que a criança desenvolve a partir da qualidade das<br />
interações entre ela e as figuras de vinculação nos primeiros anos de vida;<br />
11) São identificados três padrões de interação correspondentes a diferentes<br />
organizações comportamentais da vinculação: o seguro, o inseguro-<br />
ambivalente/resistente e o inseguro-evitante;<br />
30
12) Sperling & Berman (1991) referem quatro estilos de vinculação definidos<br />
através da dimensão segurança-insegurança e que se caracterizam por<br />
diferentes níveis de segurança: o dependente, o evitante, o resistente ou<br />
ambivalente e o hostil.<br />
13) Bartholomew & Horowitz (1991) distinguem quatro estilos de vinculação<br />
resultantes da imagem que o indivíduo tem de si (positiva ou negativa) e dos<br />
outros (positiva ou negativa): o seguro (modelo positivo de si e modelo positivo<br />
dos outros), o desinvestido (modelo positivo de si e modelo negativo dos<br />
outros), o preocupado (modelo negativo de si e modelo positivo dos outros) e o<br />
amedrontado (modelo negativo de si e modelo negativo dos outros);<br />
14) Destacam-se duas transformações importantes ao nível das relações de<br />
vinculação no período da adolescência: a reciprocidade das relações em que<br />
cada elemento da díade se pode constituir como figura de vinculação ao outro,<br />
e, por outro lado, a principal figura de vinculação deixa de ser um dos<br />
progenitores passando a ser o companheiro amoroso;<br />
15) Podem distinguir-se três grandes modelos de investigação neste domínio: o<br />
modelo representacional da vinculação de Mary Main, a vinculação romântica<br />
de Cindy Hazan e Philipp Shaver e o modelo bidimensional de avaliação da<br />
vinculação no adulto de Kim Bartholomew.<br />
No âmbito dos estudos sobre vinculação parental e amorosa em jovens<br />
adultos é de notar que a esmagadora maioria dos estudos sobre vinculação<br />
parental têm sido realizados com populações de idades muito precoces não<br />
sendo muito comuns na literatura científica os estudos com populações jovens<br />
e jovens adultas contemplando estas duas variáveis.<br />
Um dos pressupostos teóricos da teoria da vinculação assenta na<br />
importância das primeiras relações relativamente à capacidade relacional<br />
futura. Um processo que se edifica e desenvolve ao longo do ciclo vital<br />
integrando as experiências pessoais de relação e proximidade e a substituição<br />
de uns atores por outros (pais pelos amigos), tão essenciais na construção da<br />
individualidade e da diferença<br />
31
Pipp, Shaver, Jennings, Lamborn & Fischer, 1985) constataram que em<br />
resultado do pedido a 100 universitários para esquematizarem as relações com<br />
o pai e a mãe ao longo do ciclo vital, os círculos que desenharam eram muito<br />
próximos (pai, mãe, filho) ao longo da infância, afastando-se progressivamente<br />
até ao máximo entre os 16-20 anos, voltando a aproximá-los o inicio da idade<br />
adulta, o que nos leva às questões da complementaridade e da reciprocidade,<br />
ou seja, o afastamento pode aparentemente fazer desligar, ou melhor, tornar<br />
menos salientes alguns dos componentes de vinculação aos pais<br />
(nomeadamente a Procura de proximidade e o Porto seguro que pelas<br />
exigências da construção da identidade podem funcionar, comparativamente a<br />
novas relações, por exemplo, com os pares, de forma menos proeminente,<br />
nunca deixando contudo de manter uma representação interna mais positiva ou<br />
mais negativa dos pais).<br />
Soares (1996) utilizando a AAI numa amostra de adolescentes e de<br />
adultos, sugeriu justamente que os jovens tendem a descrever as figuras de<br />
vinculação iniciais como mais apoiantes na infância que na adultícia.<br />
Associando este resultado às representações prospetivas dos adultos por<br />
oposição a representações mais presentes por parte dos adolescentes, cremos<br />
que estes resultados refletem também a importância que na adolescência os<br />
pais têm enquanto contextos de vinculação.<br />
Por seu turno, Furman (1999) sugeriu que o efeito de afastamento<br />
comportamental acontece precisamente porque o mutualismo e o altruísmo não<br />
têm muitas oportunidades de serem apreendidos nas relações com os pais, já<br />
que são desiguais ao nível do poder entre os intervenientes.<br />
Talvez por isso mesmo, as relações amorosas e as relações com pares,<br />
detenham muitas características comuns ao nível da afiliação.<br />
Integrando as questões do “detachment” nos estudos longitudinais sobre<br />
a continuidade ou mudança na segurança de vinculação, Buist, Dekovic,<br />
Meeus, & Van Aken (2004) ao analisarem 288 adolescentes com média de<br />
idade inicial de 13,5 anos, verificaram que os indicadores de vinculação a<br />
ambos os pais (resultados do IPPA - Inventory of Parent and Peer Attachment)<br />
eram significativamente mais elevados na relação com a mãe que com o pai.<br />
Alguns investigadores (Buist et al., 2004; Smetana, Metgzer &<br />
Campione-Barr; 2004) encontraram uma continuidade na proximidade<br />
32
emocional dos jovens aos pais, sugerindo-se que a exploração no início da<br />
adolescência não induz a deterioração da qualidade relacional.<br />
Ainda a propósito da exploração enquanto processo complementar da<br />
vinculação, Smetana, Metzger, Gettman & Campione-Barr (2006) ao estudarem<br />
a partilha de informação significativa e o secretismo na adolescência (com<br />
jovens a frequentarem o 9º e o 12º anos de escolaridade), verificaram que o<br />
secretismo dos jovens para com os pais era maior no que dizia respeito aos<br />
pares, nos assuntos pessoais ou relativamente a trabalhos escolares, e ainda,<br />
que os rapazes escondiam mais as questões pessoais das mães do que as<br />
raparigas. Ou seja, continua na adolescência a existir comunicação e confiança<br />
na relação com os pais, embora determinados assuntos sejam mais partilhados<br />
que outros.<br />
Jiménez & Delgado (2002) encontraram resultados diferenciais ao<br />
estudarem a comunicação e o conflito na família ao longo da adolescência, na<br />
forma como cada jovem se relaciona com os pais. Existiu evidência de que as<br />
raparigas comunicam mais e têm menos conflitos com ambos os pais que os<br />
rapazes, porém, exibem também menores índices de autonomia relacional. Na<br />
mesma senda encontram-se os resultados de Oliva, Parra & Sánchez-Queija<br />
(2002ab) onde as raparigas, independentemente da idade (dos 13 aos 19<br />
anos), percebem maior apoio parental e por parte dos pares que os rapazes<br />
adolescentes.<br />
Estes estudos permitem de algum modo supor que no período da<br />
adolescência, embora a construção da identidade e a procura de autonomia<br />
sejam processos complementares e reivindiquem um distanciamento<br />
relativamente aos pais, tal não implica que haja um corte emocional entre pais<br />
e filhos. Antes pelo contrário, o que parece surgir em cada investigação é que o<br />
processo de individuação coexiste com a manutenção da qualidade da relação<br />
parental, parecendo ser este o modo mais adaptativo do sujeito psicológico se<br />
constituir enquanto entidade própria, self ou se quisermos, identidade.<br />
Atualmente começa já a ser posta em prática a necessidade levantada<br />
por Bowlby de investigar diferencialmente o papel que cada progenitor tem no<br />
desenvolvimento de filhos e filhas, do qual fazem eco alguns dos resultados<br />
que acabámos de apresentar. Trata-se, na nossa perspetiva, de introduzir<br />
questões sociais e culturais, onde o papel da mulher se confunde com o de<br />
33
mãe enquanto prestadora de cuidados e o do homem com o de pai como<br />
suporte das necessidades físicas mais elementares (provedor de suporte<br />
financeiro). O processo de desenvolvimento pessoal passa também, e<br />
inevitavelmente, pelo contexto cultural de proveniência das unidades familiares.<br />
A civilização ocidental transporta consigo uma história cultural que, pese<br />
embora com diferenças claras ao nível da promoção da autonomia pessoal<br />
entre as culturas anglo-saxónicas e as do sul da Europa, mantém em comum a<br />
noção de que o papel do prestador de cuidados até à adultícia está<br />
inevitavelmente ligado à mãe. Por isso mesmo, é possível que estejamos a<br />
enviesar quer as avaliações de mães, quer as de pais, já que o seu papel não<br />
implica que as mesmas dimensões tenham um mesmo peso em se tratando de<br />
cada um deles; mais ainda, a avaliação é normalmente observada do ponto de<br />
vista materno, o que muitas vezes faz com que as conclusões retiradas dos<br />
estudos permitam uma certa imagem dos pais homens como mais<br />
desinvestidos da vida emocional dos seus filhos. Contudo, sendo um sistema<br />
de sobrevivência, a vinculação não pode deixar de integrar no seu software<br />
funcional as características sociais específicas de cada cultura, pelo que na<br />
realidade as diferenças encontram-se.<br />
Ainda acerca da influência diferenciada de mães e pais na vida dos seus<br />
filhos e filhas, Bailey, Repinski, & Zook (2002) estudaram uma amostra de<br />
adolescentes que frequentavam uma escola americana rural no 7º e 10º anos<br />
de escolaridade. Constatou-se que os rapazes, por comparação às raparigas,<br />
relatavam uma maior proximidade subjetiva a ambos os pais.<br />
Na validação do Parental Bonding Instrument (PBI), Parker, Tupling &<br />
Brown (1979) estudaram uma amostra entre os 17 e os 40 anos, observando<br />
que as mães eram referenciadas como mais carinhosas e protetoras que os<br />
pais embora não se encontrassem diferenças de género relativamente aos<br />
filhos.<br />
Matos e colaboradores (1999) estudaram a vinculação parental na<br />
adolescência (final) e o seu relacionamento com a identidade numa amostra de<br />
361 adolescentes portugueses entre os 16 e os 22 anos de idade (12º ano de<br />
escolaridade). A metodologia utilizada recorreu a instrumentos de autorrelato:<br />
O Questionário de Vinculação ao Pai e à Mãe (QVPM; Matos & Costa, 2001a)<br />
com 3 fatores (inibição de exploração e individualidade, qualidade do laço<br />
34
emocional e ansiedade de separação e dependência) e o Objective Measure of<br />
Ego Identity Status (EOMEIS) (Bennion & Adams, 1986).<br />
A robustez superior do laço com as mães por parte das filhas em<br />
comparação com os filhos foi igualmente observado em diversos estudos<br />
(Berman & Spearling, 1991; Neves, Soares & Silva, 1999; Matos, 2002; van<br />
Wel, 2002) podendo fazer supor que os laços de vinculação das mães às suas<br />
filhas podem representar uma função protetora de acordo com estatuto<br />
feminino nas sociedades ocidentais.<br />
Bastos & Costa (2005) verificaram em jovens universitários que a<br />
qualidade da relação com a mãe é a principal dimensão na proteção do<br />
adolescente ao aparecimento da solidão, sendo a qualidade da relação paterna<br />
o segundo protetor a ter em conta. Quanto a fatores protetores da solidão,<br />
encontrou-se evidência de que uma das condições era a ansiedade de<br />
separação na relação com a mãe contudo, não com o pai.<br />
Tendo em conta a revisão efetuada, a questão do género parece ter<br />
muito a ver quer com especificidades das amostras mas também com os<br />
instrumentos utilizados na avaliação da vinculação, e, ainda, com<br />
características culturais que importa não descurar.<br />
Se por um lado, encontramos um corpo de estudos que analisa a<br />
importância diferencial de cada elemento da parentalidade na vida dos seus<br />
filhos, por outro, investigações há que optam por cingir-se ao estudo da<br />
qualidade de vinculação a apenas um dos progenitores (ou a ambos em<br />
conjunto) e a sua associação à qualidade das relações com pares.<br />
Quando falamos acerca de diferenças de género no que respeita aos<br />
modelos dinâmicos internos dos adolescentes nas interações com pares,<br />
Markovits, Benenson & Dolenszky (2001) apresentam resultados que apontam<br />
para desigualdades na comparação entre rapazes e raparigas.<br />
O estudo recorreu a uma amostra mista (rapazes e raparigas) de 278<br />
sujeitos da área geográfica de Montreal-Canadá (com idades médias<br />
compreendidas entre os 5 e os 16 anos de idade) a quem foram administradas<br />
4 versões de um questionário de autorrelato por referência a uma figura típica,<br />
feminina ou masculina, de idade correspondente à dos respondentes; na<br />
prática cada sujeito responde a 2 questionários.<br />
35
Os resultados indicaram que rapazes e raparigas têm representações<br />
diferenciadas das preferências de tamanho de grupo de pares; os relatos das<br />
representações dos rapazes indicam que estes preferem as interações de<br />
grupo às diádicas, antepondo as interações de jogo às de sentar e falar, e no<br />
geral são também percebidos pelos outros como preferindo as atividades de<br />
grupo. Por seu turno, as raparigas são percebidas como preferindo a atividade<br />
de sentar e falar à de jogo, embora não fosse clara a perceção acerca da<br />
preferência pela interação diádica ou de grupo. Acerca da dimensão<br />
“estruturação da amizade”, os resultados observaram que rapazes que são<br />
amigos de um rapaz alvo (logo a partir de uma idade média de 8 anos), são<br />
percebidos como tendo maior probabilidade de se tornarem amigos mútuos<br />
que raparigas em situação similar. Os rapazes tendem assim, a serem<br />
percebidos como preferindo uma estrutura relacional de amizades, e as<br />
raparigas, uma organização mais diádica.<br />
Quanto ao conhecimento de informação acerca dos amigos, os<br />
resultados mostraram que no 6º ano de escolaridade os sujeitos afirmavam que<br />
as raparigas, mais que os rapazes, teriam maior probabilidade de saberem as<br />
datas dos aniversários dos amigos, nomes de parentes, notas escolares e<br />
amizades, embora as cotações referentes às preferências dos amigos sejam<br />
mais mistas. Na questão relativa ao desporto favorito dos amigos, os sujeitos<br />
cotaram como sendo mais provável que os rapazes saibam qual este é, em<br />
claro contraste com a cotação dada às raparigas. Os resultados poderão<br />
indiciar que se as representações acerca das interações com pares são<br />
diferenciadas por género, talvez os modelos dinâmicos internos na relação com<br />
pares o sejam também, e dentro desta categoria, que seja maior a<br />
probabilidade de que sejam as raparigas a deterem resultados mais salientes<br />
nas dimensões Base segura e Procura de apoio.<br />
Berndt é um autor que tem estudado a amizade (Berndt, 1999, 2004).<br />
Num estudo em que se pretendia observar na adolescência a influência dos<br />
amigos na adaptação à escola ao longo de um ano (Berndt & Keefe, 1995), os<br />
autores recorreram a alunos de escolas públicas a frequentarem os 7º e 8º ano<br />
de escolaridade (média inicial etária de 13,8 anos). Um dos resultados<br />
transversais da investigação diz respeito ao modo mais positivo como as<br />
raparigas viam as suas relações de amizade em comparação com os rapazes,<br />
36
corroborando aliás uma outra análise que encontrou indícios de que os rapazes<br />
sabiam menos acerca dos comportamentos dos melhores amigos que as<br />
raparigas. Mais ainda, a adaptação das raparigas à escola era mais<br />
influenciada pelos melhores amigos que a dos rapazes, contudo, quanto mais<br />
os melhores amigos dos rapazes estavam envolvidos nas aulas, menos<br />
investidos estavam nas relações. Ou seja, parece que a qualidade das relações<br />
era mais elevada no género feminino que no masculino, e embora as relações<br />
com os pares influenciassem quer rapazes quer raparigas, não era nas<br />
mesmas dimensões que essa influência se fazia sentir.<br />
Shulman, Levy-Shiff, Kedem, & Alon (1997) e Shulman & Scharf (2000),<br />
num estudo a propósito das associações entre as relações de pares e<br />
amorosas, quiseram ver até que ponto os níveis de intimidade eram<br />
semelhantes em rapazes e raparigas (em relações românticas e de pares do<br />
mesmo género) e de que modo as relações de pares afetavam as relações<br />
amorosas. Recorreram a 43 casais de adolescentes (média etária de 17,25<br />
anos) que mantinham a relação há pelo menos três meses. A escala de<br />
autorrelato utilizada para avaliação da intimidade era de cinco dimensões:<br />
Proximidade emocional, Controlo, Similaridade, Relacionamento equilibrado e<br />
Respeito. Por seu turno, a abertura de comunicação pessoal ou self-disclosure,<br />
foi avaliada com recurso a três subescalas: Família, Amizade e Corpo.<br />
Os rapazes, comparativamente às raparigas, relataram níveis mais<br />
baixos de Proximidade emocional, Similaridade e Controlo nas relações de<br />
amizade do mesmo género, embora na relação amorosa relatassem níveis<br />
similares de intimidade. As raparigas, mais que os rapazes, detinham níveis de<br />
intimidade similares nas relações amorosas e de amizade e respeitavam mais<br />
quer o par do mesmo género, quer o par amoroso. Quanto à abertura de<br />
comunicação, nos rapazes era relatada em grau menor que nas raparigas<br />
apenas nas relações com os amigos, reportando maiores índices de self-<br />
disclosure na relação amorosa em Amizade e Corpo que os pares do género<br />
feminino.<br />
Num estudo sobre vinculação adolescente, relações com pares e<br />
sucesso escolar, Carlivati (2001) utilizou uma amostra de 169 adolescentes (89<br />
rapazes e 77 raparigas) do 9º e 10º ano de escolaridade com uma amplitude<br />
etária entre os 14 e os 18,75 anos de idade (média=15,9). O estudo permitiu<br />
37
afirmar que os adolescentes com organizações de vinculação mais seguras<br />
aos pais têm maior aceitação social; os resultados observam ter uma amizade<br />
próxima é um fator protetor para o risco de interações negativas.<br />
Margolese, Markiewicz & Doyle (2005), da análise de dados obtidos a<br />
partir das respostas ao Relationship Questionnaire (para mãe, pai, melhor<br />
amigo e relação amorosa) de 134 adolescentes com média etária de 16, 9<br />
anos, observaram que o modelo do self era mais positivo relativamente às<br />
relações de vinculação com pais e com pares (sem que existissem diferenças<br />
significativas entre os scores das três relações) que com o par amoroso (com<br />
valores significativamente inferiores aos das restantes relações).<br />
Freeman & Newland (2002) encontraram diferenças de género na<br />
vinculação aos pais, que se associavam posteriormente à vinculação com o par<br />
amoroso. O compromisso relacional das filhas com as mães era associado<br />
negativamente com seis das sete qualidades das relações românticas<br />
(Satisfação, Compromisso, Protesto de separação, Procura de proximidade,<br />
Base segura, Respeito e Companheirismo), sendo a exceção no Protesto de<br />
separação, assim como o Companheirismo com o namorado se associava<br />
negativamente com cinco das qualidades relacionais com as mães. Um padrão<br />
semelhante de interações negativas foi encontrado para as raparigas e os pais<br />
(homens) e os parceiros amorosos, embora um pouco mais baixas que as<br />
anteriores.<br />
Nesta linha de resultados Matos (2002) encontrou evidência de que a<br />
relação com o pai é aquela que mais influencia a relação romântica ao nível da<br />
Dependência e que é a relação com a mãe a influenciar o funcionamento<br />
amoroso em termos de Evitamento dos pais.<br />
Klohnen, Weller, Luo & Choe (2005) estudaram a organização e o poder<br />
preditivo dos modelos de vinculação no final da adolescência (19 anos de<br />
idade, em duas amostras) quer ao nível dos modelos gerais, quer no que diz<br />
respeito aos modelos específicos de vários contextos relacionais (mãe, pai,<br />
melhor amigo e par amoroso). Foi encontrada evidência de uma maior<br />
similaridade entre as representações de vinculação de cada um dos pais e as<br />
representações quer dos pares, quer do par amoroso, que entre outro qualquer<br />
par de representações avaliadas. Nas dimensões Ansiedade e Evitamento,<br />
38
verificou-se também que as semelhanças entre as quatro representações eram<br />
maiores em termos da primeira das dimensões que da última.<br />
Matos & Costa (2006) num estudo sobre as associações entre a<br />
vinculação aos pais e a vinculação ao par amoroso em adolescentes<br />
recorreram a uma amostra de 82 adolescentes com média etária de 17,28<br />
anos, provenientes de famílias intactas. O estudo utilizou a Entrevista de<br />
Avaliação da Vinculação à Família e a Entrevista de Avaliação de Vinculação<br />
aos Pares (Bartholomew, 1990, 1996). Os resultados indicaram uma elevada<br />
concordância na representação de vinculação segura aos pais de ambos os<br />
géneros e ainda que quer a vinculação ao pai quer à mãe parecem influenciar a<br />
relação amorosa dos seus filhos, embora de modo moderado.<br />
Sulman & Scharf (2000) verificaram que as raparigas exibiam maior nível<br />
de intensidade afetiva nas relações amorosas que os rapazes, e que a<br />
vinculação e os cuidados eram reconhecidos, mais pelas raparigas que pelos<br />
rapazes, como vantagens da relação amorosa.<br />
Os resultados da investigação não são robustos, porém, são mais<br />
consistentes relativamente à qualidade relacional por parte das raparigas que<br />
dos rapazes quer em se tratando das relações de pares do mesmo género quer<br />
com o par amoroso, (Grabill & Kerns, 2000; Diamond & Dubé, 2002; Giordano,<br />
2003; Wilkinson & Sarandrea, 2005; Wilkinson, 2006).<br />
39
2. OS MODELOS TEÓRICOS DO TEMPERAMENTO AFETIVO<br />
O temperamento refere-se à forma de ser emocional de cada indivíduo<br />
sendo considerado como a base do humor, do comportamento e da<br />
personalidade (Lara, 2006). Está relacionado com a natureza emocional<br />
individual, possui herança predominantemente genética e é relativamente<br />
estável no tempo (Allport, 1961; Cloninger, Svrakic & Przybeck, 1993).<br />
O conceito de temperamento tem raiz histórica nas propostas de Galeno<br />
e Hipócrates (há cerca de 2300 anos) que sugeriram o temperamento colérico,<br />
melancólico, sanguíneo e fleumático, baseando-se nos quatro elementos do<br />
filósofo Empédocles (500-430 a.C.): água, ar, terra e fogo (Akiskal & Akiskal,<br />
2005a).<br />
No início do século XX, Kraepelin descreveu os estados fundamentais<br />
ou predisposições pessoais que correspondem ao que hoje chamamos de<br />
temperamentos afetivos, propondo como estados fundamentais o depressivo, o<br />
ciclotímico, o irritável e o hipertímico (Kraepelin, 1921).<br />
Uma classificação igualmente muito divulgada é a desenvolvida pela<br />
escola alemã de Kretschmer (1925), que considerava que as diversas<br />
disposições temperamentais se interrelacionavam com quatro tipos<br />
constitucionais distintos.<br />
Kretshmer (1925) desenvolveu uma classificação de tipos somáticos, com<br />
a intenção de relacionar uma determinada estrutura corporal com perfis<br />
psicológicos temperamentais: os pícnicos – caracterizados por apresentarem<br />
grandes cavidades corporais e desenvolvimento visceral. A constituição<br />
picnomorfa mostra tendência a coincidir com um temperamento designado de<br />
ciclotímico, que se caracteriza por ser extrovertido, com fácies de alternâncias<br />
de humor, e é dominante nos quadros clínicos da psicose maníaco-depressiva;<br />
os leptossomáticos ou asténicos – caraterizados por apresentar tórax estreito e<br />
alongado e fraco desenvolvimento muscular. A constituição asténica<br />
convenciona um temperamento designado de esquizotímico, que indica que a<br />
pessoa é de difícil contacto nas relações pessoais, mostra frieza e<br />
40
hipersensitividade; os atléticos - de ombros largos, com bom desenvolvimento<br />
da musculatura e esqueleto. A constituição atletomorfa, de estrutura robusta,<br />
corresponde a um temperamento viscoso, com acentuada tendência à<br />
explosividade; os displásticos - figuras amorfas, grandes, pequenas ou<br />
raquíticas ou apresentando anomalias e deformidades morfológicas ou<br />
viscerais. Esta constituição mostra tendência para reações intempestivas e<br />
alternâncias de humor.<br />
Mais tarde, a escola norte-americana de Sheldon (1943) elaborou com<br />
maior rigor e com definições que se sobrepõem às de Kretschmer, uma<br />
classificação biotipológico-temperamental em três dimensões relacionando-se<br />
cada uma delas com os três folhetos embrionários da blastoderme (ectoderme,<br />
mesoderme, endoderme): os ectomorfos – esbeltos e frágeis, correspondem,<br />
no plano psicológico a indivíduos que ficaram designados como cerebrotónicos,<br />
que são pessoas hipersensíveis, tensos e com predisposição para as<br />
neuroses; os mesomorfos – fortes e toscos, predominam os somatotónicos,<br />
que se caracterizam psicologicamente por serem executores, energéticos e<br />
competitivos, com evidência de traços paranóides, quando entram no campo<br />
da patologia; os endomorfos – de figura arredondada e suave, mostram<br />
tendência para a viscerotonia e caracterizam-se psicologicamente por serem<br />
sociáveis, tolerantes, e afetuosos, traços que predispõem para certas<br />
perturbações afetivas.<br />
Estas classificações temperamentais, possuíam o benefício de<br />
proporcionar uma sistematização dos tipos psicológico-constitucionais<br />
humanos, mas também o inconveniente de se mostrarem algo rígidas, com a<br />
dificuldade de nelas se poderem incluir muitos tipos intermédios além de não<br />
considerarem as variações morfológicas e psicológicas que se operam em<br />
muitos tipos humanos com o decorrer da idade ou sob influência de fatores<br />
alimentares, transculturais, entre outros.<br />
As classificações de Kretschmer (1925) exerceram uma grande influência<br />
em toda a psicologia e psiquiatria europeias, acabando por construir uma das<br />
principais padronizações da personalidade.<br />
Mais tarde Klages (1929) propôs que a natureza psicológica do<br />
temperamento podia definir-se como uma constante de excitabilidade da<br />
vontade, fundamentada no equilíbrio ou na posição de duas qualidades: a<br />
41
apidez e a lentidão. Se predominasse intensamente a rapidez, tínhamos um<br />
temperamento do tipo sanguíneo. Se prevalecesse a lentidão tínhamos um<br />
temperamento do tipo fleumático.<br />
Segundo Chess & Thomas (1986), o temperamento designa<br />
características de personalidade inatas que influenciam a forma como o<br />
indivíduo reage ao ambiente e a sua progressão no desenvolvimento.<br />
Desde então, novas propostas de classificação e distinção dos<br />
temperamentos surgiram através de Eysenck (1987), Cloninger (Cloninger et<br />
al., 1993), Pickering & Gray (1999), Akiskal (Akiskal & Akiskal, 2005a) e outros.<br />
Dois dos constructos temperamentais mais estudados na psiquiatria são o<br />
modelo psicobiológico de Cloninger e o modelo de temperamentos afetivos de<br />
Akiskal.<br />
Eysenck (1987), por seu lado, enfoca as “dimensões biológicas da<br />
personalidade”, e a sua abordagem é eminentemente “biossocial” no sentido de<br />
que o funcionamento característico do sistema nervoso central predispõe os<br />
indivíduos a responder de certas formas ao ambiente (Hall, Lindzey &<br />
Campbell, 2000). Para a descrição da organização da personalidade, Eysenck<br />
(1987) distingue entre os conceitos de traço e tipo. Um traço é um fator<br />
primário que caracteriza as pessoas em grau variado, é o conjunto de<br />
comportamentos relacionados que ocorrem em simultâneo e repetidamente. As<br />
combinações desses traços definem os tipos mais fundamentais, os quais são<br />
fatores de segunda ordem, um constructo de ordem superior, compreendendo<br />
um conjunto de traços correlacionados.<br />
Através de estudos baseados em questionários de personalidade, o<br />
modelo de Eysenck (1987) inclui três eixos básicos: introversão vs.<br />
extroversão, neuroticismo vs. estabilidade e psicoticismo vs. controle dos<br />
impulsos, propondo que esses três tipos estruturam as diferenças individuais<br />
de temperamento, lembrando que as diferenças individuais nesses tipos se<br />
baseiam em fatores constitucionais (genéticos, neurológicos e bioquímicos)<br />
(Hall et al., 2000).<br />
Os experimentos realizados com base no modelo de Eysenck (1987)<br />
não confirmaram de forma unânime as suas proposições, mas apoiaram o seu<br />
argumento de que uma teoria adequada da personalidade necessita de<br />
incorporar as três características citadas.<br />
42
Gray (1972, 1981, 1982) já antes tinha antecedido Eysenck (1987) em<br />
alguns pontos, apenas não aceitando a extroversão e o neuroticismo como os<br />
eixos definidores de um espaço dimensional.<br />
Deste modo, poucos anos mais tarde, Gray (Pickering & Gray, 1999)<br />
reformulou este modelo, sugerindo a ansiedade como sistema de inibição<br />
comportamental (BIS) e a impulsividade como o principal sistema de ativação<br />
comportamental (BAS). Gray questionou a validade do conceito de<br />
neuroticismo, visto que inclui ansiedade e preocupação (do sistema inibitório)<br />
com impulsividade e hostilidade (do sistema excitatório) (Lara & Akiskal, 2006).<br />
Zinbarg & Revelle (1989) testaram hipóteses derivadas dos modelos de<br />
personalidade de Eysenck e Gray, entre outros. Os resultados indicaram que a<br />
impulsividade e ansiedade estão mais associadas a diferenças individuais de<br />
desempenho do que a extroversão e o neuroticismo (Hall et al., 2000).<br />
Elaborando um modelo tridimensional da personalidade, também<br />
Cloninger (1987) e Cloninger et al. (1993), descreveram um modelo de<br />
personalidade baseado em sete dimensões, sendo quatro de temperamento<br />
(com base predominantemente biológica): Busca de Novidades, Evitamento de<br />
Dano e Dependência de Reforço Emocional e Persistência e três de carácter<br />
(com base predominantemente psicológica): Autorientação, Cooperação e<br />
Autotranscendência.<br />
A partir desta formulação foi desenvolvido o TCI (Temperament and<br />
Character Inventory (Cloninger et al., 1993; Cloninger, Pryzbeck, Svrakic &<br />
Wetzel, 1994) reunido 240 questões e destinado a estudas as a intensidade e<br />
as relaçõe sentre as sete dimensões referidas.<br />
Akiskal desenvolveu o seu modelo de temperamentos afetivos para<br />
caracterização de pacientes com perturbações do humor (Karam, Mneimnehm,<br />
Salamoun, Akiskal & Akiskal, 2005; Akiskal & Akiskal, 2005ab; Akiskal et al,<br />
1998).<br />
Neste modelo o temperamento é concebido a partir do padrão afetivo<br />
básico, que pode ser hipertímico, ciclotímico, irritável e depressivo, os quais<br />
foram propostos originalmente por Kraepelin (Kraepelin, 1921), e mais<br />
recentemente o tipo ansioso que foi adicionado por Akiskal (Akiskal & Akiskal,<br />
2005a). Estes cinco temperamentos afetivos são considerados a base de<br />
predisposição para o desenvolvimento dos transtornos do humor.<br />
43
Akiskal e seus colaboradores e seguidores desenvolveram uma estrutura<br />
classificativa dos temperamentos (Akiskal, 1985, 1994; Akiskal & Akiskal,<br />
2005ab) baseada, nos primeiros estadios dos seus estudos, na seguinte<br />
tipologia:<br />
- Temperamento depressivo: indivíduos preocupados, pessimistas,<br />
quietos, tímidos, indecisos e passivos. Têm uma conduta reservada, são<br />
resignados, reflexivos e com elevada tolerância para situações monótonas ou<br />
que exigem cautela.<br />
- Temperamento ciclotímico: indivíduos que alternam entre períodos de<br />
auto-confiança alta e baixa, estados apáticos e energéticos, pensamentos<br />
confusos e aguçados, humor tristonho e brincalhão, momentos introvertidos e<br />
expansivos, sonolência e pouca necessidade de sono.<br />
- Temperamento irritável: manifestação de irritabilidade como<br />
característica marcante e constante. Os indivíduos são ameaçadores,<br />
desconfiados, combativos e destrutivos.<br />
- Temperamento hipertímico: os indivíduos são dinâmicos, desejam<br />
estímulos e sensações de prazer, tem tendência para a impulsividade,<br />
curiosidade, extravagância e desorganização. Pretendem reacções afectivas<br />
rápidas e intensas, e possuem inquietação, tédio e irritabilidade.<br />
Em estudos posteriores viria a ser integrado o temperamento ansioso:<br />
caracterizado por disposição de personalidade exagerada em direção à<br />
preocupação. Caracteriza-se por um humor ansioso, com sensações<br />
desagradáveis de ansiedade manifestando-se por tremores, sudorese ou<br />
taquicardia, sempre com reações ansiosas em situações específicas (provas,<br />
trabalho, entrevistas, situações sociais, entre outros).<br />
Akiskal desenvolveu, ao longo do seu trabalho e dos seus colaboradores<br />
e seguidores, nos últimos 25 anos, uma escala de avaliação dos<br />
temperamentos afetivos (TEMPS-A – Temperament Evaluation of Memphis,<br />
Pisa, Paris and San Diego, Auto-questionnaire).<br />
A forma que atualmente existe está intimamente ligada com o<br />
desenvolvimento inicial de um instrumento de avaliação semiestruturado (Mood<br />
Clinic Data Questionnaire – MCDQ) desenvolvido para a recolha sistemática de<br />
diagnósticos clínicos (Akiskal et al., 1978), identificada que estava a dificuldade<br />
de formulação de diagnósticos numa banda muito estreita no que se referia às<br />
44
perturbações do humor, limitada igualmente pela formulação constante do DSM<br />
II (American Psychiatric Association, 1968).<br />
Com base em conceitos da escola alemã (Shneider, 1958), nas<br />
descrições de Kraeplin (1899/1921) e na sua própria experiência clínica, são é<br />
adotado o termo “temperamento” e operacionalizados quatro tipos de<br />
temperamentos: depressivo, ciclotímico, hipertímico e mais tarde irritável<br />
(Akiskal & Malya, 1987).<br />
É então publicada a primeira versão completa da Memphis clinician<br />
interview form for temperaments (Akiskal & Malya, 1987) que rapidamente<br />
colheu a atenção da comunidade científica pela sua facilidade de utilização na<br />
prática clínica. Esta primeira forma de avaliação dos temperamentos foi<br />
posteriormente validada através de diversos estudos nomeadamente através<br />
do denominado estudo colaborativo de Pisa (Placidi et al., 1998b, Akiskal et al.,<br />
1998).<br />
Surge assim, a primeira forma psicométrica validada de avaliação dos<br />
temperamentos afetivos – A TEMPS-I: Temperament Evaluation of Memphis,<br />
Pisa e San Diego –I).<br />
Foram igualmente comparados os estudos de Cloninger e Akiskal.<br />
Três estudos (Maremmani et al., 2005; Akiskal & Akiskal, 2005ab; Rózsa<br />
et al., 2008) foram conduzidos com avaliação simultânea com o TCI e a<br />
TEMPS, demonstrando essencialmente que o temperamento hipertímico está<br />
associado com alta busca de novidades (BN) e baixo evitamento do dano (ED);<br />
o irritável com alta BN e moderado ED; o ciclotímico com ambos altos; o<br />
ansioso com moderada BN e alto ED e finalmente que o temperamento<br />
depressivo está associado com baixa BN e alto ED. A dependência de reforço<br />
emocional e persistência estão fracamente correlacionadas com estes cinco<br />
temperamentos afetivos.<br />
Estudos subsequentes realizados em França (Hantouche & Akiskal, 1997)<br />
permitiram a incorporação do temperamento ansioso que já figurava na<br />
primeira formulação da forma de entrevista semiestruturada embora de forma<br />
rudimentar.<br />
A TEMPS-A (Autoquestionário) foi posteriormente desenvolvida em San<br />
Diego sob a denominação de Temperament Evaluation of Memphis, Pisa, Paris<br />
e San Diego Autoquestionnaire (TEMPS-A).<br />
45
Atualmente a TEMPS-A está validada para cerca de 25 países.<br />
Mais recentemente, Lara (2006) propôs, um modelo em que cada<br />
dimensão do temperamento propostas por Cloninger está relacionada com as<br />
emoções básicas de medo (evitação de dano), raiva (busca de novidades),<br />
apego (dependência de reforço emocional) e ambição ou determinação<br />
(persistência). Neste modelo, as dimensões apresentam distribuição normal,<br />
contemplando tanto a normalidade quanto as suas variações.<br />
Medo e raiva são as emoções mais básicas que constituem o<br />
temperamento, que são moduladas por uma função de controlo (Lara &<br />
Akiskal, 2006). O modelo dimensional baseado em traços de medo e raiva tal<br />
como proposto recentemente (Lara & Akiskal, 2006) adapta os conceitos de<br />
evitação de dano e busca de novidades de Cloninger e procura combinar as<br />
vantagens dessa abordagem ao modelo de Akiskal para temperamentos<br />
afetivos. Essa remodelação tem como objetivo diminuir as limitações de ambos<br />
os modelos. Este novo modelo integrativo incorpora as dimensões normais e<br />
patológicas, concebe perturbações do humor, comportamento e personalidade<br />
concomitantemente, e fundamenta-se em funções cerebrais nos níveis<br />
comportamental, cognitivo, neuroquímico e anatómico.<br />
A combinação dos traços de ativação (vontade/raiva), inibição (medo) e<br />
controle (dever-atenção) geraria os principais tipos de temperamentos afetivos<br />
propostos por Lara (ver Figura 3).<br />
Esses temperamentos afetivos formam a predisposição a perturbações<br />
do humor como a perturbação bipolar do tipo I em indíviduos com<br />
temperamento hipertímico e irritável, do tipo II em irritáveis e ciclotímicos,<br />
perturbações da ansiedade em ansiosos, perturbações depressiva major em<br />
depressivos, e perturbações de hiperatividade com défice da atenção e seus<br />
subtipos em lábeis, apáticos e desinibidos (Lara & Akiskal, 2006).<br />
46
Figura 3 - Caraterização dos temperamentos afetivos (Adaptado de Lara, 2006)<br />
Olhando o estado de arte do estudos do temperamento afetivo são<br />
importantes algumas referências.<br />
Erfurth et al., (2005a) desenvolveram um estudo com 1056 estudantes<br />
da Universidade de Westfalisch-Wilhelms, em Munster na Alemanha, usando a<br />
TEMPS-A com o objetivo de criar uma versão curta da escala e em utilizaram<br />
entre outros o Inventário de Depressão de Beck na medida da sintomatologia<br />
depressiva. Independentemente do resultado final relativo à referida versão<br />
curta da escala (briefTEMPS-M), na população estudada, o temperamento que<br />
apresentou valores médios mais elevados foi o temperamento hipertímico<br />
(M=20,62; SD=4,64) seguido do temperamento ciclotímico (M=15,73), do<br />
temperamento irritável (M=15,67), do temperamento depressivo (M=14,71) e do<br />
temperamento ansioso (M=14,69). Realça-se ainda neste estudo uma<br />
correlação significativa entre todos os temperamentos, excepto entre o<br />
hipertímico e a presença de sintomatologia depressiva.<br />
47
Usando o briefTEMPS-M com a mesma população referida no estudo<br />
anterior, Erfurth et al., (2005b) apresentaram os dados relativos ao estudo dos<br />
temperamentos por género. Refiram-se os valores mais elevados, de forma<br />
estatisticamente significativa para o temperamento depressivo, ciclotímico e<br />
ansioso entre o género feminino e o valor mais elevado para o temperamento<br />
hipertímico entre o género masculino.<br />
Também Figueira et al., (2008), num estudo envolvendo 1173<br />
estudantes universitários portugueses de várias áreas de estudos, com idades<br />
entre os 17 e 58 anos, encontraram resultados semelhantes para ambos os<br />
géneros com resultados mais elevados para os temperamentos depressivo<br />
(6,96), ciclotímico (7,26) e ansioso (9,68) entre o género feminino e mais<br />
elevados nos temperamentos hipertímico (12,13) e irritável (5,07) entre o<br />
género masculino.<br />
Numa fase preliminar à redação desta tese, <strong>Cordeiro</strong> et al., (2008)<br />
estudou um grupo de 47 profissionais de enfermagem de saúde mental e<br />
psiquiatria de hospitais do centro de Portugal, de ambos os sexos, com uma<br />
média de idades de 38,5 anos, tendo verificado uma dominância geral do<br />
temperamento hipertímico, apresentando os indivíduos do sexo feminino<br />
valores médios mais elevados nos temperamentos depressivo, ciclotímico e<br />
ansioso.<br />
Noutro estudo, mais recente, Figueira et al., (2009), com 1396<br />
estudantes do ensino superior de várias áreas incluindo Medicina, Psicologia,<br />
Artes, Engenharia, Direito e Enfermagem, encontraram resultados médios mais<br />
elevados para o temperamento hipertímico em todos os grupos com exceção<br />
dos estudantes de Enfermagem em que os resultados médios mais elevados<br />
foram registados para o temperamento ansioso. Também neste estudo foi<br />
verificada a correlação entre temperamentos verificando-se apenas a<br />
inexistência de correlação entre o temperamento hipertímico e irritável, que<br />
também já se verificara no estudo referenciado anteriormente (Figueira et al.,<br />
2008). A independência do temperamento hipertímico em relação ao irritável foi<br />
igualmente reportada por Blöink, Brieger, Akiskal & Marneros (2005) e por<br />
Pompili et al., (2008) com populações alemãs e italianas respetivamente.<br />
Blöink et al. (2005) estudaram 227 estudantes de medicina e psicologia<br />
tendo encontrado resultados muito similares com valores médios mais<br />
48
elevados de forma estatisticamente significativa, para o temperamento<br />
hipertímico entre o género masculino e para o temperamento depressivo e<br />
ansioso entre o género feminino. Além destes dados Blöink et al., (2005)<br />
mostraram ainda as correlações estatisticamente significativas entre o<br />
temperamento depressivo e todos os outros temperamentos, entre o<br />
temperamento hipertímico e o temperamento ansioso, entre o ciclotímico e<br />
irritável e entre o irritável e o ansioso.<br />
Nos estudos de validação da TEMPS-A para uma população japonesa<br />
(n=1391, média de idades de 37,1 anos) realizados por Matsumoto et al.,<br />
(2005), numa população não clínica, foram encontrados valores médios mais<br />
elevados para o temperamento depressivo embora neste estudo tenha sido<br />
utilizado um fator de correção cultural para este temperamento. Neste estudo<br />
os temperamentos depressivo, ciclotímico, irritável e ansioso mostraram estar<br />
correlacionados positivamente entre si sendo que o temperamento hipertímico<br />
não evidenciou correlação com os outros temperamentos, excetuando com o<br />
irritável.<br />
Num estudo realizado na Turquia com 658 indivíduos de ambos os<br />
sexos, com média de idades de 31,6 anos, Vahip et al., (2005) registaram<br />
como temperamentos dominantes o depressivo, irritável e ansioso com<br />
resultados mais elevados para o temperamento ansioso entre o género<br />
feminino e para o temperamento hipertímico entre o género masculino.<br />
Signoretta, Maremmani, Liguori, Perugi & Akiskal (2005), num estudo<br />
integrado no estudo colaborativo Pisa-San Diego sobre temperamentos<br />
afetivos e traços de personalidade, com 1010 estudantes, de ambos os sexos,<br />
com média de idades de 18 anos, identificaram como temperamento afetivo<br />
dominante (44,2%) o temperamento hipertímico. Neste estudo foram ainda<br />
registadas associações significativas entre o temperamento ciclotímico e<br />
sintomatologia do campo das perturbações de ansiedade em ambos os sexos.<br />
Vásquez et al., (2007) no estudo de validação de uma versão da<br />
TEMPS-A para a população argentina realizado em Buenos Aires (Argentina),<br />
junto de 932 indivíduos de ambos os sexos, com média de idades de 35,4 anos<br />
encontrou correlações estatisticamente significativas e fortes entre o<br />
temperamento depressivo e o ansioso e entre o ansioso e o ciclotímico.<br />
49
Noutro estudo, para a validação da versão libanesa-árabe da TEMPS-A,<br />
com 1320 indivíduos, de ambos os sexos, com média de idades de 43 anos,<br />
Karam et al., (2005) encontraram correlações fortes entre o temperamento<br />
ansioso e ciclotímico. Verificaram também que os resultados médios mais<br />
elevados do temperamento depressivo, ciclotímico e ansioso se verificavam<br />
entre o sexo feminino enquanto os indivíduos do sexo masculino obtiveram<br />
resultados médios mais elevados no temperamento hipertímico. Foi ainda<br />
observada neste estudo uma tendência de aumento dos resultados médios do<br />
temperamento depressivo com a idade ao inverso do verificado nos<br />
temperamentos ciclotímico e irritável.<br />
Rózsa et al., (2008) no estudo de validação da TEMPS-A para uma<br />
população húngara constituída por 1132 estudantes universitários de ambos os<br />
sexos com média de idades de 27,7 anos, verificou resultados médios mais<br />
elevados para o temperamento depressivo e ansioso entre o género feminino e<br />
para o temperamento hipertímico entre o género masculino. Resultados<br />
similares foram encontrados por Blöink et al., (2005), Vahip et al., (2005) e<br />
Karam et al., (2005a).<br />
Rózsa et al., (2008) evidenciaram igualmente a correlação<br />
estatisticamente significativa entre todos os temperamentos afetivos e a idade<br />
com resultados de correlação em sentido inverso com o ciclotímico, hipertímico<br />
e irritável bem como a correlação entre todos os temperamentos com exceção<br />
do temperamento hipertímico que mostrou alguma independência<br />
relativamente aos outros temperamentos.<br />
Nos estudos de validação para a Polónia, com um total de 521<br />
estudantes do ensino secundário, Borkowska et al. (2010), registaram como<br />
temperamento dominante o depressivo com as correlações positivas mais<br />
fortes entre temperamentos a serem registadas entre o depressivo e o ansioso<br />
e entre o ciclotímico e o irritável. Os valores médios mais elevados do<br />
temperamento hipertímico foram encontrados entre o sexo masculino<br />
comparativamente ao sexo feminino. O sexo feminino revelou valores médios<br />
estatisticamente mais elevados no temperamento ciclotímico e ansioso.<br />
Em síntese podemos verificar pelos estudos apresentados uma<br />
tendência para a associação do temperamento depressivo, ciclotímico e<br />
ansioso ao sexo feminino e do temperamento hipertímico e irritável ao sexo<br />
50
masculino. Nos estudos que estudaram as correlações entre temperamentos<br />
verifica-se a tendência para que os temperamentos não sejam independentes<br />
entre si mostrando sobreposições de características.<br />
A este propósito, Akiskal et al., (1998) e Karam et al. (2005) referem que<br />
o temperamento ansioso apresenta sobreposições de características com o<br />
temperamento depressivo e ciclotímico, assim como o temperamento irritável<br />
com o hipertímico e o ciclotímico.<br />
Estão igualmente relatadas correlações entre os temperamentos afetivos<br />
e a idade com evidências para relações diretas entre a idade e o temperamento<br />
depressivo e inversas entre o temperamento ciclotímico e a idade.<br />
Outros estudos têm incidido o seu foco sobre a estabilidade do<br />
temperamento afetivo tentando perceber se alguns temperamentos são mais<br />
estáveis do que outros.<br />
Para Placidi, Maremmani, Signoretta, Liquori & Akiskal (1998a, p.199) é<br />
geralmente aceite que o temperamento não é totalmente estável, que pode<br />
mudar com o desenvolvimento, e também que alguns temperamentos têm mais<br />
propensão à instabilidade que outros.<br />
Placidi et al., (1998a) referem que igualmente que existe um interesse<br />
renovado nas teses de Kraepelin segundo as quais a desregulação<br />
temperamental em indivíduos jovens representa o fundamento constitucional<br />
do aparecimento de episódios de doença maníaco-depressiva.<br />
Ainda segundo estes autores a organização do temperamento em<br />
ciclotímico, depressivo, hipertímico e irritável pode representar um fundamento<br />
para a bipolaridade.<br />
No estudo efetuado por Placidi et al., (1998a), que avaliou, com recurso<br />
à TEMPS-I, 206 alunos italianos do ensino secundário com idades entre os 14<br />
e os 18 anos, em dois momentos separados por 2 anos, os temperamentos<br />
afetivos revelaram um nível baixo a moderado de estabilidade sendo o<br />
ciclotímico o temperamento mais estável ao longo do tempo.<br />
Peruggi et al., (2010) concluiu que o temperamento afetivo e os traços<br />
psicopatológicos, tais como ansiedade de separação e sensibilidade<br />
interpessoal têm impacto sobre as manifestações clínicas e o curso da<br />
perturbação bipolar.<br />
51
Os estudos de Peruggi et al., (2010) permitem a organização dos<br />
temperamentos em dois subtipos: estáveis e instáveis. Nos temperamentos<br />
estáveis situar-se-ia o temperamento hipertímico e nos temperamentos<br />
instáveis os temperamentos ciclotímico, ansioso, depressivo e irritável.<br />
Efetivamente, olhando esta questão da estabilidade do ponto de vista<br />
psicopatológico, já Kraepelin (1921) havia observado que os temperamentos<br />
ciclitímico, irritável, ansioso e depressivo eram base fértil para o aparecimento<br />
de episódios maníaco-depressivos o que o levaram a formular a hipótese de os<br />
temperamentos serem formas “atenuadas” de doença bipolar ou de outras<br />
formas clínicas (Perugi et al., 2010).<br />
Perugi et al. (2010) verificaram que numa população com doença bipolar<br />
tipo I, os temperamentos ciclitímico, irritáveis, ansiosos e depressivos estavam<br />
inversamente correlacionados com o temperamento hipertímico, o que é<br />
compatível com outros estudos (Brieger at al., 2003; Gonda et al., 2009 e<br />
Karam et al., 2007). Conclui Perugi et al., (2010, p.7) que, pelo menos do ponto<br />
de vista psicométrico, as disposições dos temperamentos afetivos são<br />
realmente 2 em vez de 4 ou 5: Depressivo-Ciclotímico-Ansioso-Irritável e<br />
Hipertímico. O primeiro grupo parece ser caracterizado pela instabilidade<br />
emocional e o segundo pela intensidade emocional.<br />
52
3. RELAÇÕES ENTRE VINCULAÇÃO E TEMPERAMENTO<br />
Uma revisão da literatura sobre a relação entre vinculação e<br />
temperamento em populações adolescentes revelou-se uma tarefa árdua.<br />
Para Chotai, Jonasson, Hagglof & Adolfsson (2005) os estilos de<br />
vinculação em adolescentes demonstraram estar associados com variáveis de<br />
saúde, temperamento e traços de personalidade. Neste estudo que utilizou<br />
como medidas o ASQ - Attachment Style Questionnaire (Feeney, Noller &<br />
Hanrahan, 1994) e o JTCI – Temperament and Character Inventory, júnior<br />
version (Cloninger et al., 1993), aplicadas a uma população de 426<br />
adolescentes suecos de ambos os sexos com média de idades de 15,3 anos, o<br />
estilo de vinculação seguro foi correlacionado significativa e negativamente<br />
com o evitamento do dano (ED) e significativa e positivamente com busca de<br />
novidades (BN), dependência de reforço emocional e persistência (DRE). O<br />
estilo de vinculação preocupado (ansioso/ambivalente) foi correlacionado<br />
significativa e positivamente com ED e BN.<br />
Ainda no âmbito da relação entre temperamentos afetivos e vinculação,<br />
recordamos três estudos (Maremmani et al., 2005; Akiskal et al., 2005ab;<br />
Rózsa et al., 2008) já anteriormente referenciados, conduzidos com avaliação<br />
simultânea com o TCI e a TEMPS, demonstrando essencialmente que o<br />
temperamento hipertímico está associado com alta busca de novidades (BN) e<br />
baixo evitamento do dano (ED); o irritável com alta BN e moderado ED; o<br />
ciclotímico com ambos altos; o ansioso com moderada BN e alto ED e<br />
finalmente que o temperamento depressivo está associado com baixa BN e alto<br />
ED. A dependência de reforço emocional e persistência está fracamente<br />
correlacionadas com estes cinco temperamentos afetivos.<br />
A interligação entre estes vários estudos sugere-nos uma associação<br />
mais clara entre o temperamento irritável, ciclotímico e ansioso e o estilo<br />
preocupado e entre o temperamento hipertímico e ansioso e o estilo seguro.<br />
No entanto, devemos referenciar que a maioria dos estudos sobre a<br />
relação entre temperamento e vinculação têm sido conduzidos junto de<br />
53
populações muito jovens (avaliação de características temperamentais em<br />
crianças de baixa idade e vinculação aos pais) não sendo frequente encontrar<br />
na literatura estudos com populações jovens ou jovens adultas.<br />
A relação entre o temperamento e vinculação em crianças tem sido<br />
discutida na literatura a partir de duas perspetivas conceptuais e<br />
metodológicas.<br />
A teoria da vinculação tem mantido que o desenvolvimento da relação<br />
entre a criança e o cuidador é uma co-construção decorrente da produção de<br />
sinais por parte da criança que atraem a atenção do cuidador (sorriso) e a<br />
prestação de cuidados (choro), e da forma como o cuidador responde a esses<br />
sinais (sensibilidade e responsividade), acreditando que a qualidade da<br />
vinculação estará mais relacionada com o comportamento do cuidador que<br />
com diferenças na produção de comportamentos por parte da criança<br />
(Mangelsdorf & Frosch, 1999; Vaughan & Bost, 1999).<br />
Outros teóricos do temperamento têm argumentado que este pode afetar<br />
a forma como as crianças chamam a atenção dos seus cuidadores realçando<br />
no entanto que a atitude de resposta do cuidador é o fator que mais afeta a<br />
qualidade da ligação (Sroufe, 1985).<br />
Do ponto de vista metodológico, a relação entre temperamento e<br />
vinculação foi examinada em primeiro lugar em estudos que avaliavam a<br />
vinculação em Situação Estranha (Ainsworth, Blehar, Waters & Wall, 1978).<br />
Outros pesquisadores sugeriram que o comportamento em Situação Estranha<br />
podia ser influenciado pelo temperamento da criança, mas apenas na medida<br />
em que afetava as respostas desta à separação (Vaughan & Bost, 1999).<br />
Alguns investigadores, no entanto, argumentaram que o temperamento<br />
pode desempenhar um papel ainda mais determinante na vinculação. Fox,<br />
Kimmerly & Schafer (1991), por exemplo, conduziram uma meta-análise<br />
considerando os estudos (11 estudos) que demonstravam a concordância dos<br />
resultados de vinculação entre mãe e pai. Estes resultados sugerem, para os<br />
autores, que o temperamento pode influenciar o comportamento. Além disso,<br />
noutro estudo sobre a relação entre a inibição comportamental e a vinculação,<br />
Calkins & Fox (1992) relataram que as crianças classificadas como resistentes<br />
tendiam mais a demonstrar inibição comportamental quando comparadas com<br />
outras crianças com outras classificações quanto à vinculação.<br />
54
Em conjunto parecem surgir evidências compatíveis com alguma<br />
controvérsia relativamente às contribuições das classificações do<br />
temperamento para a vinculação, sendo esse contributo mais indireto do que<br />
direto (Vaughan & Bost, 1999) sendo mais correto focar a análise na relação do<br />
que propriamente no cuidador ou na criança, e nas suas características<br />
temperamentais, isoladamente.<br />
Sobre as hipóteses de relações que emergem do estado de arte atual<br />
cumpre antes de mais referir que ao estudarmos a relação entre vinculação e<br />
temperamento estudamos dois constructos de natureza diferente passiveis de<br />
relações recursivas.<br />
Mas centremos a questão no essencial. Haverá uma relação de<br />
causalidade entre os padrões de vinculação parental e amorosa e a<br />
estabilidades dos temperamentos?<br />
Deste conjunto de estudos relatados sobre o estado de arte da<br />
investigação sobre os conceitos de vinculação parental e amorosa e de<br />
temperamento afetivo bem como da sua relação emergiram as nossas<br />
hipóteses de investigação que enumeraremos no Capítulo que se segue<br />
55
PARTE II<br />
ESTUDO EMPÍRICO<br />
56
1. OBJETO DE ESTUDO<br />
O objeto principal desta investigação situa-se no estudo e compreensão<br />
das relações entre a vinculação amorosa e parental e o temperamento afetivo<br />
numa população jovem adulta.<br />
Uma análise detalhada do campo teórico e empírico que escolhemos<br />
deu-nos as mais variadas ideias sobre as variáveis que deveríamos considerar<br />
e que mais impacto poderiam ter no nosso tema de estudo.<br />
Esta análise foi ainda profícua na identificação de questões que<br />
merecem ser aprofundadas do ponto de vista teórico ou outras que merecem<br />
um estudo mais clarificador sobre o seu contributo para a problemática<br />
adolescente em geral e para o conhecimento sobre os temperamentos afetivos<br />
em particular.<br />
Com base nestes pressupostos foi construído um desenho de<br />
investigação que procurou responder às questões colocadas e que suportasse<br />
hipóteses inovadoras.<br />
Apoiámo-nos nos principais modelos de explicação teórica do<br />
temperamento afetivo e da vinculação em jovens adultos.<br />
Seria incontornável considerar os paradigmas teóricos explicativos<br />
destes dois temas como o modelo de Bowlby e seus seguidores para a<br />
vinculação ou o de Akiskal e seus seguidores para o temperamento afetivo.<br />
57
2. OBJETIVOS E HIPÓTESES DE ESTUDO<br />
Delineámos na parte introdutória, as principais linhas orientadoras deste<br />
estudo, descrevemos a problemática que nos propomos estudar, definimos os<br />
conceitos em análise e enquadrámos este estudo no contexto do conhecimento<br />
científico atual. As variáveis que emergem desta pesquisa têm sido alvo de<br />
vários estudos, embora de forma isolada ou no âmbito de outros estudos com<br />
outros objetivos.<br />
Em associação, o estudo do temperamento afetivo e da vinculação<br />
parental em jovens adultos parece dar aqui os primeiros passos. Por isso o<br />
consideramos um estudo original de uma temática (re) emergente.<br />
Tal como referido na Introdução a problemática que se constitui como o<br />
ponto central da nossa investigação é a análise das relações entre os conceitos<br />
de temperamento afetivo e vinculação parental e amorosa na perspetiva de<br />
melhor entender como os temperamentos afetivos são moderadores (ou são<br />
moderados) pelos fatores e padrões de vinculação parental e amorosa.<br />
objetivos:<br />
Esta formulação geral levou-nos ainda a especificar os seguintes<br />
-Caracterizar os temperamentos afetivos, conceptualizados em estáveis e<br />
instáveis;<br />
-Caracterizar os fatores e os padrões de vinculação parental e amorosa;<br />
-Correlacionar os temperamentos afetivos com os fatores de vinculação<br />
parental e amorosa.<br />
Formulámos, assim, as seguintes hipóteses de investigação:<br />
H1 – Padrões seguros de vinculação parental correlacionam-se positivamente<br />
com temperamentos estáveis;<br />
H2 – Padrões seguros de vinculação amorosa correlacionam-se positivamente<br />
com temperamentos estáveis.<br />
58
3. MATERIAL E MÉTODOS<br />
Apresentamos, neste capítulo, os aspetos metodológicos bem como os<br />
procedimentos adotados nas diversas etapas do estudo, na seleção dos<br />
instrumentos e da amostra, bem como na recolha e análise de dados.<br />
3.1. Desenho da investigação<br />
No estudo foram incluídas algumas variáveis de caracterização ou<br />
sociodemográficas.<br />
Numa primeira fase são estudados os dados relativos à vinculação<br />
parental e amorosa bem como a sua relação com as referidas variáveis<br />
sociodemográficas.<br />
Numa segunda fase são estudados os dados relativos aos tipos de<br />
temperamentos afetivos bem como a sua relação com as variáveis<br />
sociodemográficas delineadas.<br />
Ainda numa terceira fase é estudada a relação entre os fatores e<br />
padrões de vinculação parental e amorosa e os temperamentos afetivos.<br />
Procura-se que os dados permitam compreender as relações entre as<br />
variáveis que funcionam como indicadores dos conceitos em estudo<br />
possibilitando assim encontrar um modelo de explicação para a relação<br />
dialógica e recursiva entre o temperamento afetivo e a vinculação.<br />
Optámos por um estudo de desenho correlacional, não experimental,<br />
com tratamento quantitativo.<br />
As variáveis em estudo foram agrupadas de acordo com as dimensões a<br />
que pertencem:<br />
59
a) Variáveis sociodemográficas<br />
Incluem-se variáveis relativas a dados de caracterização pessoal<br />
(género, idade, progenitor(es) com quem coabita, fratria e relação de namoro).<br />
b) Vinculação<br />
A vinculação é analisada em função dos dados recolhidos pela aplicação<br />
das seguintes escalas:<br />
Vinculação Parental<br />
Analisada em função dos dados recolhidos pela escala de medida<br />
denominada Questionário de Vinculação ao Pai e à Mãe – QVPM, Versão IV<br />
(Matos & Costa, 2001a) aplicado em duas vertentes: uma relativa à Mãe e<br />
outra relativa ao Pai.<br />
Vinculação amorosa<br />
Analisada em função dos dados recolhidos pela escala de medida<br />
denominada Questionário de Vinculação Amorosa – QVA, Versão III (Matos &<br />
Costa, 2001b).<br />
c) Temperamento afetivo<br />
O temperamento afetivo é analisado em função dos dados recolhidos<br />
pela aplicação da escala de medida TEMPS-A - Escala de Temperamento de<br />
Memphis, Pisa, Paris e San Diego, validada para a população portuguesa<br />
(Akiskal & Akiskal, 2005ab; Figueira et al., 2008 e 2009).<br />
Como técnica de investigação e recolha de dados foi utilizado o<br />
questionário. Na construção do questionário procurámos garantir que os<br />
conceitos que pretendíamos estudar fossem mensuráveis através de medidas<br />
simples, observáveis e quantificáveis.<br />
O instrumento de colheita de dados (Anexo I), construído para este<br />
estudo, foi multidimensional e composto pelas escalas de avaliação atrás<br />
descritas e que especificaremos mais à frente.<br />
3.2. Amostragem<br />
Decidimos adotar como estratégia inquirir o maior número possível de<br />
indivíduos, uma vez que os erros amostrais, tomando como referência a<br />
totalidade da população e amostra, tendem a reduzir-se aumentando o<br />
tamanho da amostra (Bryman & Cramer, 1992).<br />
60
Dadas as limitações e as disponibilidades de acesso a uma população<br />
jovem adulta mais abrangente foi adotada uma modalidade de amostragem<br />
que pode designar-se por não probabilística de conveniência, incluindo<br />
estudantes do Curso Superior de Licenciatura em Enfermagem.<br />
É reconhecida a limitação deste tipo de amostragem designadamente ao<br />
nível da generalização de resultados e conclusões para uma população<br />
adolescente e jovem adulta. Por tal motivo procurou-se alargar o número de<br />
inquiridos de forma a esbater enviesamentos.<br />
Por uma questão de proximidade geográfica foram efetuados contactos<br />
informais com todas as escolas do Ensino Público e Privado que ministravam o<br />
Curso Superior de Licenciatura em Enfermagem e que geograficamente<br />
estivessem situadas em zonas geográficas aceites universalmente. Tomámos<br />
em consideração as zonas coincidentes com as Secções Regionais do Sul e do<br />
Centro da Ordem dos Enfermeiros: distritos de Lisboa, Santarém, Portalegre,<br />
Setúbal, Évora, Beja, Faro, Leiria, Coimbra, Viseu, Aveiro, Guarda e Castelo<br />
Branco. Nesses contactos informais foram explicitadas as características e<br />
objetivos do estudo bem como a metodologia de recolha de dados. Foi<br />
estabelecido uma data de novo contacto para aferir da disponibilidade<br />
definitiva.<br />
Mostraram disponibilidade as Escolas Superiores de Saúde de<br />
Portalegre e Beja, a Escola Superior de Saúde Dr. Lopes Dias de Castelo<br />
Branco, a Escola Superior de Enfermagem de S. João de Deus da<br />
Universidade de Évora e a Escola Superior de Saúde da Guarda a quem foram<br />
formalizados pedidos que foram devidamente autorizados.<br />
Por uma questão logística não foi possível incluir os estudantes da<br />
Escola Superior de Saúde da Guarda.<br />
Assim, a amostra deste estudo (N=836) foi retirada da população do<br />
Ensino Superior, de entre os estudantes do Curso Superior de Licenciatura em<br />
Enfermagem do Centro e Sul de Portugal e que frequentava, no ano letivo de<br />
2007/2008 as respetivas Escolas:<br />
- Escola Superior de Saúde de Portalegre (N=255)<br />
- Escola Superior de Enfermagem de S. João de Deus – Universidade de Évora<br />
(N=123)<br />
61
- Escola Superior de Saúde de Beja (N=245)<br />
- Escola Superior de Saúde Dr. Lopes Dias de Castelo Branco (N=213)<br />
Foram definidos como critérios de inclusão na amostra:<br />
- Ter respondido à totalidade do questionário;<br />
- Ter idade superior a 18 anos.<br />
Da aplicação exaustiva das regras de inclusão resultou um grupo de<br />
estudo de N=760 inquiridos.<br />
3.3. Medidas<br />
Foram utilizadas as seguintes medidas, incluídas no questionário atrás<br />
referido:<br />
a) Avaliação da vinculação parental<br />
Foi utilizado o Questionário de Vinculação ao Pai e à Mãe – QVPM,<br />
Versão IV (Matos & Costa, 2001a) aplicado de duas formas: uma relativa à<br />
mãe e outra relativa ao pai (Anexo I – Parte 1).<br />
O QVPM é um instrumento de autorelato construído com o objetivo de<br />
avaliar as representações de vinculação que os adolescentes e jovens adultos<br />
têm relativamente a cada uma das figuras parentais (pai e mãe avaliados em<br />
separado) (Moura & Matos, 2008).<br />
O QVPM está estruturado numa escala ordinal (1 a 6), tipo Likert, sendo<br />
o valor 6 o valor a indicar quando a afirmação descreve de uma forma<br />
totalmente correta e completa a opinião do inquirido, e o valor 1 o valor a<br />
indicar quando a afirmação não corresponde de todo à opinião do inquirido. O<br />
formato de resposta contém seis hipóteses de escolha, três de concordância (4<br />
a 6), três de desacordo (1 a 3).<br />
É pedido aos participantes, adolescentes ou jovens adultos, que<br />
identifiquem a resposta que melhor exprime o modo como se sentem com cada<br />
um dos seus pais no momento actual, posicionando-se numa escala<br />
de Likert de 6 pontos que varia de acordo com as seguintes<br />
alternativas: Discordo totalmente, Discordo, Discordo moderadamente,<br />
Concordo moderadamente, Concordo, Concordo totalmente.<br />
62
O instrumento de recolha de dados está organizado em duas colunas de<br />
resposta, separadamente para o pai e para a mãe. A cada alternativa de<br />
resposta é atribuída uma pontuação, de 1 a 6 respectivamente, constituindo a<br />
média do fator o somatório dos itens pertencentes à dimensão a dividir por 10.<br />
Este questionário não permite aceder a um valor único da vinculação aos pais,<br />
mas remete para uma abordagem tridimensional da vinculação para cada uma<br />
das figuras parentais.<br />
É composto por itens organizados numa estrutura de vinculação<br />
composta de 3 fatores: inibição da exploração e individualidade (IEI), qualidade<br />
do laço emocional (QLE) e ansiedade de separação e dependência (ASD).<br />
O fator inibição da exploração e individualidade pretende avaliar a<br />
perceção de restrições à expressão da individualidade própria. O fator<br />
qualidade do laço emocional pretende avaliar a importância da figura parental<br />
enquanto figura de vinculação, percebida como fundamental e única no<br />
desenvolvimento do sujeito, a quem este recorrerá em situações de dificuldade<br />
e com quem projeta uma relação duradoura. O fator ansiedade de separação e<br />
dependência avalia a experiência de ansiedade e de medo da separação da<br />
figura de vinculação como reveladora de uma relação de dependência.<br />
A escala é constituída por 30 questões, sendo cada dimensão composta<br />
por 10 questões:<br />
Inibição da exploração e individualidade (n=10): 1, 4, 7, 10, 13, 16, 19,<br />
22, 25, 28;<br />
Qualidade do laço emocional (n=10): 2, 5, 8, 11, 14, 17, 20, 23, 27, 30;<br />
Ansiedade de separação e dependência (n=10): 3, 6, 9, 12, 15, 18, 21,<br />
24, 26, 29.<br />
As qualidades psicométricas desta medida têm sido testadas com<br />
recurso a diversas amostras independentes, tendo evidenciado indicadores de<br />
validade e fiabilidade adequados (Matos & Costa, 2006).<br />
Nos estudos mais recentes (Moura & Matos, 2008), os três fatores<br />
apresentam valores de de Cronbach bastante aceitáveis: na versão Pai o<br />
fator IEI um =0,79, o fator QLE um =0,94 e o fator ASD um =0,86.<br />
Relativamente à versão Mãe, o fator IEI revela um =0,80, o fator QLE um<br />
=0,87 e o fator ASD um = 0,82.<br />
63
Para este estudo os três fatores apresentaram valores de consistência<br />
interna (Alpha de Cronbach bastante aceitáveis). Relativamente à versão Mãe,<br />
o fator IEI apresentou um =0,85, o fator QLE um =0,90 e o fator ASD um =<br />
0,83.<br />
Na versão Pai o fator IEI apresentou um =0,85, o fator QLE um =0,95<br />
e o fator ASD um = 0,87.<br />
b) Avaliação da vinculação amorosa<br />
Efetuada com recurso ao Questionário de Vinculação Amorosa – QVA,<br />
Versão III (Matos & Costa, 2001b) (Anexo I – Parte 2).<br />
O QVA é um instrumento de autorelato construído com o objetivo de<br />
medir a perceção de adolescentes e jovens adultos sobre a qualidade dos<br />
vínculos com pares amorosos (namorado/a)<br />
O QVA está estruturado numa escala ordinal (1 a 6), tipo Likert, sendo o<br />
valor 6 o valor a indicar quando a afirmação descreve de uma forma totalmente<br />
correta e completa a opinião do inquirido, e o valor 1 o valor a indicar quando a<br />
afirmação não corresponde de todo à opinião do inquirido. O formato de<br />
resposta contém seis hipóteses de escolha, três de concordância (4 a 6), três<br />
de desacordo (1 a 3).<br />
A qualidade dos vínculos é referenciada a uma estrutura de vinculação<br />
em torno de 4 fatores: confiança, dependência, evitamento e ambivalência em<br />
relação ao par amoroso, enquanto figura de vinculação.<br />
A escala é constituída por 52 questões; sendo cada dimensão composta por<br />
13 questões:<br />
Confiança (n=13): 1, 5, 12, 14*, 17*, 19, 24*, 29, 35, 37*, 42, 49*, 52 (*<br />
itens invertidos)<br />
Dependência (n=13): 2, 6, 10, 15, 21, 22, 25, 32, 33, 38, 43, 47, 50;<br />
Evitamento (n=13): 3, 7, 11, 16, 18, 23, 27, 30, 34, 40, 44, 45, 51;<br />
Ambivalência (n=13): 4, 8, 9, 13, 20, 26, 28, 31, 36, 39, 41, 46, 48.<br />
Nos estudos de validação da escala (Matos, Barbosa e Costa, 2001) a<br />
avaliação da consistência interna da escala apontou para valores elevados em<br />
todas os fatores ( entre 0,75 e 0,90) sendo o fator ambivalência o que revelou<br />
menor consistência interna.<br />
64
O QVA demonstrou, neste estudo, uma boa consistência interna<br />
avaliada pelo Alpha de Cronbach () com valores entre 0,85 e 0,91 para os<br />
fatores: evitamento (=0,85), dependência (=0,86), ambivalência (=0,87) e<br />
confiança (=0,91).<br />
c) Avaliação do temperamento afetivo<br />
A estrutura do temperamento tal como referida por Akiskal & Akiskal<br />
(2005ac) mostra traços de afetividade como atributos de valor adaptativo,<br />
fornecendo uma descrição dos inquiridos e das suas vulnerabilidades,<br />
acentuando características pessoais. Esta abordagem foi posteriormente<br />
alargada aos estudantes de arte e ao estudo do temperamento em diferentes<br />
domínios profissionais e a diferentes populações. Em várias populações,<br />
Akiskal et al. (2005b) encontrou características temperamentais associadas a<br />
várias características sociodemográficas, com relevância para a área<br />
profissional.<br />
Com este pano de fundo tentamos averiguar os temperamentos<br />
associados a uma população portuguesa de adolescentes e jovens adultos,<br />
solteiros, com idades compreendidas entre os 18 e os 36 anos, utilizando a<br />
Escala TEMPS-A, Escala de Temperamento de Memphis, Pisa, Paris e San<br />
Diego, validação para a população portuguesa (Akiskal & Akiskal, 2005ab;<br />
Figueira et al., 2008) (Anexo 1 – Parte 3).<br />
Esta medida foi desenvolvida por Akiskal e colaboradores (Akiskal &<br />
Akiskal, 2005ab) e encontra-se traduzida em 12 línguas.<br />
A TEMPS-A é uma escala composta por 110 itens e construída de forma<br />
a fornecer cinco disposições ou dimensões temperamentais: temperamento<br />
depressivo – itens 1 a 21 (21 itens), temperamento ciclotímico – itens 22 a 42<br />
(21 itens), temperamento hipertímico – itens 43 a 63 (21 itens), temperamento<br />
irritável – itens 64 a 84 (21 itens, menos um no caso do género feminino) e<br />
temperamento ansioso – itens 85 a 110 (26 itens).<br />
É uma escala de autoresposta tipo “Verdadeiro” e “Falso”, que avalia<br />
características estáveis/subjacentes relacionadas com o temperamento da<br />
pessoa (e.g. eu sou por natureza uma pessoa desagradada; eu sou<br />
normalmente uma pessoa optimista e alegre). A pontuação obtem-se a partir<br />
65
da atribuição do valor zero (0) para “Falso” e um (1) para “verdadeiro”, e<br />
consequente somatório para cada subescala.<br />
Sujeitos com pontuação acima do ponto de corte de cada subescala<br />
foram considerados como tendo temperamento excessivo: 13 pontos para o<br />
temperamento depressivo; 16 pontos para o ciclotímico; 20 para o hipertímico;<br />
12 para o irritável e 19 para o ansioso (Figueira et al., 2008).<br />
O estudo de validação para a população portuguesa (Figueira et al.,<br />
2008) confirmou os 5 fatores e apresentou um coeficiente de consistência<br />
interna no limite do aceitável (α = 0.67 a 0.83).<br />
No presente estudo, a escala TEMPS-A revelou, em geral, uma boa<br />
consistência interna com um Alpha () de Cronbach de 0,87 para a escala total<br />
e um de Cronbach (entre 0,63 e 0,82) para os vários temperamentos de<br />
=0,63 (depressivo), =0,82 (ciclotímico), =0,76 (hipertímico), =0,75<br />
(irritável) e =0,84 (ansioso), resultados sobreponíveis aos encontrados nos<br />
estudos efetuados em Portugal (Figueira et al., 2008, 2009), entre 0,67 e 0,83,<br />
revelando uma consistência moderada a boa da escala.<br />
Dado o facto das subescalas do temperamento afetivo possuírem<br />
diferentes números de itens de resposta (depressivo – 21 itens; ciclotímico – 21<br />
itens; hipertímico – 21 itens; irritável – 21 itens e ansioso – 26 itens), para a<br />
obtenção de fatores de comparação entre valores das cinco subescalas do<br />
temperamento foi necessário recorrer à padronização de valores.<br />
A padronização de valores das subescalas foi obtida com recurso aos Z-<br />
score que definem um grau de cada temperamento (Figueira et al., 2008)<br />
sendo que o conceito de temperamento dominante deriva da comparação de Z-<br />
score obtidos por cada sujeito em todos as subescalas de temperamento. Foi<br />
definido um intervalo com variação acima e abaixo de um (1) Z-score da média<br />
(Z1=média±1DP) sendo este valor considerado o resultado médio da<br />
população. Os resultados padronizados foram graduados como: Ligeiramente<br />
positivos (Z1 a Z2), ligeiramente negativos (-Z1 a –Z2), moderadamente<br />
positivos (>Z2) e moderadamente negativos (< -Z2). Foi definido um ponto de<br />
corte acima de 2 desvios-padrão na consideração do temperamento dominante<br />
(Figueira et al., 2008; Vahip et al., 2005).<br />
66
Por uma questão de metodologia, escolhemos para variáveis<br />
sociodemográficas de associação com o temperamento afetivo, o género, a<br />
idade, o(s) progenitor(es) com quem coabita(m), a existência de fratria e a<br />
existência de uma relação de namoro.<br />
2008.<br />
3.4. Procedimentos de recolha de dados<br />
A recolha de dados decorreu entre os meses de Janeiro e Junho de<br />
Tal como referido anteriormente participaram neste estudo um total de<br />
N=836 estudantes do Curso Superior de Licenciatura em Enfermagem das<br />
Escolas Superiores de Saúde de Portalegre, Beja e Castelo Branco e da<br />
Escola Superior de Enfermagem de S. João de Deus da Universidade de<br />
Évora.<br />
A recolha de dados, através do preenchimento do questionário, foi<br />
efetuada em sala de aula, com a presença do investigador.<br />
3.5. Procedimentos de análise e tratamento de dados<br />
Os dados recolhidos para este estudo foram lançados e editados para<br />
suporte informático em base de dados do programa SPSS ® (Statiscal Package<br />
for Social Sciences) na versão 17.0. Durante a construção da base de dados<br />
foram codificadas as variáveis necessárias ao estudo respeitando os seus<br />
níveis de medida.<br />
Os dados são apresentados respeitando critérios de simplicidade da<br />
leitura e compreensão da informação.<br />
Os dados de cada variável são apresentados respeitando as suas<br />
características bem como as medidas que lhe são aplicáveis (frequências,<br />
percentagens, medidas de tendência central ou medidas de dispersão).<br />
Na análise das características das medidas utilizadas ou das variáveis<br />
delas extraídas foram usadas várias técnicas e testes estatísticos.<br />
67
Para a análise e referenciação da fiabilidade dos instrumentos<br />
recorremos à análise da consistência interna das escalas de medida através do<br />
coeficiente Alpha de Cronbach definido como a correlação que se espera obter<br />
entre uma escala usada e outras escalas hipotéticas do mesmo universo com o<br />
mesmo número de itens, que meçam características semelhantes. Por outras<br />
palavras o coeficiente Alpha de Cronbach mede a capacidade explicativa de<br />
uma determinada variável ou fator pelas perguntas que a compõem. Quando o<br />
valor de Alpha de Cronbach é superior a 0,70 é lícito afirmar que as variáveis<br />
em causa são bem explicadas pelas perguntas consideradas, dado que a<br />
probabilidade de erro é de apenas 30%.<br />
O coeficiente de correlação é uma medida do grau de relação linear<br />
entre duas variáveis quantitativas. O valor e o sinal de r indicam-nos a força e a<br />
direção com que duas medidas variam uma em função da outra. Tal facto não<br />
significa necessariamente que as duas medidas estão ligadas mas sim que a<br />
intensidade de uma é tendencialmente acompanhada pela outra no mesmo<br />
sentido ou em sentido inverso.<br />
Este coeficiente varia entre os valores -1 e 1:<br />
Coeficiente de Correlação Correlação<br />
r=1 Perfeita positiva<br />
0,8 ≤ r < 1 Forte positiva<br />
0,5 ≤ r < 0,8 Moderada positiva<br />
0,1 ≤ r < 0,5 Fraca positiva<br />
0 < r < 0,1 Ínfima positiva<br />
0 Nula<br />
-0,1 < r < 0 Ínfima negativa<br />
-0,5 < r ≤ -0,1 Fraca negativa<br />
-0,8 < r ≤ -0,1 Moderada negativa<br />
-1 < r ≤ -0,8 Forte negativa<br />
r= -1 Perfeita negativa<br />
Fonte: Santos, Carla, (2007)<br />
Para a análise das diferenças de resultados médios foi utilizado o Teste t<br />
de Student, sempre que a análise se centrava nas diferenças de resultados<br />
médios em dois grupos independentes. Utilizámos o teste de análise de<br />
variância (one-Way ANOVA) sempre que o número de grupos em análise fosse<br />
superior a 2.<br />
68
como o Eta 2 .<br />
Nalguns casos mais específicos foram usados testes mais específicos<br />
No caso específico da escala TEMPS-A e dado o facto das subescalas<br />
do temperamento afetivo possuírem diferentes números de itens de resposta<br />
(depressivo – 21 itens; ciclotímico – 21 itens; hipertímico – 21 itens; irritável –<br />
21 itens e ansioso – 26 itens), para a obtenção de fatores de comparação entre<br />
valores das cinco subescalas do temperamento foi necessário recorrer à<br />
padronização de valores.<br />
A construção dos padrões de vinculação nos dois contextos relacionais<br />
(parental e amorosa) apoiou-se na análise de clusters, derivando teoricamente<br />
cada protótipo dos resultados das médias dos fatores. Dentro das opções<br />
estatísticas disponíveis, elegeu-se o método combinatório: os centróides são<br />
especificados a partir do método hierárquico (Ward’s method e Square<br />
Euclidean Distance) que posteriormente servem de base, através do método<br />
Não-Hierárquico (K-Means Cluster Analysis), à criação dos clusters. Os<br />
padrões de vinculação resultantes para cada contexto relacional foram então<br />
validados através de ANOVAs (One-way). Posteriormente, agruparam-se os<br />
padrões nos quatro padrões (seguro, preocupado, desinvestido e<br />
amedrontado).<br />
3.6. Procedimentos éticos<br />
Este estudo respeitou, em todas as fases do seu desenvolvimento, um<br />
rigoroso respeito pelas regras éticas em investigação.<br />
O recurso a métodos de recolha de informação que envolvem respostas<br />
humanas corre o risco de causar danos aos direitos e liberdades individuais se<br />
não atender a alguns direitos como o direito à autodeterminação, o direito à<br />
reserva da intimidade, o direito ao anonimato e à confidencialidade, entre<br />
outros.<br />
Todas as instituições onde decorreu este estudo foram contactadas<br />
formalmente solicitando autorização para a realização do estudo explicitando<br />
os conceitos em estudo, os objetivos do estudo bem como a proposta de<br />
69
operacionalização da recolha de dados. Não foram colocadas questões de<br />
natureza ética pelos órgãos estatutariamente competentes de cada uma das<br />
instituições.<br />
Cada inquirido foi informado do carácter voluntário da resposta bem<br />
como explicados os motivos e âmbito do estudo. Não foi registada nenhuma<br />
recusa de resposta ao estudo.<br />
Na nota introdutória ao questionário era garantida a confidencialidade e<br />
anonimato dos respondentes.<br />
Procurámos ao longo das várias etapas do estudo pautar a nossa<br />
atuação pela honestidade e rigor científicos quer na recolha de dados quer na<br />
recolha e referenciação das obras de outros autores de suporte a este estudo.<br />
70
PARTE III<br />
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DE RESULTADOS<br />
71
1. APRESENTAÇÃO DE RESULTADOS<br />
Para mais fácil compreensão, os dados foram agrupados em<br />
subcapítulos tomando como referência as variáveis em estudo e os objetivos<br />
delineados anteriormente.<br />
Genericamente, numa primeira parte, serão apresentados os dados<br />
relativos às variáveis sociodemográficas. Nas fases posteriores são<br />
apresentados os dados relativos às variáveis que são o core do nosso estudo:<br />
vinculação parental, vinculação amorosa e temperamento afetivo bem como os<br />
resultados de relação entre essas variáveis e as variáveis sociodemográficas.<br />
Por uma questão de coerência tomámos em consideração os objetivos<br />
do estudo, para a apresentação dos resultados, pelo que esta seguirá os<br />
seguintes tópicos:<br />
Dados das variáveis sociodemográficas<br />
Cálculo dos dados do temperamento afetivo;<br />
Cálculo dos dados dos fatores e padrões de vinculação (parental e<br />
amorosa);<br />
Relação entre os fatores e padrões de vinculação parental e amorosa e<br />
o temperamento afetivo;<br />
1.1. Variáveis sociodemográficas<br />
Foram inquiridos um total de N=836 participantes. Destes, N=760<br />
cumpriram todos os critérios de inclusão no estudo, já referidos.<br />
Os participantes no estudo (Quadro 1) eram maioritariamente do género<br />
feminino (n=633; 83,3%).<br />
72
GÉNERO<br />
ANO CURRICULAR<br />
PROGENITOR COM QUEM<br />
COABITA<br />
FRATRIA<br />
RELAÇÃO DE NAMORO<br />
DURAÇÃO DA RELAÇÃO DE<br />
NAMORO<br />
Quadro 1 – Variáveis sociodemográficas (N=760)<br />
% N<br />
Masculino 16,7 127<br />
Feminino 83,3 633<br />
1º Ano da Licenciatura 17,1 130<br />
2º Ano da Licenciatura 35,1 267<br />
3º Ano da Licenciatura 32,6 248<br />
4º Ano da Licenciatura 15,1 115<br />
Pai 1,97 15<br />
Mãe 13,68 104<br />
Pai e Mãe 74,47 566<br />
Outros Familiares 9,87 75<br />
Sim 81,7 621<br />
Não 18,3 139<br />
Sim 60,3 458<br />
Não 39,7 302<br />
Menos de 1 Ano 28,0 213<br />
Entre 1 e 4 Anos 23,9 182<br />
Entre 5 e 7 Anos 7,5 57<br />
Entre 8 e 10 Anos 0,5 4<br />
Mais de 10 Anos 0,3 2<br />
A média de idades encontrada para a totalidade dos inquiridos foi de<br />
M=21,3 anos (DP=2), variando entre 18 e 36 anos, com uma mediana de 21<br />
anos. No género masculino a idade variava entre 19 e 35 anos com M=21,8<br />
(DP=2,6) e mediana de 21 anos e no género feminino a idade variava entre 18<br />
e 36 anos com M=21,2 (DP=1,9) com mediana de 21 anos.<br />
Verificou-se ainda que 75% dos indivíduos inquiridos têm menos de 22<br />
anos, 50% menos de 21 anos e 25% menos de 20 anos com um intervalo<br />
interquartis de 2 anos para o género feminino e 3 anos para o género<br />
masculino.<br />
Os participantes eram, na sua totalidade, estudantes do Ensino Superior,<br />
a frequentar o Curso Superior de Licenciatura em Enfermagem (1º Ciclo) nas<br />
Escolas Superiores de Saúde de Portalegre, Beja e Castelo Branco e na<br />
73
Escola Superior de Enfermagem de S. João de Deus da Universidade de<br />
Évora, distribuídos pelos 4 anos do curso.<br />
Na distribuição segundo o ano curricular que frequenta e o género, a<br />
maioria dos indivíduos do género masculino frequentava o 2º Ano da<br />
Licenciatura (n=41; 32,3%) o mesmo acontecendo com o género feminino<br />
(n=226; 35,7%).<br />
Em relação ao(s) progenitor(es) com quem coabitam os inquiridos<br />
(Quadro 5) verificou-se que a maioria coabitava com pai e mãe (n=566; 74,5%).<br />
Na distribuição segundo o(s) progenitor(es) com quem coabita e o<br />
género observou-se que entre o género feminino a maioria coabitava com pai e<br />
mãe (n=470; 74,2%), o mesmo acontecendo no género masculino (n=96;<br />
75,6%).<br />
Na distribuição segundo a existência de fratria (Quadro 1) podemos<br />
verificar que a maioria tinha irmãos (n=621; 81,7%). Outros dados recolhidos<br />
permitiram-nos saber que os inquiridos têm entre 0 e 8 irmãos, sendo a<br />
mediana de 1.<br />
Na distribuição segundo a fratria e o género observámos que entre o<br />
género feminino 82,1% (n=520) tinham irmãos sendo esse valor entre o género<br />
masculino de 79,5% (n=101).<br />
Na distribuição segundo a existência de uma relação de namoro (Quadro<br />
5) verificou-se que a maioria tinha uma relação de namoro (n=458; 60,3%).<br />
Na distribuição segundo a existência de relação de namoro e o género<br />
observámos que entre o género feminino 61,1% (n=387) tinham uma relação<br />
de namoro sendo esse valor entre o género masculino de 55,9% (n=71).<br />
Outros dados recolhidos permitiram-nos saber que os inquiridos tinham<br />
um tempo de namoro entre 1 e 12 anos, sendo a média de 2,4 anos (DP=1,8) e<br />
mediana de 2 anos. A maior percentagem mantinha uma relação de namoro há<br />
menos de 1 ano (n=213; 28,0%).<br />
Observámos que a maioria dos inquiridos do género masculino tinha<br />
uma relação de namoro há menos de 1 ano (67,6%) enquanto no género<br />
feminino encontramos 43,2% que tinham uma relação de namoro com duração<br />
entre 1 e 4 anos.<br />
74
1.2. Vinculação<br />
1.2.1. Vinculação na relação com a mãe<br />
No cálculo dos resultados médios dos fatores (Quadro 2, Gráfico 1)<br />
podemos observar resultados médios mais elevados para a vinculação na<br />
relação com a mãe no fator qualidade do laço emocional (QLE).<br />
Quadro 2 – Médias e desvios-padrão dos fatores de vinculação na relação com a mãe<br />
Fatores<br />
Mãe<br />
M DP<br />
Inibição da exploração e individualidade 28,6 9,7<br />
Qualidade do laço emocional 54,7 6,1<br />
Ansiedade de separação e dependência 38,9 9,2<br />
ASD<br />
N 760<br />
60<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
IEI<br />
Gráfico 1 – Variabilidade dimensional da vinculação na relação com a mãe<br />
Os valores de correlação entre os três fatores revelaram resultados com<br />
significância estatística: (i) positivos entre os fatores ansiedade de separação e<br />
QLE<br />
75
dependência (ASD) e qualidade do laço emocional (QLE) (r=0.476; p=0,000),<br />
(ii) negativos entre qualidade do laço emocional e inibição da exploração e<br />
individualidade (r=-0,379; p=0,000). Não foi encontrada correlação com<br />
significado estatístico entre os fatores inibição da exploração e individualidade<br />
(IED) e ansiedade de separação e dependência (ASD).<br />
No cálculo dos resultados médios dos fatores de vinculação à mãe por<br />
género (Quadro I, Anexo V) podemos observar resultados médios mais<br />
elevados para o fator inibição da exploração e individualidade (IEI) entre o<br />
género masculino (M=29,6; DP=9,4), para o fator qualidade do laço emocional<br />
(QLE) (M=55,0; DP=5,8) e para o fator ansiedade de separação e dependência<br />
(ASD) (M=39,3; DP=9,2) entre o género feminino.<br />
A aplicação do Teste t de igualdade das médias para duas amostras<br />
independentes permite-nos verificar que existem diferenças de resultados<br />
médios estatisticamente significativas entre géneros nos fatores QLE (t=-2,850;<br />
gl=758; p=0,004) e ASD ( t=-2,527; gl=758; p=0,012).<br />
A diferença de médias resultantes da ANOVA (One-way) demonstrou<br />
que o efeito da variável padrões de vinculação nas médias dos fatores de<br />
vinculação à mãe foi significativo [inibição da exploração e individualidade<br />
(F=490,82; p=0,000); qualidade do laço emocional (F=257,30; p=0,000);<br />
ansiedade de separação e dependência (F=382,65, p=0,000)]. As análises post<br />
hoc indicaram que o padrão seguro se diferenciava significativamente dos<br />
padrões desinvestido e amedrontado no fator IEI e dos padrões desinvestido,<br />
amedrontado e preocupado nos fatores QLE e ASD. Através do Quadro 3 e do<br />
Gráfico 2 é possível visualizar os resultados da construção dos clusters.<br />
76
Quadro 3 – Médias e desvios-padrão de acordo com a análise de clusters de padrões<br />
de vinculação na relação com a mãe<br />
Fatores/<br />
Padrões de Vinculação<br />
Seguro (N=278)<br />
Padrão de Vinculação à Mãe<br />
Preocupado<br />
(N=206)<br />
Desinvestido<br />
(N=196)<br />
Amedrontado<br />
(N=80)<br />
M DP M DP M DP M DP<br />
Inibição da exploração e<br />
individualidade<br />
22,75 a<br />
5,25 22,52 b 6,08 39,05 c 5,49 39,16 d 6,47<br />
Qualidade do laço<br />
emocional<br />
58,01 a 2,47 54,63 b 4,37 54,98 c 3,91 42,82 d 8,31<br />
Ansiedade de separação e<br />
dependência<br />
45,23 a 5,37 30,48 b 5,03 43,16 c 6,34 28,15 d 7,44<br />
Nota. Diferentes letras identificam diferenças significativas dos valores indicados na célula à significância estatística de<br />
p≤.05.<br />
As diferenças de médias obtidas a partir dos padrões de vinculação na<br />
relação com a mãe demonstraram que também a qualidade de vinculação com<br />
esta figura é interpretável à luz do modelo de Bartholomew (Bartholomew &<br />
Horowitz, 1991) como é facilmente observável a partir do Quadro 3 e do<br />
Gráfico 2.<br />
70<br />
60<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
IEI QLE ASD<br />
Seguro<br />
Legenda – Fatores de vinculação ra relação com a Mãe: IEI: Inibição da exploração e individualidade; QLE: Qualidade<br />
do laço emocional; ASD: Ansiedade de separação e dependência<br />
Gráfico 2 – Padrões de vinculação na relação com a mãe<br />
Preocupado<br />
Desinvestido<br />
Amedrontado<br />
77
1.2.2. Vinculação na relação com o pai<br />
No cálculo dos resultados médios dos fatores (Quadro 4, Gráfico 3)<br />
podemos observar resultados médios mais elevados para a vinculação na<br />
relação com o pai no fator qualidade do laço emocional (QLE).<br />
Quadro 4 – Médias e desvios-padrão dos fatores de vinculação na relação com o pai<br />
Fatores<br />
Pai<br />
M DP<br />
Inibição da exploração e individualidade 27,6 9,6<br />
Qualidade do laço emocional 51,2 9,9<br />
Ansiedade de separação e dependência 36,5 9,9<br />
N 760<br />
ASD<br />
60<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
IEI<br />
Gráfico 3 – Variabilidade dimensional da vinculação na relação com o pai<br />
Os valores de correlação entre os três fatores revelaram resultados com<br />
significância estatística: (i) positivos entre os fatores ansiedade de separação e<br />
dependência (ASD) e qualidade do laço emocional (QLE) (r=0.657; p=0,000),<br />
(ii) negativos entre qualidade do laço emocional e inibição da exploração e<br />
individualidade (r=-0,248; p=0,000). Não foi encontrada correlação com<br />
QLE<br />
78
significado estatístico entre os fatores inibição da exploração e individualidade<br />
(IED) e ansiedade de separação e dependência (ASD).<br />
No cálculo dos resultados médios dos fatores de vinculação ao pai por<br />
género (Quadro II, Anexo V) podemos observar resultados médios mais<br />
elevados para o fator inibição da exploração e individualidade (IEI) entre o<br />
género masculino (M=28,6; DP=10,4) e para o fator qualidade do laço<br />
emocional (QLE) (M=51,5; DP=9,5) e ansiedade de separação e dependência<br />
(ASD) (M=36,9; DP=10,0) entre o género feminino.<br />
A aplicação do Teste t de igualdade das médias para duas amostras<br />
independentes permite-nos verificar que existem diferenças de resultados<br />
médios estatisticamente significativas entre géneros nos fatores QLE (t=-2,073;<br />
gl=758; p=0,038) e ASD (t=-2,544; gl=758; p=0,011).<br />
A diferença de médias resultantes da ANOVA (One-way) demonstrou<br />
que o efeito da variável padrões de vinculação nas médias dos fatores de<br />
vinculação ao pai foi significativo [inibição da exploração e individualidade<br />
(F=296,26; p=0,000); qualidade do laço emocional (F=672,93; p=0,000);<br />
ansiedade de separação e dependência (F=485,62, p=0,000)]. As análises post<br />
hoc indicaram que o padrão seguro se diferenciava significativamente dos<br />
padrões preocupado e desinvestido no fator IEI e dos padrões desinvestido,<br />
amedrontado e preocupado nos fatores QLE e ASD. Através do Quadro 5 e do<br />
Gráfico 4 é possível visualizar os resultados da construção dos clusters.<br />
As diferenças de médias obtidas a partir dos padrões de vinculação na<br />
relação com o pai demonstraram que também a qualidade de vinculação com<br />
esta figura é interpretável à luz do modelo de Bartholomew (Bartholomew &<br />
Horowitz, 1991) como é facilmente observável a partir do Quadro 5 e do<br />
Gráfico 4.<br />
79
Quadro 5 – Médias e desvios-padrão de acordo com a análise de clusters de padrões<br />
de vinculação na relação com o pai<br />
Fatores/<br />
Padrões de Vinculação<br />
Seguro (N=253)<br />
Padrão de Vinculação ao Pai<br />
Preocupado<br />
(N=64)<br />
Desinvestido<br />
(N=185)<br />
Amedrontado<br />
(N=258)<br />
M DP M DP M DP M DP<br />
Inibição da exploração e<br />
individualidade<br />
22,39 a<br />
5,73 29,82 b<br />
11,93 39,65 c<br />
6,14 23,65 d<br />
5,65<br />
Qualidade do laço<br />
emocional<br />
57,50 a 2,76 25,25 b 9,67 49,92 c 5,84 52,42 d<br />
4,86<br />
Ansiedade de separação e<br />
dependência<br />
45,01 a 5,23 17,55 b 6,30 38,61 c 7,09 31,21 d<br />
5,20<br />
Nota. Diferentes letras identificam diferenças significativas dos valores indicados na célula à significância estatística de<br />
p≤.05.<br />
70<br />
60<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
IEI QLE ASD<br />
Seguro<br />
Legenda – Fatores de vinculação ra relação com o Pai: IEI: Inibição da exploração e individualidade; QLE: Qualidade<br />
do laço emocional; ASD: Ansiedade de separação e dependência<br />
Gráfico 4 – Padrões de vinculação na relação com o pai<br />
Preocupado<br />
Desinvestido<br />
Amedrontado<br />
80
A aplicação de uma correlação permite-nos observar uma relação<br />
estatisticamente significativa entre a idade e a vinculação na relação com a<br />
mãe e na relação com o pai:<br />
Correlação entre vinculação na relação com<br />
a mãe e idade (N=760)<br />
Inibição da exploração e<br />
-0,096**<br />
individualidade<br />
Qualidade do laço emocional -0,039<br />
Ansiedade de separação e<br />
dependência<br />
-0,097**<br />
* Correlação significativa ao nível p≤0,05 e **<br />
Correlação significativa ao nível p≤0,01<br />
Correlação entre vinculação na relação<br />
com o pai e idade (N=760)<br />
Inibição da exploração e<br />
-0,121**<br />
individualidade<br />
Qualidade do laço emocional 0,022<br />
Ansiedade de separação e<br />
dependência<br />
-0,054<br />
* Correlação significativa ao nível p≤0,05 e **<br />
Correlação significativa ao nível p≤0,01<br />
No cálculo dos resultados médios dos fatores de vinculação à mãe<br />
considerando o(s) progenitor(es) com quem coabitam (Quadro III, Anexo V)<br />
podemos observar resultados médios mais elevados para o fator inibição da<br />
exploração e individualidade (IEI) (M=30,3; DP=9,4), para o fator qualidade do<br />
laço emocional (QLE) (M=55,2; DP=5,3), para o fator ansiedade de separação<br />
e dependência (ASD) (M=39,7; DP=9,2) entre os que coabitam com a mãe.<br />
Os valores de Eta 2 permitem-nos afirmar associações fracas: 10,4% da<br />
variação do fator IEI está associada ao(s) progenitor(es) com quem os<br />
inquiridos coabitam, sendo esse valor de 5,2% para o fator QLE e de 12,3%<br />
para o fator ASD.<br />
Os resultados da análise de variância dos fatores de vinculação à mãe<br />
considerando o progenitor(es) com quem coabita não revelaram um efeito<br />
estatisticamente significativo sobre os fatores IEI (F=1,096; p=0,358) e QLE<br />
(F=1,445; p=0,217) mas um efeito estatisticamente significativo sobre o fator<br />
ASD (F=2,813; p=0,025). A leitura dos resultados do teste Post-hoc Bonferroni<br />
revela que as diferenças no fator ASD se situam entre os que coabitam com<br />
mãe ou pai e entre os que coabitam com pai ou pai e mãe.<br />
No cálculo dos resultados médios dos fatores de vinculação ao pai<br />
considerando o(s) progenitor(es) com quem coabitam (Quadro IV, Anexo V)<br />
podemos observar resultados médios mais elevados para o fator inibição da<br />
exploração e individualidade (IEI) entre os que coabitam com pai (M=29,9;<br />
DP=9,6) e para o fator qualidade do laço emocional (QLE) (M=52,5; DP=8,2) e<br />
81
ansiedade de separação e dependência (ASD) (M=37,4; DP=9,3) entre os que<br />
coabitam com pai e mãe.<br />
Os valores de Eta 2 permitem-nos afirmar associações fracas: 15,1% da<br />
variação do fator IEI está associada ao(s) progenitor(es) com quem os<br />
inquiridos coabitam, sendo esse valor de 12,2% para o fator QLE e de 14,6%<br />
para o fator ASD.<br />
Os resultados da análise de variância por progenitor(es) com quem<br />
coabita revelaram um efeito estatisticamente significativo sobre os fatores de<br />
vinculação ao pai para o fator QLE (F=13,937; p=0,000) e ASD (F=1,445;<br />
p=0,000) mas não sobre o fator IEI (F=1,268; p=0,281). A leitura dos resultados<br />
do teste Post-hoc Bonferroni revela que as diferenças no fator ASD e no fator<br />
QLE se situam entre os que coabitam com mãe ou com pai e mãe.<br />
No cálculo dos resultados médios dos fatores de vinculação à mãe<br />
considerando a existência de fratria (Quadro V, Anexo V) podemos observar<br />
resultados médios para o fator inibição da exploração e individualidade (IEI)<br />
idênticos entre os que têm irmãos e os que não têm (M=28,6) e mais elevados<br />
para o fator qualidade do laço emocional (QLE) (M=55,3; DP=6,1) e para o<br />
fator ansiedade de separação e dependência (ASD) (M=39,9; DP=9,7) entre os<br />
que não têm irmãos.<br />
A aplicação do Teste t de igualdade das médias para duas amostras<br />
independentes permite-nos verificar que não existem diferenças de resultados<br />
médios dos fatores de vinculação à mãe estatisticamente significativas quando<br />
consideramos a existência de fratria.<br />
No cálculo dos resultados médios dos fatores de vinculação ao pai<br />
considerando a existência de fratria (Quadro VI, Anexo V) podemos observar<br />
resultados médios mais elevados para todos os fatores e para a escala total<br />
entre os que não têm irmãos:<br />
DP=10,5);<br />
-Fator inibição da exploração e individualidade (IEI) (M=27,8; DP=9,3);<br />
-Fator qualidade do laço emocional (QLE) (M=52,5; DP=9,5);<br />
-Fator ansiedade de separação e dependência (ASD) (M=37,4;<br />
A aplicação do Teste t de igualdade das médias para duas amostras<br />
independentes permite-nos verificar que não existem diferenças de resultados<br />
82
médios dos fatores de vinculação ao pai estatisticamente significativas quando<br />
consideramos a existência de fratria.<br />
No cálculo dos resultados médios dos fatores de vinculação à mãe<br />
considerando a existência de uma relação de namoro (Quadro VII, Anexo V)<br />
podemos observar resultados médios para o fator inibição da exploração e<br />
individualidade (IEI) (M=29,2; DP=9,9) mais elevados entre os que não<br />
namoram e mais elevados para o fator qualidade do laço emocional (QLE)<br />
(M=55,0; DP=5,9) e fator ansiedade de separação e dependência (ASD) entre<br />
os que namoram (M=39,5; DP=9,1).<br />
A aplicação do Teste t de igualdade das médias para duas amostras<br />
independentes permite-nos verificar que existem diferenças de resultados<br />
médios do fator ASD (t=2,122; gl=758; p=0,034) de vinculação à mãe quando<br />
consideramos a existência de uma relação de namoro.<br />
No cálculo dos resultados médios dos fatores de vinculação ao pai<br />
considerando a existência de uma relação de namoro (Quadro VIII, Anexo V)<br />
podemos observar resultados médios para o fator inibição da exploração e<br />
individualidade (IEI) mais elevados entre os que não namoram (M=28,3;<br />
DP=9,7), resultados idênticos para o fator qualidade do laço emocional (QLE)<br />
entre os que namoram e os que não namoram (M=51,2) e mais elevados para<br />
o fator ansiedade de separação e dependência (ASD) entre os que namoram<br />
(M=36,9; DP=10,0).<br />
A aplicação do Teste t de igualdade das médias para duas amostras<br />
independentes permite-nos verificar que não existem diferenças de resultados<br />
médios dos fatores de vinculação ao pai quando consideramos a existência de<br />
uma relação de namoro.<br />
Na relação entre os fatores de vinculação à mãe ao pai e a relação de<br />
namoro a qualidade do laço emocional tende a ser igual para ambos os pais<br />
entre os que namoram e não namoram. Apenas se observaram diferenças no<br />
fator ASD na vinculação com a mãe.<br />
83
1.2.3. Vinculação ao par amoroso<br />
A aplicação de uma correlação permite-nos observar correlações<br />
estatisticamente significativas entre todos os fatores e entre estes e a escala<br />
total. Os valores de correlação variam entre muito baixo (r=0,024, no par<br />
dependência – ambivalência) e alta (r=0,701, no par confiança – ambivalência).<br />
Alguns valores de correlação são negativos indicando variações de fatores em<br />
sentido inverso (evitamento-confiança; evitamento-dependência).<br />
Na análise da variância comum podemos observar no par confiança –<br />
ambivalência uma variância comum de 78,6%, no par confiança – evitamento<br />
uma variância comum de 56% indicando que é de supor que estes fatores<br />
avaliem aspetos da vinculação amorosa relacionados entre si.<br />
Para a totalidade dos inquiridos foram encontrados os seguintes<br />
resultados médios dos fatores de vinculação amorosa (Quadro 6, Gráfico 5),<br />
com resultados médios mais elevados no fator confiança (M=65,1; DP=9,9).<br />
84
Quadro 6 – Médias e desvios-padrão dos fatores de vinculação ao par amoroso<br />
Fatores M DP<br />
Confiança 65,1 9,9<br />
Dependência 45,7 11,1<br />
Evitamento 31,3 10,0<br />
Ambivalência 37,3 11,3<br />
Ambivalência<br />
N 760<br />
Confiança<br />
70<br />
Gráfico 5 – Variabilidade dimensional da vinculação ao par amoroso<br />
Na avaliação dos resultados médios dos fatores da vinculação amorosa<br />
por género (Quadro IX, Anexo V) foram encontrados resultados médios mais<br />
elevados para o fator confiança entre o género feminino (M=65,3; DP=10,1) e<br />
para os fatores dependência (M=46,2; DP=11,3) evitamento (M=34,1; DP=10,1)<br />
e ambivalência (M=37,4; DP=11,2) entre o género masculino.<br />
A aplicação do Teste t de igualdade das médias para duas amostras<br />
independentes permite-nos verificar que apenas existem diferenças de<br />
resultados médios estatisticamente significativas entre géneros em relação ao<br />
fator evitamento (t=3,515; gl=758; p=0,000).<br />
60<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
Evitamento<br />
Dependência<br />
85
A diferença de médias resultantes da ANOVA (One-way) demonstrou<br />
que o efeito da variável padrões de vinculação nas médias dos fatores de<br />
vinculação ao par amoroso foi significativo [confiança (F=445,86; p=0,000);<br />
dependência (F=233,64, p=0,000); evitamento (F=265,96, p=0,000;<br />
ambivalência (F=434,91; p=0,000]. As análises post hoc indicaram que o<br />
padrão seguro se diferenciava significativamente dos outros padrões nos<br />
fatores confiança, dependência e ambivalência, não se diferenciando<br />
significativamente do padrão amedrontado no fator evitamento. Através do<br />
Quadro 7 e do Gráfico 6 é possível visualizar os resultados da construção dos<br />
clusters.<br />
Os padrões de vinculação construídos a partir das dimensões que<br />
avaliam a qualidade de vinculação ao par amoroso encontraram também<br />
grupos teoricamente enquadráveis no modelo de Bartholomew (Bartholomew &<br />
Horowitz, 1991) (vide Quadro 7 e Gráfico 6), comprovando-se estatisticamente<br />
que são significativamente diferentes entre si.<br />
86
Quadro 7 – Médias e desvios-padrão de acordo com a análise de clusters na<br />
vinculação ao par amoroso<br />
Fatores/<br />
Padrões de Vinculação<br />
Seguro (N=183)<br />
Padrão de Vinculação Amorosa<br />
Preocupado<br />
(N=98)<br />
Desinvestido<br />
(N=266)<br />
Amedrontado<br />
(N=213)<br />
M DP M DP M DP M DP<br />
Confiança 65,76 a 7,06 47,81 b 8,55 73,05 c 3,85 62,49 d 5,68<br />
Dependência 32,92 a 6,49 43,51 b 10,71 52,16 c 8,48 49,53 d 6,96<br />
Evitamento 34,62 a 8,02 43,38 b 9,39 22,42 c 5,26 33,85 d 6,53<br />
Ambivalência 32,42 a 6,82 54,73 b 8,15 28,95 c 6,70 43,73 d 6,45<br />
Nota. Diferentes letras identificam diferenças significativas dos valores indicados na célula à significância estatística de<br />
p≤.05.<br />
Gráfico 6 – Padrões de vinculação ao par amoroso<br />
A aplicação de uma correlação permitiu-nos observar que apenas existe<br />
uma correlação estatisticamente significativa entre a idade dos inquiridos e o<br />
fator dependência (r=0,090; p
A aplicação do Teste t de igualdade das médias para duas amostras<br />
independentes permite-nos verificar que não existem diferenças de resultados<br />
médios estatisticamente significativas nos fatores de vinculação amorosa<br />
tomando como referência à existência de fratria.<br />
Na avaliação dos resultados médios dos fatores de vinculação amorosa<br />
segundo a existência de relação de namoro (Quadro XI, Anexo V) foram<br />
encontrados resultados médios mais elevados para os fatores confiança<br />
(M=67,7; DP=8,8), e dependência (M=48,0; DP=10,5) entre os que namoram e<br />
para os fatores evitamento (M=36,1; DP=9,2) e ambivalência (M=41,8;<br />
DP=10,7) entre os que não namoram.<br />
A aplicação do Teste t de igualdade das médias para duas amostras<br />
independentes permite-nos verificar que existem diferenças de resultados<br />
médios estatisticamente significativas em todos os fatores em referência à<br />
existência de uma relação de namoro.<br />
Os resultados relativos ao estudo da vinculação parental e amorosa<br />
conduzem-nos assim á seguinte síntese:<br />
- O fator com resultados médios mais elevados na vinculação na relação<br />
com a mãe é o fator qualidade do laço emocional (QLE) para a totalidade da<br />
população sendo que os resultados médios mais elevados do fator IEI foram<br />
encontrados entre o género masculino e os resultados médios mais elevados<br />
dos fatores QLE e ASD encontrados entre o género feminino. Em qualquer dos<br />
três fatores foram encontradas diferenças significativas entre géneros;<br />
- No que refere aos padrões de vinculação na relação com a mãe,<br />
verifica-se que os indivíduos com padrão de vinculação seguro diferem dos<br />
desinvestidos e dos amedrontados nos três fatores (QLE, IEI, ASD) e dos<br />
preocupados nos fatores QLE e ASD.<br />
- O fator com resultados médios mais elevados na vinculação na relação<br />
com o pai é o fator qualidade do laço emocional (QLE) para a totalidade da<br />
população sendo que os resultados médios mais elevados do fator IEI foram<br />
encontrados entre o género masculino e os resultados médios mais elevados<br />
dos fatores QLE e ASD encontrados entre o género feminino. Em qualquer dos<br />
três fatores foram encontradas diferenças significativas entre géneros;<br />
- No que refere aos padrões de vinculação na relação com o pai,<br />
verifica-se que os indivíduos com padrão de vinculação seguro diferem dos<br />
88
preocupados e dos desinvestidos nos três fatores (QLE, IEI, ASD) e dos<br />
amedrontados nos fatores QLE e ASD.<br />
- A idade revelou-se correlacionada negativamente com os fatores IEI e<br />
ASD da vinculação na relação com a mãe e IEI da vinculação na relação com o<br />
pai;<br />
- O(s) Progenitor(es) com quem coabita revelou um efeito significativo no<br />
fator ASD na vinculação na relação com a mãe e nos fatores QLE e ASD a<br />
vinculação com o pai embora atenham sido encontradas associações fracas.<br />
Viver apenas com mãe ou pai em alternativa a viver com pai e mãe revelou-se<br />
influente no fator ASD da vinculação na relação com pai e mãe e influente no<br />
fator QLE da vinculação na relação com o pai;<br />
- Não existem diferenças significativas na vinculação na relação com a<br />
mãe ou na relação com o pai quando consideramos a existência de fratria;<br />
- Existem diferenças significativas no fator ASD da vinculação na relação<br />
com a mãe quando consideramos a existência de uma relação de namoro.<br />
- A dimensão com resultados médios mais elevados na vinculação<br />
amorosa, para a totalidade da população foi a dimensão confiança sendo que<br />
os resultados médios mais elevados do fator confiança foram encontrados<br />
entre o género feminino e os resultados médios mais elevados dos fatores<br />
dependência, evitamento e ambivalência encontrados entre o género<br />
masculino. Apenas foram encontradas diferenças significativas entre géneros<br />
no fator evitamento;<br />
- Relativamente aos padrões de vinculação amorosa, verifica-se que os<br />
indivíduos com padrão de vinculação seguro diferem dos preocupados,<br />
desinvestidos e amedrontados nos fatores confiança, dependência e<br />
ambivalência;<br />
- Apenas o fator dependência da vinculação amorosa mostrou uma<br />
correlação com a idade;<br />
- Não existem diferenças entre os fatores da vinculação amorosa quando<br />
consideramos a existência de fratria;<br />
- Existem diferenças significativas em todos os fatores da vinculação<br />
amorosa quando consideramos a existência de uma relação de namoro com<br />
valores mais elevados de confiança e dependência entre os que namoram e de<br />
evitamento e ambivalência entre os que não namoram.<br />
89
1.3. Temperamento afetivo<br />
Para a totalidade da população estudada o temperamento hipertímico foi<br />
o que apresentou resultados médios não padronizados mais elevados (M=10,6;<br />
DP=4,1), logo seguido do temperamento ansioso (M=9,8; DP=5,3) e do<br />
temperamento depressivo (M=7,1; DP=2,9) conforme observado no Quadro 8.<br />
Quadro 8 – Resultados médios não padronizados dos temperamentos afetivos e<br />
Temperamento<br />
(itens)<br />
Depressivo<br />
(1-21)<br />
Ciclotímico<br />
(22-42)<br />
Hipertímico<br />
(43-63)<br />
Irritável<br />
(64-84)<br />
Ansioso<br />
4,5%<br />
4,0%<br />
3,5%<br />
3,0%<br />
2,5%<br />
2,0%<br />
1,5%<br />
1,0%<br />
0,5%<br />
0,0%<br />
(85-110)<br />
4,2%<br />
percentagem de valores padronizados (Z-score)<br />
N Média Mediana Desvio-<br />
padrão<br />
760 7,1 7,0 2,9<br />
760 6,5 6,0 4,3<br />
760 10,6 11,0 4,1<br />
760 3,9 3,0 3,1<br />
760 9,8 9,5 5,3<br />
3,3%<br />
2DP<br />
n (%)<br />
32<br />
(4,2%)<br />
25<br />
(3,3%)<br />
14<br />
(1,8%)<br />
28<br />
(3,7%)<br />
19<br />
(2,5%)<br />
Gráfico 7 – Percentagem de indivíduos com pontuações médias dos temperamentos<br />
acima de 2 desvios-padrão (>2Z)<br />
1,8%<br />
3,7%<br />
Depressivo Ciclotímico Hipertímico Irritável Ansioso<br />
2,5%<br />
90
Na aplicação dos valores padronizados a cada temperamento<br />
verificaram-se diferenças estatisticamente significativas entre indivíduos com<br />
pontuações acima ou abaixo de 2 desvios-padrão da pontuação média (2Z<br />
Score) em todos os temperamentos resultando como temperamento<br />
dominante, para a totalidade dos indivíduos estudados, o temperamento<br />
depressivo (Quadro 8, Gráfico 7).<br />
A correlação evidencia correlações ligeiras a moderadas mas<br />
estatisticamente significativas entre todos os pares de temperamentos. A<br />
correlação mais forte foi encontrada entre o temperamento depressivo e o<br />
temperamento ansioso (r=0,577; p
Quadro 9 – Resultados médios não padronizados dos temperamentos afetivos por<br />
género e percentagem de valores padronizados (Z-score)<br />
Género/<br />
Temperamento N<br />
Masculino 127<br />
Feminino 633<br />
Total 760<br />
7,0%<br />
6,0%<br />
5,0%<br />
4,0%<br />
3,0%<br />
2,0%<br />
1,0%<br />
0,0%<br />
4,6%<br />
2,4%<br />
MédiaDesviopadrão<br />
>2Z Score<br />
n (%)<br />
MédiaDesviopadrão<br />
>2Z Score<br />
n (%)<br />
Teste t<br />
Qui-Quadrado<br />
( 2 )<br />
6,3%<br />
0,9%<br />
Temp. Estáveis Temp. Instáveis<br />
Depressivo Hipertímico Ciclotímico Irritável Ansioso<br />
6,12,9 12,63,9 5,43,9 4,03,1 7,65,0<br />
3<br />
(2,4%)<br />
8<br />
(6,3%)<br />
2<br />
(1,6%)<br />
7<br />
(5,5%)<br />
2<br />
(1,6%)<br />
7,22,9 10,14,0 6,74,4 3,83,1 10,35,3<br />
29<br />
(4,6%)<br />
t=-3,994;<br />
gl=758<br />
p=0,000**<br />
1,292(1);<br />
p=0,256<br />
3,6%<br />
1,6%<br />
6<br />
(0,9%)<br />
t=6,482;<br />
gl=758<br />
p=0,000**<br />
16,753(3);<br />
p=0,000**<br />
23<br />
(3,6%)<br />
t=-3,313;<br />
gl=758<br />
p=0,001*<br />
1,409(1);<br />
p=0,235<br />
21<br />
(3,3%)<br />
t=0,503;<br />
gl=758<br />
p=0,615<br />
1,435(1);<br />
p=0,231<br />
17<br />
(2,7%)<br />
t=-5,322;<br />
gl=758<br />
p=0,000**<br />
0,535(1);<br />
p=0,464<br />
Gráfico 8 – Percentagem de indivíduos com pontuações médias dos temperamentos<br />
acima de 2 desvios-padrão (>2Z) por género<br />
Podemos, assim, observar os resultados médios não padronizados mais<br />
elevados no temperamento depressivo (M=7,2; DP=2,9), ciclotímico (M=6,7;<br />
DP=4,4) e ansioso (M=10,3; DP=5,3) entre o género feminino e os resultados<br />
médios não padronizados mais elevados para os temperamentos hipertímico<br />
5,5%<br />
3,3% 2,7%<br />
Depressivo Hipertímico Ciclotímico Irritável Ansioso<br />
1,6%<br />
Masculino<br />
Feminino<br />
(M=12,6; DP=3,9) e irritável (M=4,0; DP=3,1) entre o género masculino.<br />
92
Na aplicação dos valores padronizados a cada temperamento verificam-<br />
se diferenças estatisticamente significativas entre indivíduos com pontuações<br />
acima ou abaixo de 2 desvios-padrão da pontuação média (2Z Score) resulta<br />
como temperamento dominante no género masculino o temperamento<br />
hipertímico (p0,05).<br />
Dos dados apresentados no Quadro 10 podemos observar os resultados<br />
médios não padronizados mais elevados para o temperamento depressivo<br />
(M=7,5; DP=2,2) entre os que coabitam apenas com o pai, para o<br />
temperamento ciclotímico (M=7,3; DP=4,8) e irritável (M=4,2; DP=3,1) entre os<br />
que coabitam apenas com a mãe, para o temperamento hipertímico entre os<br />
que coabitam com pai e mãe (M=10,7; DP=4,1), e para o temperamento<br />
ansioso entre os que coabitam com outros familiares (M=10,7; DP=5,2).<br />
93
Quadro 10 – Resultados médios não padronizados dos temperamentos afetivos<br />
segundo o(s) progenitor(es) com quem coabita e percentagem de valores<br />
padronizados (Z-score)<br />
Género/<br />
Temperamento N<br />
Pai 15<br />
Mãe 104<br />
Pai e Mãe 566<br />
Outros<br />
Familiares<br />
6,0%<br />
5,0%<br />
4,0%<br />
3,0%<br />
2,0%<br />
1,0%<br />
0,0%<br />
75<br />
760<br />
5,3%<br />
4,8%<br />
4,1%<br />
MédiaDesvio-<br />
Padrão<br />
>2Z Score<br />
n (%)<br />
MédiaDesvio-<br />
Padrão<br />
>2Z Score<br />
n (%)<br />
MédiaDesvio-<br />
Padrão<br />
>2Z Score<br />
n (%)<br />
MédiaDesvio-<br />
Padrão<br />
>2Z Score<br />
n (%)<br />
ANOVA (F)<br />
Qui-Quadrado<br />
( 2 )<br />
2,7%<br />
1,9%<br />
1,0%<br />
Temp. Estáveis Temp. Instáveis<br />
Depressivo Hipertímico Ciclotímico Irritável Ansioso<br />
7,52,2 9,23,3 5,93,1 3,52,6 9,94,9<br />
0<br />
(0,0%)<br />
0<br />
(0,0%)<br />
0<br />
(0,0%)<br />
0<br />
(0,0%)<br />
0<br />
(0,0%)<br />
7,42,9 10,34,0 7,34,8 4,23,1 9,94,9<br />
5<br />
(4,8%)<br />
1<br />
(1,0%)<br />
4<br />
(3,8%)<br />
5<br />
(4,8%)<br />
1<br />
(1,0%)<br />
7,03,0 10,74,1 6,34,3 3,83,1 9,75,4<br />
23<br />
(4,1%)<br />
11<br />
(1,9%)<br />
17<br />
(3,0%)<br />
20<br />
(3,5%)<br />
16<br />
(2,8%)<br />
7,32,6 10,53,8 7,24,1 4,03,0 10,75,2<br />
4<br />
(5,3%)<br />
F=0,976;<br />
p=0,403<br />
1,016(3);<br />
p=0,797<br />
5,3%<br />
3,8%<br />
3,0%<br />
2<br />
(2,7%)<br />
F=0,800;<br />
p=0,494<br />
1,042(3);<br />
p=0,791<br />
4<br />
(5,3%)<br />
F=2,326;<br />
p=0,074<br />
1,742(3);<br />
p=0,628<br />
3<br />
(4,0%)<br />
F=0,590;<br />
p=0,622<br />
1,001(3);<br />
p=0,801<br />
2<br />
(2,7%)<br />
F=0,791;<br />
p=0,499<br />
1,651(3);<br />
p=0,648<br />
Gráfico 9 – Percentagem de indivíduos com pontuações médias dos temperamentos<br />
acima de 2 desvios-padrão (>2Z) por progenitor(es) com quem coabita<br />
4,8%<br />
4,0%<br />
3,5%<br />
2,8%<br />
Depressivo Hipertímico Ciclotímico Irritável Ansioso<br />
2,7%<br />
1,0%<br />
Mãe<br />
Pai e Mãe<br />
Outros<br />
familiares<br />
94
Da aplicação dos valores padronizados a cada temperamento não se<br />
verificam diferenças estatisticamente significativas entre indivíduos com<br />
pontuações acima ou abaixo de 2 desvios-padrão da pontuação média (2Z<br />
Score) não sendo possível afirmar a dominância de um temperamento<br />
considerando o progenitor com quem coabita (Quadro 10, Gráfico 9).<br />
Pelo Quadro 11, podemos observar que os resultados médios não<br />
padronizados mais elevados para o temperamento depressivo (M=7,1;<br />
DP=2,9), ciclotímico (M=6,6; DP=4,3), hipertímico (M=10,6; DP=4,0) e irritável<br />
(M=3,9; DP=3,1) e ansioso (M=9,9; DP=5,2) foram encontrados entre os<br />
inquiridos que têm irmãos (N=621), não existindo diferenças estatisticamente<br />
significativas.<br />
Quadro 11 – Resultados médios não padronizados dos temperamentos afetivos<br />
segundo a fratria e percentagem de valores padronizados (Z-score)<br />
Fratria/<br />
Temperamento N<br />
Sim 621<br />
Não 139<br />
760<br />
MédiaDesvio-<br />
Padrão<br />
>2Z Score<br />
n (%)<br />
MédiaDesvio-<br />
Padrão<br />
>2Z Score<br />
n (%)<br />
Teste t<br />
Qui-Quadrado<br />
( 2 )<br />
Temp. Estáveis Temp. Instáveis<br />
Depressivo Hipertímico Ciclotímico Irritável Ansioso<br />
7,12,9 10,64,0 6,64,3 3,93,1 9,95,2<br />
26<br />
(4,2%)<br />
13<br />
(2,1%)<br />
20<br />
(3,2%)<br />
25<br />
(4,0%)<br />
15<br />
(2,4%)<br />
7,03,1 10,54,2 6,14,5 3,73,1 9,65,6<br />
6<br />
(4,3%)<br />
t=0,278;<br />
gl=758<br />
p=0,781<br />
0,005(1);<br />
p=0,945<br />
1<br />
(0,7%)<br />
t=0,293;<br />
gl=758<br />
p=0,770<br />
1,186(1);<br />
p=0,276<br />
5<br />
(3,6%)<br />
t=1,276;<br />
gl=758<br />
p=0,202<br />
0,051(1);<br />
p=0,822<br />
3<br />
(2,2%)<br />
t=0,761;<br />
gl=758<br />
p=0,447<br />
1,116(1);<br />
p=0,291<br />
4<br />
(2,9%)<br />
t=0,705;<br />
gl=758<br />
p=0,481<br />
0,100(1);<br />
p=0,752<br />
95
5,0%<br />
4,5%<br />
4,0%<br />
3,5%<br />
3,0%<br />
2,5%<br />
2,0%<br />
1,5%<br />
1,0%<br />
0,5%<br />
0,0%<br />
Gráfico 10 – Percentagem de indivíduos com pontuações médias dos temperamentos<br />
acima de 2 desvios-padrão (>2Z) por existência de fratria<br />
Como se pode observar pelo mesmo Quadro, pela aplicação do Teste t<br />
para a igualdade de médias, não foram observadas evidências estatisticamente<br />
significativas que nos permitem afirmar que os resultados médios não<br />
padronizados dos vários temperamentos são diferentes entre quem tem e<br />
quem não tem irmãos.<br />
Na aplicação dos valores padronizados a cada temperamento não se<br />
verificam diferenças estatisticamente significativas entre indivíduos com<br />
pontuações acima ou abaixo de 2 desvios-padrão da pontuação média (2Z<br />
Score) não sendo possível afirmar um temperamento dominante (Quadro 11;<br />
Gráfico 10).<br />
4,3%<br />
4,2%<br />
2,1%<br />
0,7%<br />
3,2%<br />
3,6%<br />
No estudo dos resultados médios não padronizados dos diversos<br />
temperamentos considerando a existência de uma relação de namoro (Quadro<br />
12) podemos observar os resultados médios mais elevados para o<br />
temperamento depressivo (M=7,2; DP=2,9), ciclotímico (M=7,4; DP=4,6),<br />
hipertímico (M=10,6; DP=4,0), irritável (M=4,1; DP=3,2) e ansioso (M=9,8;<br />
2,2%<br />
4,0%<br />
Depressivo Hipertímico Ciclotímico Irritável Ansioso<br />
2,9%<br />
2,4%<br />
DP=5,2) entre os inquiridos que têm uma relação de namoro (n=458).<br />
Com Fratria<br />
Sem Fratria<br />
96
Quadro 12 – Resultados médios não padronizados dos temperamentos afetivos<br />
segundo a existência de uma relação de namoro e percentagem de valores<br />
padronizados (Z-score)<br />
Relação de<br />
Namoro/<br />
Temperamento<br />
6,0%<br />
5,0%<br />
4,0%<br />
3,0%<br />
2,0%<br />
1,0%<br />
0,0%<br />
N<br />
Sim 458<br />
Não 302<br />
760<br />
MédiaDesvio-<br />
Padrão<br />
>2Z Score<br />
n (%)<br />
MédiaDesvio-<br />
Padrão<br />
>2Z Score<br />
n (%)<br />
Teste t<br />
Qui-Quadrado<br />
( 2 )<br />
Temp. Estáveis Temp. Instáveis<br />
Depressivo Hipertímico Ciclotímico Irritável Ansioso<br />
7,02,9 10,54,2 5,94,1 3,73,0 9,85,4<br />
16<br />
(3,5%)<br />
8<br />
(1,7%)<br />
9<br />
(2,0%)<br />
15<br />
(3,3%)<br />
15<br />
(3,3%)<br />
7,22,9 10,64,0 7,44,6 4,13,2 9,85,2<br />
16<br />
(5,3%)<br />
t=-0,801;<br />
gl=758<br />
p=0,426<br />
1,469(1);<br />
p=0,225<br />
6<br />
(2,0%)<br />
t=-0,129;<br />
gl=758<br />
p=0,897<br />
0,058(1);<br />
p=0,810<br />
16<br />
(5,3%)<br />
t=-4,674;<br />
gl=758<br />
p=0,000**<br />
6,355(1);<br />
p=0,012**<br />
13<br />
(4,3%)<br />
t=-1,196;<br />
gl=758<br />
p=0,046*<br />
0,544(1);<br />
p=0,461<br />
* Correlação significativa ao nível p≤0,05 e ** Correlação significativa ao nível p≤0,01<br />
5,3%<br />
3,5%<br />
1,7%<br />
2,0%<br />
4<br />
(1,3%)<br />
t=0,004;<br />
gl=758<br />
p=0,997<br />
2,841(1);<br />
p=0,092<br />
Gráfico 11 – Percentagem de indivíduos com pontuações médias dos temperamentos<br />
acima de 2 desvios-padrão (>2Z) por existência de relação de namoro<br />
Como se pode observar pelo Quadro 12, pela aplicação do Teste t para<br />
a igualdade de médias, foram observadas evidências estatisticamente<br />
significativas que nos permitem afirmar que os resultados médios não<br />
padronizados do temperamento ciclotímico e irritável diferem entre quem tem<br />
ou não uma relação de namoro.<br />
5,3%<br />
2,0%<br />
3,3%<br />
4,3%<br />
Depressivo Hipertímico Ciclotímico Irritável Ansioso<br />
3,3%<br />
1,3%<br />
Com relação<br />
de namoro<br />
Sem relação<br />
de namoro<br />
97
Da aplicação dos valores padronizados a cada temperamento verificam-<br />
se diferenças estatisticamente significativas entre indivíduos com pontuações<br />
acima ou abaixo de 2 desvios-padrão da pontuação média (2Z Score)<br />
resultando o temperamento ciclotímico como dominante entre os que não têm<br />
uma relação de namoro. Entre os que têm uma relação de namoro não é<br />
possível encontrar um temperamento dominante (Quadro 12; Gráfico 11).<br />
resultados:<br />
Em síntese no estudo do temperamento foram encontrados os seguintes<br />
- Existem correlações estatisticamente significativas entre todos os pares<br />
de temperamentos com correlações negativas entre o temperamento<br />
hipertímico e os temperamentos depressivo, ciclotímico e ansioso;<br />
- O temperamento com valores médios não padronizados mais elevados<br />
para a totalidade da população foi o temperamento hipertímico seguido do<br />
temperamento ansioso e do depressivo;<br />
- O temperamento dominante para a totalidade da população é o<br />
temperamento depressivo (4,2% de indivíduos com pontuações acima de 2<br />
desvios-padrão);<br />
- O temperamento dominante no género masculino é o hipertímico não<br />
sendo possível apontar um temperamento dominante para o género feminino já<br />
que não foi encontrada uma diferença significativa entre indivíduos com<br />
pontuações acima ou baixo de 2 desvios-padrão em nenhum dos<br />
temperamentos;<br />
ciclotímico;<br />
- Existe uma correlação positiva entre a idade e o temperamento<br />
- Não é possível afirmar a dominância de um temperamento quando<br />
consideramos o(s) progenitor(es) com quem coabita ou a existência de fratria;<br />
- O temperamento ciclotímico é dominante entre os que não têm uma<br />
relação de namoro não sendo possível apontar um temperamento dominante<br />
entre os que têm uma relação de namoro já que não foi encontrada uma<br />
diferença significativa entre indivíduos com pontuações acima ou baixo de 2<br />
desvios-padrão em nenhum dos temperamentos.<br />
98
1.4. Relações entre variáveis<br />
1.4.1. Fatores de vinculação na relação com a mãe e temperamento<br />
afetivo<br />
Na análise dos valores de correlação entre os temperamentos e os<br />
fatores de vinculação na relação com a mãe (Quadro 13) verificamos relações<br />
estatisticamente significativas entre os fatores IEI e ASD e todos os<br />
temperamentos e entre o fator QLE e os temperamentos ciclotímico e irritável<br />
(temperamentos instáveis), relações essas, expressas por correlações de nível<br />
ínfimo e fraco. Foram encontradas relações positivas entre os fatores IEI e ASD<br />
e o temperamento depressivo (estável) e ciclotímico, irritável e ansioso<br />
(instáveis) e os fatores IEI e ASD, e relações em sentido inverso entre o<br />
temperamento hipertímico (estável) e os fatores IEI e ASD e entre o ciclotímico<br />
e o irritável (instáveis) e o fator QLE.<br />
99
Quadro 13 – Valores de correlação entre fatores de vinculação na relação com a mãe<br />
e temperamento afetivo<br />
Temp.<br />
Temp.<br />
Temperamentos<br />
Estáveis<br />
Temperamentos<br />
Instáveis<br />
Estáveis<br />
Instáveis<br />
Temperamento/Fatores<br />
Inibição da exploração e<br />
individualidade<br />
Qualidade do<br />
laço<br />
emocional<br />
Ansiedade de<br />
separação e<br />
dependência<br />
Depressivo 0,222** 0,027 0,246**<br />
Hipertímico<br />
-0,094** 0,061 -0,074*<br />
Ciclotímico 0,359** -0,075* 0,164**<br />
Irritável 0,341** -0,116** 0,089*<br />
Ansioso 0,260** 0,067 0,350**<br />
* Correlação significativa ao nível p≤0,05 e ** Correlação significativa ao nível p≤0,01<br />
Quadro 14 – Relação entre padrões de vinculação na relação com a mãe e<br />
temperamentos estáveis e instáveis<br />
Temperamento/<br />
Padrões de<br />
Vinculação<br />
Temperamento<br />
Dominante<br />
Depressivo<br />
(Z Score>2DP)<br />
Temperamento<br />
Dominante<br />
Hipertímico<br />
(Z Score>2DP)<br />
Temperamento<br />
Dominante<br />
Ciclotímico<br />
(Z Score>2DP)<br />
Temperamento<br />
Dominante<br />
Irritável<br />
(Z Score>2DP)<br />
Temperamento<br />
Dominante<br />
Ansioso<br />
(Z Score>2DP)<br />
Seguro<br />
(N)<br />
Padrão de Vinculação à Mãe<br />
Preocupado<br />
(N)<br />
Desinvestido<br />
(N)<br />
Amedrontado<br />
(N)<br />
Total<br />
(N)<br />
9(28,1%) 3(9,4%) 16(50%) 4(12,5%) 32<br />
4(28,6%) 5(35,7%) 2(14,3%) 3(21,4%) 14<br />
5(20%) 3(12%) 11(44%) 6(24%) 25<br />
9(32,1%) 1(3,6%) 12(42,9%) 6(21,4%) 28<br />
7 (36,8%) 2 (10,5%) 9 (47,4%) 1 (5,3%) 19<br />
Qui-<br />
Quadrado<br />
( 2 )<br />
12,244(3);<br />
p=0,007**<br />
2,982(3);<br />
p=0,394<br />
11,901(3);<br />
p=0,008**<br />
12,663(3);<br />
p=0,005**<br />
6,008(3);<br />
p=0,111<br />
100
O modelo de regressão linear simples (MRLS) permitiu-nos observar o<br />
contributo dos fatores de vinculação na relação com a mãe para a variância de<br />
cada temperamento.<br />
Assim podemos afirmar que, no caso do temperamento depressivo o<br />
fator IEI contribui para 4,4% (R 2 =0,44) da variância e o fator ASD para 6%<br />
(R 2 =0,60) da variância.<br />
(R 2 =0,09).<br />
Para o temperamento hipertímico esses valores são de: IEI – 0,9%<br />
Para o temperamento ciclotímico esses valores são de: IEI – 12,9% (R 2 =<br />
0,129) e ASD – 2,1% (R 2 =0,021).<br />
Para o temperamento irritável esses valores são de: IEI – 11,6%<br />
(R 2 =0,116) e ASD – 0,5% (0,05).<br />
Para o temperamento ansioso esses valores são de IEI – 5,8%<br />
(R 2 =0,058) e ASD – 12,3% (R 2 =0,123).<br />
No estudo da associação entre padrões de vinculação na relação com a<br />
mãe e temperamento afetivo podemos observar frequências mais elevadas de<br />
indivíduos com temperamentos estáveis dominantes (Z Score>2DP) entre os<br />
indivíduos com padrão de vinculação desinvestido para o temperamento<br />
depressivo e entre os indivíduos com padrão de vinculação preocupado para o<br />
temperamento hipertímico.<br />
Essa associação é estatisticamente significativa entre o temperamento<br />
depressivo e o padrão desinvestido.<br />
Podemos ainda, observar, frequências mais elevadas de indivíduos com<br />
temperamentos instáveis (ciclotímico e irritável) dominantes (Z Score>2DP)<br />
entre os indivíduos com padrão de vinculação desinvestido, sendo essa<br />
associação estatisticamente significativa (Quadro 14).<br />
1.4.2. Fatores de vinculação na relação com o pai e temperamento<br />
afetivo<br />
Na análise dos valores de correlação entre os temperamentos e os<br />
fatores de vinculação ao pai (Quadro 15) verificámos relações estatisticamente<br />
significativas entre o fator IEI e todos os temperamentos (relação inversa entre<br />
o fator IEI e o hipertímico), entre o fator QLE e os temperamentos ciclotímico e<br />
101
irritável (relação inversa) e o temperamento hipertímico e entre o fator ASD e<br />
os temperamentos depressivo, ciclotímico e ansioso.<br />
Quadro 15 – Valores de correlação entre fatores de vinculação na relação com o pai e<br />
temperamento afetivo<br />
Temp.<br />
Temp.<br />
Estáveis<br />
Instáveis<br />
Temperamento/Fatores<br />
Inibição da exploração e<br />
individualidade<br />
Qualidade do<br />
laço<br />
emocional<br />
Ansiedade de<br />
separação e<br />
dependência<br />
Depressivo 0,199** -0,035 0,166**<br />
Hipertímico<br />
-0,082* 0,102** -0,008<br />
Ciclotímico 0,294** -0,084* 0,114**<br />
Irritável 0,283** -0,113** 0,052<br />
Ansioso 0,249** -0,015 0,262**<br />
* Correlação significativa ao nível p≤0,05 e ** Correlação significativa ao nível p≤0,01<br />
Quadro 16 - Relação entre padrões de vinculação na relação com o pai e<br />
temperamentos estáveis e instáveis<br />
Temperamento/<br />
Padrões de Vinculação<br />
Temperamentos<br />
Estáveis<br />
Temperamentos<br />
Instáveis<br />
Temperamento<br />
Dominante<br />
Depressivo<br />
(Z Score>2DP)<br />
Temperamento<br />
Dominante<br />
Hipertímico<br />
(Z Score>2DP)<br />
Temperamento<br />
Dominante<br />
Ciclotímico<br />
(Z Score>2DP)<br />
Temperamento<br />
Dominante<br />
Irritável<br />
(Z Score>2DP)<br />
Temperamento<br />
Dominante<br />
Ansioso<br />
(Z Score>2DP)<br />
Seguro<br />
(N)<br />
Padrão de Vinculação ao Pai<br />
Preocupado<br />
(N)<br />
Desinvestido<br />
(N)<br />
Amedrontado<br />
(N)<br />
Total<br />
(N)<br />
6(18,8%) 5(15,6%) 15(46,9%) 6(18,8%) 32<br />
5(35,7%) 1(7,1%) 4(28,6%) 4(28,6%) 14<br />
5(20%) 4(16%) 9(36%) 7(28%) 25<br />
9(32,1%) 2(7,1%) 11(39,3%) 6(21,4%) 28<br />
5(26,3%) 4(21,1%) 8(42,1%) 2(10,5%) 19<br />
Qui-<br />
Quadrado<br />
( 2 )<br />
13,421(3);<br />
p=0,004**<br />
0,279(3);<br />
p=0,964<br />
4,847(3);<br />
p=0,183<br />
4,077(3);<br />
p=0,253<br />
9,652(3);<br />
p=0,022**<br />
102
O modelo de regressão linear simples (MRLS) permitiu-nos observar o<br />
contributo dos fatores de vinculação na relação com o pai para a variância de<br />
cada temperamento.<br />
Assim podemos afirmar que, no caso do temperamento depressivo o<br />
fator IEI contribui para 4% (R 2 =0,040) da variância, o fator QLE para 1,7%<br />
(R 2 =0,017) da variância e o fator ASD para 2,7% (R 2 =0,027).<br />
Para o temperamento hipertímico esses valores são de: IEI – 1%<br />
(R 2 =0,010) e ASD - 1% (R 2 =0,010).<br />
Para o temperamento ciclotímico esses valores são de: IEI – 8,7%<br />
(R 2 =0,087), QLE – 1,4% (R 2 =0,014) e ASD – 1,2% (R 2 =0,012).<br />
(R 2 =0,080).<br />
Para o temperamento irritável esses valores são de: IEI – 8%<br />
Para o temperamento ansioso esses valores são de IEI – 2,9%<br />
(R 2 =0,029), QLE – 6,2% (R 2 =0,062) e ASD – 6,9% (R 2 =0,069).<br />
No estudo da associação entre padrões de vinculação na relação com o<br />
pai e temperamento afetivo podemos observar frequências mais elevadas de<br />
indivíduos com temperamentos instáveis dominantes (Z Score>2DP) entre os<br />
indivíduos com padrão de vinculação desinvestido.<br />
No que se refere aos temperamentos estáveis, a frequência mais<br />
elevada de indivíduos com temperamento hipertímico encontra-se entre os<br />
indivíduos com padrão de vinculação seguro e a frequência mais elevada de<br />
indivíduos com temperamento depressivo entre os indivíduos com padrão de<br />
vinculação desinvestido.<br />
Essa associação é estatisticamente significativa entre os temperamentos<br />
depressivo e ansioso e o padrão desinvestido (Quadro 16).<br />
1.4.3. Fatores de vinculação amorosa e temperamento afetivo<br />
Na análise dos valores de correlação entre os temperamentos e os<br />
fatores de vinculação amorosa (Quadro 17) verificámos relações<br />
estatisticamente significativas entre os fatores dependência e ambivalência e<br />
todos os temperamentos, entre o fator confiança e os temperamentos<br />
103
depressivo, ciclotímico, irritável e ansioso e entre o fator evitamento e os<br />
temperamentos ciclotímico e irritável, relações essas expressas por<br />
correlações de nível ínfimo e fraco revelando relações positivas e negativas.<br />
Temp.<br />
Temp. Instáveis<br />
Quadro 17 – Valores de correlação entre fatores de vinculação ao par amoroso e<br />
temperamento afetivo<br />
Estáveis<br />
Temperamento/Fatores Confiança Dependência Evitamento Ambivalência<br />
Depressivo -0,073* 0,303** -0,024 0,206**<br />
Hipertímico<br />
0,003 -0,146** 0,030 -0,101**<br />
Ciclotímico -0,171** 0,168** 0,119** 0,345**<br />
Irritável -0,195** 0,139** 0,118** 0,345**<br />
Ansioso -0,091* 0,339** -0,058 0,265**<br />
* Correlação significativa ao nível p≤0,05 e ** Correlação significativa ao nível p≤0,01<br />
Quadro 18 - Relação entre padrões de vinculação amorosa e temperamentos estáveis<br />
e instáveis<br />
Temperamentos<br />
Estáveis<br />
Temperamento Instáveis<br />
Temperamento/<br />
Padrões de<br />
Vinculação<br />
Temperamento<br />
Dominante<br />
Depressivo<br />
(Z Score>2DP)<br />
Temperamento<br />
Dominante<br />
Hipertímico<br />
(Z Score>2DP)<br />
Temperamento<br />
Dominante<br />
Ciclotímico<br />
(Z Score>2DP)<br />
Temperamento<br />
Dominante<br />
Irritável<br />
(Z Score>2DP)<br />
Temperamento<br />
Dominante<br />
Ansioso<br />
(Z Score>2DP)<br />
Seguro<br />
(N)<br />
Padrão de Vinculação Amorosa<br />
Preocupado<br />
(N)<br />
Desinvestido<br />
(N)<br />
Amedrontado<br />
(N)<br />
1(3,1%) 2(6,3%) 8(25%) 21(65,6%) 32<br />
6(24%) 7(28%) 3(12%) 9(36%) 25<br />
4(28,6%) 1(7,1%) 5(35,7%) 4(28,6) 14<br />
6(24%) 7(28%) 3(12%) 9(36%) 25<br />
0(0%) 6(31,6%) 4(21,1%) 9(47,4%) 19<br />
Total (N) Qui-Quadrado<br />
( 2 )<br />
25,040(3);<br />
p=0,000**<br />
9,068(3);<br />
p=0,028*<br />
0,489(3);<br />
p=0,921<br />
9,068(3);<br />
p=0,028*<br />
13,652(3);<br />
p=0,003**<br />
104
O modelo de regressão linear simples (MRLS) permitiu-nos observar o<br />
contributo dos fatores de vinculação ao par amoroso para a variância de cada<br />
temperamento.<br />
Assim podemos afirmar que, no caso do temperamento depressivo o<br />
fator dependência contribui para 9,2% (R 2 =0,092) da variância e o fator<br />
ambivalência para 3,3% (R 2 =0,033).<br />
Para o temperamento hipertímico esses valores são de: dependência –<br />
2,1% (R 2 =0,021) e ambivalência – 0,8% (R 2 =0,008).<br />
Para o temperamento ciclotímico esses valores são de: dependência –<br />
2% (R 2 =0,020) e ambivalência – 11,9% (R 2 =0,119).<br />
Para o temperamento irritável esses valores são de: dependência –<br />
1,2% (R 2 =0,012) e ambivalência – 11,9% (R 2 =0,119).<br />
Para o temperamento ansioso esses valores são de: dependência –<br />
11,5% (R 2 =0,115), evitamento – 0,8% (R 2 =0,008) e ambivalência – 5,7%<br />
(R 2 =0,057).<br />
No estudo da associação entre padrões de vinculação amorosa e<br />
temperamento afetivo podemos observar frequências mais elevadas de<br />
indivíduos com temperamentos estáveis (depressivo e hipertímico) dominantes<br />
(Z Score>2DP) entre os indivíduos com padrão de vinculação amedrontado<br />
sendo essa associação estatisticamente significativa.<br />
Podemos ainda observar frequências mais elevadas de indivíduos com<br />
temperamentos ciclotímico dominante (Z Score>2DP) entre os indivíduos com<br />
padrão de vinculação desinvestido e frequências mais elevadas de indivíduos<br />
com temperamento irritável e ansioso dominante (Z Score>2DP) entre os<br />
indivíduos com padrão de vinculação amedrontado, sendo esta associação<br />
estatisticamente significativa no caso do temperamento ansioso (Quadro 18).<br />
Em síntese verifica-se no que se refere à relação entre os fatores de<br />
vinculação e os temperamentos afetivos:<br />
- O fator de vinculação na relação com a mãe que mais contribui para a<br />
variância dos temperamentos é o fator IEI com maior contributo para a<br />
variância do temperamento ciclotímico (12,9%) e do temperamento irritável<br />
(11,6%);<br />
105
- O fator de vinculação na relação com o pai que mais contribui para a<br />
variância dos temperamentos é o fator IEI com maior contributo para a<br />
variância do temperamento ciclotímico (8,7%) e do temperamento irritável (8%);<br />
- O fator de vinculação ao par amoroso que mais contribui para a<br />
variância dos temperamentos é o fator dependência com maior contributo para<br />
a variância do ansioso (11,5%) e depressivo (9,2%);<br />
- Na vinculação na relação com a mãe, o temperamento depressivo<br />
(estável) e os temperamentos instáveis (ciclotímico, irritável e ansioso)<br />
revelaram-se dominantes entre o padrão desinvestido e o hipertímico (estável)<br />
entre os preocupados;<br />
- Na vinculação na relação com o pai, o temperamento depressivo<br />
(estável) e os temperamentos instáveis (ciclotímico, irritável e ansioso)<br />
revelaram-se dominantes entre o padrão desinvestido e o hipertímico (estável)<br />
entre os seguros;<br />
- Na vinculação ao par amoroso, os temperamentos estáveis (depressivo<br />
e hipertímico) e os temperamentos irritável e ansioso (instáveis) revelaram-se<br />
dominantes entre o padrão amedrontado e o temperamento ciclotímico entre o<br />
padrão desinvestido.<br />
106
2. DISCUSSÃO DE RESULTADOS<br />
Discutiremos, neste capítulo, os dados marcantes a que os nossos<br />
resultados nos conduziram.<br />
Ao longo do percurso desta investigação fomos construindo o nosso<br />
conhecimento inspirado na fundamentação teórica que sustentámos nas<br />
variadíssimas fontes que consultámos.<br />
Neste Capítulo faremos um exercício de análise crítica sobre os<br />
resultados encontrados e o seu confronto com a atualidade assim como sobre<br />
a adequação das opções metodológicas que estruturam este estudo.<br />
Seguiremos o critério de apresentar esta síntese pela sua ordem de<br />
apresentação no Capítulo anterior e tendo como referência os objetivos que<br />
delineámos.<br />
Reportar-nos-emos ainda à atualidade e pertinência do estudo.<br />
Optámos, neste estudo, por recolher dados junto de uma população de<br />
estudantes de 1º Ciclo, do Curso Superior de Licenciatura em Enfermagem.<br />
Porque somos enfermeiros e educadores em enfermagem acreditámos<br />
poder contribuir para um melhor conhecimento da dimensão afetiva dos nossos<br />
estudantes.<br />
O tamanho da amostra, na nossa opinião, é satisfatório. Os padrões<br />
encontrados nas características gerais são similares a variados estudos<br />
realizados no âmbito da formação ou da profissão de enfermagem.<br />
Os participantes são maioritariamente do género feminino (83,3%), com<br />
uma média de idades de 21,3 anos, estão enquadrados num ambiente familiar<br />
com pai e mãe (74,5%), 81,7% têm irmãos e 61,1% têm uma relação de<br />
namoro.<br />
Apresenta-se como um dado marcante a feminização dos participantes,<br />
tendência aliás já encontrada em vários estudos desenvolvidos no âmbito do<br />
ensino superior em Portugal (Grácio, 1997; Balsa, Simões, Nunes, Carmo, &<br />
Campos, 2001; Martins, Mauritti & Costa, 2005) e também em estudos de<br />
âmbito europeu (OCDE, 2009), o que deixa por adivinhar uma realidade mais<br />
107
fiável relativamente à população masculina. Refira-se ainda que esta é também<br />
uma realidade fortemente associada à área da formação inicial de<br />
enfermagem.<br />
Na escolha dos instrumentos de avaliação podemos também afirmar que<br />
a escolha se revelou adequada ao objetivo do estudo.<br />
Na avaliação da vinculação parental, o Questionário de Vinculação ao<br />
Pai e à Mãe – QVPM, Versão IV (Matos & Costa, 2001a) aplicado de duas<br />
formas: uma relativa à Mãe e outra relativa ao Pai revelou valores de<br />
consistência interna (Alpha de Cronbach - ) bastante aceitáveis.<br />
Relativamente à versão relativa à mãe, o fator inibição da exploração e<br />
individualidade apresentou um =0,85, o fator qualidade do laço emocional um<br />
=0,90, o fator ansiedade de separação e dependência um = 0,83, para um<br />
=0,81 para a escala total. Na versão relativa ao pai o fator inibição da<br />
exploração e individualidade apresentou um =0,85, o fator qualidade do laço<br />
emocional um =0,95, o fator ansiedade de separação e dependência um =<br />
0,87.<br />
A avaliação da vinculação amorosa com recurso ao Questionário de<br />
Vinculação Amorosa – QVA, Versão III (Matos & Costa, 2001b) revelou valores<br />
de consistência interna entre =0,85 e =0,91 para os fatores.<br />
Na avaliação do temperamento afetivo, a escala TEMPS-A, validação<br />
para a população portuguesa (Akiskal & Akiskal, 2005ab; Figueira et al., 2008)<br />
revelou, em geral, uma boa consistência interna com um Alpha () de<br />
Cronbach de 0,87 para a escala total e um de Cronbach para os vários<br />
temperamentos de =0,63 (depressivo), =0,82 (ciclotímico), =0,76<br />
(hipertímico), =0,75 (irritável) e =0,84 (ansioso).<br />
A validação desta escala para a população portuguesa (Figueira et al.,<br />
2008) bem como a nossa segurança na sua aplicação, fruto da nossa<br />
participação em aplicações prévias com outros grupos (<strong>Cordeiro</strong>, Claudino &<br />
Arriaga, 2008; Figueira et al., 2009) permitiu-nos confiança nos dados obtidos.<br />
Os estudos conhecidos têm adotado a mesma técnica de autoaplicação<br />
deste instrumento de colheita de dados.<br />
No estudo dos fatores de vinculação, os resultados indicaram diferenças<br />
de género relativas a alguns fatores, nomeadamente a obtenção de resultados<br />
108
mais elevados das adolescentes se comparadas aos rapazes no que concerne<br />
à qualidade do laço emocional e à ansiedade de separação e dependência na<br />
relação com ambos os pais, resultados corroborados noutros estudos (Rocha,<br />
2008). Não existe este efeito de género quando se trata do fator inibição da<br />
exploração e individualidade.<br />
As raparigas obtiveram resultados mais elevados de inibição de<br />
exploração e individualidade com a mãe que com o pai contrariando um pouco<br />
a realidade cultural: no contexto português a imagem do pai protetor das filhas<br />
sobretudo ao nível das relações com pares é um modelo fortemente enraizado,<br />
pelo que a pressão na adolescência do desenvolvimento da identidade através<br />
do par sejam praticamente impossíveis de explorar com uma figura paterna<br />
superprotejendo-a.<br />
Sugere-se que as raparigas investem mais a relação com as mães que<br />
com os pais, embora mais dependentes das mães; também em comparação<br />
com os rapazes. Parece existir evidência de que a qualidade do laço emocional<br />
nas raparigas é mais robusta relativamente a ambos os elementos parentais, e<br />
por consequência os níveis de ansiedade de separação e dependência<br />
encontrados foram também mais elevados.<br />
Nos rapazes, os resultados indicaram relações com laços emocionais<br />
próximos com ambos os pais, e, surpreendentemente, referiram sem<br />
diferenças comparativamente às raparigas, a mesma inibição parental da<br />
exploração e da individualidade, não se podendo encaixar aqui a mesma<br />
justificação cultural referida para o género feminino.<br />
Se os pais portugueses detivessem práticas educativas não orientadas<br />
para a autonomia que se refletissem posteriormente na segurança dos filhos<br />
adultos (Allen & Hauser, 1996), então a transferência de vinculação dos pais<br />
aos pares poderia ser mais precoce nos adolescentes portugueses, sobretudo<br />
para as raparigas, porque a robustez superior do laço com as mães por<br />
comparação ao dos filhos parece ser replicado em diversos estudos (Berman &<br />
Spearling, 1991; Matos, 2002; Neves, Soares & Silva, 1999; van Wel, 2002),<br />
fazendo supor que a vinculação das mães às suas filhas pode ter uma função<br />
protetora relativamente ao estatuto feminino nas sociedades ocidentais.<br />
109
Muito interessantes as variações em sentido inverso entre a idade e os<br />
fatores da vinculação (nomeadamente ansiedade de separação e dependência)<br />
indicando subtilmente o caminho da autonomia adolescente.<br />
Embora o impacto seja difícil de medir no âmbito deste estudo é<br />
importante olhar para a inconstância de alguns fatores nomeadamente do fator<br />
ASD sugerindo uma influência diferencial da composição do agregado familiar.<br />
Não parece que a existência de irmãos seja determinante na qualidade e<br />
fatores de vinculação embora se possam notar alguns resultados interessantes.<br />
Quem têm irmãos parece estar mais inibido perante o pai. A repartição de<br />
autoridade do pai enquanto figura paternal não é repartida mas antes<br />
concentrada o que pode justificar este resultado.<br />
Na relação entre os fatores de vinculação à mãe ao pai e a relação de<br />
namoro a qualidade do laço emocional tende a ser igual para ambos os pais<br />
entre os que namoram e não namoram. Apenas se observaram diferenças no<br />
fator ASD na vinculação com a mãe. O laço emocional será mesmo o último<br />
fator de vinculação aos pais que encontrará substituto na vinculação amorosa.<br />
As raparigas revelaram maiores níveis de confiança e ambivalência nas<br />
relações amorosas que os rapazes e estes, um maior grau de evitamento e<br />
dependência. Estes resultados exigem um robusto corpo teórico que indica que<br />
as perceções das relações românticas na adolescência são diferenciadas por<br />
género e, que esta diferenciação é mais positiva e investida por parte das<br />
raparigas (Shulman & Scharf, 2000; Taradash, Connolly, Pepler, Craig, &<br />
Costa, 2001) pensando que estas diferenças têm diversos fundamentos.<br />
Desde logo os papéis sociais que vão sendo atribuídos induzem as<br />
raparigas a serem prestadoras de cuidados e a responderem à vulnerabilidade<br />
dos outros com maior disponibilidade que os rapazes. Os últimos, por seu<br />
turno, são encaminhados para atividades onde a dominação física é visível.<br />
Algumas teorias sugerem que é justamente a sobrevivência da espécie que<br />
induz esta “aculturação” na medida em que atribui às mulheres o papel de<br />
cuidar da prole ao nível mais imediato e mais íntimo e, aos homens um papel<br />
de proteção física. Posteriormente e já na adolescência as relações de<br />
proximidade entre pares rapazes do mesmo género são objeto de<br />
comportamentos de segregação homofóbica, enquanto as relações íntimas das<br />
raparigas são apoiadas. Obviamente que estes comportamentos sociais vão<br />
110
sendo traduzidos de tal modo que as relações dos adolescentes são<br />
visivelmente mais diádicas entre raparigas e mais grupais entre rapazes<br />
(Markovits, Benenson, & Dolenzky, 2001), o que provavelmente terá um<br />
correlato posterior nas relações amorosas.<br />
Não seria expectável a relação entre a idade e os factores de vinculação<br />
amorosa, já que teoricamente não é a idade mas antes a duração da relação<br />
íntima que promove a variância na vinculação amorosa. Poderíamos especular<br />
que a idade influencia essa duração, já que as relações amorosas começam a<br />
introduzir-se na realidade relacional tipicamente no início da adolescência e<br />
após processos de interação que passam por sequências de relações típicas<br />
com pares do mesmo género, grupos alargados de pares mistos e<br />
possibilidade de relação amorosa dentro destes últimos grupos.<br />
Em todo o caso seria a duração das relações e não a idade o fator de<br />
variância. O modelo de Hazan refere um limite de dois anos como condição à<br />
existência de uma relação de vinculação romântica, pelo que a ausência de<br />
resultados em função da idade estão de acordo com a teoria (Hazan &<br />
Zeifman, 1994, 1999).<br />
No estudos da vinculação à mãe segundo o modelo dos padrões<br />
descritos atrás padrões de vinculação, os adolescentes seguros apresentam<br />
valores de inibição da exploração e individualidade baixos (embora mais<br />
elevados que os preocupados), de qualidade do laço emocional altos<br />
(significativamente mais altos que preocupados, desinvestidos e<br />
amedrontados) e, valores médios no fator ansiedade de separação e<br />
dependência mais elevados que nos outros padrões. Os valores de qualidade<br />
do laço emocional estão de acordo com o esperado para um padrão seguro.<br />
Também no que diz respeito ao fator qualidade do laço emocional foram os<br />
adolescentes seguros que obtiveram as médias mais elevadas, sendo um tipo<br />
de relato esperado já que traduz a idealização relacional que tendem a<br />
manifestar.<br />
Também os adolescentes classificados como preocupados obtiveram<br />
médias significativamente diferentes de todos os outros. Desta feita, e tal como<br />
teoricamente aguardado, as médias obtidas no fator inibição da exploração e<br />
individualidade foram as mais baixas comparativamente às dos restantes,<br />
evidenciando a qualidade de procura incessante pela companhia dos<br />
111
adolescentes com outros padrões, e as necessidades elevadas de atenção e<br />
aprovação destes jovens; ou seja, o medo de que as opiniões próprias de<br />
quem tem uma imagem de si negativa sejam divergentes das do outro, de<br />
quem tem de si uma imagem positiva, podem gerar limitações à exploração e<br />
expressividade pessoais por medo justamente do aumento da rejeição e da<br />
diminuição da aprovação por parte do outro significativo. Por último, foram<br />
também os jovens preocupados que mais ansiedade de separação e<br />
dependência na relação com a mãe exibiram, dando a conhecer a dependência<br />
psicológica e a forma pertinaz como estes adolescentes se relacionam com as<br />
figuras de vinculação.<br />
Os jovens desinvestidos obtiveram, em conjunto com os do grupo<br />
amedrontado, os resultados mais elevados no que diz respeito à inibição da<br />
exploração e individualidade.<br />
Por último, o padrão amedrontado, caracteristicamente revelador de um<br />
funcionamento que expressa modelos negativos de si mesmo e do outro,<br />
deteve médias altas no fator inibição da exploração e individualidade, valores<br />
reveladores da ambivalência entre necessidade de contacto e representação<br />
pessoal de falta de adequação. O medo da rejeição não permite a exploração<br />
pessoal, porque justamente o sujeito se depara com uma consciência negativa<br />
de si mesmo.<br />
Para os amedrontados, as médias de qualidade do laço emocional e de<br />
ansiedade de separação e dependência foram diferentes das de todos os<br />
outros padrões (sendo as mais baixas entre todas). Esta configuração confirma<br />
o modelo negativo que os amedrontados têm do outro, ou seja, a expressão<br />
que fazem da desvalorização do outro, num claro afastamento emocional, que<br />
não permite o que supõem ser a ingerência do outro em questões pessoais<br />
(daí a elevada média de inibição da exploração e individualidade). As<br />
consequências são então a baixa qualidade do laço emocional e o evitamento<br />
ativo na procura dos outros, pelo que a ansiedade de separação e dependência<br />
é igualmente baixa nos amedrontados.<br />
Em relação à vinculação ao pai segundo os padrões de vinculação, os<br />
adolescentes seguros obtiveram as médias mais baixas no fator inibição da<br />
exploração e individualidade. No que diz respeito à qualidade do laço<br />
emocional, os seguros têm uma média significativamente superior a<br />
112
preocupados, amedrontados e desinvestidos na relação com o pai, em linha<br />
com o esperado teoricamente. Quando observadas as diferenças de médias<br />
para a ansiedade de separação e dependência na relação com o pai, os<br />
adolescentes com padrão seguro obtiveram médias mais elevadas que<br />
preocupados (que obtiveram neste fator as médias mais baixas), desinvestidos<br />
e amedrontados.<br />
Os jovens preocupados obtiveram as médias mais baixas nos fatores<br />
qualidade do laço emocional e ansiedade de separação e dependência. A<br />
média obtida para a qualidade do laço emocional pode representar o conceito<br />
elaborado que realizam das relações interpessoais, e os valores de ansiedade<br />
de separação e dependência, a dependência nos outros para a valorização<br />
pessoal, manifestando paralelamente um posicionamento negativo perante o<br />
self.<br />
Os jovens desinvestidos evidenciaram diferenças relevantes para com<br />
seguros e preocupados nos graus de inibição da exploração e individualidade,<br />
detendo porém uma média significativamente inferior à dos amedrontados.<br />
Estes resultados parecem refletir o evitamento interpessoal resultante da<br />
imagem negativa do outro. Quanto à qualidade do laço emocional as médias<br />
foram mais baixas que as de seguros e amedrontados, porém mais elevadas<br />
que as de preocupados comparativamente aos restantes grupos, como aliás é<br />
teoricamente esperado. É também provável que os desinvestidos relatem deter<br />
níveis baixos de ansiedade de separação e dependência, refletindo a imagem<br />
negativa dos outros enquanto figuras das quais é necessário manter<br />
distanciamento.<br />
No último grupo encontram-se os jovens amedrontados com os índices<br />
baixos de inibição da exploração e individualidade, valores de qualidade do<br />
laço emocional superiores a desinvestidos e preocupados, com valores de<br />
ansiedade de separação e dependência superiores ao grupo preocupado e<br />
inferiores a seguros e desinvestidos. Estas características parecem traduzir as<br />
descrições teóricas de insegurança e vulnerabilidade, medo da rejeição e<br />
solidão e, alta dependência emocional, típicas dos padrões negativos ao nível<br />
dos modelos internos de si e dos outros.<br />
Em relação à vinculação amorosa, o grupo dos jovens seguros obteve<br />
no fator confiança médias elevadas (só excedida pelos adolescentes<br />
113
desinvestidos). No fator dependência obteve os valores mais baixos e no fator<br />
evitamento colheu valores moderados e igualmente diversos significativamente<br />
dos restantes conjuntos (excedidos apenas pela média dos preocupados) e<br />
apresentou valores baixos, estatisticamente diversos dos jovens preocupados<br />
(estes com média superior), desinvestidos e amedrontados (média inferior aos<br />
seguros, como é aguardado igualmente em termos teóricos) no fator<br />
ambivalência.<br />
Os jovens preocupados apresentam os valores elevados de<br />
ambivalência e evitamento (de facto os mais elevados) e médias baixas no que<br />
concerne á confiança e dependência (os mais baixos). Este delineamento<br />
parece evidenciar a importância crucial que o grupo preocupado dá às relações<br />
de cariz amoroso, fundando os seus relacionamentos na necessidade de cuidar<br />
de alguém e de se sentir desejado. A idealização continua presente tanto na<br />
intensidade de confiança e dependência no outro, quer na incerteza sobre o<br />
seu papel amoroso que os resultados elevados em ambivalência parecem<br />
traduzir. O discurso idealista e irrealista relaciona-se com a primazia dada ao<br />
par amoroso, neste caso representada pelo nível mais baixo de defensibilidade.<br />
A falta de opção pela intimidade e proximidade, que caracterizam as relações<br />
amorosas do grupo desinvestido, parecem observar-se de forma contraditória<br />
através dos resultados altos (os mais altos) obtidos na confiança onde não<br />
diferem dos outros padrões. É também característico deste grupo um menor<br />
compromisso emocional que o do seu par amoroso. Desta especificidade<br />
fazem eco a média mais baixa entre todas nos fatores evitamento e<br />
ambivalência. Quanto à ambivalência, os resultados são os mais baixos,<br />
evidenciando que o papel do par amoroso é desvalorizado.<br />
Por último, nos jovens amedrontados encontra-se a configuração<br />
esperada baseada nos conceitos negativos do self e do outro. Este grupo<br />
apresenta-se hesitante, passivo e dependente, tal como indicam as médias<br />
baixas em confiança, moderadas a altas de dependência (apenas menor que a<br />
dos desinvestidos), com um evitamento inferior significativamente ao dos<br />
sujeitos seguros e desinvestidos e, com um grau de ambivalência superior a de<br />
todos os outros padrões de vinculação excetuando os preocupados.<br />
No estudo dos temperamentos afetivos, a correlação entre os vários<br />
temperamentos evidencia correlações ligeiras a moderadas mas<br />
114
estatisticamente significativas entre todos os pares de temperamentos. As<br />
correlações mais fortes foram encontradas entre o temperamento depressivo e<br />
o temperamento ansioso (r=0,577; p
Refira-se que relativamente ao estudo dos temperamentos afetivos<br />
tomando como referência o(s) progenitor(es) com quem os inquiridos coabitam,<br />
sendo um dado original nos estudos consultados sobre temperamento, não<br />
foram encontradas fontes de comparação com outros estudos. No entanto,<br />
pelos resultados encontrados não foram mostrados valores que evidenciem<br />
subsidiariedade ou complementaridade entre a componente ambiental,<br />
familiares com quem os inquiridos coabitam, e os temperamentos afetivos.<br />
Tal como anteriormente, no caso do agregado familiar, podemos<br />
entender a fratria ou ausência desta como uma componente ambiental ficando<br />
igualmente por esclarecer a relação que pode ter com o temperamento. Os<br />
resultados sugerem, neste estudo a ausência dessa relação.<br />
No estudo do temperamento afetivo considerando a existência de uma<br />
relação de namoro e sendo a relação de namoro uma relação de natureza<br />
afetiva seria de esperar uma subsidiariedade clara entre o temperamento e a<br />
existência de uma relação de namoro, tal como se verifica.<br />
No entanto parece-nos que nesta fase de desenvolvimento o namoro<br />
estaria mais ligado a questões de género que a questões de natureza<br />
temperamental, o que não é de todo possível afirmar neste estudo.<br />
No estudo da relação entre os temperamentos e a vinculação à mãe,<br />
evidenciamos a relação com significado estatístico entre os temperamentos<br />
irritável e ciclotímico (temperamentos instáveis) e todos os fatores da<br />
vinculação à mãe com realce para a relação negativa com o fator qualidade do<br />
laço emocional (QLE) mostrando uma relação de sentido inverso. Tais<br />
resultados, entre outros, sugerem uma desvalorização do fator QLE para os<br />
indivíduos com temperamento irritável, o mesmo acontecendo com o mesmo<br />
fator e o temperamento ciclotímico. Evidencia-se ainda o peso conjunto dos<br />
fatores inibição da exploração e individualidade (IEI) e ansiedade de separação<br />
e dependência (ASD) (este menor) na variância dos valores de todos os<br />
temperamentos, excerto no hipertímico, sugerindo que a perceção de<br />
restrições à expressão da individualidade própria por parte da figura materna e<br />
ainda a valorização de experiências de ansiedade e de medo da separação da<br />
figura de vinculação reveladoras de uma relação de dependência da figura<br />
materna, embora em menor grau, são fatores moderadores do temperamento e<br />
eventualmente moderados pelo temperamento.<br />
116
No que se refere aos padrões de vinculação na relação com a mãe,<br />
foram encontradas associações estatisticamente significativas entre o<br />
temperamento depressivo (estável) e o padrão desinvestido e entre este<br />
padrão e os temperamentos instáveis (ciclotímico e irritável).<br />
No estudo da relação entre os temperamentos e a vinculação ao pai,<br />
evidenciamos a relação com significado estatístico entre o temperamento<br />
ciclotímico e todos os fatores da vinculação ao pai com realce para a relação<br />
negativa com o fator QLE mostrando uma relação de sentido inverso. Tais<br />
resultados, entre outros, sugerem uma desvalorização do fator QLE para os<br />
indivíduos com temperamento ciclotímico (instável), o mesmo acontecendo<br />
com o mesmo fator e o temperamento irritável (temperamento instável).<br />
Evidencia-se ainda o peso do fator IEI na variância dos valores dos<br />
temperamentos depressivo, ciclotímico, irritável e ansioso sugerindo que a<br />
perceção de restrições à expressão da individualidade própria por parte da<br />
figura paterna é fator moderador do temperamento e eventualmente moderado<br />
pelo temperamento, independentemente das suas características de<br />
estabilidade.<br />
Em relação aos padrões de vinculação na relação com o pai foram<br />
encontradas associações estatisticamente significativas entre os<br />
temperamentos depressivo (estável) e ansioso (instável) e o padrão<br />
desinvestido.<br />
No estudo da relação entre os temperamentos e a vinculação amorosa,<br />
evidencia-se o peso dos fatores dependência e ambivalência na variância dos<br />
valores de todos os temperamentos sugerindo que os fatores associados à<br />
proximidade física e emocional, a ansiedade de separação e medo da perda<br />
bem como o grau de dúvida relativamente ao papel que o indivíduo<br />
desempenha nas suas relações amorosas são fatores moderadores dos<br />
temperamentos e eventualmente moderados por estes. Evidenciamos ainda a<br />
relação com significado estatístico entre o temperamento ciclotímico e o<br />
temperamento irritável (temperamentos instáveis) e todos os fatores da<br />
vinculação ao par amoroso com realce para a relação negativa entre o<br />
temperamento ciclotímico e o fator confiança mostrando uma relação de<br />
sentido inverso. Tais resultados, entre outros, sugerem uma desvalorização do<br />
117
fator confiança para os indivíduos com temperamento ciclotímico (, o mesmo<br />
acontecendo com o mesmo fator e os restantes temperamentos.<br />
Relativamente aos padrões de vinculação amorosa foram encontradas<br />
associações estatisticamente significativas entre o temperamento depressivo e<br />
hipertímico (estáveis) e ansioso (instável) e o padrão amedrontado e entre este<br />
padrão e o temperamento irritável (instável).<br />
118
CONCLUSÕES<br />
Tomando como ponto de partida as hipóteses que enunciámos cumpre<br />
evidenciar os resultados mais importantes deste estudo.<br />
Assim, fica evidente a falta de resultados que tornem evidentes que<br />
padrões de vinculação seguros se correlacionam positivamente com<br />
temperamentos estáveis.<br />
Os resultados evidenciam antes associações significativas entre os<br />
temperamentos instáveis e o padrão desinvestido quando estudamos a<br />
vinculação parental (pai e mãe) sugerindo que indivíduos com<br />
autorrepresentação positiva e modelos negativos dos outros têm como<br />
dominantes temperamentos instáveis. São indivíduos com relacionamentos<br />
pessoais pobres em termos de proximidade emocional, intimidade e<br />
expressividade. Na vinculação na relação com a mãe, o temperamento<br />
depressivo (estável) e os temperamentos instáveis (ciclotímico, irritável e<br />
ansioso) revelaram-se dominantes entre o padrão desinvestido e o hipertímico<br />
(estável) entre os preocupados.<br />
Na vinculação na relação com o pai, o temperamento depressivo<br />
(estável) e os temperamentos instáveis (ciclotímico, irritável e ansioso)<br />
revelaram-se dominantes entre o padrão desinvestido e o hipertímico (estável)<br />
entre os seguros.<br />
No que se refere à vinculação amorosa os resultados evidenciaram<br />
associações significativas quer entre temperamentos estáveis ou instáveis e o<br />
padrão preocupado sugerindo uma associação pouco clara entre<br />
temperamentos (do ponto de vista da sua estabilidade) e os indivíduos com<br />
padrão preocupado caracterizados por serem habitualmente indivíduos<br />
dependentes dos outros com baixa autoconfiança e com elevados graus de<br />
ansiedade. São indivíduos muito exigentes nos seus relacionamentos com<br />
relações caracterizadas por ciúme e possessividade como modelos de si<br />
próprios negativos e modelos positivos dos outros.<br />
119
O balanço do presente estudo é condicionado por algumas limitações<br />
das quais realçamos a dificuldade na determinação de um sentido de<br />
causalidade entre dois constructos como a vinculação e o temperamento. Tal<br />
facto é tão mais evidente nas correlações de sentido positivo pelo que se nos<br />
sugere que há entre os dois constructos fatores de moderação mútua difíceis<br />
de conceptualizar.<br />
Tais factos não comprometem, no nosso entendimento a utilidade do<br />
estudo efetuado.<br />
O temperamento influencia os tipos de experiências em que nos<br />
envolvemos e como reagimos instintivamente a elas. Assim, é claro que o<br />
temperamento e o caráter se influenciam e interagem e nem sempre é fácil<br />
diferenciar o que provém do caráter e o que provém do temperamento.<br />
Se quisermos este estudo encerra duas utilidades maiores: um<br />
levantamento de dados sobre o temperamento afetivo de uma população jovem<br />
adulta, no caso estudantes do curso de Licenciatura em Enfermagem, área<br />
profissional da saúde que pela sua especificidade incorpora na sua prática<br />
comportamentos instintivos na relação com os seus interlocutores e um<br />
exercício não menos importante de levantamento dos padrões de vinculação<br />
parental e amorosa da mesma população.<br />
A relação entre tipos de temperamento excessivo e padrões de<br />
vinculação revelou-se uma questão de investigação que pode clarificar<br />
determinados comportamentos observáveis, percursos e escolhas afetivas. A<br />
complexidade desta relação não se esgota no presente trabalho que não pode<br />
ser exaustivo. Foram dadas muitas respostas e muitas outras ficaram por dar<br />
certamente na explicação complexa do puzzle da relação entre temperamento<br />
e vinculação.<br />
Verificámos que os pais são figuras determinantes na sobrevivência<br />
relacional, mas que as relações amorosas podem ser vistas não apenas como<br />
formas adaptativas de colmatar inseguranças de vinculação, mas numa relação<br />
direta com a estabilidade ou instabilidade dos padrões temperamentais.<br />
Ficou por esclarecer qual o papel da estabilidade do temperamento das<br />
figuras parentais nos padrões de vinculação dos filhos. Seriam interessantes<br />
estudos familiares e longitudinais para avaliar a estabilidade, quer dos<br />
temperamentos que do tipo de vinculação<br />
120
Verificámos ainda que o estudo do temperamento é campo fértil para a<br />
investigação da relação com outros constructos que contribuem para a<br />
formação da personalidade e que exercem um papel adaptativo, como é o caso<br />
da vinculação.<br />
121
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Journal of Personality and Social Psychology, 57, 301-314.<br />
134
ANEXOS<br />
135
ANEXO I<br />
Instrumento de colheita de dados<br />
136
UNIVERSIDADE DE LISBOA<br />
FACULDADE DE MEDICINA<br />
DOUTORAMENTO EM CIÊNCIAS E TECNOLOGIAS DA SAÚDE<br />
DESENVOLVIMENTO HUMANO E SOCIAL<br />
VINCULAÇÃO E TEMPERAMENTO AFETIVO EM JOVENS ADULTOS<br />
Doutorando<br />
<strong>Raul</strong> <strong>Alberto</strong> <strong>Carrilho</strong> <strong>Cordeiro</strong><br />
Instrumento de Colheita de Dados<br />
2008<br />
137
NOTA INTRODUTÓRIA<br />
O presente Instrumento de Colheita de Dados serve de suporte à recolha de dados para a elaboração de um estudo<br />
intitulado “Vinculação e temperamento afetivo em jovens adultos”.<br />
Este estudo é da autoria de <strong>Raul</strong> <strong>Alberto</strong> <strong>Carrilho</strong> <strong>Cordeiro</strong>, Licenciado em Enfermagem de Saúde Mental e<br />
Psiquiátrica e Mestre em Saúde Escolar, Professor Adjunto da Escola Superior de Saúde do Instituto Politécnico de Portalegre e<br />
está integrado no Projecto de Obtenção do Grau de Doutor em Ciências e Tecnologia da Saúde – Desenvolvimento Humano e<br />
Social, pela Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa.<br />
Instituição.<br />
A aplicação deste Instrumento de Colheita de Dados está devidamente autorizada pelo órgão máximo desta<br />
Os questionários apresentados estão devidamente testados e validados para a população portuguesa, são anónimos<br />
e confidenciais – não escreva o seu nome em nenhum local do questionário.<br />
A recolha de dados é composta por 8 questionários de preenchimento fácil e cuja duração está estimada em cerca de<br />
45 minutos, recomendando-se que responda a todas as questões sem exceção.<br />
caracterização:<br />
Contamos com a sua sinceridade no preenchimento, agradecendo desde já a colaboração.<br />
Se concorda com a resposta a este Instrumento de Colheita de Dados assinale uma cruz na quadrícula abaixo:<br />
Concordo <br />
________________________________________________________________________________________________<br />
Antes de iniciar as respostas aos Questionários propriamente ditos solicitamos que nos indique alguns dados de<br />
Sexo:<br />
Masculino<br />
Feminino<br />
Data de Nascimento: ___/___/_____ (DD/MM/AAAA)<br />
Escola/EscolaSuperior/ Universidade______________________________________________________<br />
Ano/Curso que frequenta_________________________________________________________________<br />
Com quem vive actualmente? Pai Mãe Ambos Se não descreva a sua situação<br />
________________________________________________________________________________________________<br />
Tem irmãos? Sim Quantos? ___<br />
Estado Civil:<br />
Não <br />
Solteiro Casado Divorciado Viúvo União de Facto <br />
Tem Namorado(a)?<br />
Sim Há quanto tempo? ______ Anos ____ Meses<br />
Não <br />
O Investigador<br />
<strong>Raul</strong> <strong>Alberto</strong> <strong>Carrilho</strong> <strong>Cordeiro</strong><br />
138
PARTE 1<br />
INSTRUÇÕES<br />
Neste Questionário vai encontrar um conjunto de afirmações sobre as relações familiares.<br />
Leia atentamente cada uma das frases e assinale com uma cruz as respostas que melhor<br />
exprimem o modo como se sente em relação a cada um dos seus pais.<br />
Responda em colunas separadas para o Pai e para a Mãe, tendo em conta as seis (6)<br />
alternativas que se seguem:<br />
Discordo<br />
totalmente<br />
1<br />
Discordo<br />
2<br />
Discordo<br />
moderadamente<br />
3<br />
1 Os meus pais estão sempre a interferir em<br />
assuntos que só têm a ver comigo.<br />
2 Tenho confiança que a minha relação com<br />
os meus pais se vai manter no tempo.<br />
3 È fundamental para mim que os meus pais<br />
concordem com aquilo que eu penso.<br />
4 Os meus pais impõem a maneira deles de<br />
ver as coisas.<br />
5 Apesar das minhas divergências com os<br />
meus pais, eles são únicos para mim.<br />
6 Penso constantemente que não posso<br />
viver sem os meus pais.<br />
7 Os meus pais desencorajam-me quando<br />
quero experimentar uma coisa nova.<br />
8 Os meus pais conhecem-me bem.<br />
9 Só consigo enfrentar situações novas se<br />
os meus pais estiverem comigo.<br />
10 Não vale muito a pena discutirmos, porque<br />
nem eu nem os meus pais damos o braço<br />
a torcer.<br />
11 Confio nos meus pais para me apoiarem<br />
em momentos difíceis da minha vida.<br />
12 Estou sempre ansioso(a) por estar com os<br />
meus pais.<br />
13 Os meus pais preocupam-se<br />
demasiadamente comigo e intrometem-se<br />
onde não são chamados.<br />
14 Em muitas coisas eu admiro os meus pais.<br />
15 Eu e os meus pais é como se fossemos<br />
um só.<br />
16 Em minha casa é problema eu ter gostos<br />
diferentes dos meus pais.<br />
Concordo<br />
moderadamente<br />
4<br />
Concordo<br />
5<br />
Concordo<br />
totalmente<br />
6<br />
PAI MÃE<br />
1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6<br />
1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6<br />
1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6<br />
1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6<br />
1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6<br />
1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6<br />
1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6<br />
1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6<br />
1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6<br />
1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6<br />
1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6<br />
1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6<br />
1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6<br />
1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6<br />
1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6<br />
1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6<br />
139
17 Apesar dos meus conflitos com os meus<br />
pais, tenho orgulho neles.<br />
18 Os meus pais são as únicas pessoas<br />
importantes na minha vida.<br />
19 Discutir assuntos com os meus pais é uma<br />
perda de tempo e não leva a lado nenhum.<br />
20 Sei que posso contar com os meus pais<br />
sempre que precisar deles.<br />
21 Faço tudo para agradar aos meus pais.<br />
22 Os meus pais dificilmente me dão ouvidos.<br />
23 Os meus pais têm um papel importante no<br />
meu desenvolvimento.<br />
24 Tenho medo de ficar sozinho(a) se um dia<br />
perder os meus pais.<br />
25 Os meus pais abafam a minha verdadeira<br />
forma de ser.<br />
26 Não sou capaz de enfrentar situações<br />
difíceis sem os meus pais.<br />
27 Os meus pais fazem-me sentir bem<br />
comigo próprio(a).<br />
28 Os meus pais têm a mania que sabem<br />
sempre o que é melhor para mim.<br />
29 Se tivesse de ir estudar para longe dos<br />
meus pais, sentir-me-ia perdido(a).<br />
30 Eu e os meus pais temos uma relação de<br />
confiança.<br />
1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6<br />
1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6<br />
1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6<br />
1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6<br />
1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6<br />
1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6<br />
1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6<br />
1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6<br />
1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6<br />
1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6<br />
1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6<br />
1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6<br />
1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6<br />
1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6<br />
140
PARTE 2<br />
INSTRUÇÕES<br />
Este Questionário procura descrever diferentes maneiras das pessoas se relacionarem com o(a)<br />
namorado(a).<br />
Leia atentamente cada uma das frases e assinale com uma cruz a resposta que melhor<br />
exprime o modo como se sente na relação com o(a) seu (sua) namorado(a).<br />
Se actualmente não tem um(a) namorado(a), mas já teve no passado, responda ao<br />
questionário considerando a relação mais duradoura.<br />
Se nunca teve um(a) namorado(a), responda, imaginado como gostaria que fosse essa<br />
relação de namoro.<br />
Se nunca teve um(a) namorado(a), mas tem mantido relações amorosas que não considera<br />
namoro, responda ao questionário considerando essas experiências.<br />
Para cada frase deverá responder de acordo com as seis (6) alternativas que se seguem:<br />
Discordo<br />
totalmente<br />
1<br />
Discordo<br />
2<br />
Discordo<br />
moderadamente<br />
3<br />
Concordo<br />
moderadamente<br />
4<br />
1 O (A) meu (minha) namorado(a) respeita os meus sentimentos.<br />
2 Fico muito nervoso(a) se não consigo encontrar a(o) minha<br />
(meu) namorada(o).<br />
3 O apoio dela não é importante para mim. Sei que sou capaz de<br />
resolver as coisas sozinho(a).<br />
4 Gostava de ser a pessoa mais importante para ela, mas não<br />
estou certo(a) de que assim seja.<br />
5 A(O) minha(meu) namorada(o) compreende-me.<br />
6 Só consigo enfrentar situações novas, se ele(a) estiver comigo.<br />
7 É-me indiferente, quando ela(e) prefere passar o tempo com<br />
outras pessoas.<br />
8 Às vezes sinto admiração por ele(a), outras vezes não.<br />
9 Fico irritado(a) quando combinamos coisas juntos e ela(e) não<br />
pode estar comigo.<br />
10 Não sei o que me vai acontecer se a nossa relação terminar.<br />
11 Na minha vida, a minha relação de namoro é secundária.<br />
12 Sei que posso contar com a(o) minha(meu) namorada(o)<br />
sempre que precisar dela(e).<br />
13 Sinto-me posta(o) de lado, quando ele(a) decide passar o<br />
tempo com outras pessoas.<br />
14 Discutir assuntos com ela(e) é uma perda de tempo e não leva<br />
a lado nenhum.<br />
15 Quando não podemos estar juntos sinto-me abandonado(a).<br />
Concordo<br />
5<br />
Concordo<br />
totalmente<br />
6<br />
1 2 3 4 5 6<br />
1 2 3 4 5 6<br />
1 2 3 4 5 6<br />
1 2 3 4 5 6<br />
1 2 3 4 5 6<br />
1 2 3 4 5 6<br />
1 2 3 4 5 6<br />
1 2 3 4 5 6<br />
1 2 3 4 5 6<br />
1 2 3 4 5 6<br />
1 2 3 4 5 6<br />
1 2 3 4 5 6<br />
1 2 3 4 5 6<br />
1 2 3 4 5 6<br />
1 2 3 4 5 6<br />
141
16 Para me sentir bem comigo própria(o), são mais importantes<br />
outras coisas do que o(a) meu(minha) namorado(a).<br />
17 Desagrada-me a maneira de ser do(a) meu(minha)<br />
namorado(a).<br />
18 Sei que, se a minha relação terminar, isso não me vai afectar<br />
muito.<br />
19 Ele(a) dá-me coragem para enfrentar situações novas<br />
20 Fico furiosa(o) quando preciso do apoio do meu(minha)<br />
namorado(a) e não posso contar com ele(a).<br />
21 Eu e o(a) meu(minha) namorado(a) é como se fôssemos um<br />
só.<br />
22 Fico muito nervosa(o) quando penso que posso perder o(a)<br />
meu(minha) namorado(a).<br />
23 Prefiro que ele(a) me deixe em paz e não ande sempre atrás de<br />
mim.<br />
24 Não gosto de lhe pedir apoio porque sei que nunca me<br />
compreenderia.<br />
25 Ela(e) tem uma importância decisiva na minha maneira de ser.<br />
26 Tenho sempre a sensação de que a nossa relação vai terminar.<br />
27 Sempre achei que, apesar de gostar do(a) meu(minha)<br />
namorado(a), não vou sentir muito a falta dele(a) se a relação<br />
terminar.<br />
28 Às vezes acho que ele(a) é fundamental na minha vida, outras<br />
vezes não.<br />
29 Confio nele(a) para me apoiar em momentos difíceis da minha<br />
vida.<br />
30 Quando tenho problemas, nem sempre gosto de procurar a(o)<br />
minha(meu) namorada(o).<br />
31 Tenho dúvidas se sou realmente importante para ele(a).<br />
32 Quando não podemos estar juntos, eu não sei o que fazer.<br />
33 Quando tenho um problema, só o facto de pensar nela(e) põeme<br />
mais calmo(a).<br />
34 Não preciso dos cuidados do(a) meu(minha) namorado(a).<br />
35 O(A) meu(minha) namorado(a) faz-me sentir bem comigo<br />
própria(o).<br />
36 Ele(a) desilude-me muitas vezes.<br />
37 As minhas conversas com ela(e) não me trazem nada de novo.<br />
38 Quando vou a algum sítio desconhecido, sinto-me melhor se<br />
ele(a) estiver comigo.<br />
39 Apesar da minha relação ser importante, muitas vezes sinto-me<br />
sozinha(o).<br />
40 Quando algo de grave acontece comigo, prefiro não estar perto<br />
dele(a).<br />
41 Ela(e) não me dá a atenção que eu gostaria.<br />
1 2 3 4 5 6<br />
1 2 3 4 5 6<br />
1 2 3 4 5 6<br />
1 2 3 4 5 6<br />
1 2 3 4 5 6<br />
1 2 3 4 5 6<br />
1 2 3 4 5 6<br />
1 2 3 4 5 6<br />
1 2 3 4 5 6<br />
1 2 3 4 5 6<br />
1 2 3 4 5 6<br />
1 2 3 4 5 6<br />
1 2 3 4 5 6<br />
1 2 3 4 5 6<br />
1 2 3 4 5 6<br />
1 2 3 4 5 6<br />
1 2 3 4 5 6<br />
1 2 3 4 5 6<br />
1 2 3 4 5 6<br />
1 2 3 4 5 6<br />
1 2 3 4 5 6<br />
1 2 3 4 5 6<br />
1 2 3 4 5 6<br />
1 2 3 4 5 6<br />
1 2 3 4 5 6<br />
1 2 3 4 5 6<br />
142
42 O(A) meu(minha) namorado(a) aceita-me como eu sou.<br />
43 Apesar de haver coisas de que não gosto no(a) meu(minha)<br />
namorado(a), no fundo eu gostaria de ser como ele(a).<br />
44 Quando tenho um problema, prefiro ficar sozinho(a) a procurar<br />
a(o) minha(meu) namorada(o).<br />
45 Não me preocupa se não pudermos estar juntos durante as<br />
férias.<br />
46 Gostava que ele(a) me ligasse mais.<br />
47 Tenho medo de ficar sozinho(a), se perder a(o) minha(meu)<br />
namorada(o).<br />
48 As relações terminam sempre, mais vale eu não me envolver.<br />
49 A(O) minha(meu) namorada(o) só pensa em si própria(o).<br />
50 É fundamental para mim que ele(a) concorde com aquilo que<br />
eu penso.<br />
51 Ela(e) é apenas mais uma das pessoas com quem estou no<br />
dia-a-dia.<br />
52 O(A) meu(minha) namorado(a) incentiva-me a fazer coisas<br />
diferentes.<br />
1 2 3 4 5 6<br />
1 2 3 4 5 6<br />
1 2 3 4 5 6<br />
1 2 3 4 5 6<br />
1 2 3 4 5 6<br />
1 2 3 4 5 6<br />
1 2 3 4 5 6<br />
1 2 3 4 5 6<br />
1 2 3 4 5 6<br />
1 2 3 4 5 6<br />
1 2 3 4 5 6<br />
143
PARTE 3<br />
INSTRUÇÕES<br />
Coloque uma cruz na opção V (Verdadeiro) em todas as afirmações que são verdadeiras para<br />
si em relação à maior parte da sua vida.<br />
Coloque uma cruz na opção F (Falso) para todas as restantes afirmações que não se aplicam<br />
a si em relação à maior parte da sua vida.<br />
Se pretende anular ou modificar uma resposta assinale a primeira resposta com um círculo e<br />
assinale com uma cruz a resposta que pretende que seja válida.<br />
0 Sou uma pessoa que respira V F<br />
1 Sou uma pessoa triste, infeliz. V F<br />
2 As pessoas dizem-me que sou incapaz de ver o lado mais positivo das<br />
coisas.<br />
V F<br />
3 Tenho sofrido muito na vida. V F<br />
4 Penso que as coisas, normalmente, acabam por correr da pior maneira. V F<br />
5 Desisto facilmente. V F<br />
6 Tanto quanto me recordo, tenho-me sentido um falhado. V F<br />
7 Sempre me culpei por coisas que para os outros não seriam muito<br />
importantes.<br />
V F<br />
8 Pareço não ter tanta energia como as outras pessoas. V F<br />
9 Sou o tipo de pessoa que não gosta muito de mudanças. V F<br />
10 Quando estou em grupo, prefiro ouvir os outros falar. V F<br />
11 Deixo-me facilmente levar pelos outros. V F<br />
12 Sinto-me pouco à vontade quando conheço novas pessoas. V F<br />
13 Sinto-me facilmente magoado por críticas ou rejeição. V F<br />
14 Sou o tipo de pessoa com quem se pode sempre contar. V F<br />
15 Coloco as necessidades dos outros acima das minhas. V F<br />
16 Sou uma pessoa muito trabalhadora. V F<br />
17 Preferia trabalhar para outra pessoa do que ser o patrão. V F<br />
18 Para mim é natural ser arrumado e organizado. V F<br />
19 Sou o tipo de pessoa que duvida de tudo. V F<br />
20 O meu desejo sexual tem sido sempre fraco. V F<br />
21 Normalmente necessito mais de 9 horas de sono. V F<br />
22 Sinto-me frequentemente cansado sem razão. V F<br />
144
23 Tenho mudanças bruscas de disposição e energia. V F<br />
24 A minha disposição e energia estão frequentemente muito elevadas ou muito<br />
em baixo, raramente a meio termo.<br />
V F<br />
25 A minha capacidade de pensar varia muito entre a rapidez e a lentidão sem<br />
razão aparente.<br />
V F<br />
26 Posso gostar realmente muito de alguém e depois perder completamente o<br />
interesse.<br />
V F<br />
27 Frequentemente perco as estribeiras com as pessoas e depois sinto-me<br />
culpado.<br />
V F<br />
28 Frequentemente começo as coisas e depois perco o interesse antes de as<br />
terminar.<br />
V F<br />
29 A minha disposição muda frequentemente sem razão. V F<br />
30 Vario constantemente entre a vivacidade e a moleza. V F<br />
31 Por vezes deito-me deprimido e acordo na manhã seguinte V F<br />
32<br />
espectacularmente bem.<br />
Por vezes deito-me sentindo-me formidável e acordo na manhã seguinte com<br />
o sentimento de que a vida não merece a pena ser vivida.<br />
V F<br />
33 Dizem-me frequentemente que me torno pessimista acerca das coisas<br />
esquecendo-me dos tempos felizes que vivi.<br />
V F<br />
34 Oscilo entre o excesso de confiança e a insegurança de mim próprio. V F<br />
35 Oscilo entre o desejo de estar com os outros e o de me afastar deles. V F<br />
36 Sinto intensamente todas as emoções. V F<br />
37 A minha necessidade de dormir varia muito, entre poucas horas a mais de 9<br />
horas.<br />
V F<br />
38 Vivo as coisas, algumas vezes, de forma intensa e outras vezes amorfa. V F<br />
39 Sou o tipo de pessoa que pode estar triste e feliz ao mesmo tempo. V F<br />
40 Sonho muito com coisas que outras pessoas consideram impossível atingir. V F<br />
41 Frequentemente tenho uma grande necessidade de fazer coisas chocantes. V F<br />
42 Sou o tipo de pessoa que se apaixona e desapaixona facilmente. V F<br />
43 Estou habitualmente bem disposto e alegre. V F<br />
44 A vida é como uma festa que gozo ao máximo. V F<br />
45 Gosto de contar anedotas, os outros acham que tenho sentido de humor. V F<br />
46 Sou o tipo de pessoa que acredita que tudo irá correr bem. V F<br />
47 Tenho uma grande confiança em mim próprio. V F<br />
48 Tenho, frequentemente, excelentes ideias. V F<br />
49 Estou sempre pronto para tudo. V F<br />
50 Sou capaz de desempenhar muitas tarefas sem sequer me cansar. V F<br />
51 Tenho o dom da palavra, consigo convencer e influenciar os outros. V F<br />
52 Adoro envolver-me em novos projectos, mesmo que sejam arriscados. V F<br />
145
53 Quando decido realizar alguma coisa, nada me consegue impedir. V F<br />
54 Sinto-me completamente à vontade mesmo com pessoas que mal conheço. V F<br />
55 Adoro estar com muita gente. V F<br />
56 As pessoas dizem-me que, frequentemente, me meto em assuntos que não<br />
me dizem respeito.<br />
V F<br />
57 Sou generoso e gasto muito dinheiro com as outras pessoas. V F<br />
58 Tenho habilidades e competências em muitas áreas. V F<br />
59 Sinto que tenho o direito e o privilégio para fazer o que bem me apetece. V F<br />
60 Sou o tipo de pessoa que adora chefiar. V F<br />
61 Quando estou em desacordo com alguém posso entrar em discussões<br />
apaixonadas.<br />
V F<br />
62 O meu desejo sexual é sempre forte. V F<br />
63 Normalmente consigo funcionar com menos de 6 horas de sono. V F<br />
64 Sou uma pessoa rabugenta (irritável). V F<br />
65 Sou, por natureza, uma pessoa insatisfeita. V F<br />
66 Queixo-me muito. V F<br />
67 Sou muito crítico em relação aos outros. V F<br />
68 Sinto-me frequentemente no limite. V F<br />
69 Sinto-me frequentemente magoado. V F<br />
70 Sinto-me invadido por uma inquietação que não compreendo. V F<br />
71 Sinto-me frequentemente tão zangado que só me apetece partir tudo. V F<br />
72 Quando estou zangado posso envolver-me numa luta. V F<br />
73 Dizem-me que me descontrolo sem razão. V F<br />
74 Quando estou zangado, agrido as pessoas. V F<br />
75 Gosto de brincar com as pessoas, mesmo que as conheça mal. V F<br />
76 O meu humor sarcástico já me trouxe problemas. V F<br />
77 Às vezes fico tão furioso que poderia magoar alguém. V F<br />
78 Sou tão ciumento da minha esposa(o) / companheira(o) que não consigo<br />
suportar.<br />
V F<br />
79 Sou conhecido por praguejar muito. V F<br />
80 Têm-me dito que me torno violento com alguns copos. V F<br />
81 Sou uma pessoa muito céptica. V F<br />
82 Podia ser um revolucionário. V F<br />
83 O meu desejo sexual é habitualmente tão intenso que é verdadeiramente<br />
desagradável.<br />
V F<br />
146
84 (Só para as mulheres): Tenho ataques de raiva incontroláveis exactamente<br />
antes do meu período menstrual.<br />
V F<br />
85 Tanto quanto me lembro, sempre fui uma pessoa preocupada. V F<br />
86 Estou sempre a preocupar-me por tudo e por nada. V F<br />
87 Preocupo-me com problemas quotidianos que os outros consideram sem<br />
importância.<br />
V F<br />
88 Não consigo evitar preocupar-me. V F<br />
89 Muitas pessoas têm-me dito para não me preocupar tanto. V F<br />
90 Quando estou tenso, o meu pensamento bloqueia. V F<br />
91 Sou incapaz de relaxar. V F<br />
92 Sinto frequentemente uma revolta interior. V F<br />
93 Quando estou nervoso as minhas mãos tremem com frequência. V F<br />
94 Tenho frequentemente um mal-estar no estômago. V F<br />
95 Quando estou nervoso, posso ter diarreia. V F<br />
96 Quando estou nervoso, sinto-me frequentemente nauseado. V F<br />
97 Quando estou nervoso, tenho de ir mais vezes à casa de banho. V F<br />
98 Quando alguém se atrasa no regresso a casa, receio que tenha tido um<br />
acidente.<br />
V F<br />
99 Tenho frequentemente medo que alguém da minha família adoeça com uma<br />
doença grave.<br />
V F<br />
100 Estou sempre a pensar na possibilidade que alguém me traga más notícias<br />
acerca de um familiar.<br />
V F<br />
101 O meu sono não é repousante. V F<br />
102 Tenho frequentemente dificuldade em adormecer. V F<br />
103 Sou, por natureza, uma pessoa muito cautelosa. V F<br />
104 Frequentemente acordo de noite com medo que estejam ladrões dentro de<br />
casa.<br />
V F<br />
105 Tenho facilmente dores de cabeça quando estou enervado. V F<br />
106 Quando estou enervado tenho uma sensação desconfortável no meu peito. V F<br />
107 Sou uma pessoa insegura. V F<br />
108 Mesmo pequenas alterações da rotina enervam-me muito. V F<br />
109 Enquanto guio, mesmo que não tenha feito nada de errado, receio que a<br />
polícia me possa fazer parar.<br />
V F<br />
110 Ruídos inesperados assustam-me facilmente. V F<br />
MUITO OBRIGADO PELA SUA COLABORAÇÃO<br />
<strong>Raul</strong> <strong>Alberto</strong> <strong>Carrilho</strong> <strong>Cordeiro</strong><br />
147
ANEXO II<br />
Parecer da Comissão Coordenadora do Conselho Científico da Faculdade de<br />
Medicina de Lisboa<br />
148
149
ANEXO III<br />
Autorizações de utilização de escalas de medida<br />
150
151
ANEXO IV<br />
Pedidos de autorização de recolha de dados<br />
152
Ex.mo Sr. Director<br />
Escola Superior de Saúde Dr. Lopes Dias<br />
Castelo Branco<br />
<strong>Raul</strong> <strong>Alberto</strong> <strong>Carrilho</strong> <strong>Cordeiro</strong>, Professor Adjunto do Quadro da Escola<br />
Superior de Saúde de Portalegre vem por este meio solicitar a V.ª Ex.ª se digne<br />
autorizar a aplicação de um Instrumento de Colheita de Dados (em anexo) relativo à<br />
recolha de dados de investigação integrada no Projecto de Estudos conducentes à<br />
obtenção do Grau de Doutor em Ciências da Saúde – Estudos Avançados em<br />
Enfermagem, a decorrer na Faculdade de Medicina de Lisboa.<br />
O Projecto de Estudos em causa intitula-se ““Temperamento Afectivo e<br />
Vinculação – Um modelo de compreensão e intervenção na ansiedade e na<br />
depressão em adolescentes e jovens adultos” e pretende-se a recolha de dados<br />
junto de uma população que reúna as características enunciadas. Por uma questão<br />
logística optou-se por recolher os dados referentes à população de jovens adultos<br />
junto de alunos integrados no Ensino Superior nomeadamente nas Escolas do Instituto<br />
Politécnico de Portalegre e nas Escolas Superiores de Enfermagem/Saúde dos<br />
Distritos de Portalegre, Évora, Santarém, Castelo Branco e Guarda.<br />
Mais se acrescenta que o Instrumento de Recolha de Dados em causa tem<br />
uma duração estimada de aplicação de 45 minutos.<br />
Para a Escola Superior de Saúde Dr. Lopes Dias – Castelo Branco, solicita-se<br />
a aplicação do Questionário em questão a todos os alunos do Curso Superior de<br />
Licenciatura em Enfermagem.<br />
Por uma questão de organização da recolha de dados queira V.ª Ex.ª sugerir a<br />
metodologia que considerar mais adequada e que possa minorar a interferência com<br />
as actividades lectivas programadas.<br />
Certo que esta solicitação merecerá de V.ª Ex.ª a melhor consideração,<br />
aguarda a sua resposta.<br />
Com os melhores cumprimentos,<br />
Contacto: Telm: 932058551<br />
raulcordeiro@essp.pt<br />
Portalegre, 14 de Janeiro de 2008<br />
<strong>Raul</strong> <strong>Alberto</strong> <strong>Carrilho</strong> <strong>Cordeiro</strong><br />
(Professor Adjunto)<br />
153
Ex.ma Sra. Presidente do Conselho<br />
Directivo<br />
Escola Superior de Enfermagem de São<br />
João de Deus - Évora<br />
<strong>Raul</strong> <strong>Alberto</strong> <strong>Carrilho</strong> <strong>Cordeiro</strong>, Professor Adjunto do Quadro da Escola<br />
Superior de Saúde de Portalegre vem por este meio solicitar a V.ª Ex.ª se digne<br />
autorizar a aplicação de um Instrumento de Colheita de Dados (em anexo) relativo à<br />
recolha de dados de investigação integrada no Projecto de Estudos conducentes à<br />
obtenção do Grau de Doutor em Ciências da Saúde – Estudos Avançados em<br />
Enfermagem, a decorrer na Faculdade de Medicina de Lisboa.<br />
O Projecto de Estudos em causa intitula-se ““Temperamento Afectivo e<br />
Vinculação – Um modelo de compreensão e intervenção na ansiedade e na<br />
depressão em adolescentes e jovens adultos” e pretende-se a recolha de dados<br />
junto de uma população que reúna as características enunciadas. Por uma questão<br />
logística optou-se por recolher os dados referentes à população de jovens adultos<br />
junto de alunos integrados no Ensino Superior nomeadamente nas Escolas do Instituto<br />
Politécnico de Portalegre e nas Escolas Superiores de Enfermagem/Saúde dos<br />
Distritos de Portalegre, Évora, Santarém, Castelo Branco e Guarda.<br />
Mais se acrescenta que o Instrumento de Recolha de Dados em causa tem<br />
uma duração estimada de aplicação de 45 minutos.<br />
Para a Escola Superior de Enfermagem de São João de Deus - Évora solicita-<br />
se a aplicação do Questionário em questão a todos os alunos do Curso Superior de<br />
Licenciatura em Enfermagem.<br />
Por uma questão de organização da recolha de dados queira V.ª Ex.ª sugerir a<br />
metodologia que considerar mais adequada e que possa minorar a interferência com<br />
as actividades lectivas programadas.<br />
Certo que esta solicitação merecerá de V.ª Ex.ª a melhor consideração,<br />
aguarda a sua resposta.<br />
Com os melhores cumprimentos,<br />
Contacto: Telm: 932058551<br />
raulcordeiro@essp.pt<br />
Portalegre, 14 de Janeiro de 2008<br />
<strong>Raul</strong> <strong>Alberto</strong> <strong>Carrilho</strong> <strong>Cordeiro</strong><br />
(Professor Adjunto)<br />
154
Ex.ma Sra. Presidente do Conselho<br />
Directivo<br />
Escola Superior de Saúde de<br />
Portalegre<br />
<strong>Raul</strong> <strong>Alberto</strong> <strong>Carrilho</strong> <strong>Cordeiro</strong>, Professor Adjunto do Quadro desta<br />
Escola vem por este meio solicitar a V.ª Ex.ª se digne autorizar a aplicação de<br />
um Instrumento de Colheita de Dados (em anexo) relativo à recolha de dados<br />
de investigação integrada no Projecto de Estudos conducentes à obtenção do<br />
Grau de Doutor em Ciências da Saúde – Estudos Avançados em Enfermagem,<br />
a decorrer na Faculdade de Medicina de Lisboa.<br />
O Projecto de Estudos em causa intitula-se ““Temperamento Afectivo<br />
e Vinculação – Um modelo de compreensão e intervenção na ansiedade e<br />
na depressão em adolescentes e jovens adultos” e pretende-se a recolha<br />
de dados junto de uma população que reúna as características enunciadas. Por<br />
uma questão logística optou-se por recolher os dados referentes à população<br />
de jovens adultos junto de alunos integrados no Ensino Superior<br />
nomeadamente nas Escolas do Instituto Politécnico de Portalegre e nas<br />
Escolas Superiores de Enfermagem/Saúde dos Distritos de Portalegre, Évora,<br />
Santarém, Castelo Branco e Guarda.<br />
Mais se acrescenta que o Instrumento de Recolha de Dados em causa<br />
tem uma duração estimada de aplicação de 45 minutos.<br />
Para a Escola Superior de Saúde de Portalegre pretende-se a aplicação<br />
do Questionário em questão a todos os alunos do Curso Superior de<br />
Licenciatura em Enfermagem.<br />
Certo que esta solicitação merecerá de V.ª Ex.ª a melhor consideração,<br />
aguarda a sua resposta.<br />
Com os melhores cumprimentos,<br />
Portalegre, 14 de Janeiro de 2008<br />
<strong>Raul</strong> <strong>Alberto</strong> <strong>Carrilho</strong> <strong>Cordeiro</strong><br />
(Professor Adjunto)<br />
155
Ex.mo Presidente do Conselho Directivo<br />
Escola Superior de Saúde de Beja<br />
<strong>Raul</strong> <strong>Alberto</strong> <strong>Carrilho</strong> <strong>Cordeiro</strong>, Professor Adjunto do Quadro da Escola<br />
Superior de Saúde de Portalegre vem por este meio solicitar a V.ª Ex.ª se digne<br />
autorizar a aplicação de um Instrumento de Colheita de Dados (em anexo) relativo à<br />
recolha de dados de investigação integrada no Projecto de Estudos conducentes à<br />
obtenção do Grau de Doutor em Ciências da Saúde – Estudos Avançados em<br />
Enfermagem, a decorrer na Faculdade de Medicina de Lisboa.<br />
O Projecto de Estudos em causa intitula-se ““Temperamento Afectivo e<br />
Vinculação – Um modelo de compreensão e intervenção na ansiedade e na<br />
depressão em adolescentes e jovens adultos” e pretende-se a recolha de dados<br />
junto de uma população que reúna as características enunciadas. Por uma questão<br />
logística optou-se por recolher os dados referentes à população de jovens adultos<br />
junto de alunos integrados no Ensino Superior nomeadamente nas Escolas do Instituto<br />
Politécnico de Portalegre e nas Escolas Superiores de Enfermagem/Saúde dos<br />
Distritos de Portalegre, Évora, Santarém, Castelo Branco, Guarda e Beja.<br />
Mais se acrescenta que o Instrumento de Recolha de Dados em causa tem<br />
uma duração estimada de aplicação de 45 minutos.<br />
Para a Escola Superior de Enfermagem de Santarém, solicita-se a aplicação do<br />
Questionário em questão a todos os alunos do Curso Superior de Licenciatura em<br />
Enfermagem.<br />
Por uma questão de organização da recolha de dados queira V.ª Ex.ª sugerir a<br />
metodologia que considerar mais adequada e que possa minorar a interferência com<br />
as actividades lectivas programadas.<br />
Certo que esta solicitação merecerá de V.ª Ex.ª a melhor consideração,<br />
aguarda a sua resposta.<br />
Com melhores cumprimentos,<br />
Contacto: Telm: 932058551<br />
raulcordeiro@essp.pt<br />
Portalegre, 14 de Janeiro de 2008<br />
<strong>Raul</strong> <strong>Alberto</strong> <strong>Carrilho</strong> <strong>Cordeiro</strong><br />
(Professor Adjunto)<br />
156
ANEXO V<br />
Quadros de resultados<br />
157
Quadro I – Resultados médios dos fatores de vinculação à mãe por género<br />
Fatores<br />
Mãe<br />
Masculino Feminino<br />
M DP M DP<br />
Inibição da exploração e individualidade 29,6 9,4 28,4 9,8<br />
Qualidade do laço emocional 53,3 7,5 55,0 5,8<br />
Ansiedade de separação e dependência 37,0 8,6 39,3 9,2<br />
Teste t<br />
t=1,193; gl=758<br />
p=0,233<br />
t=-2,850; gl=758<br />
p=0,004**<br />
t=-2,527; gl=758<br />
p=0,012**<br />
N 127 633 760<br />
** Correlação significativa ao nível p≤0,01<br />
Quadro II – Resultados médios dos fatores de vinculação ao pai por género<br />
Fatores<br />
Pai<br />
Masculino Feminino<br />
M DP M DP<br />
Inibição da exploração e individualidade 28,6 10,4 27,5 9,5<br />
Qualidade do laço emocional 49,6 11,4 51,5 9,5<br />
Ansiedade de separação e dependência 34,4 9,5 36,9 10,0<br />
Teste t<br />
t=1,220; gl=758<br />
p=0,223<br />
t=-2,073; gl=758<br />
p=0,038*<br />
t=-2,544; gl=758<br />
p=0,011*<br />
N 127 633 760<br />
* Correlação significativa ao nível p≤0,05<br />
Quadro III – Resultados médios dos fatores de vinculação à mãe por progenitor(es)<br />
com quem coabita<br />
Fatores<br />
Inibição da exploração e<br />
individualidade<br />
Qualidade do laço<br />
emocional<br />
Ansiedade de separação e<br />
dependência<br />
Progenitores com quem coabita<br />
Pai Mãe Pai e Mãe<br />
Outros<br />
Familiares<br />
M DP M DP M DP M DP<br />
Eta 2<br />
27,6 5,9 30,3 9,4 28,3 9,8 29,0 9,9 2 =0,104<br />
52,3 6,5 55,2 5,3 54,8 6,3 54,2 5,7 2 =0,052<br />
31,5 11,1 39,7 9,2 39,1 9,1 38,2 9,1 2 =0,123<br />
N 15 104 566 75 760<br />
158
Quadro IV – Resultados médios dos fatores de vinculação ao pai por progenitor(es)<br />
com quem coabita<br />
Fatores<br />
Inibição da exploração e<br />
individualidade<br />
Qualidade do laço<br />
emocional<br />
Ansiedade de separação e<br />
dependência<br />
Progenitores com quem coabita<br />
Pai Mãe Pai e Mãe Outros<br />
Familiares<br />
M DP M DP M DP M DP<br />
Eta 2<br />
29,9 9,6 25,8 8,2 27,9 9,9 27,9 9,5 2 =0,151<br />
47,9 10,3 45,2 14,6 52,5 8,2 50,8 10,1 2 =0,122<br />
31,7 11,2 32,2 11,6 37,4 9,3 36,1 10,2 2 =0,146<br />
N 15 104 566 75 760<br />
Quadro V – Resultados médios dos fatores de vinculação à mãe segundo a existência<br />
de fratria<br />
Fatores<br />
Fratria<br />
Sim Não<br />
M DP M DP<br />
Inibição da exploração e individualidade 28,6 9,5 28,6 10,8<br />
Qualidade do laço emocional 54,6 6,1 55,3 6,1<br />
Ansiedade de separação e dependência 38,7 9,1 39,9 9,7<br />
Teste t<br />
t=0,012; gl=188,8<br />
p=0,991<br />
t=-1,238; gl=758<br />
p=0,216<br />
t=-1,372; gl=758<br />
p=0,171<br />
N 621 139 760<br />
Quadro VI – Resultados médios dos fatores de vinculação ao pai segundo a existência<br />
de fratria<br />
Fatores<br />
Fratria<br />
Sim Não<br />
M DP M DP<br />
Inibição da exploração e individualidade 27,8 9,3 27,1 11,0<br />
Qualidade do laço emocional 50,9 9,9 52,5 9,5<br />
Ansiedade de separação e dependência 36,3 9,8 37,4 10,5<br />
Teste t<br />
t=0,720; gl=184,6<br />
p=0,473<br />
t=-1,750; gl=758<br />
p=0,81<br />
t=-1,179; gl=758<br />
p=0,239<br />
N 621 139 760<br />
159
Quadro VII – Resultados médios dos fatores de vinculação à mãe segundo a<br />
existência de relação de namoro<br />
Fatores<br />
Relação de Namoro<br />
Sim Não<br />
M DP M DP<br />
Inibição da exploração e individualidade 28,2 9,6 29,2 9,9<br />
Qualidade do laço emocional 55,0 5,9 54,3 6,4<br />
Ansiedade de separação e dependência 39,5 9,1 38,0 9,3<br />
Teste t<br />
t=-0,425; gl=758<br />
p=0,155<br />
t=-1,414; gl=758<br />
p=0,158<br />
t=2,122; gl=758<br />
p=0,034*<br />
N 458 302 760<br />
* Correlação significativa ao nível p≤0,05<br />
Quadro VIII – Resultados médios dos fatores de vinculação ao pai segundo a<br />
existência de relação de namoro<br />
Fatores<br />
Relação de Namoro<br />
Sim Não<br />
M DP M DP<br />
Inibição da exploração e individualidade 27,2 9,5 28,3 9,7<br />
Qualidade do laço emocional 51,2 10,2 51,2 9,4<br />
Ansiedade de separação e dependência 36,9 10,0 35,7 9,9<br />
Teste t<br />
t=1,638; gl=758<br />
p=0,102<br />
t=0,93; gl=758<br />
p=0,081<br />
t=-1,179; gl=758<br />
p=0,926<br />
N 458 302 760<br />
Quadro IX – Resultados médios dos fatores de vinculação amorosa por género<br />
Fatores<br />
Masculino Feminino<br />
M DP M DP<br />
Confiança 63,9 8,7 65,3 10,1<br />
Dependência 46,2 11,3 45,6 11,0<br />
Evitamento 34,1 10,1 30,7 9,8<br />
Ambivalência 37,4 11,2 37,2 11,4<br />
Teste t<br />
t=-1,463; gl=758<br />
p=0,144<br />
t=0,628; gl=758<br />
p=0,530<br />
t=3,515; gl=758<br />
p=0,000**<br />
t=0,130; gl=758<br />
p=0,897<br />
N 127 633 760<br />
** Correlação significativa ao nível p≤0,01<br />
160
Quadro X – Resultados médios dos fatores de vinculação amorosa segundo a<br />
existência de fratria<br />
Fatores<br />
Fratria<br />
Sim Não<br />
M DP M DP<br />
Confiança 65,1 9,7 65,2 10,8<br />
Dependência 45,7 11,1 45,8 10,6<br />
Evitamento 31,6 10,0 29,8 9,9<br />
Ambivalência 37,5 11,2 36,1 11,6<br />
Teste t<br />
t=-0,095; gl=758<br />
p=0,924<br />
t=-0,105; gl=758<br />
p=0,917<br />
t=1,904; gl=758<br />
p=0,057<br />
t=1,336; gl=758<br />
p=0,182<br />
N 621 139 760<br />
Quadro XI – Resultados médios dos fatores de vinculação amorosa segundo a<br />
existência de relação de namoro<br />
Dimensão<br />
Relação de Namoro<br />
Sim Não<br />
M DP M DP<br />
Confiança 67,7 8,8 61,2 10,2<br />
Dependência 48,0 10,5 42,1 10,9<br />
Evitamento 28,1 9,2 36,1 9,2<br />
Ambivalência 34,3 10,7 41,8 10,7<br />
Teste t<br />
t=9,050; gl=575,2<br />
p=0,000**<br />
t=7,530; gl=758<br />
p=0,000**<br />
t=-11,721; gl=758<br />
p=0,000**<br />
t=-9,490; gl=758<br />
p=0,000**<br />
N 458 302 760<br />
** Correlação significativa ao nível p≤0,01<br />
161
ANEXO VI<br />
Publicações<br />
162
Publicações<br />
Claudino, J., <strong>Cordeiro</strong>, R., Arriaga, M. (2006). Depressão e suporte social em,<br />
adolescentes e jovens adultos, um estudo realizado junto de adolescentes préuniversitários.<br />
Millenium, 32, 185-196.<br />
<strong>Cordeiro</strong>, R., Claudino, J., & Arriaga, M. (2008). Auto-apreciação pessoal e<br />
temperamento afetivo em enfermeiros de serviços de psiquiatria e saúde mental.<br />
Millenium, 34, 149-163.<br />
Figueira, M.L., Caeiro, L., Ferro, A., <strong>Cordeiro</strong>, R., Duarte, P., Akiskal, H.S., & Akiskal,<br />
K.K. (2009). Temperament in Portuguese university students as measured by<br />
TEMPS-A: implications for professional choice. Journal of Affective Disorders,<br />
123 (1), 30-35.<br />
163
DEPRESSÃO E SUPORTE SOCIAL EM ADOLESCENTES E JOVENS ADULTOS<br />
Um estudo realizado junto de adolescentes pré-universitários<br />
1 Claudino, João; 2 <strong>Cordeiro</strong>, <strong>Raul</strong>; 3 Arriaga, Miguel<br />
Instituto Politécnico de Portalegre<br />
Escola Superior de Saúde de Portalegre<br />
1 Professor Adjunto, Licenciado em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica, Mestre em Ecologia Humana<br />
2 Assistente, Licenciado em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica, Mestre em Saúde Escolar<br />
3 Assistente, Licenciado em Psicologia Clínica e do Aconselhamento, Pós-Graduação em Selecção de Recursos<br />
Humanos<br />
RESUMO<br />
O objectivo é analisar, através de um estudo quantitativo, descritivo e transversal, a<br />
relação entre a satisfação com o suporte social e os índices de depressão em adolescentes e<br />
jovens adultos.<br />
Através de questionário de aplicação directa um total de n=262 alunos, de ambos os<br />
sexos e com idades compreendidas entre os 16 e os 21 anos de idade, matriculados no 12º ano<br />
de Escolaridade das duas Escolas Secundárias da rede do Ministério da Educação, situadas na<br />
cidade de Portalegre, Portugal, no ano lectivo 2004/2005.<br />
Foram utilizados, como instrumentos de medida, a Escala de Satisfação com o Suporte<br />
Social (ESSS) (Ribeiro, 1999) e o Inventário de Depressão de Beck (BDI) (Gorenstein &<br />
Andrade, 1996).<br />
Os resultados obtidos indicam que o suporte social influencia, de uma forma<br />
estatisticamente significativa o índice de depressão em adolescentes e jovens adultos.<br />
164
INTRODUÇÃO<br />
A adolescência deve ser encarada como uma etapa crucial, sem limites rígidos, do<br />
processo de crescimento e desenvolvimento, que se foi delineando através do tempo. É um<br />
período extremamente relevante para a construção do indivíduo, quer a nível físico quer a nível<br />
psicossocial.<br />
Nesta fase, ocorrem mudanças que têm um papel fundamental na explicação da<br />
adolescência como um período de crise, caracterizado por uma ambivalência de sentimentos e<br />
transformações na saúde mental do indivíduo, podendo induzir perturbações do humor. Desta<br />
forma, a adolescência é muitas vezes considerada como um período naturalmente depressivo,<br />
devido à correspondência que existe entre as alterações de humor e esta fase de<br />
desenvolvimento.<br />
As diversas perturbações, que podem surgir na adolescência, devem-se por um lado ao<br />
abandono da protecção infantil, proporcionada pelos pais e outras figuras de referência do<br />
mundo dos adultos, e por outro à necessidade cada vez maior de estabelecer metas e traçar<br />
projectos utilizando só os seus próprios instrumentos. Finalmente devem-se ainda à construção<br />
de uma imagem de si próprio consistente e sólida que resista aos desafios que se avizinham.<br />
Na sua procura de identidade, o adolescente busca também a sua individualidade,<br />
através de novos grupos de referência que não somente o familiar, nomeadamente o grupo de<br />
amigos. São estes que passam a transferir os valores, atitudes e comportamentos que o jovem<br />
adopta como orientadores das suas experiências e escolhas.<br />
A maioria das jovens que estão inseridos num determinado grupo de amigos, com os<br />
quais estabelecem uma relação de proximidade e de apoio mútuo, podem apresentar uma<br />
menor probabilidade de desenvolver depressão relativamente às pessoas que não têm suporte<br />
social por parte dos membros do seu grupo.<br />
Para minimizar o risco de depressão é necessária a existência de suportes sociais como<br />
a família, o grupo de amigos e a escola, que são de valor significativo para o adolescente.<br />
Suporte social, segundo Sarason citado por Ribeiro (1999, 547), define-se como existência ou<br />
disponibilidade de pessoas em quem se pode confiar, pessoas que nos mostram que se<br />
preocupam connosco, nos valorizam e gostam de nós.<br />
O adolescente como ser exigente que é, e como ser que utiliza as suas capacidades,<br />
para sobressair na sociedade e no ambiente que o rodeia, deve ser estimulado, para que as<br />
suas capacidades sejam empregues de forma benéfica.<br />
165
Para além dos factores genéticos é importante não descurar os factores culturais e os<br />
estereótipos sociais que cada indivíduo tem nas suas representações profundas e pessoais.<br />
Foram definidos como objectivos deste estudo: Compreender a relação entre a<br />
satisfação com o suporte social e os índices de depressão em adolescentes e jovens adultos;<br />
avaliar a percepção dos adolescentes e jovens adultos sobre o suporte social; identificar os<br />
valores dos índices de depressão nos adolescentes e jovens adultos; identificar qual a relação<br />
entre suporte social e os índices de depressão em adolescentes e jovens adultos.<br />
MATERIAL E MÉTODOS<br />
Foi efectuado um estudo do tipo descritivo, transversal, quantitativo, uma vez que se<br />
pretendeu descrever a relação existente entre variáveis em estudo, num total de n=262 alunos,<br />
matriculados no 12º Ano de Escolaridade, no ano lectivo 2004/2005, em duas Escolas<br />
Secundárias do Ministério da Educação, da cidade de Portalegre, Portugal, que foi inquirido<br />
através de um Questionário de aplicação directa aos alunos em sala de aula.<br />
No Questionário, foram introduzidos como instrumentos de medida: a Escala de<br />
Satisfação com o Suporte Social (Ribeiro, 1999) e o Inventário de Depressão de Beck<br />
(Gorenstein & Andrade, 1996).<br />
As dimensões ou factores geradas empiricamente para medir o Suporte Social foram:<br />
Satisfação com a Amizade, Intimidade, Satisfação com a família e Actividades Sociais cada uma<br />
delas com cinco (5) opções de resposta - A (Concordo totalmente), B (Concordo na maior<br />
parte), C (Não concordo nem discordo), D (Discordo na maior parte) e E (Discordo totalmente) -<br />
e expressa numa escala de 1 a 5.<br />
A aplicação do Inventário de Depressão de Beck, definida como uma medida de auto-<br />
avaliação da depressão, é uma escala ordinal que consiste em 21 itens, incluindo sintomas e<br />
atitudes cuja intensidade varia de 0 a 3.<br />
Segundo a bibliografia consultada (Gorestein & Andrade 1996), para amostras não<br />
diagnosticadas, como ponto de corte para detectar a depressão considera-se o valor 20. Foram<br />
assim considerados com o diagnóstico clínico de depressão, os indivíduos que apresentassem<br />
valores de resposta iguais ou superiores a 20.<br />
Após a recolha de dados feita através dos questionários foi necessário fazer a síntese<br />
dos mesmos utilizando procedimentos estatísticos.<br />
O tratamento estatístico de dados foi efectuado através do programa Satistical Package<br />
for the Social Sciences (SPSS) , versão 11.0 para Windows .<br />
166
No tratamento de dados, para além dos dados de estatística descritiva (moda, média,<br />
frequência e percentagem), recorremos, ainda, ao Coeficiente de Correlação de Pearson (r) e ao<br />
Teste t para relacionar variáveis independentes.<br />
RESULTADOS<br />
O nosso estudo foi realizado numa população de N=370 alunos matriculados no 12ºano<br />
de Escolaridade, nas duas escolas secundárias da Rede do Ministério da Educação da cidade<br />
de Portalegre, tendo respondido ao questionário apresentado n=262 alunos, que considerámos o<br />
nosso grupo de estudo. Destes 55% (n=144) eram do sexo feminino e 45% (n=118) do sexo<br />
masculino. O grupo de estudo apresentava uma média de idade de 17,71 anos, situando-se no<br />
Grupo Etário dos 16-21 anos.<br />
Do grupo em estudo, 63% (n=165), residiam no concelho de Portalegre, sendo que<br />
85,5% (n=224) estavam matriculados no 12º ano pela 1ª vez.<br />
Verificou-se que 86,6% (n=227) alunos estavam matriculados em Cursos de Carácter<br />
Geral, registando-se, dentro deste, 59,9% (n=157) dos alunos a frequentar o Agrupamento I.<br />
Dos n=35 alunos matriculados em Cursos Tecnológicos regista-se a maior frequência de<br />
matrículas nos cursos de Design e de Informática (4,6%; n=12).<br />
QUADRO 1<br />
Resultados médios e desvio padrão do Índice de Depressão de Beck<br />
Índice de<br />
Depressão de Beck<br />
Valid N (listwise)<br />
N Minimum Maximum Mean Std. Dev iation<br />
257 ,00 45,00 7,19 6,93<br />
257<br />
Verificou-se um resultado médio do Índice de Depressão de Beck de 7,19 (Quadro 1).<br />
167
QUADRO 2<br />
Distribuição do grupo de estudo pelo Índice de Depressão de Beck (com ponto de corte<br />
=20)<br />
Dos alunos inquiridos (n=257 respostas válidas), n=241 alunos (91,98%) apresentaram<br />
valores do Índice de Depressão de Beck inferiores a 20 enquanto que n=16 alunos (6,11%)<br />
apresentaram valores do Índice de Depressão de Beck superiores ou iguais a 20.<br />
O Grupo Etário entre os 19 e os 21 anos apresentou um Índice de Depressão com valor<br />
médio mais elevado (9,69; s=9,49), enquanto o Grupo Etário dos 16 aos 18 anos apresentou um<br />
valor médio de 7,02 (s=6,72), tendo-se verificado através da aplicação do Teste t que não existia<br />
uma diferença estatisticamente significativa (t=-1,49; p>0,05) entre estas variáveis. O maior<br />
número de alunos que apresentaram um maior Índice de Depressão de Beck (superior ou igual a<br />
20) situava-se no grupo etário entre os 19 e os 21 anos (18,8%).<br />
Os indivíduos do sexo feminino apresentaram valores médios do Índice de Depressão<br />
(8,06; s=7,14) mais elevados que os do sexo masculino. Através da aplicação do Teste t<br />
verificou-se que existia uma diferença estatisticamente significativa (t=-2,22; p0,05) entre estas duas variáveis. Foram os alunos matriculados pela<br />
segunda vez no 12º ano que apresentaram uma percentagem mais elevada do Índice de<br />
Depressão de Beck (igual ou superior a 20) (8,3%) relativamente aos indivíduos que tinham a<br />
primeira ou terceira matrícula.<br />
ou = 20<br />
Total<br />
Sy stem<br />
Frequency Percent<br />
241 91,98<br />
16 6,11<br />
257 98,09<br />
5 1,91<br />
262 100,00<br />
Os indivíduos que frequentavam Cursos de Carácter Tecnológico apresentaram um valor<br />
médio mais elevado do Índice de Depressão de Beck (7,34; s=6,80) do que os indivíduos que<br />
168
frequentavam Cursos de Carácter Geral (7,16; s=6,97). Através da aplicação da Correlação de<br />
Pearson verificou-se que os resultados de associação entre estas duas variáveis não eram<br />
estatisticamente significativos (r=0,01, p>0,05). Os alunos que frequentavam Cursos<br />
Tecnológicos apresentaram uma percentagem do Índice de Depressão de Beck (com ponto de<br />
corte superior ou igual a 20) mais elevado (8,6%; n=3), relativamente aos alunos que<br />
frequentavam o Curso de Carácter Geral (5,9%; n=13).<br />
Suporte Social<br />
Valid N (listwise)<br />
QUADRO 3<br />
Resultados médios e Desvio-padrão do Suporte Social<br />
No estudo da variável Suporte Social (Quadro 3) obtiveram-se um total de n=257<br />
inquéritos válidos. Constatou-se um resultado médio de 3,79 com um desvio-padrão de s=0,60.<br />
Os indivíduos do Grupo Etário entre os 16 e os 18 anos apresentaram um valor médio<br />
de Suporte Social (3,80; s=0,58) mais elevado do que os indivíduos do Grupo Etário entre os 19<br />
e os 21 anos (3,74; s=0,84). A Correlação de Pearson permitiu verificar que os resultados de<br />
associação entre estas duas variáveis não eram estatisticamente significativos (r=-0,02, p>0,05).<br />
Os indivíduos do sexo masculino apresentaram um valor médio de Suporte Social (3,89;<br />
s=0,58) mais elevado do que os indivíduos do sexo feminino (3,71; s=0,60). Através da aplicação<br />
do Teste t, verificou-se que existia, uma diferença estatisticamente significativa (t=-2,46; p0,05) entre as duas variáveis.<br />
Das dimensões do Suporte Social constatou-se que a dimensão Satisfação com a<br />
Amizade apresentava o valor médio mais elevado (4,12; s=0,73) e que a dimensão Actividades<br />
Sociais apresentava um valor médio mais baixo (3,27; s=0,96).<br />
169
QUADRO 4<br />
Correlação entre o Índice Depressão de Beck e o Suporte Social<br />
O estudo da relação da relação entre o Suporte Social e o Índice de Depressão de Beck<br />
(Quadro 4) permitiu verificar valores de correlação (r=-0,61; p
Verificou-se que existia uma diferença especialmente significativa entre os resultados<br />
médios da dimensão do Suporte Social Actividades Sociais e as categorias (com ponto de corte<br />
20) do Índice de Depressão de Beck (t=4,20; p
processo de transição da dependência para a autonomia se transforme não só numa etapa longa<br />
do ciclo de vida dos jovens adultos, mas também numa etapa de grande intensidade sentimental,<br />
levando, por sua vez, a uma conflitualidade relacionada com a separação física dos pais e uma<br />
possível saída de casa (Fleming, 1997).<br />
No entanto, através da aplicação do Teste t verifica-se que não existe uma diferença<br />
estatisticamente significativa entre os resultados médios do Índice de Depressão de Beck entre<br />
grupos etários (t = -1,49; p> 0,05). Apesar de tudo, e usando os valores do Índice de Depressão<br />
de Beck (com ponto de corte = 20) por Grupo Etário, verifica-se que os alunos que apresentam<br />
um maior Índice de Depressão de Beck, situam-se tendencialmente no grupo etário entre os 19<br />
e os 21 anos (18,8%; n=3).<br />
Cruzando o Índice de Depressão de Beck com o Sexo, verifica-se que os inquiridos do<br />
sexo feminino (com resultado médio=8,06; s=7,14) apresentam um Índice de Depressão de<br />
Beck mais elevado do que os inquiridos do sexo masculino (com um resultado médio=6,15;<br />
s=6,57). Constatando-se através do Teste t com valores estatisticamente significativos entre as<br />
variáveis Sexo e Índice de Depressão de Beck (t = -2,22; p
estudos, seria vista como um ano com muitas responsabilidades acrescidas. Os adolescentes e<br />
jovens adultos familiarizados até agora com o ambiente escolar secundário podem sentir<br />
antecipadamente as dificuldades em se adaptarem ao mundo universitário ou de trabalho, cujas<br />
características diferem sensivelmente dos ciclos de estudos anteriores (Braconnier e Marcelli,<br />
2000). Uma vez que estes adolescentes e jovens adultos apresentam, segundo este estudo, um<br />
maior índice de depressão no 2º ano de matrícula no 12º Ano. Outra causa apontada, podem ser<br />
as expectativas frustradas por parte destes, uma vez que poderiam não estar a contar repetir o<br />
ano e viram o seu futuro atrasar-se, juntamente com o facto de não terem correspondido à<br />
idealização que outros teriam sobre si. É importante referir a hipótese do grupo de pares ter<br />
alcançado os objectivos e ultrapassado o 12º ano enquanto que o adolescente ou jovem adulto<br />
não os acompanhou, podendo tal facto significar um conjunto de sentimentos negativos (como<br />
“abandono” ou “solidão”). Contudo, através da correlação o Índice de Depressão de Beck e o<br />
Número de Anos Matriculado no 12º Ano observa-se que os resultados não são<br />
estatisticamente significativos (r = 0,09; p> 0,05).<br />
Em relação às variáveis Índice de Depressão de Beck e Tipo de Curso que<br />
Frequenta constata-se que os indivíduos que apresentam maior disposição para a depressão<br />
são os que frequentam Cursos Tecnológicos (com resultado médio de 7,34; s=6,80) enquanto<br />
os que frequentam Cursos de Carácter Geral apresentam um resultado médio de 7,16 (s=6,97).<br />
No entanto, através da correlação entre o Índice de Depressão de Beck e o Tipo de<br />
Curso que Frequenta, verifica-se que os resultados obtidos não são estatisticamente<br />
significativos (r = 0,01, p> 0,05). Verifica-se ainda que os alunos dos Cursos Tecnológicos têm<br />
uma maior tendência para manifestar um Índice de Depressão de Beck (≥20) (8,6%; n=3),<br />
comparativamente com os alunos que frequentam Cursos de Carácter Geral (5,9%; n=13).<br />
caracterização.<br />
De seguida, utilizou-se a variável Suporte Social, relacionando-a com as variáveis de<br />
Verifica-se que os indivíduos do Grupo Etário entre os 16 e os 18 anos apresentam<br />
maior Suporte Social (com resultado médio=3,80; s=0,58) que os indivíduos do Grupo Etário<br />
entre os 19 e os 21 anos (com resultado médio=3,74; s=0,84). Uma das possíveis explicações<br />
para este facto deve-se possivelmente à etapa da vida que os jovens adultos estão a atravessar<br />
nesse momento, pois estes necessitam de concentrar-se mais na actividade escolar ou<br />
profissional que estão a desenvolver sendo-lhes exigido um maior desempenho, deixando assim<br />
um pouco de lado as relações sociais. No entanto, é importante, por outro lado, a participação de<br />
um adolescente num grupo de jovens da mesma idade é vulgar e poderíamos dizer que<br />
absolutamente necessária (Braconnier e Marcelli, 2000, 43).<br />
173
Para além desta hipótese, os adolescentes, encontram-se mais ligados à família, pois<br />
têm menor idade e dependem mais desta, de modo que a necessidade de suporte social se<br />
torna consequentemente maior. É também comum que nesta fase os adolescentes se envolvam<br />
em actividades extracurriculares por terem mais tempo disponível, actividades essas que,<br />
posteriormente, por falta de disponibilidade terão de abandonar, uma vez que se torna<br />
necessário dedicar mais tempo ao estudo e ao seu futuro.<br />
Contudo, recorrendo à correlação entre o Suporte Social e o Grupo Etário, verifica-se<br />
que os resultados não são estatisticamente significativos (r = -0,02; p> 0,05).<br />
Em relação à variável Suporte Social e Sexo averigua-se que os indivíduos do sexo<br />
masculino têm maior suporte social (com resultado médio=3,89; s=0,58) do que os indivíduos do<br />
sexo feminino (com resultado médio=3,71; s=0,60). Pensa-se que os indivíduos do sexo<br />
masculino apresentam maior suporte social devido ao facto de participarem num maior número<br />
de actividades sociais e lúdicas, sendo-lhe dadas outras oportunidades e, de certa forma, mais<br />
liberdade. Os rapazes soltam-se mais da família, acabando por criar laços mais fortes com o seu<br />
grupo de pares, exprimindo, de certa forma, o desejo de alargar e diferenciar o seu espaço<br />
familiar; enquanto que as raparigas procuram mais rapidamente a autonomia interna, passando<br />
só mais tarde a sentir a necessidade de exteriorizar esses sentimentos, criando laços fora do<br />
circulo familiar. Através do Teste t, constata-se que estes resultados são estatisticamente<br />
significativos.<br />
Constata-se que os indivíduos que frequentam os Cursos de Carácter Geral têm maior<br />
Suporte Social (com resultado médio=3,81; s=0,60) do que os indivíduos que frequentam os<br />
Cursos de Carácter Tecnológico (com resultado médio=3,72; s=0,56). No entanto, não se<br />
obtiveram dados suficientes para se poder analisar esta relação, visto o estudo não ter sido<br />
direccionado para se obter esta informação. Através do Teste t, verifica-se que não existe uma<br />
diferença estatisticamente significativa entre os resultados (t=-0,62; p>0,05).<br />
Relacionando o Índice de Depressão de Beck com o Suporte Social, averigua-se que<br />
quanto maior o Índice de Depressão de Beck, menor é o Suporte Social; sendo os valores<br />
obtidos para esta relação estatisticamente significativos (r=-0,61; p
Dentro das várias dimensões inseridas no Suporte Social, destaca-se a Intimidade (r<br />
=-0,49; p
AUTO-APRECIAÇÃO PESSOAL E TEMPERAMENTO AFECTIVO EM ENFERMEIROS DE<br />
SERVIÇOS DE PSIQUIATRIA E SAÚDE MENTAL<br />
1 CORDEIRO, RAUL; 2 CLAUDINO, JOÃO; 3 ARRIAGA, MIGUEL;<br />
Colaboração<br />
4 OLIVEIRA, MARIA; FRAZÃO, MARLENE; MENDES, MARINA; LEÃO, ROSA; ONOFRE, SÓNIA; ENGROSSA,<br />
SÓNIA; GONÇALVES, SÓNIA; SILVA, VÂNIA; VIEIRA, VERA; AZINHEIRO, VERA<br />
RESUMO<br />
Um estudo sobre a Auto-apreciação pessoal e o Temperamento Afectivo dos<br />
enfermeiros, é de crucial importância, pela sua influência em diversos fenómenos,<br />
nomeadamente na capacidade de desenvolver relações interpessoais, bem como na resistência<br />
a doenças psicológicas e físicas.<br />
Um total de N=47 Enfermeiros de ambos os sexos, com uma idade média de 38,5 anos,<br />
que exercem funções na área de Saúde Mental e Psiquiatria em três Hospitais: Hospital Doutor<br />
José Maria Grande de Portalegre, Hospital do Espírito Santo de Évora e Hospital de Nossa<br />
Senhora do Rosário do Barreiro, foi inquirido através de um questionário de aplicação directa.<br />
Os resultados indicam que o grupo estudado apresenta na sua maioria um<br />
Temperamento Hipertímico. Verificou-se que são os elementos do sexo feminino que<br />
apresentam maior auto-apreciação pessoal e que existe uma relação estatisticamente<br />
significativa entre a auto-apreciação pessoal e os Temperamentos Ciclotímico e Ansioso. Os<br />
mesmos resultados indicam igualmente que existe relação entre o Estado Civil e o<br />
Temperamento Irritável e entre o Tempo de Serviço e os Temperamentos Ciclotímico e<br />
Hipertímico.<br />
INTRODUÇÃO<br />
A investigação em Enfermagem é imprescindível para a origem do conhecimento que<br />
influenciará a prática, ou seja, é fundamental, pois fornece uma base de conhecimento científico<br />
especializado que contribui para a evolução da profissão. Tal acaba por se tornar muito<br />
importante porque antecipa e atende aos desafios propostos diariamente mantendo o papel<br />
social da actividade profissional de Enfermagem.<br />
176
A área da Saúde Mental é por si só uma área sedenta de exploração por diversos<br />
factores, tais como, a importância devida atribuída a este contexto. Há relativamente pouco<br />
tempo começou a conceder-se a importância devida a esta área e por essa razão existem ainda<br />
poucos estudos.<br />
É emergente o surgimento de um estudo relativo ao tema deste trabalho, pois e tendo<br />
em conta o papel da saúde na sociedade e dos profissionais de Enfermagem nela intervenientes,<br />
torna-se imprescindível perceber o que estes profissionais sentem acerca deles próprios.<br />
Sabemos que para ajudar os outros, temos de ajudar-nos também a nós próprios e sobretudo<br />
conhecer-nos. Um profissional de Enfermagem para cuidar dos utentes, que no fundo somos<br />
todos nós, necessita de estar bem consigo próprio não só a nível físico mas também psicológico.<br />
Deste modo, acreditamos que este estudo possa contribuir para uma visão mais ampla<br />
acerca do tema e sobretudo perceber de que forma está esta realidade presente nos<br />
profissionais de Enfermagem e de que forma influencia a própria prática.<br />
A AUTO-APRECIAÇÃO E TEMPERAMENTO AFECTIVO EM ENFERMEIROS DE SAÚDE<br />
MELTAL E PSIQUIATRIA<br />
O corpo é hoje um dos aspectos mais valorizados pelo indivíduo nas sociedades<br />
ocidentais. É-o de duas maneiras distintas: por um lado na dimensão aparência e, por outro, na<br />
dimensão funcionalidade (Ribeiro e Pais-Ribeiro, 2003:431). Desta forma, as dimensões<br />
supracitadas enquanto aspectos pertinentes do auto-conceito geral, apresentam-se também<br />
como aspectos importantes para o funcionamento psicológico do indivíduo, uma vez que,<br />
segundo Ribeiro e Pais-Ribeiro (2003:431) são variáveis de auto-referência e, provavelmente por<br />
esta via, tem um impacto positivo no bem-estar, na qualidade de vida e na saúde.<br />
Tendo em conta o referido, salienta-se que o modo como o indivíduo se percepciona<br />
nestas dimensões determina a forma de pensar, de agir e de se relacionar com o meio que o<br />
rodeia.<br />
O auto-conceito tem sido consensualmente considerado como um factor fundamental para<br />
o bem-estar do indivíduo desempenhando uma função central, enquanto mediador e regulador<br />
do comportamento, percepções e expectativas pessoais. Um entendimento do auto-conceito<br />
torna possível a compreensão de cinco importantes aspectos inerentes ao comportamento<br />
humano: a identidade pessoal, a coerência, a continuidade, a consistência e a razão pela qual o<br />
indivíduo inibe ou facilita certos comportamentos.<br />
177
Segundo Fitts, citado por Serra (1988:109), o auto-conceito tem o condão de capturar e<br />
condensar motivos, necessidades, atitudes, valores e traços de personalidade. Por isso, torna-se<br />
uma variável ao mesmo tempo central e simples, relacionada com muitas outras, com que<br />
podemos lidar.<br />
A análise das suas relações e as repercussões de um auto-conceito pobre leva-nos a<br />
pensar que, em condições stressantes, na maioria dos casos o que é fundamental não é a<br />
própria situação mas, a pessoa que nela está envolvida bem como a sua avaliação dessa<br />
mesma situação.<br />
Relativamente aos constituintes do auto-conceito, Vaz Serra (1988) acrescenta ainda, que<br />
este pode ser composto por várias facetas, tais como: Auto-imagem, Identidade e Auto-estima. A<br />
auto-imagem do indivíduo é importante na medida em que lhe permite atribuir significados na<br />
sua organização hierárquica. As identidades permitem uma reflexão mais que qualquer outro<br />
aspecto do auto-conceito, a nível do conteúdo e da organização social. A auto-estima é sem<br />
dúvida a que se realça mais sob o ponto de vista clínico, pois permite que o indivíduo faça a<br />
avaliação das suas qualidades ou dos seus desempenhos, virtudes ou valor moral. Esta pode<br />
ser considerada como os julgamentos que a pessoa faz acerca de si própria, permitindo assim<br />
uma autoavaliação positiva ou negativa. Sendo isto extremamente relevante para a sua<br />
identidade.<br />
Segundo Vaz Serra (1988:109), a auto-estima tem a ver com os aspectos avaliativos que<br />
um indivíduo elabora a seu próprio respeito, das suas qualidades ou desempenhos, sendo a<br />
parte afectiva do auto-conceito. (…) É indiscutivelmente a parte mais importante do auto-<br />
conceito.<br />
A formação do auto-conceito mostra a capacidade que o ser humano possui para se<br />
constituir como um objecto da sua própria observação e se abstrair dos seus comportamentos<br />
específicos diários e analogamente dos comportamentos dos outros em relação a si. Assim, a<br />
formação do auto-conceito ocorre da experiência vivenciada pelo indivíduo nos diversos<br />
contextos de vida em que age e da leitura que este faz das mesmas.<br />
O desenvolvimento do auto-conceito vai prosseguindo ao longo da nossa vida, sendo que<br />
a diferenciação do Eu surge na adolescência e juventude, devido às inúmeras e crescentes<br />
experiências acumuladas, a aproximação da vida adulta e o aumento das responsabilidades. Isto<br />
vai implicar que progressivamente surja um auto-conceito geral culminando num sentido da<br />
identidade própria. O adulto tem a capacidade de estabelecer relações estáveis, estruturar<br />
relações com os outros, estabelecer um estilo de vida e reconhecer valores na sociedade em<br />
que o próprio se insere.<br />
178
Relativamente às variáveis de auto-percepção ou de auto-referência, de acordo com<br />
Oosterwegel e Oppenheimer, citados por Ribeiro (2006), são usadas por parte dos indivíduos<br />
para fazerem julgamentos sobre si próprios. Estas duas variáveis, fazem parte do repertório da<br />
psicologia desde a sua origem. Estas podem ser entendidas de variadas formas, tais como: auto-<br />
conceito, auto-estima, auto-apreciação, auto-desenvolvimento, auto-representação, auto-<br />
regulação, auto-compreensão, entre outras.<br />
Harter, citada por Ribeiro (2006), refere ainda que existem ainda duas formas de abordar<br />
ou compreender esta variável, isto é, é vista como um modelo global ou unidimensional (auto-<br />
estima) ou como um modelo multidimensional (auto-conceito). O primeiro tende a ser mais global<br />
e ter avaliações livres de conceito, enquanto que o segundo, é mais dependente do contexto ou<br />
de conteúdos.<br />
O conceito de auto-apreciação pessoal contém, de acordo com alguns estudos, três<br />
componentes fundamentais, tais como, a componente afectiva, cognitiva e comportamental.<br />
Este conceito, tem um papel relevante na forma como as pessoas encaram os seus<br />
papéis, desempenhos, motivações e também na forma como encaram as suas satisfações<br />
profissionais.<br />
O temperamento refere-se à forma de ser emocional do indivíduo, isto é, o<br />
temperamento é um conjunto de características fisiológicas e psicológicas que distinguem uma<br />
pessoa das outras e que são a base do seu carácter. O carácter é o conjunto de reacções e<br />
hábitos de comportamento que vão sendo adquiridos ao longo da vida e que especificam o modo<br />
individual de cada pessoa (Reich, 1995). O carácter é composto das atitudes habituais de uma<br />
pessoa e do seu padrão consistente de respostas para várias situações. Incluem-se aqui as<br />
atitudes e valores conscientes, o estilo de comportamento (timidez, agressividade, etc.) e as<br />
atitudes físicas (postura, hábitos de manutenção e movimentação do corpo). Assim, carácter é a<br />
forma como a pessoa se mostra ao mundo, com o seu temperamento e a sua personalidade. É<br />
por meio do carácter que a personalidade e o temperamento do indivíduo se manifestam.<br />
Portanto, conhecer o carácter de uma pessoa significa conhecer os traços essenciais que<br />
determinam o conjunto de seus actos.<br />
É de referir que o humor predominante ao longo da vida é uma componente do<br />
temperamento. Assim uma pessoa pode ser descrita, como tendo um temperamento calmo,<br />
exuberante, irritável, depressivo, ansioso ou sensível.<br />
Segundo Chess e Thomas (1996), o temperamento designa características de<br />
personalidade inatas que influenciam a maneira pela qual o indivíduo reage ao ambiente e a sua<br />
progressão no desenvolvimento.<br />
179
Akiskal (2005) e seus colaboradores difundiram o conceito do espectro bipolar,<br />
estendendo-o aos limites dos temperamentos. O espectro bipolar, vai de um pólo negativo para<br />
um pólo positivo e passa por um estado de equilíbrio. Assim, este varia, respectivamente, entre<br />
um estado depressivo e um estado ansioso, passando também por estados de ciclotimia,<br />
irritabilidade e hipertimia.<br />
Assim, a classificação do temperamento, segundo Akiskal (2005) foi baseada, nos<br />
primeiros estadios dos seus estudos na seguinte tipologia:<br />
1 – Depressivos: em que os indivíduos são preocupados, pessimistas, quietos, tímidos,<br />
indecisos e passivos. Tem uma conduta reservada, são resignados, reflexivos e com elevada<br />
tolerância para situações monótonas ou que exigem cautela.<br />
2 – Ciclotímicos: os indivíduos alternam entre períodos de auto-confiança alta e baixa,<br />
estados apáticos e energéticos, pensamentos confusos e aguçados, humor tristonho e<br />
brincalhão, momentos introvertidos e expansivos, sonolência e pouca necessidade de sono.<br />
3 - Irritáveis: manifestação de irritabilidade como característica marcante e constante. Os<br />
indivíduos são ameaçadores, desconfiados, combativos e destrutivos.<br />
4 – Hipertímicos: os indivíduos são dinâmicos, desejam estímulos e sensações de prazer,<br />
tem tendência para a impulsividade, curiosidade, extravagância e desorganização. Pretendem<br />
reacções afectivas rápidas e intensas, e possuem inquietação, tédio e irritabilidade.<br />
Contudo, houve a necessidade de incluir o temperamento ansioso, uma vez que cada vez<br />
que este fora introduzido, notara-se alguma sobreposição entre preocupação e depressão. Foi<br />
neste contexto, com a dificuldade de objectivar as respostas, que o temperamento ansioso foi<br />
incluído. Deste modo, podemos referir o temperamento ansioso como uma disposição de<br />
personalidade exagerada em direcção à preocupação. Caracteriza-se por um humor ansioso,<br />
com sensações desagradáveis de ansiedade manifestando-se por tremores, sudorese ou<br />
taquicardia, sempre com reacções ansiosas em situações específicas (provas, trabalho,<br />
entrevistas, situações sociais, entre outros).<br />
Assim, podemos ver a importância do temperamento e, como este pode afectar a maneira<br />
de ser e estar da pessoa, assumindo-se como um pilar importante na afectividade.<br />
Desta forma, podemos definir temperamento afectivo como as características próprias do<br />
indivíduo que influenciam o modo como cada pessoa se relaciona com os outros, com o<br />
ambiente e com o seu próprio desenvolvimento.<br />
Para o presente estudo foram definidos os seguintes objectivos:<br />
• Avaliar a Auto-apreciação Pessoal e Temperamento Afectivo em Enfermeiros<br />
• Esclarecer o significado de Auto-conceito e Auto-apreciação;<br />
180
• Analisar as relações entre o Auto-conceito/Auto-apreciação e o Temperamento Afectivo<br />
em Enfermeiros.<br />
MATERIAIS E MÉTODOS<br />
Através de um estudo de cariz descritivo e transversal foi considerada uma população-<br />
alvo do constituída por N=75 Enfermeiros que exercem funções na Área da Saúde Mental e<br />
Psiquiatria em três hospitais: Barreiro, Évora e Portalegre. Responderam ao Questionário um<br />
total de n= 47 indivíduos que considerámos como o nosso Grupo de Estudo.<br />
Variáveis de Estudo<br />
Sexo; Idade; Estado Civil; Tipo de Horário de Trabalho; Categoria Profissional;<br />
Habilitações Profissionais em Enfermagem; Tempo de Serviço; Anos de Experiência em<br />
Serviços de Psiquiatria e Saúde Mental; Temperamento Afectivo; Auto-Apreciação Pessoal.<br />
Instrumentos de medida<br />
Parte I – consiste na caracterização da população alvo.<br />
Parte II – consiste na aplicação da escala TEMPS-A (Escala de Temperamento de<br />
Memphis, Pisa, Paris e San Diego) (Akiskal, 2005) aplicada na versão traduzida para a língua<br />
portuguesa (Figueira, M; Severino, L., 1999).<br />
Esta escala é uma medida de autoavaliação, que permite avaliar os cinco Temperamentos<br />
(Depressivo, Ciclotímico, Irritável, Hipertímico e Ansioso). A utilização desta escala tem como<br />
finalidade identificar qual a tendência que cada indivíduo tem para um determinado<br />
temperamento.<br />
Parte III – consiste na aplicação da Escala de Auto-Apreciação Pessoal (Ribeiro, 2006).<br />
Esta escala permite uma apreciação global referente ao sentimento geral que o indivíduo tem<br />
acerca de si próprio.<br />
181
12<br />
10<br />
8<br />
6<br />
4<br />
2<br />
0<br />
4<br />
3<br />
RESULTADOS<br />
CARACTERIZAÇÃO DO GRUPO DE ESTUDO<br />
QUADRO 1<br />
DISTRIBUIÇÃO POR GRUPO ETÁRIO<br />
8<br />
10<br />
9<br />
QUADRO 2<br />
DISTRIBUIÇÃO POR SEXO<br />
3<br />
5 5<br />
20-25 26-30 31-35 36-40 41-45 46-50 > 50 N.R.<br />
32; 68,09%<br />
15; 31,91%<br />
Frequências<br />
Masculino<br />
Feminino<br />
182
QUADRO 3<br />
DISTRIBUIÇÃO SEGUNDO O TIPO DE HORÁRIO DE TRABALHO<br />
QUADRO 4<br />
DISTRIBUIÇÃO POR HABILITAÇÕES PROFISSIONAIS<br />
3; 6%<br />
11; 23%<br />
5; 11%<br />
5; 10,64%<br />
31; 65,96%<br />
14; 30%<br />
11; 23,40%<br />
14; 30%<br />
Fixo<br />
Rotativo<br />
N.R.<br />
Curso de Enfermagem Geral-<br />
Bacharelato<br />
Curso Complementar de<br />
Enfermagem-Licenciatura<br />
Licenciatura<br />
4° TrimCurso de Estudos<br />
Superiores Especializados em<br />
Enfermagem ou Equivalente .<br />
N.R.<br />
183
QUADRO 5<br />
DISTRIBUIÇÃO SEGUNDO OS ANOS DE EXPERIÊNCIA EM SAÚDE MENTAL E<br />
PSIQUIATRIA<br />
7; 15%<br />
17%<br />
0%<br />
10; 21%<br />
6; 13%<br />
3; 6%<br />
16; 34%<br />
VARIAVEIS EM ESTUDO<br />
5; 11%<br />
QUADRO 6<br />
FREQUÊNCIAS MÉDIAS DOS TEMPERAMENTOS<br />
26%<br />
4% 2%<br />
51%<br />
0-2 Anos<br />
3-8 Anos<br />
9-14 Anos<br />
15-20 Anos<br />
+ 20 Anos<br />
N.R.<br />
Depressivo<br />
Ciclotímico<br />
Hipertímico<br />
Irritável<br />
Ansioso<br />
N.R.<br />
184
QUADRO 7<br />
VALORES MÉDIOS DOS TEMPERAMENTO SEGUNDO O SEXO<br />
12<br />
10<br />
8<br />
6<br />
4<br />
2<br />
0<br />
4,15<br />
6,62<br />
3<br />
4,03<br />
QUADRO 8<br />
11,92<br />
RELAÇÃO ENTRE AS VARIÁVEIS DE CARACTERIZAÇÃO E OS TEMPERAMENTOS<br />
AFECTIVOS<br />
8,93<br />
3,92<br />
6,34<br />
2,46<br />
Masculino<br />
Feminino<br />
1,83<br />
185
QUADRO 9<br />
RELAÇÃO ENTRE AS VARIÁVEIS DE CARACTERIZAÇÃO E A AUTO-APRECIAÇÃO<br />
PESSOAL<br />
Sexo<br />
Idade<br />
Estado Civil<br />
Tipo de Trabalho<br />
Categoria Profissional<br />
Habilitações Profissionais<br />
Tempo de Serviço<br />
Anos de Experiência em Serviços de<br />
Psiquiatria e Saúde Mental<br />
Auto-apreciação pessoal<br />
2= 14,21 (12)<br />
p> 0,05<br />
rs= 0,23<br />
p> 0,05<br />
2=33,69 (38)<br />
p> 0,05<br />
2=6,97 (12)<br />
p> 0,05<br />
rs= 0,13<br />
p> 0,05<br />
rs= 0,09<br />
p> 0,05<br />
rs= 0,12<br />
p> 0,05<br />
rs= 0,02<br />
p> 0,05<br />
QUADRO 10<br />
VALORES DE AUTO-APRECIAÇÃO PESSOAL SEGUNDO O SEXO<br />
4<br />
3,5<br />
3<br />
2,5<br />
2<br />
1,5<br />
1<br />
0,5<br />
0<br />
3,19<br />
3,26<br />
Masculino<br />
Feminino<br />
186
3,8<br />
3,7<br />
3,6<br />
3,5<br />
3,4<br />
3,3<br />
3,2<br />
3,1<br />
3<br />
2,9<br />
2,8<br />
3,18<br />
QUADRO 11<br />
VALORES DE AUTO-APRECIAÇÃO PESSOAL SEGUNDO A IDADE<br />
3,33<br />
3,1<br />
3,2<br />
3,16<br />
QUADRO 12<br />
RELAÇÃO ENTRE OS TEMPERAMENTOS AFECTIVOS E AUTO-APRECIAÇÃO PESSOAL<br />
Temperamento Depressivo<br />
Temperamento Ciclotímico<br />
Temperamento Hipertímico<br />
Temperamento Irritável<br />
Temperamento Ansioso<br />
3,67<br />
3,46<br />
20-25 Anos<br />
26-30 Anos<br />
31-35 Anos<br />
36-40 Anos<br />
41-45 Anos<br />
46-50 Anos<br />
+ 50 Anos<br />
Auto-apreciação pessoal<br />
2= 126,97 (120)<br />
p>0,05<br />
2= 146,78 (120)<br />
p0,05<br />
2= 86,00 (84)<br />
p>0,05<br />
2= 221,03 (180)<br />
p
DISCUSSÃO DE RESULTADOS<br />
O grupo de estudo apresenta-se distribuído de uma forma equilibrada em termos de Idade,<br />
sendo constituído por indivíduos de idades compreendidas entre os 22 anos, idade esta em que<br />
geralmente se inicia a actividade profissional e os 58 anos, que é próxima da idade de reforma<br />
(MD=38,5 anos). O Grupo Etário que apresenta uma maior percentagem encontra-se<br />
compreendido entre 36 e 40 anos de idade (21,28%), seguido do grupo etário compreendido<br />
entre os 41 e 45 anos de idade (19,15%).<br />
Relativamente ao Sexo, verifica-se que o sexo feminino (68,09%) prevalece sobre o sexo<br />
masculino (31,91%), o que se verifica na maior parte dos estudos realizados na área da<br />
Enfermagem.<br />
No que diz respeito à Categoria Profissional, verifica-se a existência de uma pequena<br />
percentagem de Enfermeiros Especialistas (4,26%), e uma grande percentagem de Enfermeiros<br />
Graduados (63,83%).<br />
A diminuída percentagem de Enfermeiros Especialistas na população pode dever-se ao facto da<br />
oferta de cursos de especialização na área de Saúde Mental e Psiquiatria ser actualmente<br />
reduzida.<br />
Em relação, ao Temperamento Afectivo, 51,08% dos indivíduos que fazem parte da população<br />
em estudo apresentam Temperamento Hipertímico. Estas características poderão estar<br />
relacionadas com as próprias exigências da profissão nesta área de Saúde Mental e Psiquiatria,<br />
ou seja, com a postura que lhes é imposta pelos utentes/família ou até mesmo pela própria<br />
sociedade.<br />
Ainda, no grupo estudado, 17,02% dos indivíduos apresentam Temperamento Ansioso. Estas<br />
características poderão estar relacionadas com o stress inerente às situações com que os<br />
enfermeiros de Saúde Mental e Psiquiatria se deparam no seu local de trabalho.<br />
No que diz respeito aos resultados médios do Índice de Auto-Apreciação Pessoal, verifica-se<br />
que a média é de 3,23 (s =0,48), revelando, deste modo, nos indivíduos um Índice de Auto-<br />
Apreciação Pessoal favorável, ou seja, uma Auto-Apreciação elevada. Tal facto pode ser<br />
sustentado pelo conceito adiantado por Gecas (1982) segundo o qual o desenvolvimento do<br />
auto-conceito, como constructo fundamental da personalidade, é influenciado por vários factores,<br />
tais como o aspecto físico, nível de inteligência, emoções, padrões culturais, escola, família e<br />
status social.<br />
Desta forma, pela nossa análise, os enfermeiros poderão, de acordo com o seu estatuto social e<br />
nível de inteligência, ter uma auto-estima mais elevada. Concorda-se com a ideia do autor<br />
188
supracitado já que, o nível de inteligência e estatuto social podem mutuamente elevar os níveis<br />
de auto-estima nos enfermeiros.<br />
Seguindo a mesma linha pensamento de os enfermeiros apresentam atitudes e comportamentos<br />
como a motivação, grande dinamismo, curiosidade, entre outros, características estas do<br />
temperamento hipertímico. Deste modo, considera-se que estas características estão<br />
intimamente relacionadas com níveis de auto-estima elevados, influenciando, assim, o auto-<br />
conceito dos enfermeiros.<br />
Verifica-se que a relação entre a Auto-apreciação e os Temperamentos Ciclotímico e Ansioso é<br />
estatisticamente significativa.<br />
No que diz respeito aos temperamentos depressivo, ciclotímico e ansioso o sexo feminino<br />
apresenta uma média mais elevada que o sexo masculino, ou seja, as mulheres têm maior<br />
tendência para exibir estes tipos de temperamentos. Valente (2002:164), refere que a pressão<br />
cultural maior sobre o sexo feminino pode levá-lo a uma maior dependência em relação às<br />
percepções e expectativas dos outros significativos. Este facto pode originar menor auto-<br />
conceito ao nível da maturidade psicológica, do que no sexo masculino.<br />
Constata-se ainda, que o sexo feminino apresenta uma média mais elevada no que diz respeito<br />
à Auto-apreciação Pessoal. Estes resultados estão em discordância com Veiga, citado por<br />
Valente (2002:164), que refere existirem médias mais baixas do auto-conceito no sexo feminino<br />
em que este apresentava menor satisfação- felicidade, menos confiança nas suas capacidades,<br />
menores resultados no estatuto intelectual (…).<br />
Os resultados do nosso estudo estão também em discordância com os encontrados por Flaherty,<br />
citado por Valente (2002:158), pois estes autores assinalam diferenças específicas no auto-<br />
conceito que vão ao encontro dos estereótipos sexuais tradicionais. Da mesma forma Harter,<br />
citada por Valente (2002:158), refere resultados em que os sujeitos do sexo masculino<br />
apresentam um conceito de aparência física e competências superior ao do sexo feminino,<br />
enquanto que nas dimensões sociais do auto-conceito existem divergências. As diferenças no<br />
auto-conceito entre indivíduos do sexo feminino e masculino, segundo Valente (2002:158), são<br />
atribuídas à percepção diferencial que ambos os sexos têm das suas capacidades, ou seja, os<br />
indivíduos do sexo feminino tendem a avaliar menos positivamente as suas capacidades.<br />
189
CONCLUSÃO<br />
O grupo estudado tem idades compreendidas entre os 22 e os 58 anos de idade (MD=38,5),<br />
sendo 31,91% do sexo masculino e 68,09% do sexo feminino, com 4,3% de Enfermeiros<br />
Especialistas.<br />
Em relação, ao temperamento afectivo pode-se afirmar que 51% dos indivíduos apresentam<br />
Temperamento Hipertímico.<br />
Este temperamento apresenta determinadas características nomeadamente: grande dinamismo,<br />
curiosidade, extravagância, desorganização, impulsividade, ambição por relações afectivas<br />
rápidas e intensas, inquietação, tédio e irritabilidade. Estas características poderão estar<br />
relacionadas com as próprias exigências da profissão na área de Saúde Mental e Psiquiatria, No<br />
que diz respeito aos resultados médios do Índice de Auto-Apreciação Pessoal, verifica-se que a<br />
média é de 3,23 (s =0,48), revelando um Índice de Auto-Apreciação Pessoal elevado.<br />
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />
AKISKAL, H. (2005). TEMPS: Temperament Evaluation of Memphis, Pisa, Paris and San Diego.<br />
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CHESS, S.; THOMAS, A. (1996) Temperament: Theory and Practice. In: Temperament –<br />
Theory and Practice, Chess, S.; Thomas, A. (Orgs.): Brunner/Mazel, Publishers: New York.<br />
GECAS, V. (1982). The self-concept. Annual Reviers of Sociology, 8, 1-33.<br />
RIBEIRO, J.L.P. (2006). Desenvolvimento de uma escala de Auto-apreciação pessoal.<br />
Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação, Universidade do Porto, disponível em<br />
http://www.fpce.up.pt, acedido a 26-04-2006 às 12:06.<br />
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para homens jovens adultos. Análise Psicológica, 4(XXI): Lisboa.<br />
REICH, W. Análise do caráter. São Paulo: Martins Fontes, 1995.<br />
VAZ SERRA, Adriano. (1988). O Auto-Conceito. Análise Psicológica, 2(VI): Lisboa.<br />
VALENTE, Irene (2002). Autoconceito em Estudantes de Enfermagem. 1ª ed. Editora<br />
Quarteto: Coimbra.<br />
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