O fim da Guerra Fria e a unificação alemã - SciELO
O fim da Guerra Fria e a unificação alemã - SciELO
O fim da Guerra Fria e a unificação alemã - SciELO
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
foi um plano de política interna e apesar de não ter abor<strong>da</strong>do a política externa <strong>alemã</strong><br />
ou a dimensão internacional de um futuro processo negocial com vista à <strong>unificação</strong><br />
não deixou de referir a importância <strong>da</strong> integração europeia.<br />
Reconhecendo que o «sucesso dos movimentos de reforma [na Polónia e na Hungria]<br />
foi uma condição prévia para o movimento reformista na r<strong>da</strong>», Kohl aceitava que a<br />
<strong>unificação</strong> <strong>alemã</strong> teria que ser vista no contexto <strong>da</strong> integração europeia onde a <strong>unificação</strong><br />
<strong>alemã</strong> e a <strong>unificação</strong> europeia eram os dois lados <strong>da</strong> mesma me<strong>da</strong>lha. Por outras<br />
palavras, as negociações sobre a <strong>unificação</strong> <strong>alemã</strong> teriam de ter em conta o futuro<br />
alargamento <strong>da</strong> Comuni<strong>da</strong>de Europeia. «A ce não pode terminar no [rio] Elbe», afirmava<br />
Kohl; «Ela tem que permanecer aberta ao Oriente.» 25<br />
Apesar de não ter <strong>da</strong>do conhecimento prévio do seu plano de dez pontos aos seus<br />
aliados, Kohl podia contar com o apoio de Washington. O papel dos Estados Unidos<br />
foi crucial. O Presidente Bush respondeu ao plano de Kohl através de um discurso que<br />
fez na sede <strong>da</strong> nato em Bruxelas, a 4 de Dezembro, onde afirmou que a entra<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />
Alemanha unifica<strong>da</strong> na nato e o reconhecimento <strong>da</strong> fronteira polaco-<strong>alemã</strong> eram<br />
condições prévias do apoio americano à <strong>unificação</strong> 26 . A <strong>unificação</strong> só seria aceite por<br />
Washington se a Alemanha renunciasse a pretensões neutralistas e se se tornasse membro<br />
<strong>da</strong> nato 27 . A estratégia <strong>da</strong> Administração Bush era tripla. Primeiro, contra a maioria<br />
dos outros estados, apoiar de facto a <strong>unificação</strong>. Segundo, <strong>da</strong>r garantias de segurança<br />
à União Soviética. Por último, assegurar que as tropas americanas permanecessem<br />
como força estabilizadora na Europa. Esta estratégia confirmava os Estados Unidos<br />
como uma potência europeia e preparou o caminho para que Moscovo aceitasse a<br />
<strong>unificação</strong>.<br />
Devido ao seu apoio imediato à Alemanha e ao seu papel como única superpotência<br />
Washington definiu a evolução <strong>da</strong> dimensão internacional do processo negocial desde<br />
o início. Bush e Baker acalmaram ansie<strong>da</strong>des britânicas e francesas quanto à perspectiva<br />
de uma Alemanha uni<strong>da</strong> no Centro <strong>da</strong> Europa e, mais decisivamente, asseguraram<br />
à liderança soviética que uma Alemanha uni<strong>da</strong> membro <strong>da</strong> nato não iria constituir<br />
uma ameaça para Moscovo 28 . A 24 de Fevereiro de 1990, Bush e Kohl reuniram-se em<br />
Camp David para acertarem posições quanto a uma posição comum face aos seus parceiros<br />
e à urss 29 . Acor<strong>da</strong>ram que era necessário atribuir ao território <strong>da</strong> r<strong>da</strong> um «estatuto<br />
militar especial» numa Alemanha unifica<strong>da</strong> 30 . Deste modo, apesar de importantes<br />
condicionantes internacionais com que o Governo <strong>da</strong> Alemanha Federal se deparou<br />
entre Novembro de 1989 e o Outono de 1990, o chanceler Kohl prosseguiu com o seu<br />
propósito de aproveitar a oportuni<strong>da</strong>de para alcançar uma <strong>unificação</strong> rápi<strong>da</strong>.<br />
As negociações «Dois mais Quatro», o processo diplomático que constituiu a dimensão<br />
internacional <strong>da</strong> <strong>unificação</strong> entre os dois estados <strong>alemã</strong>es e as quatro potências alia<strong>da</strong>s,<br />
iniciaram-se a 13 de Fevereiro na sequência de uma conferência internacional entre a<br />
nato e o Pacto de Varsóvia quando os ministros dos Negócios Estrangeiros <strong>da</strong>s duas<br />
Alemanhas, Estados Unidos, União Soviética, Grã-Bretanha e França anunciaram que<br />
O <strong>fim</strong> <strong>da</strong> <strong>Guerra</strong> <strong>Fria</strong> e a <strong>unificação</strong> <strong>alemã</strong> Patrícia Daehnhardt 043