O terceiro travesseiro - M. A. Q. Cavalcante - Cia. Atelie das Artes
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Inês: Não, Ana, obrigada. Fica para a próxima vez. Na verdade nós já temos que ir. O meu outro<br />
filho, Carlos, está com a noiva nos esperando, não é Júlio?<br />
Júlio: É isso mesmo, Inês.<br />
(Saem todos pelo lado esquerdo. Ficam em cena, Marcus e Renato)<br />
Marcus: Como você gosta de me apertar por trás, cara.<br />
Renato: Por quê, Marcus? Você não gosta?<br />
Marcus: Eu adoro, cara, ainda mais quando você me pega de surpresa, como agora.<br />
Renato: (dá um beijo) Eu gostaria de te dar o meu presente de Natal, Marcus.<br />
Marcus: Então você não se esqueceu do meu presente, Renato!<br />
Renato: Como eu posso esquecer o presente da pessoa mais importante da minha vida? A caixinha<br />
está no meu bolso, Marcus. Você pega?<br />
Marcus: Pego.<br />
Renato: Eu falei no bolso, e é uma caixinha e não um canudo.<br />
Marcus: (dá uma risada) Eu sei que é uma caixinha, Renato, mas eu estava com a mão tão perto<br />
dele, que não resisti. (abre a caixinha e tira uma correntinha de ouro com um cruxifixo)<br />
Renato: Você gostou, Marcus?<br />
Marcus: Muito, cara. Você coloca em mim?<br />
Renato: Lógico. Essa é a melhor parte. (coloca a corrente no pescoço e manda uns beijos no<br />
pescoço)<br />
Marcus: Agora é a vez do meu presente, Renato.<br />
Renato: Você também guardou no bolso, Marcus?<br />
Marcus: Não, Renato, o seu presente não está no meio <strong>das</strong> minhas pernas. Eu vou pegá-lo. (pega<br />
uma caixa grande, todo de verde e entrega para Renato) É seu, cara. Espero que você goste.<br />
Renato: O que tem aqui dentro, Marcus? Criptonita?<br />
Marcus: Por que você disse isso? É pelo papel?<br />
Renato: (responde que sim) Que legal, Marcus!<br />
Marcus: Você gostou?<br />
Renato: É impossível não gostar. Puta tênis transado, cara!<br />
Marcus: Entre os importados, eu escolhi o que tinha mais o seu jeito.<br />
Renato: Valeu mesmo, Marcus. Agora deixa eu ler o seu cartão.<br />
Marcus: Não leia agora, Renato.<br />
Renato: Por quê?<br />
Marcus: Leia quando você estiver sozinho.<br />
Renato: Você está com vergonha? (tenta puxar o cartão da mão dele) Marcus, se eu não puder ler<br />
o cartão agora, não tem graça.<br />
Marcus: Tá legal, Renato. Você pode ler, mas não vale rir.<br />
Renato: Ok, Marcus. (lê o cartão) “A bordo de sua vida, me fiz um passageiro eterno. Renato,<br />
juntos faremos o possível e o impossível para realizarmos os nossos sonhos. Eu te amo. Marcus” Eu<br />
nem sei o lhe dizer, Marcus. O que você me escreveu é bonito demais, cara.<br />
Marcus: Então não diga nada, apenas me abrace. Renato, posso tocar num assunto delicado?<br />
Renato: Pode. O que você quer saber?<br />
Marcus: É sobre o seu pai.<br />
Renato: Pode falar, Marcus.<br />
Marcus: Sabe o que é, Renato, tem uma coisa que ainda não se encaixou direito na minha cabeça.<br />
Renato: Pode falar. O que está preocupando você?<br />
Marcus: Até hoje, Renato, eu não entendo como uma pessoa tão 'de bem com a vida' como o seu<br />
Júlio pôde ser… você entendeu.<br />
Renato: Pôde ser tão violento. É isso, Marcus?<br />
Marcus: É isso.<br />
Renato: Marcus, ao contrário do que possa parecer, meu pai não teve culpa nenhuma. Quando eu<br />
comecei a falar com eles, ele estava na cozinha preparando um lanche. Minuto a minuto, a<br />
discussão foi tomando proporções mais graves, até que minha mãe saiu chorando da cozinha e se