O terceiro travesseiro - M. A. Q. Cavalcante - Cia. Atelie das Artes
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Renato: Beatriz também gostou de saber que agora somos três, Marcus. Aliás, se não fosse por ela<br />
e pelo seu pai, não estaríamos aqui sozinhos.<br />
Marcus: Meu pai?<br />
Renato: Depois eu conto o que rolou. Agora, eu quero um abraço.<br />
Marcus: (abraça) Que saudades, cara. (começa a beijar e chorar ao mesmo tempo)<br />
Renato: Não vale chorar, Marcus.<br />
Marcus: Me desculpe, cara. É que é tão bom estar aqui com você. Renato?<br />
Renato: Fale, Marcus.<br />
Marcus: Tive medo de perdê-lo para sempre. Acho que morreria.<br />
Renato: Eu também. Só que esse medo ficou no passado. Não vamos mais falar sobre isso. Tudo<br />
bem?<br />
Marcus: Tudo bem, cara. Você está mais gostoso ainda, cara. Renato?<br />
Renato: Fala.<br />
Marcus: Você me disse que o meu pai e a Beatriz foram responsáveis por estarmos aqui sozinhos.<br />
É isso?<br />
Renato: É isso mesmo, Marcus. A confusão toda começou na Sexta-feira. Primeiro o Guilherme<br />
esquecer de me entregar o seu bilhete. Só fui recebê-lo à noite, quando já estava em casa.<br />
Marcus: Foi o bilhete que fez você voltar?<br />
Renato: Ajudou. Na verdade eu já estava pensando nisso. Saudade é um horror, cara. (beijos)<br />
Como já era tarde, peguei o carro do Carlos emprestado e fui até a sua casa. Só sua mãe estava lá.<br />
Ela me disse que você tinha ido para Jundiaí na casa de seus avós.<br />
Marcus: Você está brincando!<br />
Renato: Não estou, cara. Ai, não pensei duas vezes, Marcus. Fui até Jundiaí.<br />
Marcus: Que loucura, cara. Por que será que a minha mãe mentiu?<br />
Renato: Ela quer que você fique com a Beatriz e não comigo. Quando voltei para São Paulo, não<br />
sabia exatamente o que fazer e, após rodar muito com o carro, decidi passar novamente na sua casa.<br />
Você já havia saído e a Beatriz, com o carro do seu pai, tinha ido levar os pais dela e o irmão para<br />
casa. Seus pais discutiam muito quando cheguei. O senhor Giorgio havia descoberto tudo por causa<br />
de um telefonema do seu avô.<br />
Marcus: Que absurdo, cara!<br />
Renato: O clima entre eles esquentou legal, Marcus. Imagina como foi ruim para mim estar no<br />
meio de toda a discussão. Seu pai disse para sua mãe que a mentira dela e o jantar arranjado com a<br />
família da Beatriz haviam provocado em você uma atitude que não era sua. Eles pensaram que você<br />
havia fugido de casa.<br />
Marcus: Isso é muito louco, cara.<br />
Renato: A coisa pegou fogo mesmo, Marcus, quando sua mãe disse achar muito estranho um pai<br />
incentivar a homossexualidade do filho. Nessa hora tive a impressão de que algum sentimento havia<br />
morrido dentro do seu pai. (silêncio) Não sei exatamente como tudo rolou, mas após saber que você<br />
não havia fugido de casa, que nada de ruim tinha acontecido e que, provavelmente, eu e você<br />
precisaríamos conversar, seu pai decidiu que isso deveria acontecer num lugar decente. E não na<br />
rua. Pelo que entendi, sua mãe engoliu a seco as decisões dele.<br />
Marcus: A vida não presta, Renato. Não podia ser tudo diferente? Não acredito que Deus seja<br />
contra a união de pessoas como a gente. O próprio ser humano constrói o seu inferno.<br />
Renato: Sem tristeza, Marcus. Que tal passarmos uma borracha em cima de tudo? Vamos deixar os<br />
problemas para depois. Hoje a noite é nossa, cara, só nossa.<br />
Marcus: Você tem razão. É melhor esquecermos.<br />
Renato: O que você acha de relaxarmos na banheira de hidromassagem de seus pais, Marcus?<br />
Marcus: Agora?<br />
Renato: Não, amanhã quando eles estiverem em casa.<br />
Marcus: Não precisava ser grosso, cara. Eu só estava brincando.<br />
Renato: (risos) Vamos ver quem chega primeiro ao banheiro, Marcus?