O terceiro travesseiro - M. A. Q. Cavalcante - Cia. Atelie das Artes
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Marcus: Hã, hã.<br />
Giorgio: Venha para o nosso quarto, filho. É só colocar o colchonete ao lado da cama.<br />
Marcus: Se o senhor não se importar, gostaria de ficar aqui na sala mesmo e sem colchonete.<br />
Giorgio: Entendo. (se abraçam) Outra coisa, filho. Caso amanhã você precise de mim para alguma<br />
coisa, é só ligar para os seus avós, que estarei aqui em menos de uma hora.<br />
Marcus: Obrigado, pai.<br />
(Blecaute. Pausa longa. Luzes normais. Beatriz e Marcus em cena, tomando café da manhã na<br />
mesa de jantar).<br />
Marcus: Bom dia, Beatriz.<br />
Beatriz: Bom dia, gatinho. (abraça Marcus)<br />
Marcus: Você está bem melhor agora, Beatriz.<br />
Beatriz: É que ontem eu estava muito cansada.<br />
Marcus: Entendo.<br />
Beatriz: Eu gosto muito de você, Marcus.<br />
Marcus: Estamos sozinhos aqui em casa.<br />
Beatriz: Eu sei. Ouvi seus pais conversando hoje cedo. Eles só devem voltar no fim da tarde. Você<br />
acha que se eles estivessem aqui, eu estaria com a porta aberta?<br />
Marcus: Acho que não.<br />
Beatriz: Posso pedir uma coisa, Marcus? Eu gostaria que você começasse a me chamar de Bia.<br />
Marcus: Bia?<br />
Beatriz: Hã, hã.<br />
Marcus: Quem te chama assim, Beatriz?<br />
Beatriz: De vez em quando, o Renato. Tudo bem?<br />
Marcus: Tudo bem, Bia. (risos)<br />
Beatriz: (risos) Seus pais falaram alguma coisa, Marcus?<br />
Marcus: Ainda não pude conversar direito, mas deu para saber que eles estão muito contentes com<br />
tudo isso.<br />
Beatriz: Contentes?<br />
Marcus: É. Entre um filho bissexual e um heterossexual, eles preferem o segundo.<br />
Beatriz: (fica sem ação) Eles sabem de alguma coisa?<br />
Marcus: Sabem de tudo. Eu contei a eles.<br />
Beatriz: Inclusive do Renato?<br />
Marcus: Hã, hã.<br />
Beatriz: E eles aceitaram tudo isso numa boa?<br />
Marcus: Não foi tão simples assim, Beatriz, mas… aceitaram.<br />
Beatriz: E o seu Júlio e a dona Inês?<br />
Marcus: Também sabem.<br />
Beatriz: (estado de choque) Nossa! Não sei nem o que pensar, Marcus! Tudo isso é tão incrível!<br />
Marcus: Troque a palavra 'incrível' por 'difícil'.<br />
Beatriz: Eu não teria a coragem que vocês tiveram.<br />
Marcus: Entre viver e morrer, nós optamos por viver, Beatriz.<br />
Beatriz: Como assim, Marcus?<br />
Marcus: Viver uma vida mentirosa só para agradar aos outros é estar morto em vida, você não<br />
acha?<br />
Beatriz: Posso perguntar uma coisa, Marcus?<br />
Marcus: O que é?<br />
Beatriz: Eu gostaria que você fosse muito sincero na sua resposta.<br />
Marcus: Fale, Beatriz, o que é?<br />
Beatriz: Bia, Marcus.<br />
Marcus: Desculpe, é que ainda não me acostumei.<br />
Beatriz: O que você sente por mim, Marcus?