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4 o <strong>ano</strong>
Este material é parte integrante do livro Projeto Descobrir 4 o <strong>ano</strong>. Não pode ser vendido separadamente.<br />
ESTE LIVRO PERTENCE A:<br />
1 a edição – São Paulo, 2009<br />
2 a reimpressão<br />
1<br />
4 0<br />
ANO
Gerente editorial: Lauri Cericato<br />
Editora: Rubette R. dos Santos<br />
Editoras assistentes: Debora Missias / Érica Lamas / Andrea De Marco<br />
Revisão: Pedro Cunha Jr. (coord.) / Lilian Semenichin / Renata Fontes<br />
Licenciamento de textos: Stephanie S. Martini<br />
Colaboradores<br />
Seleção de textos: Marta Ferraz e Paula Junqueira<br />
Assistência editorial: Fábio Nunes Tomaz Garcia / Camila Marques / Suria Scapin<br />
Gerente de arte: Nair de Medeiros Barbosa<br />
Projeto gráfi co e diagramação: Hamilton Olivieri<br />
Capa: Cristina Nogueira Silva<br />
Assistente de produção: Grace Alves<br />
Visite nosso site: www.atualeditora.com.br<br />
Central de atendimento ao professor: (0xx11) 3613-3030<br />
Todas as citações de textos contidas neste livro didático estão de acordo com a legislação, tendo por fi m único e exclusivo o ensino. Caso exista algum texto a respeito do<br />
qual seja necessária a inclusão de informação adicional, fi camos à disposição para o contato pertinente. Do mesmo modo, fi zemos todos os esforços para identifi car e localizar<br />
os titulares dos direitos sobre as imagens publicadas, e estamos à disposição para suprir eventual omissão de crédito em futuras edições.<br />
O material de publicidade e propaganda reproduzido nesta obra está sendo utilizado apenas para fi ns didáticos, não representando qualquer tipo de recomendação de<br />
produtos ou empresas por parte do(s) autor(es) e da editora.<br />
2
Sumário<br />
A guerra entre o mundo dos homens e o mundo das fadas . . 5<br />
Lenda do País de Gales – Heloisa Prieto<br />
Negrinho do pastoreio. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8<br />
Lenda brasileira – Sônia Junqueira<br />
Um conto intrigante . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10<br />
Fábula – Irmãos Grimm<br />
Robin Hood . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12<br />
Conto clássico<br />
O tico-tico e a favela . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17<br />
Poesia – Lalau<br />
Os sete sábios cegos e o elefante. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18<br />
Conto hindu<br />
Catendê, o dono das folhas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20<br />
Lenda africana – Raul Lody<br />
A história de Sadkó . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22<br />
Conto russo<br />
Confusão a bordo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27<br />
Crônica – Pedro Antônio de Oliveira<br />
Lobo mau? Será? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30<br />
Informativo – Salvatore Sicili<strong>ano</strong><br />
Bibliografi a . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32<br />
3
Ilustradores<br />
Ivan Coutinho – A guerra entre o mundo dos homens e o mundo das fadas<br />
Cecília Iwashita – Robin Hood<br />
Marcos Guilherme – Negrinho do pastoreio<br />
Faoza – Um conto intrigante -<br />
Sandra Ronca – O tico-tico e a favela<br />
Filipe Rocha – Os sete sábios cegos e o elefante<br />
Natália Forcat – Catendê – o dono das folhas<br />
Márcia Széliga – A história de Sadkó<br />
Hiroe Sasaki – Lobo mau? Será?<br />
Biry Sarquis – Confusão a bordo<br />
4
A guerra entre o mundo dos<br />
homens e o mundo das fadas<br />
5<br />
Heloisa Prieto<br />
Lenda do País de Gales<br />
avia em um antigo reino uma belíssima jovem chamada Etaine.<br />
Todos os dias ela caminhava até um lago onde costumava nadar. Ela se<br />
casara muito jovem, por decisão de seu pai, e amava o marido como se<br />
fosse um irmão.<br />
Naquele lago morava um elfo. Seu nome era Midhir e, devido a sua<br />
astúcia, inteligência e beleza, fora coroado o rei das fadas e elfos. Quando<br />
Midhir viu Etaine pela primeira vez, apaixonou-se imediatamente. Decidiu<br />
que a conquistaria à noite, quando era mais poderoso, entrando<br />
silenciosamente em seus sonhos.<br />
Assim que sonhou com Midhir, a jovem apaixonou-se também.<br />
Finalmente o elfo apareceu diante de Etaine e pediu a ela que se casasse<br />
com ele. A jovem respondeu que só aceitaria se o marido consentisse em<br />
se separar.<br />
Midhir sabia que o jovem hum<strong>ano</strong> jamais concordaria com o<br />
rompimento e arquitetou um pl<strong>ano</strong>. No dia seguinte foi ao castelo<br />
encontrar-se com o marido de Etaine.<br />
— Quem é você? — perguntou o jovem ao elfo.<br />
— Sou Midhir, o rei dos elfos — ele disse. — Vim até aqui porque<br />
soube que é um bom jogador de xadrez e quero desafi á-lo para uma<br />
partida.<br />
Curioso, o rapaz aceitou o desafi o e quis saber qual seria o prêmio<br />
para o ganhador.<br />
— Cinquenta cavalos! — respondeu o elfo.<br />
Começaram a jogar imediatamente. Midhir foi derrotado pelo jovem e<br />
o desafi ou para uma segunda partida. O prêmio seria mais alto: cinquenta<br />
navios. E, mais uma vez, o jovem venceu.
Entusiasmado com as duas vitórias, o rapaz, rindo, desafi ou o elfo<br />
para uma última partida. Midhir concordou, mas disse em alto e bom som:<br />
— O vencedor dessa partida terá o que bem desejar.<br />
Certo de uma terceira partida, o rapaz aceitou a proposta. Dessa vez,<br />
porém, o elfo deixou de fi ngir que jogava mal e o venceu. Então, colocou<br />
os braços em torno de Etaine e anunciou:<br />
— Agora, é preciso que você satisfaça o meu desejo. Quero a sua<br />
mulher, Etaine. Ela deve se casar comigo.<br />
Percebendo que fora enganado, o rapaz fi cou furioso. Mas era um<br />
líder. Não poderia quebrar uma promessa. Declarou que, depois de um<br />
mês, entregaria a jovem ao elfo.<br />
Quando Midhir voltou ao castelo na data combinada, encontrou<br />
Etaine cercada por centenas de guerreiros. Ele os observou cuidadosamente.<br />
Em seguida, levantando voo, passou por todos e tomou a jovem nos braços,<br />
levando-a para seu reino nas nuvens.<br />
Nesse dia se iniciou a guerra entre o mundo dos homens e o mundo<br />
dos elfos. O rapaz ordenou que as fl orestas fossem vasculhadas, que<br />
seus guerreiros derrubassem as árvores e achassem Etaine.<br />
Mas Midhir era esperto. Pronunciou palavras mágicas que<br />
tornaram o reino das fadas e elfos invisível para os homens.<br />
E assim continua a ser até os dias de hoje.<br />
6
Negrinho do pastoreio<br />
8<br />
Sônia Junqueira<br />
Lenda brasileira<br />
iizem<br />
que, nos tempos da escravidão, vivia nos pampas gaúchos<br />
um fazendeiro muito rico. Conhecido por sua crueldade, difi cilmente<br />
demonstrava amor por alguém ou alguma coisa, a não ser pelo dinheiro,<br />
por seu fi lho de 10 <strong>ano</strong>s e por seu veloz cavalo baio. O encarregado de<br />
exercitar esse animal era um menino escravo conhecido pelo apelido de<br />
Negrinho. Alvo das maldades do fi lho do fazendeiro, e não podendo<br />
contar com a misericórdia do patrão, Negrinho dizia que Nossa Senhora<br />
era sua protetora e madrinha.<br />
Certo dia, impressionado com a beleza do cavalo baio, o fazendeiro<br />
vizinho, que era dono de um cavalo árabe também muito veloz, desafi ou<br />
o patrão de Negrinho para ver qual dos dois animais seria o melhor na<br />
corrida. O cavalo árabe venceu, e Negrinho, que montava o baio, levou<br />
uma surra de chicote por causa da derrota. Não contente com o castigo,<br />
o fazendeiro levou o menino até uma colina e ordenou-lhe que<br />
pastoreasse trinta tordilhos, durante trinta dias e trinta noites.<br />
Enfrentando todas as difi culdades, o menino resistiu quanto pôde<br />
à dura tarefa, até que os tordilhos se espalharam pelas colinas, e o escravo<br />
foi castigado mais uma vez. Com a ajuda de Nossa Senhora, Negrinho<br />
conseguiu reuni-los, mas o fi lho do fazendeiro chicoteou seu escravo até<br />
que silenciasse e, em seguida, ordenou que jogassem o corpo sobre um<br />
formigueiro. Alguns dias depois, o fazendeiro foi até o formigueiro e,<br />
para seu espanto, Negrinho estava lá, vivo e inteiro. Junto com ele,<br />
o cavalo baio, os tordilhos e a Virgem Nossa Senhora, que pairava no ar.<br />
Dizem que, até hoje, o negrinho galopa pelos campos, ajudando<br />
a encontrar coisas perdidas.
Um conto intrigante<br />
10<br />
Irmãos Grimm<br />
Fábula<br />
ra uma vez três mulheres, que foram transformadas em três fl ores.<br />
Embora as três vivessem lado a lado no mesmo prado, apenas a uma<br />
delas era permitido voltar à noite para casa. Numa noite orvalhada,<br />
quase de manhãzinha, quando já estava pronta para transformar-se em<br />
fl or e reunir-se às suas companheiras no prado, ela disse ao marido:<br />
— Hoje, ao meio-dia, vá até onde estou e colha-me. Deste modo<br />
você me libertará e serei sua mulher vinte e quatro horas por dia.<br />
O marido foi ao prado, colheu a fl or e ela transformou-se em<br />
sua mulher para sempre.<br />
A questão é: como o marido reconheceu sua mulher uma<br />
vez que as três eram exatamente iguais? A resposta é a seguinte:<br />
durante a noite que passou em casa, o orvalho caiu somente<br />
sobre as outras duas companheiras que estavam ao ar livre.<br />
Foi fácil, portanto, para o homem saber qual delas<br />
era a sua mulher.
Robin Hood<br />
Recontado por Tânia Alexandre Martinelli<br />
Conto clássico<br />
á muito tempo, viveu na Inglaterra, refugiado na fl oresta<br />
de Sherwood, um jovem corajoso, que pregava a justiça e a liberdade.<br />
Seu nome era Robert de Lockesley, mais conhecido por Robin Hood.<br />
Robert era um nobre que fi cou longe de casa por um tempo, lutando<br />
em uma cruzada. Ao retornar, descobriu que seu pai havia sido morto a<br />
mando do príncipe João, que se aproveitou da ausência do rei Ricardo, seu<br />
irmão, para assumir o trono. Como um tir<strong>ano</strong> que não vê limites, João fez<br />
com que a vida do povo se tornasse muito difícil, aumentando os impostos<br />
e oprimindo a população.<br />
Por causa disso, muitos camponeses se refugiaram na fl oresta sob<br />
a proteção de Robin Hood. Assim, ele tornou-se um fora da lei, caçado<br />
pelos homens do príncipe João e do xerife de Nottingham.<br />
Robin Hood aguardava ansiosamente o retorno do rei Ricardo, pois só<br />
assim poderia reaver suas terras e sua posição de nobre. Além disso, era<br />
apaixonado pela linda Marian, sobrinha do rei, com quem se casaria<br />
quando não fosse mais um foragido.<br />
Certa vez, andando pela fl oresta, Robin Hood chegou a um riacho<br />
com muitas pedras e corredeiras. Havia apenas um tronco como passagem<br />
para a outra margem. Parado ao lado do tronco estava um homem, muito<br />
grande por sinal, que também desejava alcançar o lado oposto.<br />
— Se quiser atravessar esta ponte antes de mim, terá de<br />
lutar! — advertiu o gigante.<br />
Robin Hood fi cou surpreso com o desafi o:<br />
— Não quero brigar, mas se é assim que vê as coisas...<br />
O homem lhe jogou um pedaço de tronco igual ao que<br />
já segurava e disse com fi rmeza:<br />
— Então, lute!<br />
12
Robin e o grandalhão lutaram por vários minutos. Mesmo quando<br />
caíam no rio, em poucos instantes já se colocavam em pé, armando-se do<br />
pedaço de pau e partindo para o combate. Nenhum dos bravos lutadores<br />
desistiria facilmente.<br />
— Você luta bem — reconheceu o gigante, ofegante.<br />
— E você não é nada mau. Junte-se ao meu grupo!<br />
— Mas quem é você?<br />
— Sou Robin Hood.<br />
13
— Eu não acredito! Estava justamente indo procurá-lo! Sou João<br />
Pequeno e, de agora em diante, seu fi el amigo.<br />
Aos poucos, mais pessoas foram se juntando ao bando de Robin<br />
Hood, que ganhava admiração por todos os lugares. Will, a quem uma vez<br />
Robin Hood salvara do enforcamento, Much, o fi lho do moleiro e João<br />
Pequeno eram seus amigos mais fi éis. Muitos camponeses e suas famílias já<br />
haviam sido salvos por eles. Robin Hood era um herói.<br />
O grupo de Robin Hood costumava assaltar as carruagens dos nobres<br />
que passavam pela estrada que cortava Sherwood. Com isso conseguiram<br />
reunir uma verdadeira fortuna entre moedas de ouro e joias. Mas nada<br />
fi cava para eles. Quando alguém necessitava de ajuda, Robin não hesitava<br />
um só minuto em lhe entregar grandes somas.<br />
Numa manhã, João Pequeno acordou assustado, com o<br />
pressentimento de que algo ruim iria acontecer. Robin Hood achou melhor<br />
averiguar. Dividiram-se.<br />
Em um determinado trecho da mata, João Pequeno avistou Will<br />
tentando fugir de um grande grupo de atiradores. Eram homens do xerife,<br />
além de alguns guardas de Guy de Gisborne, braço direito do príncipe<br />
João. Infelizmente não houve tempo para ajudá-lo: uma fl echa voou pelos<br />
ares acertando Will em cheio, que caiu morto. João Pequeno ainda lutou<br />
com os atiradores, mas acabou sendo dominado e levado pelos homens<br />
do xerife.<br />
Em outro lugar da fl oresta, Robin Hood encontrou-se com um exímio<br />
arqueiro. O desconhecido lhe disse que procurava por Robin Hood, pois<br />
gostaria muito de entrar para o seu bando.<br />
— Posso levá-lo até ele — falou Robin Hood, querendo ganhar tempo<br />
a fi m de conhecê-lo um pouco melhor. — Basta seguir-me.<br />
Depois de algumas horas de caminhada, decidiram treinar um pouco<br />
o lançamento de fl echas. Robin deixou sua arma no chão e foi até a copa<br />
de uma árvore marcar o alvo com sua faca. Ao dar meia-volta, deparou-se<br />
com o homem armado:<br />
— É o fi m para você, Robin Hood! Acabou!<br />
Robin Hood caíra numa cilada. O arqueiro era Guy de Gisborne.<br />
Vendo a fl echa apontada para seu coração, Robin lhe pediu que lutasse<br />
com a espada, pois seria muita covardia tirar a sua vida desse modo. Guy<br />
14
de Gisborne<br />
não concordou,<br />
dizendo que um traidor<br />
como Robin não tinha o direito<br />
de lhe pedir nada. Mas para surpresa<br />
de Gisborne, numa agilidade sem igual, Robin<br />
Hood arremessou sua faca que, num segundo, partiu em<br />
dois o arco do inimigo. Em seguida, sacou sua espada e ordenou:<br />
— Agora lute como um cavaleiro deve lutar!<br />
Foi um combate longo e difícil. Os dois eram muito bons esgrimistas.<br />
Em dado momento, Guy de Gisborne não conseguiu desviar de um dos<br />
golpes e caiu no chão. Robin Hood aproveitou a chance e partiu para cima<br />
dele. Sem pensar duas vezes, cravou sua espada no peito do inimigo. Era o<br />
fi m do cruel Guy de Gisborne.<br />
15
Robin Hood vestiu as roupas dele, colocou a viseira e se dirigiu para<br />
Nottinghan. Tinha um pl<strong>ano</strong>.<br />
— Robin Hood está morto!<br />
Disfarçado, o herói foi logo avisando ao xerife e a todos os presentes:<br />
— Deixem-me agora acabar com esse aí!<br />
Com a faca em punho, Robin aproximou-se de João Pequeno.<br />
Sussurrou algo em seu ouvido e em seguida cortou a corda que o prendia,<br />
ao mesmo tempo em que se livrava do disfarce. Ambos correram para soltar<br />
os demais prisioneiros.<br />
— Mas é o Robin Hood! — gritou o xerife, furiosíssimo. Flechas e<br />
mais fl echas riscaram o céu. Robin Hood e seus companheiros não se<br />
feriram e conseguiram fugir.<br />
Algum tempo depois, surgiu na fl oresta um misterioso viajante. Robin<br />
Hood tinha o costume de oferecer um jantar aos que passavam pela estrada<br />
de Sherwood e depois lhes cobrar pela comida. Mas explicava:<br />
— Nenhum dinheiro fi ca conosco. Tudo o que conseguimos vai para<br />
os pobres.<br />
— Não sei o quanto eu tenho — disse o viajante —, mas pode<br />
revistar minhas coisas e fi car com tudo o que encontrar. Já ouvi falar muito<br />
de você, Robin Hood. A sua luta é muito justa.<br />
Dizendo isso o homem tirou o capuz e também as vestes esfarrapadas<br />
que cobriam os fi nos trajes. Todos o reconheceram. E imediatamente<br />
curvaram-se diante dele, enquanto bradavam numa alegria sem fi m:<br />
— É o rei Ricardo! Salve o rei Ricardo Coração de Leão! Viva!<br />
O verdadeiro rei expulsou o príncipe tir<strong>ano</strong> do castelo, tomando de<br />
volta o seu lugar. O povo estava novamente em paz. E feliz.<br />
Robin Hood recuperou sua propriedade e fi nalmente pôde se casar<br />
com sua amada. No fi m de seus dias, já sem muita força, atirou uma fl echa<br />
pela janela de seu quarto, pedindo que fosse enterrado onde ela caísse,<br />
na fl oresta de Sherwood, que por tanto tempo o havia acolhido. E assim<br />
foi feito.<br />
16
O tico-tico e a favela<br />
De cima, parece<br />
Colcha de retalho:<br />
Um telhado costurado<br />
No telhado do vizinho.<br />
De frente, é igual<br />
Roupa de espantalho:<br />
Paredes coloridas<br />
Juntadas em desalinho.<br />
Gosto mesmo<br />
É das pipas no céu.<br />
Naves mambembes,<br />
Passarinhos de papel!<br />
E as crianças, sempre elas,<br />
Jogam futebol no barranco,<br />
Machucam as canelas.<br />
Correm, cantam,<br />
Fazem ciranda nas ruelas.<br />
Inventam brinquedos de lata,<br />
Dormem à luz de velas.<br />
Enfrentam com candura,<br />
Esperança e sorrisos,<br />
Todas as mazelas.<br />
17<br />
Lalau<br />
Poesia
Os sete sábios cegos<br />
e o elefante<br />
18<br />
Recontado por Paula Junqueira<br />
Conto hindu<br />
a Índia, muito tempo atrás, viviam sete sábios cegos. As pessoas<br />
acreditavam tanto em suas sabedorias que muitas vinham de longe para<br />
consultá-los.<br />
No entanto, viviam discutindo entre si.<br />
Certo dia, um rapaz comerciante chegou à cidade montado em um<br />
elefante. Como não conheciam o animal, os sete sábios cegos foram<br />
ao seu encontro. Para entendê-lo melhor apalparam o corpo do elefante.<br />
Um dos cegos, muito surpreso, disse tocando sua presa:<br />
— Ele é pontudo como uma lança, esse animal é uma arma!<br />
O segundo, tocando a tromba, falou:<br />
— Você está enganado! Ele é como as serpentes, porém<br />
não tem dentes.<br />
O terceiro acariciando a barriga:<br />
— Esse animal é uma grande muralha!<br />
O quarto tocando as orelhas:
— Ele é diferente de todos os outros, seus movimentos ondulantes<br />
lembram cortinas ambulantes.<br />
O quinto disse:<br />
— Quanta besteira, esse animal parece uma palmeira!<br />
O sexto deu sua impressão:<br />
— Vocês estão todos errados, ele é igual a uma rocha com uma corda<br />
grudada na traseira.<br />
O sétimo sábio, no entanto, percebendo o mal entendido, pediu ao<br />
rapaz que desenhasse o animal no chão de terra. Com suas mãos tateou o<br />
desenho e compreendeu que todos os outros sábios estavam certos e<br />
errados ao mesmo tempo.<br />
Agradecendo a ajuda do rapaz, ele então se manifestou:<br />
— É assim que nos enganamos sobre as coisas do mundo, nos atemos<br />
apenas a uma parte e acreditamos que ela representa o todo. E continuamos<br />
a ser tolos.<br />
19
Catendê, o dono das folhas<br />
20<br />
Raul Lody<br />
Lenda africana
A cabaça é o fruto de uma árvore chamada cabaceira. Ele tem uma<br />
casca dura. A cabaça madura é oca e as suas sementes fi cam soltas<br />
dentro dela. Por isso, se você sacudir uma cabaça, ela faz um barulho<br />
de chocalho. A cabaça também serve para guardar coisas. Veja que<br />
ela tem um lado grande e outro pequeno. Os afric<strong>ano</strong>s cortavam a<br />
ponta menor da cabaça. Depois faziam um trançado de palha para<br />
cobri-la. Prendiam a parte cortada na palha e usavam para tampá-la.<br />
m todas as matas mora Catendê, um grande inquice, senhor<br />
da natureza, dono dos vegetais.<br />
Catendê acompanha o nascimento dos frutos, toma conta das árvores<br />
e comanda o equilíbrio ecológico do mundo. Por isso Catendê combate<br />
o desmatamento e a derrubada das grandes árvores. Ele quer guardar<br />
as coisas da natureza para o homem de hoje e para as gerações futuras.<br />
Catendê também conhece todos os usos medicinais das folhas, raízes,<br />
frutos e cascas dos vegetais. Ele atua até mesmo nos rituais religiosos,<br />
indicando as ervas que serão usadas nos terreiros.<br />
Por tudo isso, Catendê é muito respeitado. Como guardião da<br />
natureza, vive embrenhado nas folhas, nos cipós e nas fl ores, viajando<br />
sempre pelas matas, domínios que ele conhece e dos quais ele cuida para<br />
o uso e a felicidade do homem.<br />
Catendê é o dono de todas as folhas que servem como remédios.<br />
Ele também é dono das folhas que servem para os segredos da<br />
religião dos bantos. Catendê guarda todas as folhas dentro de uma<br />
cabaça. Quando alguém precisa tomar um remédio ou fazer uma<br />
obrigação religiosa, pede a folha a Catendê. O inquice tira a folha da<br />
cabaça e dá para a pessoa.<br />
Inquices: São os deuses bantos que governam também a natureza e seus elementos.<br />
Banto: Este é o nome de vários povos que falam diferentes línguas em todo o centro e no sul<br />
da África. Muitos dos afric<strong>ano</strong>s que vieram para o Brasil eram bantos. Eles eram conhecidos<br />
aqui pelo nome do lugar de onde tinham vindo: eram os negros angola, congo, cabinda,<br />
benguela e moçambique. Os bantos trabalhavam nas grandes cidades, nas fazendas e nas<br />
minas.<br />
“Texto integrante da obra Seis pequenos contos afric<strong>ano</strong>s sobre a criação do mundo e do homem.”<br />
21
A história de Sadkó<br />
22<br />
Recontado por Tatiana Belinky<br />
Conto russo<br />
á muito, muito tempo, na bela cidade de Nóvgorod, à beira do<br />
lago Ilmen, viviam muitos comerciantes e mercadores, que levavam vida<br />
opulenta, de comemorações, festins e banquetes, nos quais se regalavam<br />
e se entretinham com música, cantos e danças, em contínua ostentação<br />
de riqueza e prosperidade.<br />
Naquela época, vivia na mesma cidade um jovem de nome Sadkó,<br />
pobre e sozinho no mundo, cuja única riqueza era o seu talento musical<br />
e sua gusli, harpa de vinte e três cordas, das quais sabia tirar as mais belas<br />
e encantadoras melodias. Por isso, Sadkó era muito requisitado para as<br />
festas dos ricaços, que gostavam de ouvi-lo e sempre o recompensavam<br />
com algumas delícias das suas mesas e algumas moedas dos seus bolsos,<br />
com o que ele ia levando a vida despreocupado.<br />
Mas chegou um tempo em que os convites começaram a rarear, e um<br />
dia cessaram de todo. Sadkó esperou uma semana inteira, mas os<br />
inconstantes senhores pareciam tê-lo esquecido, e o pobre moço, sentindose<br />
abandonado pela sorte, foi curtir sua tristeza à beira do lago plácido,<br />
onde se pôs a tocar a sua gusli, para tentar esquecer as mágoas.<br />
Porém, coisa estranha: assim que ele começou a dedilhar seu<br />
instrumento, o lago, sempre tão sereno, começou a fi car agitado. As águas<br />
se encrespavam em ondas cada vez mais violentas, como se um vento<br />
fortíssimo as tangesse, embora o ar estivesse calmo. Sadkó parou de tocar e<br />
voltou para a sua casinha, na esperança de receber novo convite para se<br />
apresentar em algum banquete ou casamento.<br />
Mas outra semana transcorreu sem nenhum convite, e Sadkó, abatido,<br />
retornou à margem do lago, tentando, apesar do medo, abafar com música<br />
sua tristeza. E de novo, assim que vibraram as cordas da sua gusli, o lago<br />
começou a se agitar como se estivesse fervendo, em ondas ainda maiores<br />
do que na primeira vez.
Assustado, Sadkó voltou para a cidade, pensando que, quem sabe<br />
agora, os ricos mercadores se lembrariam dele. Mas nada disso aconteceu,<br />
e algum tempo depois, desanimado, Sadkó foi outra vez para a beira do<br />
lago, tentado também pela curiosidade, não obstante o temor que sentia.<br />
E desta vez, assim que ele começou a tanger a sua harpa, aconteceu<br />
o inesperado: a superfície do lago se rompeu, e, diante dos olhos atônitos<br />
do moço, emergiu majestoso o Rei das Águas, que se dirigiu ao rapaz com<br />
palavras benevolentes:<br />
— Sadkó — disse a imponente fi gura —, não tenhas medo. Eu ouvi<br />
a tua música, e ela me agradou, tão bela e suave, e desejo recompensar-te<br />
pelo prazer que me deste. Volta agora à cidade de Nóvgorod e espera que<br />
os mercadores te convidem de novo. Isso acontecerá logo, e quando te<br />
chamarem, tu irás, e lhes dirás que sabes que neste lago<br />
existem peixes com escamas e nadadeiras de ouro.<br />
E quando eles duvidarem das tuas palavras, tu<br />
lhes proporás uma aposta: dirás que apostas a<br />
tua própria cabeça, se não conseguires provar<br />
o que dizes. Mas se o conseguires, eles terão<br />
de te dar três armazéns dos mais ricos<br />
tecidos do mercado, em troca de cada<br />
peixe daqueles que tiveres<br />
pescado.<br />
23
Sadkó arregalou os olhos, incrédulo e assustado. Mas o Rei das Águas<br />
continuou:<br />
— Nada receies, Sadkó. Eles aceitarão a aposta, pois não acreditarão<br />
nas tuas palavras, e tu a ganharás, pois quando vieres ao lago com a tua<br />
rede de seda, que tu próprio deverás tecer, eu colocarei nela três belos<br />
peixes de escamas e nadadeiras de ouro. Adeus, Sadkó.<br />
E o majestoso Rei das Águas desapareceu nas profundezas do lago,<br />
e Sadkó voltou à cidade, cheio de esperança. E tudo aconteceu como o Rei<br />
das Águas lhe havia prometido. No dia seguinte, Sadkó foi convidado para<br />
tocar num banquete, e lá, após algumas taças de vinho, ele se vangloriou<br />
perante os mercadores de que seria capaz de pescar no lago Ilmen peixes<br />
com escamas e nadadeiras de ouro. Os ricos senhores zombaram dele, mas<br />
quando ele insistiu, e apostou sua própria cabeça contra três armazéns dos<br />
mais preciosos tecidos da cidade em troca de cada um dos peixes pescados,<br />
eles aceitaram a aposta. E, no dia seguinte, acompanharam Sadkó, que<br />
durante a noite tecera a sua rede de seda, até as margens do lago Ilmen.<br />
Sadkó lançou a rede, com o coração aos pulos, e logo a puxou,<br />
sentindo-a pesada — e eis que dentro dela se debatiam, faiscando, três<br />
belos peixes de escamas e nadadeiras de ouro!<br />
Sadkó ganhara a aposta e era agora um homem rico — na verdade, o<br />
homem mais rico de Nóvgorod, pois era dono de nove armazéns dos mais<br />
belos e preciosos tecidos de todo o principado. E Sadkó começou a levar<br />
uma vida de rei. Casou-se com uma linda donzela e foi morar num palácio<br />
deslumbrante, teve fi lhos e fi lhas. E tornou-se dono e proprietário de uma<br />
frota de trinta navios mercantes, que singravam os verdes mares, trazendo<br />
as mais fi nas mercadorias — joias, tapetes, peles, tecidos, perfumes — de<br />
todas as partes do mundo.<br />
Mas, à medida que foi fi cando mais rico, Sadkó foi fi cando também<br />
cada vez mais cheio de si, mais cheio de soberba e orgulho, e mais<br />
insensível, e até se divertia em arruinar os outros mercadores e<br />
comerciantes com sua concorrência insustentável.<br />
E o tempo foi passando. Até que, certa vez, quando Sadkó voltava de<br />
uma das suas viagens para terras distantes, a bordo do navio-capitânia da sua<br />
bela frota, viu de repente o mar, até então sereno, encapelar-se furiosamente<br />
debaixo de uma tempestade de violência nunca vista. Os navios dançavam<br />
como cascas de nozes sobre as ondas revoltas, e a turbulência era tal que<br />
parecia querer afundar todos os trinta navios; o perigo era real e iminente.<br />
24
E súbito Sadkó se deu conta de que nunca agradecera ao Rei das<br />
Águas o favor que lhe prestara. Disse então aos seus marinheiros que<br />
achava que o Rei das Águas estava zangado, e que exigia o pagamento<br />
de um tributo. E mandou atirar ao mar um grande barril cheio de prata.<br />
Mas o mar não se acalmou, e Sadkó mandou atirar nas ondas um grande<br />
tonel cheio de ouro. Porém, o mar continuava a se agitar, furioso, e Sadkó<br />
pressentiu que o Rei das Águas exigia um sacrifício hum<strong>ano</strong>.<br />
Então Sadkó mandou que seus homens tirassem a sorte, e a sorte caiu<br />
para ele mesmo. Por três vezes eles jogaram a sorte, e nas três vezes caiu<br />
para Sadkó o sacrifício a ser feito. Era o seu destino inexorável, e Sadkó<br />
então deixou ordens para distribuir os seus bens em quatro partes: uma<br />
parte para as igrejas, outra para os pobres, a terceira para sua<br />
esposa e fi lhos, e a quarta para seus companheiros de<br />
viagem. E, levando apenas as ricas roupas no seu corpo<br />
e a sua inseparável harpa gusli, Sadkó se despediu<br />
dos companheiros e se atirou às ondas revoltas do<br />
mar encapelado, pensando que ia morrer.<br />
E perdeu os sentidos. Mas, quando<br />
voltou a si, viu-se no fundo do<br />
mar, diante dos portões abertos<br />
do palácio do Rei das Águas,<br />
que veio ao seu<br />
encontro para<br />
recebê-lo.<br />
25
E a majestosa fi gura lhe disse que, depois de tanto tempo, fi cara com saudade<br />
dos maviosos sons da sua harpa gusli e queria que Sadkó tocasse para ele<br />
— por isso o trouxera para o seu palácio.<br />
Sadkó então tocou para o Rei das Águas, e o Rei das Águas,<br />
entusiasmado, começou a dançar. E dançava tão freneticamente que na<br />
superfície de todos os mares as águas se agitavam e desencadeavam ondas<br />
e vagalhões enormes. Tempestades violentas afundavam os navios nos sete<br />
mares e causavam grandes desgraças e catástrofes no mundo inteiro.<br />
E Sadkó não podia parar de tocar, e o Rei das Águas dançava cada vez mais<br />
e mais.<br />
E então, após três dias e três noites nesse terror, de repente Sadkó<br />
sentiu a mão de um ancião de barbas grisalhas tocar no seu ombro, e este<br />
sussurrou ao seu ouvido:<br />
— Para de tocar, Sadkó, quebra as cordas do teu instrumento e diz ao<br />
Rei das Águas que a gusli não tem conserto. Só assim ele para de dançar, e<br />
cessarão os naufrágios e as desgraças que estão assolando os mares por<br />
causa desta dança selvagem.<br />
Sadkó se deu conta, subitamente, do que estava acontecendo, viu os<br />
navios afundados e as pessoas mortas, as viúvas e os órfãos, e, obedecendo<br />
ao conselho do ancião, fez um esforço sobre-hum<strong>ano</strong> e parou de tocar, e<br />
rompeu as cordas da sua preciosa harpa. E a dança enlouquecida do Rei<br />
das Águas teve fi m, e a paz e a calma voltaram aos sete mares.<br />
O Rei das Águas, satisfeito e apaziguado, ainda convidou Sadkó a<br />
fi car na sua corte, e até lhe ofereceu a mão de uma das suas fi lhas em<br />
casamento. Mas Sadkó disse que tinha esposa e fi lhos em terra, e então,<br />
depois de um festivo banquete de despedida, ele caiu num sono profundo.<br />
Quando Sadkó despertou, no dia seguinte, viu-se deitado à beira do<br />
lago Ilmen, perto de Nóvgorod. E, com grande surpresa, viu seus trinta<br />
navios chegando inteiros a terra fi rme.<br />
Os marinheiros, ao verem-no ali, incólume, se espantaram muito,<br />
pois pensavam que ele tivesse morrido afogado quando se atirara ao mar<br />
revolto durante aquela borrasca...<br />
Foi tudo como uma magia — mas aconteceu mesmo. E Sadkó voltou<br />
ao seu palácio, onde ofereceu uma grande festa de retorno, e dali em diante<br />
deixou a soberba e o orgulho e viveu uma vida moderada e caridosa, no<br />
seio da sua família, benquisto e respeitado por toda a cidade de Nóvgorod.<br />
26
Confusão a bordo<br />
27<br />
Pedro Antônio de Oliveira<br />
Crônica<br />
viagem corria tranquilamente até o momento em que uma<br />
“passageira” meio atrevida resolveu agitar o ônibus.<br />
— Ó uma barata subindo nas costas daquela dona!<br />
Pra que que eu fui falar? A mulherada dentro do coletivo d<strong>ano</strong>u<br />
a sacudir a cabeça, bater as mãos nas costas, nos braços... um belo de um<br />
fuzuê, desses pra ninguém botar defeito. Tinha gente que gritava e saía dos<br />
lugares. E muito marmanjo batendo o pé no chão com medo de a barata ter<br />
subido em parte que não devia.<br />
Enquanto abanava uma senhora grávida, pro fi lho dela não nascer no<br />
meio do trânsito, eu tentava controlar a situação:<br />
— Desculpa, gente, acho que eu me enganei, não tem barata<br />
nenhuma!<br />
Na confusão, a horrorosa escorregou e foi parar debaixo das cadeiras,<br />
com certeza, com medo daquela gente biruta e escandalosa. Barata<br />
também se assusta. Eu me assustaria. Ficaria em pânico com tanto maluco<br />
gritando e esperneando daquele jeito. E a intrusa fi cou lá, desaparecida, por<br />
uns minutinhos. Os passageiros até se acalmaram, pensando que pudesse<br />
ter sido mesmo alarme falso.<br />
Continuamos a viagem.<br />
Para aqui, para ali, o ônibus foi só se enchendo. Eram umas seis da<br />
tarde e a cidade derretia num calor de trinta e tantos graus. Aposto que a<br />
bandida da barata sentiu o mormaço e resolveu sair do esconderijo.<br />
— Olha ali a barata outra vez!<br />
Opa! Falei de novo sem pensar. Por sorte, o povo dentro do ônibus<br />
não escutou. Ainda bem. O trânsito estava tão tumultuado que eu mal<br />
podia ouvir meus pensamentos.
De repente, a atrevida reapareceu, gorducha e<br />
calorenta, nas costas de um senhor, bem na nossa<br />
frente. Tentei me livrar da safada dando um peteleco<br />
nela. O homem levou um susto ao ganhar um tapa<br />
caprichado na altura dos ombros. E fi cou sem<br />
entender a agressão gratuita.<br />
A barata, então, preferiu dar um voo rasante,<br />
vruuuum... aterrissando charmosamente na cabeça do<br />
cobrador, uma bela careca lustrosa. Ele sentiu alguma<br />
coisa estranha e se lembrou da invasora. Soltou um<br />
berro. Agora sim: todo mundo tinha visto a barata.<br />
Confesso que fi quei satisfeito, pois já estava passando<br />
por mentiroso.<br />
A indesejável passageira saiu trombando em<br />
que encontrou pelo caminho. Pum-tum-ploft! Duas<br />
senhoras começaram a ter vertigens e eu, euzinho,<br />
tentando ajudar, na melhor das boas intenções.<br />
Acabei esbarrando num baixote que levava um<br />
papagaio escondido na caixa.<br />
Olha, nem conto o resto. Bem, conto sim: o<br />
bicho disparou a voar dentro do ônibus,<br />
distribuindo rabanadas e soltando palavrões.<br />
Ô papagaio de boca suja! Precisava ver!<br />
Agora eram barata e papagaio bem em<br />
cima de nossas cabeças.<br />
O cobrador, tentando se refazer do<br />
imprevisto, pediu ao motorista que parasse<br />
imediatamente o ônibus, que a confusão<br />
estava feia. O dono do tagarela não<br />
gostou nada da ideia de parar o coletivo<br />
e reclamou que estava atrasado.<br />
Decidiu tirar satisfações.<br />
28
Nisso, a barata reapareceu enganchada no<br />
papagaio. Um não foi com a cara do outro. Mais<br />
tumulto! Os dois se estranharam e seguiram para a<br />
cabine do motorista, que, morto de medo, largou o<br />
ônibus ao deus-dará e saiu avenida afora, no meio do<br />
trânsito, batendo a mão na orelha, ziguezagueando,<br />
sapateando, sacudindo a blusa, deixando pra trás um<br />
pé de sapato.<br />
O coletivo fi cou parado no meio da avenida.<br />
Começou a se formar um congestionamento<br />
monstruoso. Logo surgiram carros de corpo de<br />
bombeiros e de polícia com guardas afl itos querendo<br />
saber o que estava acontecendo.<br />
Alguns passageiros tentavam explicar o<br />
ocorrido para as autoridades, outros resolveram<br />
fazer justiça com as próprias mãos. Cada um queria<br />
arrancar, pelo menos, uma peninha do papagaio<br />
falador de bobagens e uma casquinha da barata<br />
baderneira. E foi um tal de atira bolsa daqui<br />
e sacola dali que, em pouco tempo, uma<br />
bagunça sem limites havia se instalado. Quem<br />
passava pela rua não entendia bulhufas!<br />
Desci do ônibus e peguei um outro no<br />
ponto seguinte. Que baderna! A barata e o<br />
papagaio foram expulsos do coletivo. Achei<br />
benfeito! Não pagaram passagem...<br />
29
Lobo mau? Será?<br />
30<br />
Salvatore Sicili<strong>ano</strong><br />
Informativo<br />
“Para que essa boca tão grande? Para te comer!” Quem conhece a<br />
história de Chapeuzinho Vermelho, com certeza, se lembra dessa conversa.<br />
No conto, o lobo não é fl or que se cheire, aliás, é malvado à beça. Por conta<br />
da fábula que correu o mundo, acredita-se que onde há lobo, há perigo.<br />
Será? No caso do lobo-guará, é ele que corre risco: o de sumir do mapa!<br />
O lobo-guará, segundo os pesquisadores, é um animal tímido, difícil<br />
de ser avistado. Por outro lado, é muito ágil: com suas longas patas, corre<br />
pela vegetação quando fareja algum perigo ou em busca de alimento. Ao<br />
contrário do lobo-mau, o guará não come gente. Sua alimentação inclui<br />
pequenos mamíferos — principalmente, ratos silvestres —, aves e insetos,<br />
além de frutos, em especial a chamada fruta-de-lobo ou lobeira, comum no<br />
cerrado e em algumas localidades do nordeste e do sul do país. A lobeira<br />
fornece frutos parecidos com o tomate o <strong>ano</strong> todo e, por isso, é muito<br />
importante para os lobos nos períodos de seca.<br />
Quando encontra seu par, o lobo-guará costuma ter de dois a quatro<br />
fi lhotes. O macho fi ca com a família até que os fi lhotes tenham certa<br />
independência. Depois, ele se afasta e, então, cabe à mãe alimentá-los e<br />
protegê-los.<br />
A principal causa do desaparecimento do lobo-guará é a utilização<br />
das áreas em que vive para agricultura e criação de gado.<br />
Frequentemente, ele também é vítima de caça e envenenamento<br />
por ser considerado perverso, dado que algumas vezes<br />
ataca animais domésticos.<br />
É importante saber mais sobre os hábitos dos<br />
animais silvestres para que possamos concluir<br />
o quanto é importante a preservação<br />
de seu hábitat.
Bibliografi a<br />
Heloísa Prieto. Magos, fadas e bruxas.<br />
São Paulo: Cia. das Letrinhas, 1994.<br />
Irmãos Grimm. Branca de Neve e outras histórias.<br />
Rio de Janeiro: Revan, 2006.<br />
Lalau. Sobre voos. Barueri: M<strong>ano</strong>le, 2008.<br />
Pedro Antônio de Oliveira. Uma história uma<br />
lorota... e fi quei de boca torta!<br />
São Paulo: Formato, 2008.<br />
Raul Lody. Seis pequenos contos afric<strong>ano</strong>s.<br />
São Paulo: Pallas, 2007. (Texto cedido pela<br />
PALLAS Editora e Distribuidora Ltda.)<br />
Salvatore Sicili<strong>ano</strong>. Revista Ciência Hoje.<br />
Galeria - bichos ameaçados, n o 195,<br />
outubro de 2008.<br />
Sônia Junqueira. Negrinho do pastoreio.<br />
São Paulo: Atual, 1996.<br />
Tatiana Belinky. Sete contos russos.<br />
São Paulo: Cia. das Letrinhas, 2004.<br />
32
Esta seleção<br />
de textos foi pensada para<br />
acompanhá-lo ao longo do <strong>ano</strong>.<br />
São histórias, fábulas, poesias, adivinhas,<br />
contos, lendas — estilos diversos de texto, escritos<br />
por autores diferentes, que vieram de lugares<br />
diferentes. Todos os textos estão acompanhados<br />
de lindas ilustrações, que você também<br />
vai poder apreciar.<br />
Este Meu Livro de Histórias é seu, para uma<br />
leitura prazerosa pessoal ou para que alguém<br />
leia alguma das histórias para você.<br />
Deixe que esses autores e suas histórias<br />
encantadoras façam parte de sua vida<br />
e imaginação.