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CUIDANDO DOS BEM-NASCIDOS: O Curso ... - Acervo - Unesc

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com a escola, abria espaço livre entre a execução de uma tarefa e outra, o segundo<br />

estabelecia essa relação dentro da própria escola, que é o lugar do tempo livre.<br />

Nota-se claramente que havia uma distinção entre o que era considerado<br />

brinquedo/brincadeira de meninos e o que era mais apropriado para as meninas,<br />

mas aponta também para a intervenção das garotas no território e práticas lúdicas<br />

dos garotos, indicando certa liberdade de trânsito nas brincadeiras infantis que<br />

faziam parte do repertório das crianças matriculadas na escola particular. Nesse<br />

caso específico, “jogar canivete” se apresenta como uma brincadeira eminentemente<br />

vinculada ao gênero masculino, mas que também era praticada pelas meninas, que<br />

a reconhecem como típica de meninos.<br />

As relações de gênero não fazem parte do foco de abordagem desta<br />

dissertação, mas não poderíamos deixar de, ao menos, mencioná-las, haja vista que<br />

essa brincadeira remete à idéia de uso de um instrumento cortante e que pode estar<br />

relacionado às práticas ligadas à necessidade de afirmação da virilidade e força<br />

masculinas e, portanto, deveria estar fora do alcance das meninas, que recebiam<br />

uma educação diferenciada e menos agressiva.<br />

Estelita da Silva, que era filha de operário, também foi aluna da escola de<br />

Dona Zulcema e morava com sua família em uma casa que pertencia ao Plano do<br />

Carvão, construída dentro do terreno dessa empresa, ou seja, ao lado da escola.<br />

Estelita se lembra das brincadeiras, das peripécias e da relação que estabelecia<br />

com a escola e com as filhas de dona Zulcema pela proximidade que existia entre<br />

um espaço e outro.<br />

Era ali no pátio. A nossa casa era ali, o pátio ali, e aos domingos a gente<br />

brincava ali. Brincava lá no Plano do Carvão. De correr lá por aquelas salas<br />

todas. Aquelas salas não, aqueles corredores. Pular de cima da casa pra...<br />

[risos] Ali a gente fazia de tudo. Era bom demais. A gente teve uma infância<br />

muito boa. 92<br />

Quando questionada sobre as brincadeiras com as outras crianças da<br />

escola e da vizinhança, Estelita diz: “A gente ficava ali. Brincávamos muito, era nos<br />

domingos com os outros vizinhos, porque elas tinham outra vida. Diferente”. A fala<br />

da ex-aluna, que era filha de operários é, para nós, muito significativa, pois sublinha<br />

a percepção da existência de classes socialmente distintas ao lembrar que, embora<br />

92 SILVA, Estelita da – Entrevista concedida em 26.05.2006.

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