CUIDANDO DOS BEM-NASCIDOS: O Curso ... - Acervo - Unesc
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“era sempre a mesma coisa. Criciúma na época do inverno, muito frio; no verão, era<br />
muito quente, e tranqüilo, a gente ia pra lá. As saídas do Lapagesse eram aquelas<br />
normais, de vez em quando havia umas briguinhas, normais de criança”. 99<br />
Ele recorda que as brigas eram freqüentes e que se davam no horário de<br />
saída das aulas, mas faz questão de salientar que era algo normal, próprio da idade,<br />
mas o que realmente chama atenção em suas memórias é o fato de as brigas serem<br />
provocadas por haver certa rivalidade entre os que eram de Criciúma e aqueles que<br />
vinham de fora, no caso dele, de Bom Jardim da Serra, no Planalto Serrano. Quando<br />
questionado se era realmente um garoto brigão, responde prontamente e argumenta<br />
“Não era brigão não. Os caras me provocavam, quer dizer era serrano, não sei mais<br />
o quê”.<br />
O que a pesquisa revelou em relação às brincadeiras praticadas pelos<br />
alunos do <strong>Curso</strong> Particular Póvoas Carneiro é que as mesmas se diferenciavam em<br />
relação à classe social a que as crianças pertenciam, mas ao mesmo tempo em que<br />
isso acontecia, havia, na maioria das vezes, uma integração por parte daqueles que<br />
eram socialmente “inferiores”, no que diz respeito ao aspecto financeiro.<br />
Assim, como relata Jorge Miraglia acerca das brincadeiras, elas se<br />
desenvolviam em determinadas épocas, funcionando como uma espécie de ciclos<br />
que se sucediam uns aos outros. “É que tinha as brincadeiras de época. Cada época<br />
tinha sua brincadeira. A época do pião, a época da bolinha, a época do...”.<br />
Jorge Miraglia relata ainda:<br />
E das brincadeiras que eu me lembro do tempo de escola, era por época.<br />
Naquela época não tinha televisão, tinha mal o cinema aqui na região.<br />
Então as brincadeiras eram da época do pião, da bolinha de gude, do<br />
cachimbo. Do cachimbo lá pra ver o cachimbo bater no chão e levar<br />
‘porrada’ [pancada] toda hora. 100<br />
Nereu Guidi, um dos depoentes, chama a atenção para o fato de que,<br />
naquela época, não havia a sexualidade antecipada, apontando o apelo do erotismo<br />
exibido na televisão ou facilmente encontrado nas revistas como fatores<br />
responsáveis por essa antecipação do interesse pela sexualidade como acontece<br />
nos dias atuais. Guidi salienta em suas falas que uma criança de 12 anos “estava<br />
apenas pensando em fazer birutices, em correr na rua”. Para Nereu Guidi, se<br />
99 BORGES, Antônio Sérgio – Entrevista concedida em 28.04.2006.<br />
100 MIRAGLIA, Jorge. Entrevista concedida em 26/05/2006.